Tecnologia
'revolucionária' pode ajudar pessoas que lutam para se locomover
devido a doença
Implante na medula
espinhal permitiu que Marc andasse quase normalmente — Foto:
Gabriel Monnet/AFP
06/11/2023 - Um homem
com Parkinson em estágio avançado recuperou quase totalmente a
capacidade de caminhar, graças a eletrodos implantados em sua medula
espinhal, informou um grupo de pesquisadores nesta segunda-feira (6).
A façanha médica pode ser uma tecnologia "revolucionária”
para as pessoas que lutam para se mover, apesar desse debilitante
transtorno cerebral.
O tratamento foi
desenvolvido por pesquisadores suíços que já haviam usado
implantes na medula espinhal para ajudar que várias pessoas com
paraplegia voltassem a andar. O paciente, Marc, um homem de 62 anos
que vive na França, sofre de Parkinson há aproximadamente 30 anos.
Assim como mais de 90% das pessoas com Parkinson avançado, Marc tem
grande dificuldade para caminhar.
Tratamento desenvolvido
por pesquisadores suíços que já haviam usado implantes na medula
espinhal para ajudar que várias pessoas com paraplegia voltassem a
andar. — Foto: Gabriel Monnet/AFP
Os chamados episódios
de "congelamento", durante os quais os pacientes ficam
temporariamente impossibilitados de se mover, expondo-os a risco de
quedas, são particularmente "terríveis", disse Marc à
AFP.
— Se você tem um
obstáculo ou se alguém passa na sua frente, inesperadamente, você
começa a 'congelar' e cai — disse Marc, que não quis revelar seu
sobrenome.
Muitos aspectos do
Parkinson ainda são desconhecidos, e o tratamento desses sintomas
tem-se mostrado difícil. Podem afetar seriamente a vida dos
pacientes, às vezes deixando-os acamados ou presos a uma cadeira de
rodas. Então, quando surgiu a oportunidade de se submeter a uma
cirurgia invasiva na Suíça com o objetivo de resolver o problema,
Marc não hesitou em aproveitar a oportunidade.
'Posso fazer o que eu
quiser'
— Agora posso andar
de um ponto a outro sem me preocupar em como chegarei lá — contou
Marc. —Posso dar um passeio, fazer compras sozinho. Posso fazer o
que quiser — acrescentou.
A equipe suíça de
pesquisadores implantou um sistema complexo de eletrodos chamado
"neuroprótese" em pontos-chave ao longo da medula espinhal
de Marc. "Desenvolvemos uma neuroprótese que reduziu os
problemas de marcha, os problemas de equilíbrio e o congelamento da
marcha", disse a equipe liderada pela cirurgiã Jocelyne Bloch e
pelo neurocientista Gregoire Courtine. Os dois já haviam feito um
avanço usando implantes na medula espinhal que permitiram que
pacientes paraplégicos voltassem a andar.
A pesquisa mais
recente, publicada na revista Nature Medicine, funcionou, segundo
quase o mesmo princípio. No caso de pacientes paralisados, o trauma
provém de um acidente, que corta a comunicação entre o cérebro e
a medula espinhal. Para Marc e outros pacientes com Parkinson, essa
comunicação ainda existe, mas o sinal cerebral é afetado pelo
desaparecimento progressivo dos neurônios que geram a dopamina, que
é um neurotransmissor.
Nesse caso, a
neuroprótese teve de fazer mais do que simplesmente enviar um
estímulo elétrico que provocasse o movimento. Também teve de
assumir o papel do cérebro na geração desse estímulo no momento
adequado para que o movimento resultante correspondesse aos desejos
do paciente.
— A ideia é medir os
movimentos residuais, ou seja, a intenção de andar, com pequenos
sensores que se encontram nas pernas — disse Courtine à AFP. —
Graças a isso, sabemos se a pessoa quer balançar, ou parar, e
podemos ajustar o estímulo de acordo — concluiu a pesquisadora do
Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne.
'Um grande avanço
potencial'
A neuroprótese foi
testada primeiro em primatas e depois implantada em Marc, que a usa
aproximadamente oito horas por dia há quase dois anos. Ele disse que
agora consegue andar com muito mais facilidade e que até planeja uma
viagem ao Brasil. Ainda assim, completou, o esforço exige
concentração, principalmente ao subir escadas.
Mas até que ponto este
implante pode ajudar muitos outros pacientes com Parkinson que lutam
para andar todos os dias? A doença afeta os pacientes de diferentes
maneiras. A equipe suíça ampliou seu experimento para um grupo de
seis pacientes com Parkinson. O implante invasivo é bastante caro, o
que limita o acesso de muitos pacientes.
Bloch e Courtine
lançaram uma "startup" chamada Onward para investigar sua
futura comercialização. Mas mesmo chegar a este ponto já
representa "um grande avanço potencial", de acordo com
David Dexter, diretor de pesquisa do Parkinson's UK.
— Este é um
procedimento bastante invasivo, mas pode ser uma tecnologia
revolucionária para ajudar a restaurar os movimentos em pessoas com
Parkinson avançado — ponderou Dexter, enfatizando que são
necessárias mais pesquisas. Fonte: O Globo.