30 de Janeiro de 2022 - Agronegócio quer derrubar proibição do paraquate, agrotóxico que pode causar Parkinson e câncer.
Entidades de combate ao uso de venenos agrícolas e defesa da saúde apontam riscos no lobby de produtores de soja. (...)
O paraquate foi banido no Brasil com base em pesquisas que mostram a relação da substância com o desenvolvimento da doença de Parkinson e de mutações genéticas que podem levar ao câncer.
De acordo com a Repórter Brasil e a Agência Pública, ele foi o produto proibido na Europa e fabricado no continente que mais teve autorizações para exportação para todo o mundo. Em 2018, chegou a representar 40% do total das exportações da União Europeia de venenos banidos. No mesmo ano, o Brasil comprou 9 mil toneladas, maior volume entre todas as nações do planeta.
O Brasil opta pelo uso de produtos que outras países já proibiram, são obsoletos.
O paraquate também foi o agrotóxico que mais tirou a vida de brasileiros na última década. Foram 530 intoxicações registradas pelo Ministério da Saúde, 138 acabaram em morte. Dessas, 93% foram registradas como suicídio.
Na nota em que pede a reinserção do produto em solo nacional, a Aprosoja questiona se a Anvisa "vai arcar com os prejuízos" dos produtores rurais "e a conta da sociedade que amargará pressões inflacionárias cada vez maiores com a queda de produtividade".
"Não há justificativa"
A biomédica Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva afirma que não existe justificativa para o produto continuar no mercado. Ela lembra que a estratégia de defender a manutenção de agrotóxicos com argumento de que os impactos à economia serão danosos é recorrente.
::Syngenta sabe dos efeitos nocivos do paraquate desde 1990, aponta pesquisa::
Segundo Friedrich, os argumentos da "chantagem" nunca se comprovaram. "Já vimos isso no passado várias vezes e isso nunca ocorre. O que ocorre é que o Brasil opta pelo uso de produtos que outras países já proibiram, são obsoletos, as próprias espécies alvo se tornam resistentes".
No governo atual, a especialista observa falta de atenção total ao assunto, com liberação ostensiva de venenos, desmonte de órgãos de fiscalização, perseguição a cientistas, ativistas, trabalhadoras e trabalhadores que atuam no combate aos agrotóxicos e na defesa do meio ambiente em geral.
"A saúde e o meio ambiente dependem de uma política voltada para valorização do ser humano, da agricultura familiar, da produção orgânica e agroecológica", pontua ela.
A partir do governo de Michel Temer (MDB), a liberação de agrotóxicos no Brasil se acelerou de maneira significativa. No governo Bolsonaro esse movimento se intensificou ainda mais. Em 2018, 449 registros foram realizados. Já no primeiro ano da gestão atual, o número subiu para 474. Em 2021, o país autorizou o uso de 550 novos novos venenos agrícolas.
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