Avanços ocorrerão quando repensarmos o modelo completamente.
24 de setembro de 2025 - Muitas
civilizações antigas acreditavam que a Terra era plana. Essa visão
de mundo estava atrelada à imagem simples e familiar de um plano
plano com bordas das quais você poderia cair.
É claro que a
Terra nunca foi plana, mas milhares de anos atrás, pode ter parecido
assim. Essa era a armadilha.
Hoje, quando olho para a pesquisa
sobre Parkinson e o ecossistema médico em torno dela, não posso
deixar de sentir que estamos cometendo o mesmo erro. Estamos nos
apegando a um modelo de mundo ultrapassado — não porque seja
preciso, mas porque é familiar, institucionalmente aceito e mais
fácil de mensurar.
Na minha busca por terapias, a necessidade
é a mãe da invenção
O mapa plano do Parkinson
Observe a
maioria das pesquisas sobre Parkinson nas últimas duas décadas e
você verá um foco obsessivo na descoberta de medicamentos com
mecanismo de ação, alvos genéticos, interações com receptores,
aglomerados de alfa-sinucleína e intrincadas vias moleculares.
Isso
é importante, sim — mas também incompleto. É como estudar o
vento analisando folhas individuais de grama. Você pode entender
como a grama se move, mas não perceber o vento.
Esse
hiperfoco nos aprisionou em uma mentalidade excessivamente
reducionista: uma doença, um medicamento, um mecanismo. Enquanto
isso, o Parkinson continua a se comportar mais como um transtorno
sistêmico de interrupção de padrões — que afeta o movimento, a
cognição, o humor, o sono, a função intestinal, o processamento
sensorial e muito mais.
Não é um único ponto em um mapa. É
o próprio mapa que está distorcido.
Avanços vêm de
mudanças de perspectiva
A história nos diz que avanços
acontecem quando desafiamos o modelo, não apenas o
ajustamos.
Copérnico revolucionou a astronomia ao colocar o
Sol no centro do universo, não a Terra.
Darwin revolucionou a biologia ao redefinir a mudança como evolução gradual, não como um design estático.
Einstein
revolucionou a física ao mostrar que o espaço e o tempo se
curvam.
Semmelweis salvou vidas ao levantar a hipótese de que contaminantes nas mãos de estudantes de medicina (e não o ar poluído) causavam infecção.
Nenhum desses foram apenas ajustes
técnicos. Foram atualizações conceituais.
No caso do
Parkinson, ainda estamos esperando por esse tipo de avanço — uma
reformulação que nos mostre que temos olhado para a doença de
lado, ou de cabeça para baixo.
E acho que já passamos da
hora.
O que estamos perdendo?
Deixe-me fazer uma pergunta
perigosa: e se o modelo estiver errado?
E se o Parkinson não
for primariamente uma doença da dopamina, mas um distúrbio de
integração sensorial que começa décadas antes do aparecimento dos
sintomas motores?
E se o problema não for a morte de
neurônios, mas sim o funcionamento incorreto das redes — como se o
tempo e os ciclos de feedback do cérebro começassem a se
dessincronizar como uma banda de jazz perdendo o ritmo?
E se
parássemos de olhar para o Parkinson através de um microscópio e
começássemos a olhar através de uma lente sistêmica, onde
percepção, movimento, emoção e atenção são todos parte do
mesmo padrão dinâmico?
E se já tivermos a maioria dos
ingredientes básicos para uma inovação — sensores vestíveis,
feedback tátil, tecnologia visual imersiva, plataformas de
engajamento do paciente — mas não os estivermos combinando porque
ainda estamos presos à ideia de que o mundo é plano?
Além
da molécula: O ciclo de feedback humano
Não estou dizendo que
devemos abandonar a pesquisa e o desenvolvimento farmacêutico.
Precisamos de medicamentos. Mas também precisamos expandir nosso
modelo de ação — de moléculas para mecanismos, sim, mas também
para dinâmicas, comportamentos e experiências sensoriais.
Terapia
não precisa significar comprimidos.
E se criássemos sistemas
de estimulação adaptativa que retreinassem o sistema nervoso usando
luz, som, toque, ritmo e feedback? E se pudéssemos levar o cérebro
a novos padrões da mesma forma que reabilitamos um músculo ou
recalibramos um termostato?
Isso não é ficção científica.
Já está acontecendo em áreas adjacentes: neurofeedback,
reabilitação em realidade virtual, intervenções de processamento
sensorial para autismo, estimulação coordenada de redefinição
para zumbido.
Mas o Parkinson ainda está preso aos modelos
antigos: medicamento ou nada, gerenciamento de sintomas em vez de
treinamento de sistemas, dados de clínicas em vez de vidas
reais.
Não precisamos apenas de uma nova terapia. Precisamos
de uma nova visão de mundo.
Virando o telescópio
Aqui
está a ironia: muitos dos maiores erros da história não foram
devido à falta de inteligência, mas sim à falta de imaginação.
Todos tinham acesso às mesmas evidências, mas nem todos sabiam como
enxergá-las.
Precisamos virar o telescópio, olhando não
apenas mais profundamente para o cérebro, mas de forma mais ampla,
através da experiência.
Isso significa capacitar os
pacientes a cocriar e cotestar novas ferramentas. Significa tratar a
percepção, o ritmo, a coordenação e o feedback como cidadãos de
primeira classe em nossos modelos de doença. Significa construir
terapias dinâmicas, não prescrições estáticas.
Acima de
tudo, significa ver o Parkinson não como um problema linear com uma
cura linear, mas como um desafio multidimensional que requer uma
abordagem multissectorial. Fonte: parkinsonsnewstoday.
É o que espero, pois estão muito lentos os avanços...