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domingo, 22 de dezembro de 2024

Do intestino ao cérebro - Uma nova perspetiva sobre a origem e progressão da doença de Parkinson

221224- O nosso intestino alberga uma enorme diversidade de microrganismos, a microbiota intestinal, que é responsável pelo bom funcionamento do nosso corpo. No entanto, aquando de um desequilíbrio nesta comunidade, a chamada disbiose intestinal, pode ocorrer a alteração de vários processos biológicos que estão na base de diversas doenças. Estas alterações no intestino têm vindo a ser relacionadas com o funcionamento do cérebro através do eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação bidirecional entre estes dois órgãos, fundamental para a regulação de processos relacionados ao desenvolvimento de doenças neurológicas.

Mas de que forma surgem essas alterações? Sugere-se que a presença de micróbios patogénicos no intestino seja promotora de uma resposta imunológica que, ao navegar até ao cérebro, contribui para o desenvolvimento de doenças, como a doença de Parkinson, através de processos que resultam no aumento da inflamação e alteram a função de células nervosas.

O estudo abordado visa investigar quais os efeitos de transplantes fecais de microbiota (TFM) em ratinhos, provenientes de pacientes com DP, de forma a analisar as principais alterações que surgem na microbiota intestinal. A compreensão destes mecanismos possibilita a avaliação do impacto da disbiose intestinal diretamente na progressão da patologia e abre novas possibilidades terapêuticas para prevenir e tratar a doença de Parkinson.

Resultados e impacto

Os resultados deste estudo sugerem que cuidar da saúde do intestino pode ser uma forma de ajudar pessoas com DP, uma vez que a disbiose intestinal revelou ser um fator provável de contribuição para o desenvolvimento da doença. Como tal, os investigadores descobriram que a microbiota intestinal de pacientes com DP levou à perda de neurónios dopaminérgicos em ratinhos, o que se encontra diretamente relacionado com problemas motores.

Esta pesquisa mostra-se promissora, uma vez que ilustra a oportunidade de criar tratamentos inovadores que vão muito para além da medicina tradicional. Assim, é possível imaginar um futuro onde tratamentos como dietas personalizadas, probióticos específicos ou até terapias como o transplante fecal podem ser utilizados. Este tipo de intervenção não só oferece esperança, como também pode ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes de uma maneira que, até recentemente, parecia inalcançável.

Desta forma, uma análise da microbiota pode fornecer informações cruciais para o diagnóstico precoce e o risco de desenvolver a doença. O estudo revelou que pessoas com DP apresentam mudanças significativas nas bactérias do intestino, como a diminuição de espécies benéficas como Lactobacillus e Bifidobacterium. Essas alterações estão associadas a um aumento da inflamação intestinal e à redução de células que são essenciais para a manutenção da saúde do intestino. Com base nestes dados, tornar-se-ia possível detetar a patologia mais cedo e tomar medidas antes que os sintomas se manifestem.

Este estudo sugere que o intestino, muitas vezes negligenciado, pode ter um papel central no início e na progressão desta doença. Estamos a viver um momento crucial na medicina, em que a microbiota intestinal surge como um aliado promissor no combate às doenças neurológicas. Esta abordagem inovadora tem o potencial de expandir as estratégias terapêuticas, oferecendo aos pacientes novas perspetivas e aprimorando os resultados a longo prazo. Fonte: UC.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Transplante de microbiota fecal no tratamento do Parkinson e outras doenças neurodegenerativas

2024-12-16 - Resumo

As pesquisas científicas ao redor do mundo têm reconhecido cada vez mais o papel do eixo microbiota-cérebro desregulado no desenvolvimento de patologias degenerativas, como a doença de Parkinson (DP). Essas condições têm curso progressivo e exigem uma abordagem complexa para frear a limitação à qualidade de vida. Nesse cenário, emerge o transplante de microbiota fecal, uma terapia muito utilizada tradicionalmente para tratar infecções recorrentes e refratárias por Clostridium difficile, mas que, por ajudar na regulação do microbioma intestinal, vislumbra como um importante tratamento alternativo para aliviar os sintomas da DP e outras doenças neurodegenerativas. Fonte: ojs cuadernoseducacion.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Órgão em um chip rastreia toxinas do intestino ao cérebro em busca de pistas de Parkinson

16 dez 2024 - Os pesquisadores desenvolveram um novo sistema de múltiplos órgãos em chip para ajudar a estudar como as neurotoxinas se movem do intestino para o cérebro.

O modelo simulou como as neurotoxinas intestinais podem desencadear a morte de células cerebrais, como visto na doença de Parkinson.

Delineado em um estudo de prova de conceito do Instituto Quadram, das universidades de Hull e Essex e da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA), o trabalho é detalhado em Biomicrofluídica, demonstrando como o sistema replica o intestino-cérebro rede de comunicação bidirecional que liga o trato gastrointestinal e o sistema nervoso do cérebro.

Os cientistas dizem que sua pesquisa terá a capacidade de fornecer insights sobre a compreensão da doença de Parkinson e mais condições neurodegenerativas.

O Parkinson afeta milhões de pessoas em todo o mundo, destruindo as células nervosas cerebrais, mas também desencadeando sintomas não motores em outros lugares.

Os acúmulos de proteínas característicos dos danos às células cerebrais causados pela doença podem se apresentar no intestino anos antes do diagnóstico, juntamente com alterações no microbioma intestinal.

Os sistemas microfisiológicos em miniatura (MPS), ou tecnologia organ-on-chip, permitem o crescimento de células ou tecidos humanos em condições apropriadas para imitar sua aparência, comportamento e comunicação in situ.

Uma doação inicial permitiu que o Dr. Ben Skinner, juntamente com o Dr. Simon Funnell, da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA), trabalhasse com o professor Simon Carding do Instituto Quadram e as Dras. Emily Jones e Aimee Parker, bem como o professor John Greenman e a Dra. Lydia Baldwin, do Centro de Biomedicina da Hull York Medical School, com sede na Universidade de Hull, no projeto.

Essa abordagem pode revolucionar nossa compreensão dos distúrbios neurológicos, abrindo caminho para tratamentos mais eficazes e, em última análise, melhorando a vida de milhões de pessoas afetadas por essas condições.

Dra. Emily Jones, Instituto Quadram: 

"Esta pesquisa colaborativa tem aplicações fora da doença de Parkinson e a UKHSA está trabalhando para usar essa ferramenta para entender melhor o impacto das doenças infecciosas no corpo e avaliar tratamentos e vacinas", explicou.

Para criar o MPS intestino-cérebro, dois dispositivos foram combinados em série e conectados por meio de tubos que representam o fluxo sanguíneo. No primeiro dispositivo, uma camada de células representava o revestimento do intestino formando uma barreira seletivamente permeável entre o conteúdo do intestino e o resto do corpo. No segundo, células neuronais cerebrais derivadas de humanos de um tipo conhecido por ser suscetível a neurotoxinas foram cultivadas.

Um encontro casual com Skinner em um dia de desafio de laboratório da Universidade de Essex culminou em mais de cinco anos de trabalho no projeto da dupla.

Para o estudo de prova de conceito, a neurotoxina foi introduzida no intestino e foi vista matando as células cerebrais, sem afetar as células do revestimento intestinal ao passar por elas.

Jones, do Quadram Institute, acrescentou: "Ao nos permitir estudar células derivadas de humanos em um modelo interconectado, pretendemos obter insights mais profundos sobre os mecanismos da doença e potencialmente identificar novos alvos terapêuticos que possam proteger contra a inflamação neuronal e a morte celular.

"Essa abordagem pode revolucionar nossa compreensão dos distúrbios neurológicos, abrindo caminho para tratamentos mais eficazes e, em última análise, melhorando a vida de milhões de pessoas afetadas por essas condições."

O MPS simplificado foi projetado pela Universidade de Hull para facilitar o uso sem treinamento especializado e para ser aplicado a vários distúrbios, reduzindo a dependência de pesquisas baseadas em animais e capacitando-o para ambientes laboratoriais de alta contenção envolvendo infecções perigosas.

"Cada vez que nossos dispositivos são usados por colegas para responder a diferentes perguntas clínicas, aprendemos como melhorá-los e adaptá-los em termos de capacidades, robustez e facilidade de uso; ainda não terminamos", disse o professor John Greenman, do Centro de Biomedicina (HYMS) da Universidade de Hull.

A professora Isabel Oliver, diretora científica da UKHSA na Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, disse que a tecnologia de órgãos em chips está melhorando a compreensão do impacto dos vírus no corpo humano.

"Já desenvolvemos essa técnica para analisar o impacto do COVID-19 nos pulmões e agora estamos trabalhando para expandir essa ferramenta para estudar outros órgãos e como eles são afetados pelo COVID-19 e outras infecções", afirmou.

A pesquisa foi financiada pelo Conselho de Pesquisa Econômica e Social (UKHSA e Universidade de Essex, Laboratório de Desafio de Saúde Pública) e pelo Conselho de Pesquisa em Biotecnologia e Ciências Biológicas (QIB), ambos parte do UKRI. Fonte: labnews.

sábado, 7 de dezembro de 2024

A importância da conexão entre intestino e cérebro no Parkinson pode ser a cura pra doença!

06/12/2024 - A relação entre o sistema gastrointestinal e o sistema nervoso está cada vez mais em foco na pesquisa de doenças neurodegenerativas, como o Parkinson. Novos estudos indicam que o microbioma intestinal pode influenciar significativamente os níveis de vitaminas essenciais, desempenhando um papel importante na progressão dessa condição.

O Parkinson afeta milhões de pessoas e manifesta sintomas motores e não motores que podem surgir muitos anos antes dos sintomas clássicos da doença. A ideia de que o intestino possa ter uma conexão importante com o início e a progressão da doença vem ganhando suporte científico substancial recentemente.

Como as Vitaminas B Estão Ligadas ao Parkinson?

Pesquisas sugerem que a composição das bactérias intestinais pode impactar a absorção e produção de vitaminas B, como a riboflavina e a biotina. Essas vitaminas são fundamentais para diversas funções corporais. Quando seus níveis estão reduzidos, é possível que ocorra um comprometimento na saúde intestinal, abrindo espaço para que substâncias nocivas entrem na corrente sanguínea e impactem o cérebro.

Essa situação poderia contribuir para o desenvolvimento de agregados proteicos no cérebro, características do Parkinson, agravando os sintomas neurológicos clássicos da doença, segundo os estudos. Fonte: Isto É.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Nova descoberta no estudo da Doença de Parkinson

20 Novembro, 2024 - Investigadores identificam marcadores intestinais que possibilitam deteção precoce da doença. Equipa pretende impedir que patologia evolua para cérebro.

A equipa liderada por Sandra Morais Cardoso, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (UC) e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC), e por Nuno Empadinhas, investigador do CNC-UC e do Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia, identificou marcadores intestinais que possibilitam a deteção precoce da doença de Parkinson. Esta é uma doença neurodegenerativa crónica caracterizada pela perda irreversível de neurónios associados à coordenação motora. Os sintomas, como tremores e lentidão dos movimentos, manifestam-se de forma gradual, e pode haver um período assintomático de vários anos.

O grupo de investigadores, juntamente com neurobiologistas e gastroenterologistas do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, confirmou a existência de alterações dos micróbios intestinais de doentes com Parkinson. Os dois indicadores presentes no intestino que sinalizam o surgimento desta patologia são os agregados da proteína alfa-sinucleína e a inflamação do intestino sem que ocorra inflamação do sangue. A investigadora infere que “caso se conseguisse identificar estes biomarcadores na população geral, se calhar podíamos impedir que a doença evoluísse para o cérebro”.

Sandra Cardoso relata que o processo de investigação ocorreu em modelos animais transplantados com material fecal de indivíduos diagnosticados com a doença em estudo. Com o desenvolvimento do estudo, “vimos que havia acumulação dos agregados no íleo dos ratinhos e também uma inflamação intestinal, mas esta ainda não ocorria no sangue nem no cérebro”, explica a professora.

Mediante biópsias do íleo de indivíduos com a doença de Parkinson, a equipa confirmou a presença dos agregados da proteína nos intestinos humanos. Sandra Cardoso esclarece que os doentes de Parkinson se dividem em dois grupos: ”os que a doença se inicia no cérebro e os que a causa é desconhecida, mas que se pensa que o início não se dá neste órgão”, em que este último engloba mais de 90% dos pacientes. Através desta investigação, a professora alega que “em alguns dos casos nos quais não se conhece a causa, a doença pode começar no intestino”.

Nos dias de hoje existem, em Portugal, cerca de 20 mil doentes que vivem com Parkinson, indica Sandra Cardoso. A estimativa é que, a nível mundial, “17 milhões de pessoas irão pertencer a esta realidade até 2040”. Nesta perspetiva, o próximo passo da investigação baseia-se na tentativa de conter a doença ainda no intestino, antes que esta progrida para o cérebro. A investigadora evidencia que este trabalho já foi iniciado e que a equipa conta com “resultados promissores”. Fonte: A Cabra.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Alguns probióticos têm potencial como tratamento complementar para Parkinson

Seis cepas bacterianas observadas auxiliando o ambiente intestinal, sinais nervosos

17 de outubro de 2024 - Os pesquisadores identificaram seis probióticos - bactérias vivas geralmente usadas como suplementos dietéticos para ajudar na digestão - com potencial para serem usados como um complemento ao tratamento padrão para a doença de Parkinson.

Em um estudo com bactérias coletadas de amostras fecais, os pesquisadores observaram que as cepas bacterianas eram capazes de promover um ambiente intestinal mais saudável e apoiar a produção de neurotransmissores, substâncias químicas que passam sinais entre as células nervosas.

O estudo, "Avaliando as propriedades probióticas da microflora intestinal para modulação intestinal como terapia adjuvante para a doença de Parkinson", foi publicado no Journal of Future Foods.

O tratamento padrão para Parkinson inclui medicamentos como a levodopa, que aumenta os níveis de dopamina no cérebro. A dopamina é um neurotransmissor envolvido no controle motor. No Parkinson, as células nervosas que produzem dopamina morrem gradualmente, causando sintomas motores.

No entanto, a levodopa tem efeitos colaterais e a resposta ao tratamento é limitada, pois não mais do que 10% dela chega ao cérebro devido à sua conversão em dopamina no intestino. Uma maneira de contornar esse problema pode envolver o uso de probióticos.

Eixo intestino-cérebro

A disbiose, ou um desequilíbrio nas bactérias intestinais que favorece a inflamação, tem sido associada ao Parkinson, sugerindo que restaurar uma microbiota intestinal saudável - a coleção de todos os microrganismos que vivem no intestino - pode ajudar a regular o eixo intestino-cérebro e aliviar os sintomas. O eixo intestino-cérebro é um sistema de comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro, influenciando a saúde gastrointestinal e neurológica.

Os pesquisadores coletaram amostras fecais de pacientes com Parkinson, pessoas em risco para a doença e indivíduos saudáveis. Eles examinaram as bactérias nas amostras fecais quanto à sua capacidade de atender aos critérios probióticos, como garantir que sejam seguras para uso humano.

Um total de 855 cepas bacterianas foram rastreadas quanto à sua capacidade de produzir os neurotransmissores GABA e serotonina, bem como ácidos graxos de cadeia curta, um tipo de moléculas gordurosas com propriedades anti-inflamatórias encontradas em níveis mais baixos em pessoas com Parkinson.

Das 855 cepas bacterianas, 23 atenderam aos critérios probióticos e seis foram identificadas como particularmente promissoras para estudos posteriores. Essas seis cepas bacterianas foram identificadas por meio do sequenciamento de rRNA 16S, um método que identifica e compara diferentes tipos de bactérias analisando seu material genético.

Quando misturadas com levodopa, as cepas bacterianas não interferiram com a medicação. Eles também produziram GABA e serotonina, dois neurotransmissores que são reduzidos no Parkinson, bem como dois tipos de ácidos graxos de cadeia curta, que podem ajudar a aliviar os sintomas de Parkinson.

As cepas bacterianas testadas mostraram capacidade média a boa de se agrupar em um processo chamado autoagregação, o que as ajudaria a permanecer no intestino. Eles também foram capazes de formar um tipo de barreira que geralmente impede que bactérias nocivas cresçam no intestino.

"Descobriu-se que as bactérias preenchem todos os critérios característicos dos probióticos", sugerindo que elas "eliminam / reduzem os efeitos colaterais produzidos pelo tratamento medicamentoso primário, reduzem a resistividade dos medicamentos e aumentam a longevidade e a qualidade de vida do paciente", escreveram os pesquisadores. Fonte: Parkinsons News Today.

sábado, 21 de setembro de 2024

+ Causas

 Em complemento à postagem de 16/08/23, onde eu alinhavei as posssíveis causas de meu Parkinson, hoje, 21/09/24, uma matéria jornalística me clareou as idéias e esclareceu: doença do refluxo gastroesofágico. Diagnóstico revelou, após monitoração contínua por 24 h, de pHmetria. Flacidez do esfíncter esofágico distal.

Como sintoma, apenas uma tosse seca, contínua, que me atormentou por alguns meses. Tinha na época uns 30 anos de idade, meu diagnóstico foi aos 43. Na época me receitaram um remédio que não sei o nome, mas logo que a tosse passou, parei de tomar. O fato é que apesar da ausência de tosse,o esfincter continuava flácido, daí permitido um refluxo discreto, não perceptível, do suco gástrico, que veio a danificar minha biota, vindo decorrente disso o parkinson. Não sou médico, mas é uma hipótese factível que fecha a investigação.

Novo estudo liga a saúde intestinal ao risco de Parkinson - além de um sintoma gastrointestinal que pode ser um sinal precoce

Os médicos exploram a ligação intestino-cérebro e porque a constipação pode ser um sinal de alerta precoce do Parkinson

21 de setembro de 2024 - Você já ouviu falar da "conexão intestino-cérebro"? Refere-se à relação entre nosso microbioma intestinal e a saúde cognitiva. A ligação entre os dois é multifacetada e complexa. Mas, em essência, o eixo intestino-cérebro (GBA) consiste na comunicação entre nossos sistemas nervosos central e intestinal. Isso significa que os centros emocionais e cognitivos do cérebro e as funções intestinais afetam um ao outro. E agora, um novo estudo deu um passo adiante, encontrando uma ligação potencial entre a saúde intestinal e a doença de Parkinson.

O que o estudo descobriu sobre a saúde intestinal e o Parkinson?

Uma pesquisa liderada pelo Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC) em Boston, publicada recentemente no JAMA Network Open, descobriu que os participantes que sofreram danos no revestimento superior do trato gastrointestinal (GI) devido a condições como refluxo ácido crônico têm 76% mais chances de desenvolver a doença de Parkinson.

O estudo incluiu 9.350 pacientes com idade média de 52 anos e sem histórico de Parkinson. Eles foram submetidos a uma endoscopia digestiva alta para examinar o esôfago, estômago e primeira porção do intestino delgado entre 2000 e 2005 no sistema de saúde Mass General Brigham.

Aqueles que sofreram danos na mucosa – definidos como erosões, esofagite, úlceras ou lesões pépticas observadas nos relatórios de testes – demonstraram ter um risco subsequente mais elevado de Parkinson do que aqueles que não sofreram. A condição, um distúrbio progressivo do movimento do sistema nervoso, foi diagnosticada em média 14,2 anos após a detecção do dano, dizem os pesquisadores.

Médicos respondem a estudo que liga danos gastrointestinais ao Parkinson

Embora sejam necessárias mais pesquisas para determinar se existe uma relação definitiva de causa e efeito, os especialistas em saúde intestinal e cerebral tendem a concordar que as descobertas deste estudo são merecidas.

“Acredita-se que o cérebro e o intestino estejam conectados através de uma via bidirecional”, explica Vikram Shivkumar, MD, neurologista do Orlando Health Neuroscience Institute. “O eixo intestino-cérebro tem múltiplas conexões através do nervo vago, do sistema endócrino, do sistema imunológico e do cérebro. os metabólitos do microbioma intestinal.”

Embora os mecanismos exatos envolvidos nesta comunicação não sejam totalmente conhecidos, múltiplas alterações no microbioma intestinal foram relatadas em doenças neurodegenerativas, como doença de Parkinson, Alzheimer, demência e esclerose múltipla, diz o Dr. Shivkumar. No entanto, não se sabe se estas alterações no intestino têm um papel causal nestas doenças.

Dito isto, os pacientes com doença de Parkinson geralmente experimentam constipação muitos anos antes do início dos sintomas definidores, como tremores, rigidez e perda de destreza, acrescenta.

Outros sintomas gastrointestinais que são pertinentes e podem estar associados ao Parkinson incluem náuseas, refluxo gastroesofágico, dificuldade para engolir, inchaço e dor abdominal, acrescenta Jennie Stanford, MD, médica de medicina da obesidade e colaboradora médica do Drugwatch.

O que causa danos à mucosa no intestino?

A mucosa é o revestimento interno dos órgãos digestivos, respiratórios e reprodutivos, explica o Dr. Shivkumar. Vários fatores podem contribuir para danos à mucosa do sistema digestivo, incluindo infecções, estresse, dieta pouco saudável e uso crônico de AINEs.

"Condições como [doença do refluxo gastroesofágico] DRGE ou úlceras pépticas podem [também] estar associadas a danos na mucosa", observa ele. "A mucosa de várias partes do trato digestivo tem certos níveis de acidez que podem tolerar. O refluxo pode sujeitar a mucosa em algumas partes a líquidos mais ácidos do que ela pode suportar. Algumas bactérias, como o H pylori, também podem causar danos à mucosa e úlceras pépticas.

Além disso, há uma camada protetora nas células do intestino que ajuda a evitar que toxinas prejudiciais entrem no corpo, explica James Cox, MD, professor assistente de medicina interna e diretor de comunicação médica da Burnett School of Medicine no TCU.

Um problema digestivo como a DRGE, por exemplo, consiste em ácido vindo do estômago e irritando o esôfago. Isso pode causar inflamação e eliminação dessas células protetoras, diz ele.

Como prevenir danos à saúde intestinal

Alguns dos riscos que podem levar a danos gastrointestinais não podem ser totalmente evitados, mas existem maneiras de melhorar e manter a saúde intestinal.

"Seguir uma dieta saudável, fazer exercícios regulares, controlar o estresse de forma eficaz, eliminar medicamentos desnecessários, evitar álcool e tabaco e participar de consultas regulares de cuidados primários pode ajudar a reduzir o risco de danos gastrointestinais e cognitivos", oferece o Dr. Stanford. Um plano de alimentação saudável inteligente a ser considerado é a dieta mediterrânea. Ele enfatiza principalmente frutas e vegetais, grãos integrais, alimentos menos processados e baixo teor de gordura, observa o Dr. Cox. Isso pode ser benéfico para a saúde intestinal e para melhorar a anti-inflamação. Fonte: Womansworld.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Parkinson pode começar no intestino, diz estudo, aumentando as evidências crescentes

Os pesquisadores descobriram que as pessoas com problemas gastrointestinais superiores eram muito mais propensas a desenvolver a doença de Parkinson mais tarde na vida

5 de setembro de 2024 - Um novo estudo se soma a um crescente corpo de evidências de que a doença de Parkinson, que há muito se acredita ter suas origens no cérebro, pode começar no intestino.

Problemas gastrointestinais são comuns em pacientes com distúrbios neurodegenerativos, a ponto de se pensar que uma condição conhecida como "cólon institucional" aflige aqueles que viviam em instituições de saúde mental. Na doença de Parkinson, todo o trato gastrointestinal é afetado, causando complicações como constipação, baba, dificuldade para engolir e retardo do esvaziamento do estômago. Esses sintomas geralmente aparecem até duas décadas antes dos sintomas motores, como rigidez ou tremor.

"As pessoas, por muito tempo, descreveram a doença de Parkinson como uma doença de cima para baixo – então, ela começa no cérebro e depois se infiltra até o intestino, e é por isso que os pacientes têm problemas com o trato gastrointestinal", disse o autor do estudo Subhash Kulkarni, professor assistente do Beth Israel Deaconess Medical Center. "Outra hipótese sugere que, em muitos pacientes, pode ser uma abordagem de baixo para cima, onde começa no intestino e vai até o cérebro."

Kulkarni e seus colegas descobriram que pessoas com problemas gastrointestinais superiores – em particular, úlceras ou outros tipos de danos ao revestimento do esôfago, estômago ou parte superior do intestino delgado – eram muito mais propensas a desenvolver a doença de Parkinson mais tarde na vida. O estudo foi publicado online na quinta-feira no JAMA Network Open.

Danos na mucosa são um fator de risco para Parkinson

A análise envolveu 9.350 pacientes sem histórico de Parkinson e que haviam feito uma endoscopia digestiva alta com biópsia entre 2000 e 2005. A maioria tinha entre 50 e 64 anos na época do procedimento.

Danos à mucosa – erosão, ruptura ou ferida no revestimento mucoso do trato gastrointestinal – foram associados a um risco 76% maior de desenvolver a doença de Parkinson durante o período de acompanhamento, uma média de 14,9 anos para toda a coorte. Especificamente, o dano à mucosa foi definido como a presença de erosões, esofagite, úlcera ou lesão péptica na endoscopia digestiva alta ou nos relatórios de patologia.

Talvez mais notavelmente, os pacientes do estudo sofriam de seus problemas gastrointestinais muito antes de descobrir que tinham Parkinson, provavelmente porque começaram a apresentar sintomas motores. O tempo médio entre a primeira detecção de dano à mucosa e um eventual diagnóstico de Parkinson foi de 14,2 anos.

"Precisamos absolutamente ficar de olho nesses pacientes que têm um histórico de danos na mucosa em sua endoscopia", disse Delaram Safarpour, professor associado de neurologia da Oregon Health & Science University, que não esteve envolvido na pesquisa. A detecção precoce da doença de Parkinson permitiria que os médicos tratassem esses pacientes antes que eles apresentassem sintomas motores, quando os tratamentos neuroprotetores se tornarem disponíveis no futuro, disse Safarpour.

Estudo apóia a hipótese do 'intestino primeiro'

Os resultados parecem apoiar a hipótese do "intestino primeiro", proposta em 2003 pelo anatomista alemão Heiko Braak após vários estudos de autópsia. Ao contrário da hipótese do "cérebro primeiro", afirma que o Parkinson começa como proteínas mal dobradas nos nervos do trato gastrointestinal.

Quando a hipótese do intestino "surgiu pela primeira vez, havia muito ceticismo no campo", disse Ted M. Dawson, professor de doenças neurodegenerativas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, que não esteve envolvido no estudo. "Mas as evidências vêm se acumulando, e este estudo é mais um passo na escada para a aceitação de que o intestino é um caminho importante pelo qual o Parkinson pode ocorrer."

Normalmente, as proteínas se dobram em uma estrutura tridimensional ordenada para se tornarem biologicamente funcionais. Proteínas mal dobradas não conseguem atingir essa forma e podem fazer com que as proteínas vizinhas se dobrem incorretamente, levando a agregados grandes e tóxicos que interrompem a função das células, tecidos e órgãos do corpo. Por exemplo, a doença de Alzheimer é caracterizada por agregados de proteína beta-amilóide no cérebro que formam placas prejudiciais.

Uma proteína neuronal chamada alfa-sinucleína é a culpada pela doença de Parkinson, e um diagnóstico é normalmente confirmado pela descoberta da patologia da alfa-sinucleína no cérebro post-mortem. Vários estudos sugerem que a alfa-sinucleína mal dobrada pode se espalhar do trato gastrointestinal para o cérebro através do nervo vago, uma superestrada neural que conecta os dois.

Por exemplo, pessoas com o nervo vago cortado – um tratamento de último recurso para úlcera péptica – têm menor probabilidade de desenvolver a doença de Parkinson. Estudos de autópsia, incluindo os próprios experimentos de Braak, encontraram agregações de alfa-sinucleína no estômago e na parte inferior do esôfago de pacientes com Parkinson, mas não em controles. E estudos em camundongos mostram que a alfa-sinucleína mal dobrada injetada no intestino viaja para o cérebro, levando a sintomas motores semelhantes aos de Parkinson e declínio cognitivo. Cortar o nervo vago protege completamente os camundongos contra tais efeitos.

Aumento no número de casos de Parkinson

Globalmente, o número de pessoas com doença de Parkinson dobrou nos últimos 25 anos, com alguns especialistas se referindo a esse aumento exponencial como uma "pandemia de Parkinson". O Parkinson é o distúrbio neurológico que mais cresce em todo o mundo, superando até mesmo a doença de Alzheimer, de acordo com o estudo Global Burden of Disease, que reuniu dados de resultados de saúde de 195 países.

Grande parte do aumento se deve ao envelhecimento da população, mas o aumento da incidência persiste após o ajuste para fatores relacionados à idade. Apenas cerca de 10% dos casos podem ser atribuídos à genética, com a grande maioria rotulada como "esporádica" - sem causa conhecida. Resolver o mistério de por que algumas pessoas desenvolvem Parkinson e outras não pode levar a opções de detecção precoce, tratamento e, esperançosamente, um dia, prevenção.

As descobertas atuais sugerem que danos ao revestimento do intestino podem ser um evento desencadeante que desencadeia o desdobramento inicial.

"Pode-se supor que uma destruição ou ruptura das membranas mucosas leva a uma deposição aberrante de alfa-sinucleína no tecido mucoso", disse Kulkarni. "O dano à mucosa não está permitindo que as funções normais de limpeza ocorram, e o acúmulo de alfa-sinucleína sempre faz com que ela se dobre incorretamente."

Em trabalhos futuros, Kulkarni e seus colegas planejam investigar as alterações celulares e moleculares que ocorrem com danos na mucosa e seus efeitos na alfa-sinucleína no intestino. Até lá, os especialistas recomendam aumentar o monitoramento de pacientes com danos à mucosa e o tratamento oportuno de condições que podem levar a danos na mucosa, como úlcera péptica, esofagite e infecção por H. pylori.

"Se tratarmos esses pacientes adequadamente, e o acompanhamento mostrar que o dano à mucosa melhorou, isso é suficiente para prevenir o risco futuro de doença de Parkinson ou não?" Safarpour disse. "Acho que esse é um ponto importante que precisa ser estudado."

"Há motivos para cautela, mas não há motivo para pânico. Não estamos dizendo que todas as pessoas que têm danos na mucosa vão desenvolver Parkinson ", disse Kulkarni. "Existe uma associação e um risco aumentado, e temos que descobrir quais são os mecanismos pelos quais podemos diminuir o risco nessas populações de pacientes." Fonte: Washingtonpost.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Estudo encontra interrupções em grande escala no microbioma intestinal de Parkinson

Algumas alterações ligadas à progressão mais rápida das complicações motoras em pacientes

30 de agosto de 2024 - O microbioma intestinal de pessoas com doença de Parkinson exibe mudanças substanciais na composição e funcionais em relação ao de indivíduos saudáveis, com algumas dessas mudanças ligadas a uma progressão mais rápida dos problemas motores ao longo do tempo, de acordo com um novo estudo.

"O microbioma [da doença de Parkinson] é funcionalmente distinto dos controles", escreveram os pesquisadores, acrescentando que essas alterações "podem contribuir para o desenvolvimento mais rápido de complicações motoras ao longo do tempo".

Os pesquisadores acreditam que essas descobertas dão suporte a um crescente corpo de evidências de que as mudanças no microbioma de Parkinson - as bactérias e outros micróbios encontrados no intestino - podem ser relevantes para a progressão da doença.

O estudo, "Análise metagenômica revela interrupções em larga escala do microbioma intestinal na doença de Parkinson", foi publicado na revista Movement Disorders.

Examinando mudanças funcionais no microbioma intestinal de Parkinson

Evidências acumuladas indicam que as pessoas com doença de Parkinson têm alterações em seu microbioma intestinal, ou a constelação de bactérias, fungos e vírus que vivem no trato gastrointestinal.

Essas alterações são observadas no início do curso da doença, mas não se sabe se elas conduzem ao início da doença e contribuem para sua progressão, ou se são secundárias a outros processos da doença.

As alterações microbianas estão associadas a mudanças nos níveis de metabólitos, ou pequenas moléculas produzidas a partir de processos metabólicos de bactérias, que também têm sido associadas ao Parkinson.

Especificamente, estudos sugerem que o microbioma de Parkinson tem reduções nos micróbios que produzem ácidos graxos de cadeia curta (SCFA), um tipo de metabólito que se acredita ser anti-inflamatório e protetor, com mudanças em direção a um aumento de outros que têm funções mais tóxicas.

No novo estudo, uma equipe de cientistas no Canadá teve como objetivo examinar as mudanças funcionais no microbioma de Parkinson e a relação entre essas mudanças, metabólitos bacterianos e progressão da doença.

O estudo envolveu 197 pessoas com Parkinson e 103 indivíduos sem a doença, que serviram como grupo controle. Todos foram recrutados por meio de um centro de pesquisa no Canadá e tinham idades entre 40 e 85 anos. Amostras de fezes dos participantes foram analisadas quanto a micróbios e metabólitos.

Os resultados mostraram que as pessoas com doença de Parkinson tiveram menos interações entre micróbios do que as do grupo controle. Além disso, a abundância de sete tipos de bactérias diferiu entre os dois grupos. Essas diferenças foram mais fortes em pacientes com Parkinson que apresentavam sintomas motores que afetavam ambos os lados do corpo de forma semelhante (simétricos).

Descobriu-se que o microbioma de Parkinson é funcionalmente distinto de um saudável, pois várias funções bacterianas foram alteradas em pacientes em relação ao grupo controle. Por exemplo, os pacientes de Parkinson exibiram depleções nas vias associadas à degradação de carboidratos.

Os pesquisadores observaram que mais da metade dos processos funcionais alterados estavam associados a uma bactéria chamada Faecalibacterium prausnitzii.

Microbioma intestinal de pacientes favorece inflamação, sugere estudo Alterações funcionais ligadas a maior carga de complicações motoras

Curiosamente, os resultados também apoiaram descobertas anteriores, sugerindo uma mudança em direção à produção de metabólitos tóxicos envolvidos na degradação de proteínas em detrimento da produção de SCFA.

Esses metabólitos correlacionaram-se com uma bactéria chamada Blautia obeum que estava elevada nas amostras de Parkinson. Os cientistas acreditam, portanto, que B. obeum é um “provável degradador de proteínas de interesse”.

As descobertas sugeriram que a atividade de B. obeum pode interferir com uma bactéria benéfica chamada Blautia wexlerae, que está ligada à produção de SCFA. A gravidade da doença geralmente aumentou ao longo do tempo em pacientes com Parkinson, com a progressão mais rápida observada nas pontuações da Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson da Movement Disorder Society (MDS-UPDRS), parte IV.

Isso avalia a gravidade das complicações motoras que podem surgir enquanto os pacientes estão em terapia para a doença de Parkinson. No geral, uma série de alterações funcionais observadas no microbioma de Parkinson foram correlacionadas com uma maior carga de complicações motoras. Nossos dados demonstram que [a doença de Parkinson] está associada a um conjunto de... diferenças intestinais.

Os cientistas usaram os dados para gerar um modelo para prever a doença de Parkinson e a taxa de progressão de problemas motores. Este modelo "mostrou uma capacidade moderada, mas incompleta, de separar [Parkinson] e controlar amostras", de acordo com os autores.

No geral, "nossos dados demonstram que [a doença de Parkinson] está associada a um conjunto de intestinos ... diferenças que se alinham com as principais descobertas de outras coortes [da doença de Parkinson]", escreveram os pesquisadores.

Embora os resultados sugiram que as alterações microbianas contribuem para um desenvolvimento mais rápido de complicações motoras ao longo do tempo, "esses dados se beneficiariam da validação em outros ... coortes", concluiu a equipe. Fonte: Parkinsons News Today.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Estudo encontra interrupções em grande escala no microbioma intestinal de Parkinson

Algumas alterações ligadas à progressão mais rápida das complicações motoras em pacientes

30 de agosto de 2024 - O microbioma intestinal de pessoas com doença de Parkinson exibe mudanças substanciais na composição e funcionais em relação ao de indivíduos saudáveis, com algumas dessas mudanças ligadas a uma progressão mais rápida dos problemas motores ao longo do tempo, de acordo com um novo estudo.

"O microbioma [da doença de Parkinson] é funcionalmente distinto dos controles", escreveram os pesquisadores, acrescentando que essas alterações "podem contribuir para o desenvolvimento mais rápido de complicações motoras ao longo do tempo".

Os pesquisadores acreditam que essas descobertas dão suporte a um crescente corpo de evidências de que as mudanças no microbioma de Parkinson - as bactérias e outros micróbios encontrados no intestino - podem ser relevantes para a progressão da doença.

O estudo, "Análise metagenômica revela interrupções em larga escala do microbioma intestinal na doença de Parkinson", foi publicado na revista Movement Disorders.

Celltrion, LisCure trabalhando em terapias de microbioma intestinal para Parkinson

Examinando mudanças funcionais no microbioma intestinal de Parkinson

Evidências acumuladas indicam que as pessoas com doença de Parkinson têm alterações em seu microbioma intestinal, ou a constelação de bactérias, fungos e vírus que vivem no trato gastrointestinal.

Essas alterações são observadas no início do curso da doença, mas não se sabe se elas conduzem ao início da doença e contribuem para sua progressão, ou se são secundárias a outros processos da doença.

As alterações microbianas estão associadas a mudanças nos níveis de metabólitos, ou pequenas moléculas produzidas a partir de processos metabólicos de bactérias, que também têm sido associadas ao Parkinson.

Especificamente, estudos sugerem que o microbioma de Parkinson tem reduções nos micróbios que produzem ácidos graxos de cadeia curta (SCFA), um tipo de metabólito que se acredita ser anti-inflamatório e protetor, com mudanças em direção a um aumento de outros que têm funções mais tóxicas.

No novo estudo, uma equipe de cientistas no Canadá teve como objetivo examinar as mudanças funcionais no microbioma de Parkinson e a relação entre essas mudanças, metabólitos bacterianos e progressão da doença.

O estudo envolveu 197 pessoas com Parkinson e 103 indivíduos sem a doença, que serviram como grupo de controle. Todos foram recrutados por meio de um centro de pesquisa no Canadá e tinham idades entre 40 e 85 anos. Amostras de fezes dos participantes foram analisadas para micróbios e metabólitos.

Os resultados mostraram que as pessoas com doença de Parkinson tiveram menos interações entre micróbios do que as do grupo controle. Além disso, a abundância de sete tipos de bactérias diferiu entre os dois grupos. Essas diferenças foram mais fortes em pacientes com Parkinson que apresentavam sintomas motores que afetavam ambos os lados do corpo de forma semelhante (simétricos).

Descobriu-se que o microbioma de Parkinson é funcionalmente distinto de um saudável, pois várias funções bacterianas foram alteradas em pacientes em relação ao grupo controle. Por exemplo, os pacientes de Parkinson exibiram depleções nas vias associadas à degradação de carboidratos.

Os pesquisadores observaram que mais da metade dos processos funcionais alterados estavam associados a uma bactéria chamada Faecalibacterium prausnitzii. Fonte: Parkinsons News Today.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Ligação com bactérias do intestino aponta novo caminho para tratamento; entenda

18/06/2024 - Cientistas japoneses identificaram alterações na flora intestinal e sugerem que suplementar vitaminas do complexo B pode ser uma possibilidade terapêutica

A doença de Parkinson é um diagnóstico neurodegenerativo que afeta milhões de pessoas e provoca problemas de movimento, saúde mental, sono, dor e em outras questões de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O tratamento auxilia no controle dos sintomas, mas existem poucas alternativas e que ainda não são capazes de curar a enfermidade. Agora, cientistas japoneses apontam que um novo caminho terapêutico pode estar no intestino. Fonte: Economiaempauta.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Ligação entre microbiota intestinal e doença de Parkinson aponta para potencial rota terapêutica

17 DE JUNHO DE 2024 - Na doença de Parkinson, foi encontrada uma redução nas bactérias intestinais dos genes responsáveis pela síntese das vitaminas essenciais do complexo B B2 e B7.

Um estudo liderado pela Escola de Pós-Graduação em Medicina da Universidade de Nagoya, no Japão, revelou uma ligação entre a microbiota intestinal e a doença de Parkinson (DP). Os pesquisadores encontraram uma redução nas bactérias intestinais dos genes responsáveis pela síntese das vitaminas B essenciais B2 e B7.

Eles também identificaram uma relação entre a falta desses genes e baixos níveis de agentes que ajudam a manter a integridade da barreira intestinal. Essa barreira impede que as toxinas entrem na corrente sanguínea, o que causa a inflamação observada na DP. Suas descobertas, publicadas no npj Parkinson's Disease, sugerem que o tratamento com vitaminas do complexo B para tratar essas deficiências pode ser usado para tratar a DP.

A DP é caracterizada por uma variedade de sintomas físicos que dificultam as atividades diárias e a mobilidade, como tremores, movimentos lentos, rigidez e problemas de equilíbrio. Embora a frequência de DP possa variar entre diferentes populações, estima-se que afete aproximadamente 1-2% dos indivíduos com 55 anos ou mais.

Vários processos fisiológicos são fortemente influenciados pelos microrganismos encontrados no intestino, que são coletivamente conhecidos como microbiota intestinal. Em condições ideais, a microbiota intestinal produz AGCC e poliaminas, que mantêm a barreira intestinal que impede a entrada de toxinas na corrente sanguínea. As toxinas no sangue podem ser levadas para o cérebro, onde causam inflamação e afetam os processos de neurotransmissão que são críticos para manter a saúde mental.

Para entender melhor a relação entre as características microbianas do intestino na DP, Hiroshi Nishiwaki e Jun Ueyama, da Escola de Pós-Graduação em Medicina da Universidade de Nagoya, realizaram uma metanálise de amostras de fezes de pacientes com DP do Japão, Estados Unidos, Alemanha, China e Taiwan.

Eles usaram o sequenciamento de espingarda, técnica que sequencia todo o material genético de uma amostra. Esta é uma ferramenta inestimável porque oferece aos pesquisadores uma melhor compreensão da comunidade microbiana e da composição genética da amostra.

Eles observaram uma diminuição nos genes bacterianos responsáveis pela síntese de riboflavina (vitamina B2) e biotina (vitamina B7) em pacientes diagnosticados com DP. A riboflavina e a biotina, derivadas tanto da microbiota alimentar quanto intestinal, têm propriedades anti-inflamatórias, que podem neutralizar a neuroinflamação observada em doenças como a DP.

As vitaminas do complexo B desempenham papéis cruciais nos processos metabólicos que influenciam a produção e as funções dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e das poliaminas, dois agentes que ajudam a manter a integridade da barreira intestinal, impedindo a entrada de toxinas na corrente sanguínea. Um exame dos metabólitos fecais revelou diminuição de ambos em pacientes com DP.

Os resultados indicam uma explicação potencial para a progressão da DP. "Deficiências em poliaminas e AGCCs podem levar ao afinamento da camada de muco intestinal, aumentando a permeabilidade intestinal, ambos os quais foram observados na DP", explicou Nishiwaki.

"Essa maior permeabilidade expõe os nervos a toxinas, contribuindo para a agregação anormal da alfa-sinucleína, ativando as células imunológicas no cérebro e levando à inflamação a longo prazo.

"A terapia de suplementação visando riboflavina e biotina é promissora como uma avenida terapêutica potencial para aliviar os sintomas da DP e retardar a progressão da doença."

Os resultados do estudo destacam a importância de compreender a complexa relação entre a microbiota intestinal, as vias metabólicas e a neurodegeneração. Nos próximos anos, a terapia poderá ser personalizada com base no perfil único do microbioma de cada paciente. Ao alterar os níveis bacterianos no microbioma, os médicos podem potencialmente atrasar o início dos sintomas associados a doenças como a DP.

Poderíamos realizar análises da microbiota intestinal dos pacientes ou realizar análises de metabólitos fecais”, disse Nishiwaki. “Usando essas descobertas, poderíamos identificar indivíduos com deficiências específicas e administrar suplementos orais de riboflavina e biotina àqueles com níveis diminuídos, criando potencialmente um tratamento eficaz”. Fonte: Medicalxpress.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Micróbios intestinais e comprometimento cognitivo leve na doença de Parkinson – há uma conexão?

Pesquisas anteriores sugeriram diferenças relacionadas a um sintoma não motor específico da doença de Parkinson, mas um estudo com o objetivo de replicar esses achados complica o quadro.

jun 11, 2024 Doença de Parkinson - O microbioma intestinal não está associado a comprometimento cognitivo leve na doença de Parkinson

Doença de Parkinson - um distúrbio multissistêmico

A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa comum caracterizada por uma perda de neurônios e níveis reduzidos de dopamina associados. Isso leva a sintomas motores característicos, como tremores, rigidez muscular e problemas de equilíbrio. No entanto, agora é reconhecido que Parkinson é uma doença multissistêmica que pode incluir uma variedade de sintomas não motores, além dos sintomas motores.1,2

Microbioma intestinal na doença de Parkinson

Estudos têm mostrado que existem diferenças significativas nos microbiomas intestinais de pessoas com doença de Parkinson em comparação com indivíduos saudáveis.1–4 Estes incluem mudanças na composição geral da comunidade (também conhecida como "diversidade beta"), e um enriquecimento de certos tipos de bactérias, como Lactobacillus, Akkermansia e Bifidobacterium, e uma redução de outros, como Faecalibacterium e a família Lachnospiraceae.1,2,4 Diferenças funcionais relacionadas aos micróbios intestinais também foram detectadas, por exemplo, níveis aumentados de certos metabólitos microbianos, como metionina e cisteinilglicina.3

Comprometimento cognitivo, micróbios de Parkinson

O comprometimento cognitivo é frequentemente observado em pessoas com doença de Parkinson, com gravidade variando de comprometimento cognitivo leve a demência da doença de Parkinson. Tais sintomas podem piorar os resultados do tratamento e impactar negativamente a qualidade de vida. Devido à ligação estabelecida entre os micróbios intestinais e a doença de Parkinson, surge a questão se também pode haver diferenças microbianas entre as pessoas com Parkinson que são cognitivamente prejudicadas e aquelas que não são. Antes de nosso estudo, apenas um outro grupo de pesquisa havia investigado essa questão. Eles foram capazes de detectar diferenças na diversidade microbiana e nas quantidades de vários tipos diferentes de bactérias relacionadas à presença de comprometimento cognitivo leve.5

Os resultados podem ser replicados?

Conduzimos nosso estudo para descobrir se os resultados anteriores poderiam ser replicados em uma coorte diferente e geograficamente distinta. Comparamos indivíduos representando três grupos: 58 com doença de Parkinson e comprometimento cognitivo leve, 60 com Parkinson sem comprometimento cognitivo e 90 indivíduos controles cognitivamente normais.

Detectamos diferenças na diversidade microbiana entre os controles e os dois grupos da doença de Parkinson, em linha com pesquisas anteriores, mas não vimos nenhuma ao comparar os dois grupos de Parkinson – com e sem comprometimento cognitivo – o que contradiz os resultados do estudo anterior. Um padrão semelhante surgiu quando consideramos as quantidades de micróbios específicos: havia muitas diferenças entre os indivíduos de controle e qualquer um dos dois grupos de Parkinson, mas muito poucas entre os indivíduos com e sem comprometimento cognitivo leve. Dentre eles, o que mais nos intrigou foi a falta de Akkermansia muciniphila em indivíduos com comprometimento cognitivo leve, já que essa bactéria é tipicamente mais abundante em pessoas com doença de Parkinson em comparação com indivíduos controles1–4. No entanto, Akkermansia não estava na lista de micróbios alterados do estudo anterior5, nem nenhuma das outras bactérias que nossas comparações sugeriram como potencialmente diferentes em relação ao comprometimento cognitivo.

Implicações

Como esperado, fomos capazes de ver diferenças gerais do microbioma intestinal entre pessoas com Parkinson e indivíduos controle. No entanto, quase não vimos diferenças entre as pessoas com Parkinson que têm comprometimento cognitivo leve e aquelas que não têm. Em outras palavras, não pudemos replicar os achados do estudo anterior, que deixa menos claro se há uma assinatura microbiana para a doença de Parkinson com comprometimento cognitivo leve ou não. Somente pesquisas adicionais podem responder definitivamente a essa pergunta. Fonte: Springernature.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Nova teoria explica origens e propagação da doença de Parkinson

Cientistas propõem novo modo de diagnosticar doença de Parkinson.

[Imagem: Gerado por IA/Bing]

Origem da doença de Parkinson

A doença de Parkinson começa no nariz ou no intestino?

Nas últimas duas décadas, a comunidade científica tem debatido a origem das proteínas tóxicas que disparam a doença. Em 2003, o patologista alemão Heiko Braak propôs pela primeira vez que a doença começa fora do cérebro. Mais recentemente, Per Borghammer e colegas do Hospital Universitário de Aarhus (Dinamarca) argumentaram que a doença é o resultado de processos que começam no centro olfativo do cérebro (primeiro o cérebro) ou no trato intestinal do corpo (primeiro o corpo).

A mesma equipe agora está propondo uma nova hipótese que unifica os modelos "primeiro o cérebro" e "primeiro o corpo" com algumas das prováveis causas da doença de Parkinson: tóxicos ambientais que são inalados ou ingeridos.

Os pesquisadores argumentam que a inalação de certos pesticidas, compostos químicos comuns de lavagem a seco e a poluição do ar predispõem a um modelo da doença que prioriza o cérebro. Outros tóxicos ingeridos, como alimentos contaminados e água potável contaminada, levam ao modelo da doença que prioriza o corpo.

"Tanto no cenário que prioriza o cérebro quanto o que prioriza o corpo, a patologia surge em estruturas do corpo intimamente conectadas ao mundo exterior," disse o pesquisador Ray Dorsey, membro da equipe. "Aqui propomos que o Parkinson é uma doença sistêmica e que suas raízes iniciais provavelmente começam no nariz e no intestino e estão ligadas a fatores ambientais cada vez mais reconhecidos como os principais contribuintes, se não as causas, da doença. A doença de Parkinson, a doença cerebral que mais cresce no mundo, pode ser alimentada por substâncias tóxicas e, portanto, é amplamente evitável."

Brasileiros desenvolveram teste que detecta Parkinson em estágio inicial.

[Imagem: Cristiane Kalinke et al. - 10.1016/j.snb.2023.133353]

Diferentes rotas para o cérebro, diferentes formas de doença

Uma proteína chamada alfa-sinucleína, quando mal dobrada, tem estado na mira dos cientistas nos últimos 25 anos como uma das forças motrizes por trás do Parkinson. Com o tempo, a proteína se acumula no cérebro em aglomerados, chamados corpos de Lewy, e causa disfunção progressiva e morte de muitos tipos de células nervosas, incluindo aquelas nas regiões do cérebro produtoras de dopamina que controlam a função motora. Quando propôs a ideia pela primeira vez, Braak imaginou que um patógeno não identificado, como um vírus, poderia ser o responsável pela doença.

O novo artigo argumenta que as toxinas encontradas no meio ambiente, especificamente os produtos químicos de limpeza a seco e desengordurantes tricloroetileno (TCE) e percloroetileno (PCE), o herbicida paraquate e a poluição do ar, podem ser causas comuns para a formação de alfa-sinucleína tóxica. E os problemas não são de hoje: A poluição do ar estava em níveis tóxicos na Londres do século XIX, quando James Parkinson descreveu a doença.

O nariz e o intestino são revestidos por um tecido macio e permeável e ambos têm conexões bem conhecidas com o cérebro. No modelo que prioriza o cérebro, os produtos químicos são inalados e podem entrar no cérebro através do nervo responsável pelo olfato. Do centro olfativo do cérebro, a alfa-sinucleína se espalha para outras partes do cérebro, principalmente de um lado, incluindo regiões com concentrações de neurônios produtores de dopamina. A morte dessas células é uma marca registrada da doença de Parkinson. A doença pode causar tremor assimétrico e lentidão nos movimentos e uma taxa de progressão mais lenta após o diagnóstico, e só muito mais tarde, comprometimento cognitivo significativo ou demência.

Por sua vez, quando ingeridos os compostos químicos passam pelo revestimento do trato gastrointestinal. A patologia inicial da alfa-sinucleína pode começar no próprio sistema nervoso do intestino, de onde pode se espalhar para ambos os lados do cérebro e da medula espinhal. Esta via do corpo é frequentemente associada à demência com corpos de Lewy, uma doença da mesma família da doença de Parkinson, caracterizada por constipação precoce e perturbações do sono, seguidas por uma lentidão mais simétrica nos movimentos e demência precoce, à medida que a doença se espalha através de ambos os hemisférios do cérebro.

"Essas substâncias tóxicas ambientais são generalizadas e nem todos têm a doença de Parkinson," disse Dorsey. "O momento, a dose e a duração da exposição e as interações com fatores genéticos e outros fatores ambientais são provavelmente fundamentais para determinar quem desenvolverá Parkinson. Na maioria dos casos, essas exposições provavelmente ocorreram anos ou décadas antes do desenvolvimento dos sintomas." Fonte: Diariodasaude.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Impacto da dieta nas bactérias intestinais oferece novas pistas no manejo da doença de Parkinson

Abr 25 2024 - Um estudo recente da doença de Parkinson de Npj investiga a associação entre a dieta e a composição do microbioma intestinal em um esforço para identificar as vias funcionais que afetam pacientes com doença de Parkinson (DP).

Estudo: Dieta e o microbioma intestinal em pacientes com doença de Parkinson. Crédito de imagem: Chinnapong / Shutterstock.com

Dieta e risco de DP

A DP é uma das doenças neurodegenerativas mais comuns associadas ao envelhecimento. Alguns sintomas comuns associados à DP incluem comprometimento motor progressivo, bem como sintomas não motores, como disfunção gastrointestinal (GI), depressão, constipação e comprometimento cognitivo. Sintomas específicos não motores podem se manifestar décadas antes do diagnóstico clínico durante seus estágios prodrômicos.

Estudos prévios mostraram que a dieta desempenha um papel crítico na incidência e progressão da DP. Por exemplo, aqueles que aderem a uma dieta de alta qualidade medida pelo Escore de Dieta Mediterrânea alternativo (aMED) e Índice de Alimentação Saudável Alternativa (IAE) estão em menor risco de DP, enquanto pontuações mais baixas do Índice de Alimentação Saudável (IES) – 2015 foram associadas à constipação crônica e hiposmia em pacientes com DP.

Anteriormente, foi estabelecida uma correlação entre comprometimento cognitivo e baixa ingestão de fibras. Além disso, muitos pacientes diagnosticados com DP em uma idade relativamente mais jovem relataram maiores hábitos de consumo de açúcar.

A má alimentação e o envelhecimento modificam a composição do microbioma intestinal, no qual a concentração de bactérias benéficas diminui e as bactérias nocivas aumentam. A síntese inadequada de nutrientes essenciais do microbioma intestinal e os níveis elevados de toxinas podem resultar em neurodegeneração e neuroinflamação.

Os pacientes com DP geralmente exibem níveis mais baixos de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como Coprococcus e Butyricicicoccus, bem como níveis mais altos de Akkermansia, bactérias pró-inflamatórias. É importante ressaltar que os AGCC têm propriedades anti-inflamatórias que influenciam o sistema nervoso entérico, modulam a inflamação no sistema nervoso central e apoiam o desenvolvimento normal da microglia.

Até o momento, poucos estudos examinaram o papel da dieta no desenvolvimento e progressão da DP. Portanto, pesquisas adicionais são necessárias para explorar essa relação e, finalmente, usar esses achados para desenvolver intervenções adequadas para aliviar os sintomas gastrointestinais na DP.

Sobre o estudo

O presente estudo investigou a associação entre dieta e diversidade microbiana intestinal, composição, abundância e seu metagenoma previsto em pacientes com DP. Para esse fim, uma análise transversal foi realizada usando um subgrupo de pacientes com DP do estudo Parkinson's Environment and Gene (PEG) que recrutou 832 pacientes com DP entre 2001-2007 (PEG1) e 2011-2017 (PEG2).

Foram recrutados pacientes diagnosticados com DP nos últimos três a cinco anos, residentes na Califórnia há pelo menos cinco anos e sem outras condições neurológicas ou doença terminal. Amostras fecais foram coletadas de pacientes que foram recontatados entre 2017-2020 (PEG-Gut).

Um total de 85 participantes preencheu todos os critérios de elegibilidade e foram considerados na análise atual. A coorte do estudo preencheu o Questionário de História da Dieta II (DHQ II) para avaliação dietética. A qualidade da dieta foi mensurada por meio do HEI-2015, com escores totais variando entre zero e 100 pontos.

Achados do estudo

A maioria dos participantes do estudo era de homens de ascendência europeia, não fumantes, com sobrepeso e com boa escolaridade. Curiosamente, a maioria dos pacientes com DP desenvolveu constipação no tercil de escore mais baixo do IQD.

Consistente com relatos anteriores, o estudo atual confirmou os benefícios de uma dieta de alta qualidade na manutenção de um intestino saudável em pacientes com DP. Uma dieta saudável leva à redução de bactérias pró-inflamatórias putativas, que são abundantemente encontradas em pacientes com DP em comparação com indivíduos saudáveis.

A adesão a uma dieta de alta qualidade com alto escore no IQD aumentou a abundância de bactérias produtoras de AGCC, como Coprococcus1, Ruminococcaceae, Butyricicoccus, grupo NK4A214, Hydrogenoanaerobacterium, Romboutsia, Negativibacillus e Ruminococcaceae UCG-003 em pacientes com DP. Essas bactérias sintetizam butirato que reduz a inflamação, fornecendo energia para as células epiteliais intestinais e fortalecendo o epitélio intestinal.

Aqueles que relataram maior consumo de açúcar de adição apresentaram níveis reduzidos de Romboutsia, Butyricicoccus e Coprococcus 1. Níveis aumentados de bactérias produtoras de amiloide, Klebsiella, também foram observados.

Pacientes com DP frequentemente exibem níveis aumentados de citocinas pró-inflamatórias no soro e no cólon, o que reflete inflamação sistêmica que poderia ativar a micróglia. A ativação da microglia está inerentemente associada à progressão da DP.

Mecanisticamente, uma dieta saudável diminui a degradação da taurina, a biossíntese de lipopolissacarídeos, bem como o número de lipopolissacarídeos circulantes e a inflamação sistêmica na DP. Uma dieta saudável em pacientes com DP também aumenta os gêneros da família Ruminococcaceae no intestino, o que suporta o metabolismo da taurina e reduz a degradação da taurina.

Conclusões

O presente estudo indicou que uma dieta saudável poderia ser extremamente benéfica para os pacientes com DP, pois poderia reduzir os sintomas motores e não motores, bem como retardar a progressão da doença. Além disso, uma dieta saudável aumenta os níveis de bactérias putativas produtoras de butirato anti-inflamatório e diminui as bactérias pró-inflamatórias putativas em pacientes com DP.

Assim, os achados do estudo enfatizam a importância da adesão a uma dieta de alta qualidade desde o diagnóstico inicial da DP, pois poderia ajudar a manter um microbioma saudável e retardar a progressão da doença. No entanto, deve-se notar que a capacidade de manter uma dieta saudável pode se tornar cada vez mais difícil à medida que a doença progride. Fonte: News-medical.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Pesquisa investiga relação de fungos e leveduras com Parkinson

Estudo conclui que organismos podem desempenhar papel-chave na origem e na evolução da doença

09 ABR 2024 - Não é por mero acaso que o intestino também é chamado de “segundo cérebro”. Mais do que uma simples metáfora, essa designação reflete a importância do sistema digestivo para o bem-estar geral do organismo. Além de absorver nutrientes e eliminar resíduos, esse órgão abriga a segunda maior quantidade de neurônios do corpo humano, conta com uma vasta comunidade de microrganismos e mantém uma intricada rede de comunicação com o sistema nervoso central (SNC). O intestino está diretamente relacionado com o surgimento de transtornos de humor e cognição e de doenças neuropsiquiátricas.

Uma pesquisa realizada recentemente na Unicamp concluiu que fungos e leveduras presentes na microbiota intestinal – o conjunto de microrganismos que habitam o intestino – podem desempenhar um papel-chave na origem e evolução de uma dessas doenças, o Parkinson. Os achados resultaram de uma revisão bibliográfica conduzida pelo biólogo Dionísio Pedro Amorim Neto, doutorando da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), e foram publicados no periódico Fungal Biology Reviews.

Foto do biólogo Dionísio Pedro Amorim Neto / O biólogo Dionísio Pedro Amorim Neto: debruçando-se sobre mais de cem estudos

Em seu doutorado, o cientista investiga a ação de bactérias e leveduras que participam da fermentação do café. Alguns estudos já apontaram que o consumo regular dessa bebida reduz a propensão das pessoas a desenvolverem Parkinson. A hipótese é de que, além da cafeína, também contribuem para esse efeito os microrganismos presentes na fermentação do café. A maioria das pesquisas sobre o tema, no entanto, investigou apenas a relação das bactérias intestinais com a doença, deixando de lado vírus, fungos etc. O objetivo de Amorim, a partir dessa constatação, é propor um modelo de triagem capaz de selecionar as leveduras responsáveis por proteger o organismo contra o Parkinson.

“Eu lia e relia artigos nas bases de dados e nunca encontrava nada sobre a relação de fungos e leveduras com o Parkinson”, comenta o autor. “No entanto, quando a gente olha para outras doenças neurodegenerativas, como a esclerose múltipla ou a síndrome amiotrófica lateral, os fungos intestinais desempenham um papel. Isso nos leva a crer que o mesmo acontece com o Parkinson, que também implica processos como neurodegeneração, neuroinflamação e estresse oxidativo. Sendo assim, eu propus ao meu orientador verificar o estado da arte das pesquisas sobre o tema”, relata o pesquisador, orientado pelo docente Anderson de Souza Sant’Ana, coordenador do Laboratório de Microbiologia Quantitativa de Alimentos (LMQA) da FEA.

Em busca dos resultados almejados, o autor debruçou-se sobre mais de cem estudos publicados nas principais bases de dados científicos do mundo. Em um primeiro momento, avaliou artigos publicados sobre bactérias para entender o que já se sabia sobre o tema. Em seguida, realizou pesquisas que associassem as palavras-chave obtidas nas pesquisas sobre bactérias com os termos “fungos” e/ou “leveduras”. Os achados sugerem que fungos e leveduras, ou seus metabólitos secundários, poderiam tanto proteger dos como induzir os principais sintomas clínicos do Parkinson. Sugerem, ainda, que os fungos funcionariam como uma peça-chave na etiologia – causas e origens – dessa doença.

Achados

Embora se desconheça a causa exata do Parkinson, sabe-se que entre 85% e 90% dos casos são esporádicos, ou seja, causados por uma combinação de fatores ambientais como exposição a infecções e a poluentes, dieta e danos cerebrais. Contudo, nos últimos anos, diversos estudos vêm apontando conexões entre o intestino e o cérebro como um importante fator no caso de doenças neurodegenerativas, havendo alguns caminhos possíveis para explicar essa relação.

De acordo com Amorim, um desses caminhos consiste na hipótese de que alguns metabólitos produzidos pelos microrganismos intestinais caiam na corrente sanguínea e cheguem até o cérebro. Uma segunda sugere ser determinante o contato desses metabólitos com as células do epitélio intestinal. “Porque eles vão estar muito próximos do intestino, vão estimular essas células que, por sua vez, vão estimular os neurônios ali presentes. Porém uma terceira opção é a possibilidade de, estimuladas, as células neuroendócrinas, que têm propriedades de células intestinais e de neurônios, se conectarem ao nervo vago e acarretarem a doença”, explica.

Foto do professor Anderson de Souza Sant’Ana / O professor Anderson de Souza Sant’Ana, coordenador do LMQA e orientador da pequisa

Durante a investigação, o autor conseguiu encontrar semelhanças entre a ação de bactérias e de fungos no eixo intestino-cérebro quando se trata da doença de Parkinson. Por exemplo, pesquisas já comprovaram que bactérias são capazes de inibir o estresse oxidativo – que ocorre quando os níveis de antioxidantes no corpo encontram-se abaixo do desejado – e o processo inflamatório intestinal e neuronal. Resultados semelhantes foram observados em estudos com fungos probióticos em modelos de síndrome do intestino irritável e depressão. Ao mesmo tempo, extratos de fungos filamentosos capazes de induzir o estresse oxidativo e matar linhagens de neurônios em laboratórios – fatores associados ao Parkinson – também foram observados em alguns levantamentos. Tais indícios levaram os pesquisadores à hipótese de que os fungos intestinais desempenham um papel relevante na doença de Parkinson.

Segundo o doutorando, “já foi demonstrado que algumas espécies do gênero Candida encontram-se em maior número no intestino de pacientes com a doença de Parkinson. Então, a alteração da composição intestinal no caso desses microrganismos, chamada de disbiose, pode influenciar o curso da doença. Algumas micotoxinas também podem induzir a morte neuronal e o aumento da expressão da alfa-sinucleína, a principal proteína relacionada à doença de Parkinson. De outro lado, o intestino também tem as leveduras com ação probiótica, que podem ter efeitos benéficos”.

Apesar dos resultados promissores de sua pesquisa, Amorim alerta haver ainda uma grande lacuna nos estudos sobre a relação das leveduras com o Parkinson, o que impossibilita estabelecer uma visão geral sobre o tema. Para se ter uma ideia, são conhecidos apenas quatro estudos em todo o mundo investigando a composição fúngica do intestino de pacientes com Parkinson. E esses trabalhos possuem resultados e abordagens metodológicas bastante divergentes.

“No artigo, enfatizei o que ainda não sabemos. A gente não sabe qual é a interação dos fungos com as bactérias, por exemplo. Ninguém pegou um fungo, aplicou um modelo e verificou se ele ficou doente. Então, ainda há muito trabalho de pesquisa a ser realizado e parte dessa investigação será feita durante meu doutorado”, finaliza.

Matéria publicada originalmente no Jornal da Unicamp. Fonte: Unicamp.

terça-feira, 5 de março de 2024

Microbiota intestinal e a intrínseca relação com a Doença de Parkinson

2024-03-04 - Introdução: A microbiota intestinal possui um papel significativo no desenvolvimento e na homeostase de diferentes sistemas do corpo, incluindo o sistema nervoso central (SNC). A disbiose intestinal pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da doença de Parkinson (DP).

Objetivos: Analisar a relação da microbiota intestinal com a doença de Parkinson, bem como avaliar o uso de probióticos como terapia.

Metodologia: Trata-se de uma revisão narrativa realizada em bases de dados científicos digitais National Libary of Medicine (NLM) utilizando os descritores (DeCS/MeSH) utilizados, por sua vez, foram "Dysbiosis", "Parkinson Disease", "probiotics" e “gastrointestinal microbiome”. Esse processo foi composto por quatro etapas: identificação, seleção, elegibilidade e inclusão.

Resultados: Pacientes com DP frequentemente apresentam disbiose intestinal. Ela está envolvida na secreção de ácidos graxos de cadeia curta e moduladores neuroinflamatórios como, dopamina, serotonina e GABA. Além disso, tem indício da relação nos corpos de Lewy. Nesse sentido, o uso de probióticos mostrou redução pontos positivos no tratamento, redução de sintomas e até prevenção da DP.

Conclusão: A disbiose intestinal representa um fator de risco no desenvolvimento da DP e o uso de probióticos pode ser uma alternativa terapêutica. Fonte: Ojs brazilianjournals.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O papel da microbiota intestinal e da dieta como fatores moduladores no curso das doenças de Alzheimer e Parkinson

(Este artigo pertence à Edição Especial Dieta e Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro em Doenças Neurodegenerativas)

19 January 2024 - Resumo

Muitos pesquisadores propõem a manipulação da microbiota para prevenir e tratar doenças relacionadas. O eixo cérebro-intestino é um objeto que continua sendo alvo de pesquisas modernas, e não é sem razão que muitos pesquisadores o enriquecem com microbiota e dieta em seu nome. Numerosas conexões e correlações mútuas tornaram-se a base para a busca de respostas para muitas questões relacionadas à patologia e também à fisiologia humana. Distúrbios dessa homeostase, bem como a própria disbiose, acompanham doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Fortemente dependente de fatores externos, a modulação do microbioma intestinal representa uma oportunidade para avançar no tratamento de doenças neurodegenerativas. Intervenções probióticas, intervenções simbióticas ou transplante fecal podem, sem dúvida, apoiar o processo bioterapêutico. Um papel especial é desempenhado pela dieta, que fornece metabólitos que afetam diretamente o corpo e a microbiota. Uma visão holística do organismo humano é, portanto, essencial. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Mdpi.