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sábado, 31 de agosto de 2024

Pesquisa FURB identifica potencialidades e limites do uso de neuropróteses para pacientes com Parkinson

30/08/2024 - Uma pesquisa bibliográfica desenvolvida pela estudante de Biomedicina Nicolle de Souza e Silva como Trabalho de Conclusão de Curso concluiu que as neuropróteses são recursos promissores para restaurar as funções motoras de pacientes com Parkinson. A estudante realizou uma revisão narrativa de literatura que incluiu artigos em periódicos científicos, dissertações, teses e dados técnicos de projetos publicados nos últimos cinco anos. O estudo, orientado pela professora Ana Paula Dalmagro, Doutora em Ciências Farmacêuticas, contou com a contribuição de pesquisadores de centros de pesquisa da Europa, como a École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), na Suíça, e o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), na França, que orientaram a estudante sobre os principais pontos a serem discutidos. O estudo identificou um caso bem-sucedido de uso de neuroprótese em um paciente de 62 anos que vive há mais de 30 anos com Parkinson. O paciente, que já não conseguia se locomover sozinho, recebeu um implante na medula espinhal e recuperou a capacidade de caminhar com autonomia.

O Parkinson é a segunda doença neurodegenrativa mais comum na população, atrás apenas da doença de Alzheimer. Não há dados oficiais, mas estima-se que cerca de 200 mil brasileiros convivam com a doença. Ana Paula Dalmagro, orientadora da pesquisa, explica que as doenças neurodegenerativas promovem a degradação do sistema nervoso e alerta para o fato de que tais processos degenerativos podem começar muito antes de o indivíduo atingir a terceira idade: “nós já temos evidências científicas sólidas de que os eventos que culminam na doença neurodegenerativa começam anos antes, muitas vezes décadas antes”, relata. A existência de doenças de base, como Diabetes Mellitus, hipertensão arterial e inflamações crônicas, por exemplo, é comum a muitos pacientes que apresentam doenças neurodegenerativas.

A doença de Parkinson, objeto do estudo desenvolvido pelas pesquisadoras, é caracterizada pela perda progressiva de neurônios que produzem dopamina, neurotransmissor importante no gerenciamento e controle dos movimentos. As causas da doença ainda não são totalmente esclarecidas, mas fatores genéticos, ambientais e exposição a contaminantes, como metais pesados, por exemplo, são alguns dos fatores apontados pela literatura. Os principais sintomas relatados pelos pacientes inicialmente são dificuldades motoras unilaterais, que depois passam a ser bilaterais. Nos estágios finais da doença, há intenso comprometimento cognitivo.

A doença de Parkinson não tem cura, de modo que os tratamentos buscam garantir melhor qualidade de vida aos pacientes. Os tratamentos atualmente disponíveis envolvem o uso de medicamentos de diminuem os sintomas, além de estratégias não farmacológicas, como fisioterapia e terapia ocupacional. A Levodopa, medicamento usado no tratamento de Parkinson desde a década de 1960, é capaz de promover a reposição de dopamina, mas o uso contínuo resulta em efeitos adversos, como depressão, insônia e distúrbios comportamentais, como compulsão alimentar, por compras ou jogos.

As limitações dos tratamentos atualmente disponíveis evidenciam a necessidade de aprofundar o conhecimento científico voltado ao desenvolvimento de alternativa capazes de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. As pesquisadoras destacam que a pesquisa sobre o assunto no Brasil ainda é incipiente, quando comparada à produção científica de países destinam grandes quantidades de recursos financeiros à pesquisa científica nessa área.

Dalmagro, orientadora do estudo, enfatiza a importância de fomentar o interesse dos estudantes pela pesquisa científica ainda em nível de graduação, tendo em vista que uma monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso pode ser o primeiro passo para uma futura carreira acadêmica. A experiência na condução da pesquisa despertou em Nicole o interesse em seguir carreira acadêmica.

Como a pesquisa foi realizada

Por tratar-se de uma revisão de literatura, a pesquisadora realizou buscas em português, inglês, espanhol e francês em bases de dados científicas como Google Acadêmico, PubMed (National Center for Biotechnology Information), ScienceDirect, SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde). O estudo inclui, ainda, materiais fornecidos por pesquisadores da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), na Suíça, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França. Os estudos identificados foram analisados de modo a identificar tendências, potencialidades e limites da aplicação de tecnologias de interface cérebro-máquina no tratamento de pacientes com Parkinson.

Entre os resultados mais promissores identificados pela pesquisa, destaca-se a abordagem desenvolvida por pesquisadores suíços que foi capaz de devolver as funções motoras a um paciente que vivia com Parkinson há 30 anos. O paciente, que vivia com graves dificuldades de locomoção mesmo após receber os tratamentos mais avançados disponíveis, recebeu um implante na medula espinhal composto por pequenos eletrodos. Após um processo de estimulação e reabilitação, o paciente foi capaz de retomar sua capacidade de caminhar quase normalmente. A abordagem é considerada inovadora por ter como alvo a medula espinhal e não as áreas do cérebro afetadas pela perda de dopamina.

Segundo as pesquisadoras, questões de segurança, acessibilidade, biocompatibilidade dos dispositivos e aceitação dos pacientes emergem como aspectos críticos a serem considerados por estudos futuros. Dalmagro explica que a revisão de literatura é uma etapa importante da pesquisa científica, pois contribui para a consolidação do conhecimento científico em torno de um determinado tema. A identificação do atual estágio das pesquisas permite concluir que um longo caminho ainda precisa ser percorrido para que tecnologias como esta estejam disponíveis a grandes parcelas dos pacientes.

FURB Pesquisa

O uso de neuropróteses para pacientes com Parkinson foi tema do programa FURB Pesquisa desta semana, confira:


Fonte: Furb.