12/01/2022 - Com a mudança no perfil demográfico em todo o mundo e o aumento da expectativa de vida da população, que no Brasil chega aos 76,8 anos, o envelhecimento da população preocupa e estimula pesquisadores a buscarem respostas para doenças neurológicas que afetam em grande medida as pessoas em idade mais avançada. Uma delas é a Doença de Parkinson, para a qual novos tratamentos que utilizam estimulação elétrica têm sido desenvolvidos e estudados pela comunidade científica.
No Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, unidade do Instituto Santos Dumont (ISD) em Macaíba (RN), o trabalho de mestrado da neuroengenheira Paloma Oliveira buscou entender o impacto clínico da estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS) – uma técnica que consiste na aplicação de pequenas correntes elétricas no escalpo – para auxiliar o tratamento de pessoas com a doença. A pesquisa resultou na publicação do artigo “Transcranial Direct Current Stimulation on Parkinson‘s Disease: Systematic Review and Meta-analysis” [Estimulação transcraniana por corrente contínua para a Doença de Parkinson: Revisão sistemática e metanálise, em tradução livre] na revista científica Frontiers In Neuroscience, em janeiro de 2022.
A Doença de Parkinson é uma doença neurológica neurodegenerativa e progressiva que afeta o sistema nervoso central. O distúrbio atinge as células cerebrais responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor com papel fundamental no controle dos movimentos. A maior incidência de casos da doença está nas pessoas acima de 65 anos de idade. No Brasil, estima-se que existam cerca de 200 mil pessoas com Parkinson, e esse número tende a aumentar com o envelhecimento da população. O aumento no percentual de pessoas idosas no país já é de 16% nos últimos cinco anos, segundo o Instituto Brasileito de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais sintomas da Doença de Parkinson envolvem dificuldade em realizar movimentos voluntários, lentificação de reflexos e movimentos do corpo, tremores e rigidez nos membros. Dentre os tratamentos, a administração de medicamentos é a opção mais comum, porém, a resposta aos remédios pode diminuir ao longo dos anos, explica a autora do artigo Paloma Oliveira.
“A diminuição na resposta aos medicamentos ocorre cerca de cinco anos após o tratamento inicial, piorando os sintomas. Dentre as outras alternativas estão procedimentos neurocirúrgicos que envolvem estimulação cerebral profunda, mas são alternativas caras e que podem trazer consequências adversas.”, explica Paloma Oliveira. Segundo a pesquisadora, intervenções apropriadas e novas abordagens terapêuticas podem apresentar menos efeitos adversos e melhorar a funcionalidade dos pacientes.
Segundo o estudo, a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) ganhou destaque por ser uma modalidade neuromoduladora não invasiva, segura, de baixo custo, com mínimo ou nenhum efeito adverso, o que despertou o interesse da comunidade médica e científica. No entanto, a técnica utilizada exclusivamente na Doença de Parkinson ainda é um desafio, e não possui conclusões exatas quanto ao seu efeito clínico.
“Realizamos uma revisão sistemática nas bases de dados científicos sobre o assunto para sintetizar, analisar metodológica e estatisticamente os resultados disponíveis e orientar o uso da estimulação transcraniana por corrente contínua na Doença de Parkinson. No entanto, nossos resultados demonstraram que não houve efeito significativo da tDCS nos sintomas motores de curto prazo da Doença”, explicou a neuroengenheira formada no Mestrado do ISD, Paloma Oliveira.
Além da revisão sistemática dos artigos disponíveis nas bases de dados científicos, a pesquisadora utilizou a metanálise, uma técnica estatística desenvolvida para integrar resultados de dois ou mais estudos sobre uma mesma questão de pesquisa, o que permite lançar um olhar mais amplo ao tema.
Co-autor do artigo e orientador do projeto de mestrado de Paloma no ISD, o pesquisador Edgard Morya explica que essa revisão sistemática de trabalhos científicos vai ajudar a direcionar a aplicação prática das técnicas. “Esse trabalho subsidia a aplicação prática da pesquisa. Baseada nessa revisão, temos como fazer uma aplicação prática da neuromodulação com pessoas que têm Parkinson com mais clareza em relação às áreas alvo o que, antes da revisão, não seria impossível, mas seria muito mais difícil”.
Parkinson no ISD
A Doença de Parkinson é uma das especialidades do Instituto Santos Dumont (ISD), que tem foco no cuidado à saúde da pessoa com deficiência. A Clínica de Parkinson atende pacientes com a doença em Macaíba (RN), exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A doença é ainda tema de pesquisas tanto no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), quanto no Instituto Internacional de Neurociências (IIN-ELS), através do Mestrado em Neuroengenharia. Fonte: Instituto Santos Dumont.
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