A maior farmacêutica
portuguesa, que já deu dois medicamentos ao mundo, anunciou que o
primeiro doente completou o ensaio clínico de fase 2 com o BIA 28,
um novo tratamento para a doença de Parkinson, fármaco que a
companhia trofense prevê lançar ainda nesta década.
Em 2009, ao fim de 15
anos de investigação e perto de 400 milhões de euros de
investimento, a Bial lançava o primeiro fármaco de raiz portuguesa
- o antiepilético Zebinix -, tendo sete anos depois, após 11 anos
de I&D e 280 milhões de euros, arrancado com a comercialização
do antiparkinsoniano Ongentys.
Reconhecida
internacionalmente ao nível das neurociências, dos Estados Unidos
ao Japão, a Bial continua a aplicar em inovação cerca de 20% da
sua faturação, sendo a empresa industrial portuguesa que mais
investe em I&D, onde trabalha mais de uma centena dos seus cerca
de 900 trabalhadores, de 25 nacionalidades.
Entretanto, com vista a
lançar um novo medicamento ainda nesta década, a farmacêutica com
sede na Trofa concluía no último verão o processo de recrutamento
de mais de 230 doentes da América do Norte e da Europa, no âmbito
do ensaio clínico de fase II para um tratamento inovador para a
doença de Parkinson (DP).
Este ensaio visa
avaliar a eficácia, segurança e tolerabilidade do BIA 28-6156 (nome
de código, pois ainda não tem denominação comercial), um composto
para o potencial tratamento de pacientes com doença de Parkinson que
apresentam uma mutação no gene glucocerebrosidase 1 (GBA1).
O BIA 28-6156 é uma
molécula pequena, a primeira desta classe de produtos que está em
desenvolvimento para o tratamento de doentes com a DP que têm esta
mutação, com a Bial a garantir que, com toma oral uma vez por dia,
a sua fórmula pode ser o primeiro medicamento a modificar a causa
subjacente da doença (DP-GBA).
7 de janeiro de 2025: a
Bial acaba de anunciar que o primeiro doente completou o período de
tratamento do estudo de fase 2, "Avtivate", relacionado com
o BIA 28, o composto em fase mais avançada do "pipeline"
da empresa.
"O primeiro doente
a completar o estudo ‘Activate’ assinala um marco fundamental no
desenvolvimento clínico do BIA 28-6156, assim como na nossa ambição
de criar valor que transforme a vida das pessoas que têm doenças
neurodegenerativas", afirma Joerg Holenz, "Chief Scientific
Officer" da Bial.
"Estamos
confiantes de que o nosso medicamento tem o potencial de se tornar um
tratamento revolucionário e inovador para doentes com um diagnóstico
confirmado de DP-GBA", considera Holenz, realçando que "o
BIA 28-6156 tem um mecanismo de ação específico, potencialmente
modificador da doença, com a capacidade de retardar a progressão
clínica motora".
Os dados principais
deste estudo de fase 2 deverão ser publicados em meados de 2026,
prevê a farmacêutica controlada pela família Portela.
Já Joaquim Ferreira,
professor de Neurologia e Farmacologia Clínica na Faculdade de
Medicina da Universidade de Lisboa, investigador do estudo "Activate"
e membro do Steering Committee deste estudo, enfatiza que o facto de
o primeiro doente ter completado o ensaio clínico de fase 2 "reflete
mais um passo no esforço excecional para fazer avançar as opções
de tratamento para a doença de Parkinson, em particular para os
doentes com mutações GBA1".
"Este passo vem na
sequência do sucesso notável da fase de recrutamento, que incluiu
mais de 230 doentes geneticamente confirmados com DP-GBA em 85
centros na Europa e na América do Norte. Existe uma enorme
expectativa em torno do potencial do BIA 28-6156, não só para a
comunidade de doentes com DP-GBA, mas também para a comunidade de
doentes de Parkinson em geral", conclui Joaquim Ferreira.
A DP é a segunda
doença neurodegenerativa mais comum, afetando globalmente mais de 10
milhões de pessoas, sendo que entre 5% e 15% dos doentes com DP tem
mutações no gene GBA, tornando-o, numericamente, o fator de risco
genético mais importante para a doença de Parkinson.
"Os doentes com
DP-GBA tendem a ter, em média, um início mais precoce dos sintomas
em comparação com os doentes com DP idiopática. Os sintomas
clínicos são mais graves e progridem significativamente mais
depressa, levando a um pior prognóstico, o que realça a importância
de desenvolver novas soluções que possam ter impacto na progressão
da doença", sinaliza a Bial, que fechou o exercício de 2023
com uma faturação de 337,4 milhões de euros, mais 9% do que no ano
anterior. Fonte: jornaldenegocios.