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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Por que pesticida eleva risco de Parkinson? Explicação é genética

Um estudo descobriu como a exposição a longo prazo ao pesticida pode aumentar o risco da doença em algumas pessoas.

Imagem: Shutterstock/Virrage Images

26/04/2024 - O contato recorrente com pesticidas foi associado ao maior risco de desenvolvimento do Parkinson há décadas. No entanto, o motivo pelo qual o produto químico pode causar a doença em algumas pessoas e em outras não, era um mistério. Uma nova investigação da UCLA Health pode finalmente elucidar essa questão com a descoberta de que certas variantes genéticas estão por trás disso.

A pesquisa chegou à conclusão com uma análise de dados genéticos de 800 moradores do Vale Central, na Califórnia, que tiveram exposição a pesticidas por mais de uma década antes de desenvolverem o Parkinson. Detalhes foram publicados no npj Parkinson’s Disease.

As variantes genéticas

Os cientistas direcionaram seus esforços para encontrar genes raros ligados aos lisossomos, conhecidos como “sacos digestivos” das células, que acreditam estar associados ao Parkinson.

Eles compararam os genes dos indivíduos expostos aos pesticidas com amostras da população em geral para tentar encontrar possíveis diferenças entre eles.

Assim, descobriram uma predisposição genética que provoca certas alterações de genes, posteriormente fortalecidos pela exposição aos pesticidas.

Essa variação parece ter um efeito prejudicial no funcionamento das proteínas do nosso organismo, gerando incapacidade das células de quebrar proteínas ruins.

Com a exposição aos pesticidas, a consequência foi um acúmulo de tóxicos que ajudou a gerar a doença.

Autofagia e o Parkinson

Em nosso cérebro, há uma proteína chamada alfa-sinucleína, que, no caso de pessoas com Parkinson, se acumula demais e forma aglomerados chamados corpos de Lewy. Pesquisas anteriores descobriram que pequenas mudanças em certos genes, relacionados à autofagia (o processo em que a célula se livra das proteínas ruins), podem contribuir para esse acúmulo.

Segundo Brent Fogel, autor do estudo, uma predisposição genética origina pequenas alterações nos genes que normalmente não causam problemas, mas quando as pessoas estão expostas a certos produtos químicos, como pesticidas, o cenário muda. Basicamente, nossos genes podem não ser um problema por si só, mas em certas situações podem nos deixar mais propensos a desenvolver doenças como o Parkinson.

Existem outras variantes genéticas?

As descobertas do estudo levantam a possibilidade de que outras variações genéticas possam influenciar o aparecimento do Parkinson nesta população, incluindo uma possível relação com outros processos do organismo afetados por diferentes tipos de pesticidas.

Os pesquisadores acreditam que se for possível entender o porquê certas pessoas desenvolveram a doença, talvez possam tomar medidas para agir na origem do problema. Fonte: Olhardigital.

terça-feira, 16 de abril de 2024

4 descobertas científicas recentes e surpreendentes sobre a doença de Parkinson

160424 - Entender melhor a doença é fundamental para escolher técnicas de diagnóstico e tratamento.

A Doença de Parkinson é uma das doenças neurodegenerativas mais comuns, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estimando-se que acometa 4 milhões de pessoas em todo o mundo.

Bruno Burjaili, neurocirurgião especialista em Parkinson, explica que vários estudos têm trazido "respostas que nos ajudam a entender melhor o problema e saber como atuar sobre esta doença, com o objetivo de melhorar a vida das pessoas envolvidas".

Conheça 4 descobertas recentes

1. Medicamento para diabetes pode ter efeito contra Parkinson:

Segundo um estudo publicado recentemente na New England Journal of Medicine, o medicamento “lixisenatida”, usado normalmente para tratar diabetes, pode ter bons efeitos também na redução da progressão de problemas motores decorrentes do Parkinson.

"É uma das melhores notícias recentes da ciência sobre o Parkinson, pois poderá, dentro de pouco tempo, trazer uma nova ferramenta para o nosso arsenal de medicamentos", diz o neurocirurgião.

2. Ondas cerebrais e o declínio cognitivo no parkinson

Um estudo publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry identificou que a análise de ondas cerebrais nas faixas de delta e teta, na região frontal (atrás da testa), ajudam a analisar a disfunção cognitiva na doença de Parkinson.

"Esse tipo de análise poderia, por exemplo, melhorar o processo de seleção de pessoas aptas para o marca-passo cerebral, ou seja, o implante que pode reduzir tremores, rigidez e lentidão," aponta Burjaili.

3. Agrotóxicos e o Parkinson

Outro estudo, desta vez realizado por investigadores da UCLA e Harvard, listou 10 agrotóxicos que possuem relação com danos nos neurónios dopaminérgicos, o que afeta o controlo de movimento muscular e tem relação com o desenvolvimento do Parkinson.

"Já sabemos dos efeitos nocivos de agrotóxicos do sistema nervoso e aumento do risco da doença. Listagens rigorosas ajudam a proteger-nos desse efeito", conta.

4. Implantes na coluna para melhorar caminhada

Um estudo da Nature Medicine mostra que as técnicas de Estimulação Elétrica Epidural, através de neuropróteses, ajudam a modular a atividade de nervos, principalmente quando combinada com a Estimulação Cerebral Profunda, o ‘marca passo cerebral’.

"Aqui está uma grande esperança para um dos problemas mais difíceis de serem tratados no Parkinson, que é a dificuldade de locomoção, particularmente o chamado 'congelamento' ou 'freezing'", concluiu. Fonte: Lifestyle.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Casos de Parkinson são mais frequentes em regiões com forte uso de pesticidas

No estudo, os pesquisadores fizeram a revisão de registros médicos de 21,5 milhões de pessoas inscritas no Medicare em 2009 para determinar a taxa da doença de Parkinson em várias regiões do país

Os autores descobriram que os pesticidas e herbicidas simazina, atrazina e lindano tinham a relação mais forte com a doença de Parkinson - (crédito: Reprodução/Embrapa )

28/02/2024 - Pesquisadores dos Estados Unidos relatam um aumento de casos de doença de Parkinson em regiões do país onde há forte uso de pesticidas e herbicidas agrícolas. Um estudo preliminar divulgado ontem, e que será apresentado em abril no congresso da Academia Norte-Americana de Neurologia, identificou 14 substâncias tóxicas nas regiões das Montanhas Rochosas e das Grandes Planícies, associadas significativamente com a enfermidade neurodegenerativa.

No estudo, os pesquisadores fizeram a revisão de registros médicos de 21,5 milhões de pessoas inscritas no Medicare em 2009 para determinar a taxa da doença de Parkinson em várias regiões do país. Eles procuraram, então, uma possível relação entre a incidência da enfermidade e o uso de 65 pesticidas.

Os autores descobriram que os pesticidas e herbicidas simazina, atrazina e lindano tinham a relação mais forte com a doença de Parkinson. Quando dividiram os condados em 10 grupos com base na exposição a esse tipo de substância tóxica, constataram que os habitantes de locais com maiores aplicações de simazina tinham 36% mais probabilidade de apresentar o distúrbio degenerativo, comparado a níveis de exposição menores.

Para o herbicida atrazina, aqueles expostos à maior quantidade tinham 31% mais risco de ter Parkinson. Já o inseticida lindano associou-se a um risco 25% mais elevado. Os resultados permaneceram quando os pesquisadores ajustaram outros fatores que poderiam afetar o risco do mal, como poluição atmosférica. "É preocupante que estudos anteriores tenham identificado outros pesticidas e herbicidas como potenciais fatores de risco para a doença de Parkinson, e há centenas de pesticidas que ainda não foram estudados quanto a qualquer relação com a doença", disse Brittany Krzyzanowski, principal autora do estudo e cientista do Instituto Neurológico Barrow, no Arizona.

"Muitos estudos sugeriram a possibilidade de uma causa ambiental para o Parkinson", observa Chris Morris, professor sênior do Instituto de Pesquisa Clínica e Transnacional da Universidade de Newcastle, no Reino Unido. Ele cita um artigo, do ano passado, que encontrou associação da doença com a exposição a um químico específico, o tricloroetileno. "É necessário investigar muito mais para determinar essas relações e, esperançosamente, inspirar a tomada de medidas para reduzir o risco de doenças, reduzindo os níveis desses pesticidas. Fonte: Correio Braziliense.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

EPA novamente aprova o uso de herbicida tóxico ligado à doença de Parkinson

O rascunho do relatório da agência apoia a segurança do paraquat, mas os demandantes do processo dizem que a EPA ignorou as evidências do risco de Parkinson

Ervas daninhas crescem em terras agrícolas em Blythe, Califórnia, em 2015. Fotografia: Jae C. Hong/AP

Sun 11 Feb 2024 - Agência de Proteção Ambiental dos EUA - EPA, novamente aprova uso de herbicida tóxico ligado à doença de Parkinson

O rascunho do relatório da agência apoia a segurança do paraquat, mas os demandantes do processo dizem que a EPA ignorou as evidências do risco de Parkinson

A Agência de Protecção Ambiental dos EUA está a redobrar a sua controversa descoberta de que um herbicida tóxico é seguro para utilização em milhões de hectares de terras agrícolas americanas, apesar do que os defensores da saúde pública caracterizam como “prova científica” virtual de que o produto causa a doença de Parkinson.

Em 2021, a agência reaprovou a utilização de herbicidas à base de paraquat, mas uma coligação de grupos agrícolas e de saúde pública processou, acusando a EPA de ter ignorado o amplo consenso científico que ligava a substância à doença de Parkinson.

A EPA concordou em reavaliar a ciência mais atual, mas na semana passada divulgou um novo projeto de relatório reafirmando a segurança da substância. Mas os demandantes do processo dizem que a agência ignorou novamente as evidências do risco de Parkinson, incluindo dezenas de estudos revisados por pares enviados a ela pela Fundação Michael J Fox para Pesquisa do Parkinson.

Ao reaprovar a substância “altamente letal”, a EPA “violou a lei” e colocou os interesses da indústria acima da saúde pública, alegam os demandantes.

“Há um conjunto de evidências incrivelmente esmagador sobre isso que foi aceito por cientistas de todo o mundo, e a decisão da EPA realmente colocou isso em desacordo com a melhor ciência disponível”, disse Jonathan Kalmuss-Katz, advogado sênior do Earthjustice, o autor principal do processo.

A decisão da EPA é a última salva numa batalha de décadas sobre o uso do paraquat, que é um herbicida altamente eficaz. Noutros países, a Syngenta, que produz a substância, perdeu – quase 60 países proibiram o paraquat. Uma empresa estatal chinesa comprou a Syngenta em 2017, mas a China ainda proíbe o produto, tal como o Reino Unido e a UE.

Cerca de 8 milhões de libras anualmente são pulverizadas em uvas, amêndoas, soja, algodão e outras culturas dos EUA, mais comumente no Vale Central da Califórnia, em Iowa e no Vale do Rio Mississippi. O uso da substância triplicou nos EUA entre 2008 e 2018.

A pesquisa mostra que o paraquat interfere na produção e regulação da dopamina, e as pessoas com Parkinson apresentam níveis reduzidos de dopamina. O paraquat também está associado a danos respiratórios e doenças renais, e a ingestão de uma única colher de chá é considerada mortal.

Por lei, a EPA deve rever os pesticidas a cada 15 anos e não pode aprovar aqueles que criem um “risco irracional” para a saúde humana. “Literalmente centenas” de trabalhos de investigação – incluindo estudos epidemiológicos, animais e humanos – associaram a substância à doença de Parkinson, disse Kalmuss-Katz.

Os trabalhadores e as comunidades agrícolas estão em maior risco – um estudo epidemiológico das comunidades agrícolas da região central da Califórnia expostas ao paraquat e a outro herbicida mostrou claramente um risco aumentado de Parkinson.

A EPA tem elogiado as suas regulamentações rigorosas em torno da aplicação do paraquat e exige que os agricultores sejam treinados e certificados para usá-lo enquanto usam equipamento de proteção.

Mas mesmo com as regulamentações, as comunidades agrícolas ainda enfrentam um risco elevado, disse Kalmuss-Katz, que a EPA até reconheceu no seu relatório. A agência afirmou que “concluiu que esses riscos foram superados pelos benefícios do uso do paraquat”. No entanto, o risco de Parkinson não foi levado em consideração, disse Kalmuss-Katz.

A reavaliação vem da mesma notória divisão da EPA que os denunciantes dizem ter sido capturada pela indústria. O Guardian revelou no ano passado como documentos corporativos internos mostraram que a Syngenta procurou influenciar a tomada de decisões dos reguladores em torno do produto químico, ocultou riscos ao público e tentou editar estudos desfavoráveis. Enquanto isso, mantinha uma “equipe Swat” que respondia a relatórios independentes que poderiam interferir na sua “liberdade de vender” paraquat.

Embora a última decisão da EPA sugira que pretende manter o paraquat no mercado, ela disse que irá analisar mais dados científicos e poderá mudar de rumo quando publicar um relatório final no próximo ano.

“A EPA ainda pode corrigir a sua decisão errada, mas precisa de seguir a ciência e juntar-se a dezenas de outros países na proibição do paraquat”, disse Kalmuss-Katz.

Bem, 2023 não saiu exatamente como planejado, não é?

Aqui no Reino Unido, o primeiro-ministro, Rishi Sunak, prometeu-nos um governo de estabilidade e competência – sem esquecer o profissionalismo, a integridade e a responsabilidade – depois da viagem de montanha-russa de Boris Johnson e Liz Truss. Lembra da Liz? Hoje em dia ela parece uma comédia há muito esquecida. Em vez disso, Sunak levou-nos ainda mais além, através do espelho, para o psicodrama conservador.

Em outros lugares, o quadro não foi melhor. Nos EUA, Donald Trump é agora o favorito de muitas pessoas para se tornar presidente novamente. Na Ucrânia, a guerra arrasta-se sem fim à vista. O perigo de o resto do mundo ficar cansado da batalha e perder o interesse é muito aparente. Depois, há a guerra no Médio Oriente e sem esquecer a crise climática…

Mas um novo ano traz uma nova esperança. Há eleições em muitos países, incluindo o Reino Unido e os EUA. Temos que acreditar na mudança. Que algo melhor é possível. (segue...) Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: The Guardian.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Gilles e Gisèle, vítimas de pesticidas

6 février 2024 - A suspensão do plano Ecophyto pelo governo Attal irritou os ambientalistas, mas também as vítimas dos produtos fitossanitários. Entre eles, Gilles e Gisèle que contam a sua dupla luta tanto contra a doença como pelo seu reconhecimento em “C’est la vie”.

A França é o terceiro maior consumidor de pesticidas do mundo © Getty - Sirisak Boakaew

A França é o terceiro maior consumidor de pesticidas do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Japão. Estar na natureza, trabalhar em contato com os animais, motivos que habitam a vocação de quem se torna produtor rural. Gilles Ravard e Gisèle Garreau estão entre eles.

Na última quinta-feira, 1º de fevereiro, o governo de Gabriel Attal anunciou a pausa do plano Ecophyto para apaziguar a indignação dos agricultores, que denunciam a competição desigual com países cujas regulamentações sobre pesticidas são mais flexíveis.

Problema: vários estudos, incluindo o encomendado pelo INSERM em 2021, estabelecem que a exposição repetida a pesticidas é responsável por diversas doenças, incluindo o linfoma não-Hodgkin (cancro do sistema linfático), o cancro da próstata e até a doença de Parkinson.

A importância do coletivo

Ele é um ex-agricultor de Pornic, ela foi agricultora durante vinte anos em Plouguernével, ambos na Bretanha. Depois de décadas trabalhando na terra, Gilles sofria de câncer no sangue e Gisèle foi diagnosticada com doença de Parkinson com apenas 50 anos. Eles relatam anos de luta para obter o reconhecimento de sua patologia como doença ocupacional.

Ambos relatam a ausência de informação sobre a periculosidade destes produtos que “todos usavam”, a negação quando a doença foi anunciada, depois a raiva, a falta de consideração, tanto psicológica como financeira. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Francebleu.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Ctgb(*): nenhuma relação causal entre uso de substâncias e Parkinson

© Burt Sytsma

07 JUN 2023 - Até agora, nenhuma relação causal foi demonstrada entre o uso de produtos fitofarmacêuticos e a ocorrência da doença de Parkinson. Isso é relatado por Jessica Broeders, toxicologista do Conselho de Autorização de Produtos Fitofarmacêuticos e Biocidas (Ctgb).

Na semana passada, Broeders e colegas explicaram aos jornalistas a avaliação da toxicologia humana na autorização de produtos fitofarmacêuticos. Nos últimos anos, muita atenção tem sido dada à relação entre o aumento da incidência da doença de Parkinson e o uso de substâncias.

O programa de TV Zembla dedicou transmissões a isso. O ministro da Agricultura, Piet Adema, também disse recentemente que contratou o RIVM para conduzir pesquisas sobre a exposição a substâncias e as consequências para a saúde pública.

• Leia também: RIVM inicia pesquisa sobre arelação entre doença de Parkinson e uso de substâncias

Broeders diz que os sinais preocupantes sobre distúrbios neurológicos, como o Parkinson, levaram o Ctgb a levantar a questão com a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar. 'Mas continua difícil gerar sinais para neurotoxicologia em métodos de teste. É por isso que a ligação com o Parkinson é difícil de estabelecer.

Doença ocupacional
Na França, o Parkinson é classificado como uma doença ocupacional para os produtores de uva. Segundo o toxicologista do Ctgb, isso significa que o governo francês assume uma ligação entre o uso da substância e a doença, mas isso ainda não afetou a política de internação.

“Os problemas com Parkinson parecem ser principalmente um legado do passado. Isso pode remontar a trinta anos atrás. Naquela época, ainda mais recursos eram usados ​​e menos atenção era dada à exposição de operadoras e residentes locais', diz Broeders. Original em holandês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Nieuweoogst.

(*) Conselho de Autorização de Produtos Fitofarmacêuticos e Biocidas (Ctgb)

E dizem que não rolaria "cupção" por lá!

sexta-feira, 2 de junho de 2023

sexta-feira, 31 de março de 2023

Agrotóxicos cancerígenos foram os mais vendidos no Brasil em 2020 e 2021; alimentação saudável e na quantidade necessária é um direito

31/03/2023 - Os agrotóxicos cancerígenos e desreguladores endócrinos estão entre os mais vendidos no Brasil em 2020 e 2021. Esta é uma das conclusões de um estudo da professora aposentada Sonia Hess, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Engenheira química especialista no tema, ela partiu de dados dos relatórios fornecidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

A lista inclui as seguintes substâncias:

Acefato: Inseticida e acaricida que, segundo estudos de 2017, é citotóxico e genotóxico sobre espermatozoides humanos. Além disso, pesquisas de 2016 o associam ao desenvolvimento do diabetes tipo 2, hiperglicemia, disfunção no metabolismo de lipídios, danos ao DNA e câncer.

Atrazina: Estudos realizados em 2017 apontaram que o herbicida está associado ao aparecimento de diversos tipos de câncer, como de estômago, linfoma não-Hodgkin, próstata, tireóide, ovário, Parkinson, asma, infertilidade e baixa qualidade do sêmen. E também malformações congênitas/teratogênese.

Clorotalonil: Fungicida causador de desregulação endócrina, conforme mostrou estudo de 2019.

Clorpirifós: Segundo pesquisas realizadas em 2017 e 2018, o inseticida está associado ao surgimento de diversos tipos de câncer, como no cérebro, pulmão, colorretal, leucemia e sarcoma de tecidos moles. Além disso, Parkinson, asma, infertilidade, malformações congênitas, disfunções sexuais, desordem do déficit de atenção e hiperatividade (ADHD), autismo, atrasos no desenvolvimento. Sem contar intoxicações agudas severas e danos ao sistema nervoso central.

Imidacloprido: Inseticida causador de desordem do déficit de atenção e hiperatividade (ADHD), autismo e danos ao sistema nervoso central, conforme pesquisas de 2015, 2016 e 2017.

Mancozebe: Pesquisa de 2017 aponta que o fungicida e acaricida causa câncer de tireóide.

Brasil: maior lixeira química do mundo

“Somos a maior lixeira química do mundo”, disse Sonia Hess, que estudou todos os agrotóxicos autorizados no Brasil. “Os resultados são chocantes”. Ela se refere também a outras conclusões de seu levantamento: em 2020 foram comercializadas no Brasil pelo menos 243.531,28 toneladas de agrotóxicos banidos na União Europeia. No ano seguinte, ao menos 289.857,41 toneladas.

Ou seja, têm registro e são líderes de vendas no Brasil ingredientes ativos de agrotóxicos sem registro ou com uso proibido na União Europeia. Isso justamente pelos danos à saúde e ao meio ambiente. Em sua pesquisa, Sonia Hess encontrou 364 agrotóxicos de base química. “Desse total, 191 (52,5%) não têm registro ou tiveram seu uso banido na União Europeia”, comentou.

Processo de contaminação de longa duração por agrotóxicos

Para piorar, essa lista de 191 agrotóxicos banidos pelo órgão regulador da União Europeia inclui 173 (90,6%) que estão em uso no Brasil desde pelo menos o ano de 2003. “Em outras palavras, são moléculas velhas. Em 2020 foram comercializadas no Brasil, pelo menos, 243.531,28 toneladas desses agrotóxicos banidos na UE”, disse o professor e pesquisador da Universidade Estadual do Norte Fluminense Marcos Pedlowski.

Segundo ele, para garantir os lucros fabulosos dos fabricantes de agrotóxicos e do latifúndio agro-exportador brasileiro, “o Estado brasileiro está permitindo o contato direto e indireto com substâncias altamente perigosas e com potencial para causar enfermidades terríveis em seres humanos. E causar um processo de contaminação de ampla duração nos ecossistemas naturais brasileiros.”

Governo lança Programa de Aquisição de Alimentos para fortalecer pequenos produtores e melhorar a alimentação da população

No dia 22 de março, o governo Lula (PT) lançou uma medida provisória do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com o intuito de comprar frutas, legumes, leite e outros alimentos oferecidos por pequenos produtores para encaminhamento à população em situação de vulnerabilidade social. Também busca incentivar a participação de pequenos produtores indígenas e oriundos de comunidades tradicionais, assim como de mulheres agricultoras. Medidas previstas nos termos do programa visam garantir que as mulheres cadastradas sejam ao menos 50% do total de pessoas fornecedoras. Fonte: Sintrajufe.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Estudo encontra agrotóxicos em famosos pães e biscoitos. Veja lista

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) identificou agrotóxicos em produtos comuns na mesa dos brasileiros, como o biscoito Oreo

16/08/2022 - Para manter a saúde em dia, devemos priorizar uma alimentação natural, evitando ultraprocessados — alimentos ricos em açúcares, gorduras e substâncias artificiais. Além de serem prejudiciais ao organismo, esses produtos podem conter agrotóxicos, conforme alerta o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em nova pesquisa.

Para se ter ideia, duas das três marcas de requeijão analisadas continham resquícios da substância. Os campeões do veneno, contendo adição de seis tipos de agrotóxico, foram o pão Bisnaguito, da Panco; a bolacha Água e Sal, da Marilan; a bolacha também de Água e Sal, da Vitarella; e o biscoito Trakinas.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as principais doenças relacionadas à intoxicação por agrotóxicos são: arritmias cardíacas, lesões renais, câncer, alergias respiratórias, doença de Parkinson e fibrose pulmonar.

Resquícios da substância também foram identificados em famosas bisnaguinhas, amplamente consumidas por crianças.

Agrotóxico está relacionado ao Parkinson

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) encontrou agrotóxicos em ultraprocessados comuns na mesa dos brasileiros, como o biscoito Oreo.

Em segundo lugar, contendo cinco agrotóxicos, apareceram o pão Bisnaguinha, da Seven Boys; a bolacha Água e Sal, da Triunfo; a bolacha também de Água e Sal, da Zabet; a Empanada de Frango, da Seara; e o salgadinho Torcida.

Muitos dos alimentos citados são destinados ao público infantil, fato que preocupou pais e nutricionistas.

Para uma alimentação saudável, opte por produtos in natura ou minimamente processados. Uma forma de identificá-los é por meio da lista de ingredientes. Quanto menor ela for, mais saudável e livre de substâncias químicas o produto será.

Vale ressaltar que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as principais doenças relacionadas à intoxicação por agrotóxicos são: arritmias cardíacas, lesões renais, câncer, alergias respiratórias, doença de Parkinson e fibrose pulmonar. Os venenos entram no corpo por meio de contato com a pele, mucosa, pela respiração e ingestão. Fonte: Metropoles.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

PRF prende contrabandista com mais de 2 mil litros de agrotóxico contrabandeado em Palmeira das Missões

Alguns dos produtos apreendidos foram proibidos no Brasil depois que estudos apontaram casos de intoxicação e até morte

foto: PRF

22/02/2022 - PRF prende contrabandista com mais de 2 mil litros de agrotóxico contrabandeado em Palmeira das Missões (Portal de Camaquã).

(...) A polícia já constatou que alguns dos agrotóxicos apreendidos são proibidos pela Anvisa, após estudos internacionais indicarem casos de intoxicação aguda e morte de pessoas que tiveram contato com essa substância, além de estar relacionado a casos de câncer e doença de Parkinson. (...)

O contrabandista deve estar se perguntando: Pôrra, tô contrabandeando produto químico, me arriscando e tudo isso que trago da Argentina, é legal... Tão tirando meu mercado! Recentemente a Anvisa teve que abrir a porteira devido ao Projeto de Lei 6.299/2002, conhecido como Pacote do Veneno, que impôs liberação geral!

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Investigação de uma ligação de pesticidas à doença de Parkinson

 February 19, 2022 - Probing for a pesticides link to Parkinson’s disease.

Aposta em modelo decadente, PL do Veneno expõe desigualdades entre norte e sul

Sem permissão em seus países, fabricantes de agroquímicos se valem da legislação frágil de nações em desenvolvimento

Avião fumiga agrotóxico no Quênia, um dos países africanos que aplicam os produtos fabricados – e proibidos – pela União Europeia - AFP

19 de Fevereiro de 2022 - A recente aprovação do Projeto de Lei 6.299/2002, conhecido como Pacote do Veneno, tem gerado preocupação entre cientistas e ambientalistas que, desde 2003, alertam sobre as consequências de uma legislação mais flexível aos agrotóxicos. O passo definitivo será dado no Senado, mas sua aprovação na Câmara dos Deputados já aponta para uma tendência observada em todo o mundo: as leis mais permissivas e os incentivos para a entrada de agroquímicos nos campos do sul global e as restrições, por outro lado, no norte global.

Com clima predominantemente tropical e subtropical, os países da América Latina e do continente africano são os mais afetados com a aplicação de agroquímicos em seus cultivos. São países onde o debate sobre a proibição e o risco dos agrotóxicos costuma ser bem menos incidente do que nos países do norte global, os fabricantes desses produtos. 

Só o Reino Unido exportou para países como Brasil, México, Índia e Indonésia 21,2 mil toneladas de misturas com o paraquate, herbicida altamente tóxico fabricado na cidade de Huddersfield – e, claro, proibido para uso na União Europeia.

Em 2017, o Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia já revelava a desigualdade entre as regiões em relação ao uso dos pesticidas para os cultivos. Dos 100 agrotóxicos utilizados até então para o cultivo do arroz, base da alimentação brasileira, 25 são proibidos na União Europeia (UE).

Mas também os europeus consomem do seu veneno, mesmo restringindo o uso localmente. Em 2016, foram mais de 17 mil toneladas de arroz exportados do Brasil para a UE.

A desigualdade também se reflete nos níveis de resíduo permitidos por lei: o limite de presença do inseticida malationa no feijão no Brasil chega a 400 vezes mais do que o permitido pela UE. Na soja, o mesmo se repete com 200 vezes mais permissão para resíduos de glifosato, agroquímico altamente cancerígeno. A água potável no Brasil pode ter 5 mil vezes mais resíduos desse herbicida em relação ao bloco europeu.

Autora da pesquisa, a doutora em Geografia Larissa Bombardi teve que deixar o Brasil com seus filhos após a publicação do seu trabalho.

Venenos paraquate e glifosato foram responsáveis por 214 mortes no Brasil na última década / Arquivo / EBC

Europeus se surpreendem com dados

Para países do sul global que sofrem diretamente os efeitos da fumigação de pesticidas, como é o caso do Brasil, fazer passar iniciativas como o Projeto Nacional de Redução de Agrotóxicos é especialmente desafiador. Relator do projeto de lei na comissão especial de 2018, o deputado Nilto Tatto (PT) esteve na apresentação que Bombardi fez do Atlas no Parlamento Europeu. O parlamentar destaca a surpresa de muitos europeus diante dos dados.

"Os venenos são proibidos lá, mas voltam nas sementes e nas carnes que os países importam do Brasil, da Argentina, do Paraguai, do Uruguai. É importante destacar isso no processo de pressão internacional a esse modelo de agricultura que temos", disse o deputado ao Brasil de Fato, afirmando que a produção de conhecimento é fundamental para a conscientização social.

"As informações mobilizam as pessoas que não querem comer veneno e cuidar do meio ambiente. Por isso, o próprio agronegócio e os países importantes na produção de alimentos precisam rever esse modelo de agricultura dependente de agroquímicos, porque pode perder mercado no futuro", diz Tatto. "A liberação de mais agrotóxicos parece ser um tiro no próprio pé do agronegócio", considera.

Portas abertas para um modelo em decadência

Em tempos de emergência climática e de eventos voltados para possíveis soluções globais como a COP26, o que se observa é um aprofundamento do modelo agroindustrial. Aparentemente melhorados no norte global, os efeitos nocivos são transportados, cada vez mais, ao sul global, como observa a engenheira agrônoma Francileia Paula de Castro, coordenadora nacional da Campanha Contra os agrotóxicos e Pela Vida.

"As propostas de medidas mitigadoras têm se dado principalmente em países como Estados Unidos, União Europeia, China, grandes potências mundiais. A União Europeia tem um plano de reduzir 25% de agrotóxicos nos próximos anos. Mas fica a pergunta: isso significa que a União Europeia vai deixar de importar os produtos tóxicos para outros países do sul global?", questiona.

"A externalidade de recursos ecossociais tem sido terceirizada [para países] como Chile, Paraguai, Brasil, México e países africanos, tanto para questão dos agrotóxicos como para a imposição dos transgênicos."

:: Syngenta sabe dosefeitos nocivos do paraquate desde 1990, aponta pesquisa

Manipulação genética

A alteração genética das sementes é parte do pacote que faz os agrotóxicos serem essenciais para o cultivo no modelo agroindustrial. Quanto mais uniformes e simplificadas, as plantações podem receber os inseticidas, herbicidas e todo tipo de agroquímico fabricado para matar as plantas e pragas indesejadas nos cultivos. A manipulação genética segue de mão dadas com os agroquímicos, lançando sementes no mercado que são resistentes a novos e mais tóxicos agroquímicos.

"O agravante desse cenário é que nossos sistemas agrícolas foram moldados ao longo do século 20 em vários princípios da agronomia", ressalta o geneticista Rubens Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). "Focando em apenas dois desses princípios fundamentais: um é a maximização do rendimento, e o outro é a uniformidade. Os agricultores foram convencidos pelos agrônomos e pela indústria de alimentos que temos que ter padrão, os grãos têm que ser iguais, tamanho, cor", critica.

Nodari destaca como esses próprios princípios geram um cenário contraproducente para um modelo extremamente focado na produtividade e no lucro.

"Quando a gente compara o que existe na natureza, dificilmente encontramos plantas mortas por fungos ou insetos, porque ela não tem uniformidade ou uma única variedade. Quando há uniformidade genética, criamos uma vulnerabilidade", afirma Nodari. "Se um fungo pode atacar uma planta, pode atacar todas, em 5 mil hectares com uma mesma variedade. É de uma estupidez sem limite", pontua.

:: Em 10 anos,fazendeiros jogaram agrotóxicos sobre 30 mil hectares da Amazônia,mostra estudo 

Agrotóxicos trazem mais agrotóxicos

Não há um cenário em que a introdução desses produtos não gere o aumento exponencial de sua aplicação. Portanto, a aprovação de novos agrotóxicos significa, em poucos anos, uma quantidade muito maior de resíduos nos alimentos do que a que, muitas vezes, é prometida inicialmente nas propostas e nos debates sobre os supostos benefícios desses produtos nos campos.

A Argentina tem uma experiência de longa data com o glifosato, como aponta o engenheiro agrônomo Patricio Vértiz, do Coletivo Socioambiental do Instituto Tricontinental.

"Na Argentina, há estimativas que mostram essa evolução de consumo de agroquímicos. Nos anos 1990, foram aplicados entre 35 e 40 milhões de litros de agroquímicos. Em 2018, de acordo com fontes de distintas câmaras que revelam a quantidade de produtos vendidos, supera os 525 milhões de litros", pontua.

Para o engenheiro agrônomo, a solução implica olhar para os modelos econômicos dos países do sul global que, majoritariamente, dependem do setor primário.

"​Nos nossos países, onde a produção agropecuária é uma atividade central das nossas economias e de entrada de divisas, certas mudanças devem ser pensadas em outras esferas. [Deve-se] pensar em como fazer para não depender tanto da produção primária e apontar a um desenvolvimento produtivo em todas as áreas​", afirma, destacando a necessidade de se incentivar a agricultura orgânica e gerar mecanismos sustentáveis para que seja uma base possível de uma economia. "Primeiro, deve haver um debate público instalado e medidas de políticas públicas para favorecer a diminuição de agroquímicos", pontua. Fonte: Brasil de Fato.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Agronegócio quer derrubar proibição do paraquate, agrotóxico que pode causar Parkinson e câncer

30 de Janeiro de 2022 - Agronegócio quer derrubar proibição do paraquate, agrotóxico que pode causar Parkinson e câncer.

Lançado em 1962, o paraquate foi proibido em 2007 na União Europeia e começou a ser reavaliado no Brasil em 2008 - Foto: Bruno Kelly/Greenpeace

Entidades de combate ao uso de venenos agrícolas e defesa da saúde apontam riscos no lobby de produtores de soja. (...)

O paraquate foi banido no Brasil com base em pesquisas que mostram a relação da substância com o desenvolvimento da doença de Parkinson e de mutações genéticas que podem levar ao câncer. 

De acordo com a Repórter Brasil e a Agência Pública, ele foi o produto proibido na Europa e fabricado no continente que mais teve autorizações para exportação para todo o mundo. Em 2018, chegou a representar 40% do total das exportações da União Europeia de venenos banidos. No mesmo ano, o Brasil comprou 9 mil toneladas, maior volume entre todas as nações do planeta.

O Brasil opta pelo uso de produtos que outras países já proibiram, são obsoletos.

O paraquate também foi o agrotóxico que mais tirou a vida de brasileiros na última década. Foram 530 intoxicações registradas pelo Ministério da Saúde, 138 acabaram em morte. Dessas, 93% foram registradas como suicídio.

Na nota em que pede a reinserção do produto em solo nacional, a Aprosoja questiona se a Anvisa "vai arcar com os prejuízos" dos produtores rurais "e a conta da sociedade que amargará pressões inflacionárias cada vez maiores com a queda de produtividade".

"Não há justificativa"

A biomédica Karen Friedrich, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva afirma que não existe justificativa para o produto continuar no mercado. Ela lembra que a estratégia de defender a manutenção de agrotóxicos com argumento de que os impactos à economia serão danosos é recorrente.

::Syngenta sabe dos efeitos nocivos do paraquate desde 1990, aponta pesquisa::

Segundo Friedrich, os argumentos da "chantagem" nunca se comprovaram. "Já vimos isso no passado várias vezes e isso nunca ocorre. O que ocorre é que o Brasil opta pelo uso de produtos que outras países já proibiram, são obsoletos, as próprias espécies alvo se tornam resistentes".

No governo atual, a especialista observa falta de atenção total ao assunto, com liberação ostensiva de venenos, desmonte de órgãos de fiscalização, perseguição a cientistas, ativistas, trabalhadoras e trabalhadores que atuam no combate aos agrotóxicos e na defesa do meio ambiente em geral. 

"A saúde e o meio ambiente dependem de uma política voltada para valorização do ser humano, da agricultura familiar, da produção orgânica e agroecológica", pontua ela.

A partir do governo de Michel Temer (MDB), a liberação de agrotóxicos no Brasil se acelerou de maneira significativa. No governo Bolsonaro esse movimento se intensificou ainda mais. Em 2018, 449 registros foram realizados. Já no primeiro ano da gestão atual, o número subiu para 474. Em 2021, o país autorizou o uso de 550 novos novos venenos agrícolas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Herbicida Roundup perturbando a biodiversidade de água doce

Jan 20, 2022 - À medida que a Health Canada estende o prazo da consulta pública sobre concentrações mais altas de herbicidas em certos alimentos, pesquisas da Universidade McGill mostram que o herbicida Roundup, em concentrações comumente medidas no escoamento agrícola, pode ter efeitos dramáticos nas comunidades bacterianas naturais. “As bactérias são a base da cadeia alimentar nos ecossistemas de água doce. Como os efeitos do Roundup se espalham pelos ecossistemas de água doce para afetar sua saúde a longo prazo merece muito mais estudo”, dizem os pesquisadores.

“Resistência, resiliência e redundância funcional de comunidades de bacterioplâncton de água doce enfrentando um gradiente de estressores agrícolas em um experimento de mesocosmo” foi publicado na Molecular Ecology. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: India education diary.

Lembrando que há indícios de que o Roundup desencadeie o Parkinson. A pauta ambiental e séria!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Fazendeiros americanos processam a Syngenta por herbicida ligado ao Parkinson

O paraquat tem sido vendido nos EUA desde os anos 60 e, através de aquisições, fusões e cisões, acabou fazendo parte do catálogo de produtos da Syngenta. Keystone / Charlie Neibergall

13. dezembro 2021 - A multinacional sediada na Suíça já separou US$ 187,5 milhões (CHF 171 milhões) para resolver processos judiciais movidos por agricultores expostos ao Paraquat. Mas as ações contra a empresa estão se acumulando e o custo total pode chegar aos bilhões.

O agricultor americano Doug Holliday ajudou a alimentar a nação durante décadas. Nos arredores de Greenfield, uma cidade rural do estado de Iowa com cerca de 2.000 habitantes, ele cultivava milho e soja e criava gado em milhares de acres de terra.

Aos 59 anos, Holliday, que é casado e tem dois filhos, esperava estar se preparando para uma aposentadoria tranquila ao lado de sua esposa. Há três anos, ele diminuiu o tamanho de sua fazenda, que agora tem apenas 450 acres. Ao invés disso, ele decidiu entrar numa batalha jurídica contra um dos maiores fornecedores mundiais de pesticidas e sementes – o grupo suíço Syngenta.

O americano foi mais um das centenas de agricultores de todo o país que abriram processos de responsabilidade sobre produtos contra a empresa. Ela está sendo acusada de negligência em advertir os usuários de que seu herbicida mais vendido, o Paraquat, está ligado a sérios problemas de saúde, incluindo a doença de Parkinson. Agricultores expostos ao produto, incluindo muitos que já desenvolveram o debilitante e incurável distúrbio cerebral, também estão buscando compensação financeira por perdas econômicas e não econômicas, tais como custos médicos e perda de renda.

Durante anos, Holliday utilizou grandes quantidades de Paraquat, um pesticida vendido em todo o mundo, sobretudo com o nome de Gramoxone. Ele serve para controlar ervas daninhas invasivas que afetam as culturas e, nos EUA, é amplamente utilizado para pulverizar grãos de soja, algodão, milho e pomares de frutas. Ao longo da última década, diferentes estudos relacionaram o uso do herbicida a um maior risco de desenvolver Parkinson. Sendo a 10ª maior causa de morte entre os maiores de 65 anos nos EUA, a doença foi responsável por quase 35.000 mortes nessa faixa etária em 2019. Um estudo publicado em 2011, promovido pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental, constatou que os usuários do herbicida desenvolveram a doença neurodegenerativa com 2,5 vezes mais frequência do que os não usuários.

“Sem saber nada disso, eu mesmo usei e pulverizei o Paraquat numa grande fazenda durante os anos 90”, disse Holliday à SWI swissinfo.ch numa entrevista telefônica. “Eu o manuseei fisicamente e tive que despejá-lo várias vezes no pulverizador, uma vez que só era vendido em jarras de 2,5 galões [cerca de 9,5 litros]”.

Os principais sintomas físicos do Parkinson são tremores, lentidão nos movimentos e rigidez muscular, enquanto os sintomas cognitivos incluem depressão e demência. Não há cura para a doença e suas vítimas são mais vulneráveis a infecções graves e possivelmente fatais. À medida que os sintomas se agravam cada vez mais, os custos do tratamento também se tornam mais pesados. A Fundação Parkinson nos EUA afirma que só a medicação custa em média US$ 2.500 por ano e o tratamento cirúrgico pode custar até US$ 100.000 por pessoa.

Embora não tenha apresentados sintomas, Holliday acredita que tem um maior risco de desenvolver Parkinson devido à sua exposição ao Paraquat. Se e quando ele for diagnosticado com a doença, o preço do seu seguro saúde subirá e ele não terá condições de pagar pelo tratamento até que se torne elegível para o Medicare, o sistema federal de seguro saúde para pessoas com 65 anos ou mais. É por isso que o fazendeiro de Greenfield decidiu entrar com a ação contra a Syngenta, que em 2016 foi absorvida pela China National Chemical Corp., uma empresa estatal chinesa.

“Você está falando com um cara que todos os meses assina um cheque para pagar um seguro saúde para mim, minha esposa e dois filhos, e o meu seguro tem uma franquia alta”, disse ele. “O seguro saúde é uma grande despesa para mim, soma US$ 35.000 por ano e aumenta cada vez mais.”

O Paraquat é vendido nos Estados Unidos desde os anos 60. Através de aquisições, fusões e cisões, o produto foi parar no portfólio da Syngenta, sediada na Basileia. Segundo a empresa, ele não está mais disponível para venda em 72 países, incluindo a Suíça e a China, mas ainda é comercializado em outros 27, entre eles os Estados Unidos, onde é classificado como um pesticida de uso restrito. Isso significa que os usuários devem ser treinados e certificados para utilizá-lo.

“Ele é até mesmo proibido na China, apesar de os chineses serem agora proprietários da Syngenta”, disse Holliday. “Nós somos quase como cobaias e estamos pagando o preço.”

Manifestante com máscara de morte carregando uma enorme cruz negra na frente da sede da Syngenta

Um número cada vez maior de pesquisas aponta para os riscos associados ao uso do Paraquat, e organizações como a Fundação Parkinson e Unified Parkinson’s Advocacy Council têm feito apelos para que seu cadastro seja cancelado. Apesar disso, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) autorizou, em julho deste ano, a comercialização do herbicida por mais 15 anos, adicionando apenas restrições mais rígidas para atender às preocupações com seus riscos à saúde. A decisão está sendo contestada nos tribunais pela Earthjustice, uma organização americana de direito ambiental sem fins lucrativos.

Holliday e outros agricultores decidiram enfrentar o problema, encorajados por escritórios de advocacia que viram um paralelo com outro herbicida popular, o Roundup, acusado de causar linfomas não Hodgkin, um tipo de câncer.

O Roundup era produzido pelo grupo agroquímico americano Monsanto, adquirido em 2018 pela multinacional alemã Bayer AG, que atua nas áreas farmacêutica e da biociência. Em julho deste ano, a Bayer havia separado US$ 16 bilhões para lidar com litígios envolvendo aproximadamente 125.000 ações, das quais cerca de 96.000 foram resolvidas através de acordos e o restante está aguardando o resultado de recursos na Suprema Corte dos EUA.

A possibilidade de um novo grande acordo com um gigante agroquímico desencadeou uma enxurrada de propagandas encorajando agricultores americanos a entrarem com uma ação judicial contra a Syngenta. Esses estímulos visavam particularmente agricultores com a doença de Parkinson e aqueles que tiveram contato com o Paraquat.

“Não vejo muita TV, mas até eu já vi as propagandas na televisão. Está em todas as redes sociais também”, disse Holliday.

Em maio, ele entrou com uma ação coletiva – junto a pelo menos uma centena de outros agricultores – contra a Syngenta no tribunal do Distrito Sul de Iowa, acusando a empresa de não alertar os agricultores sobre os perigos conhecidos e os possíveis riscos do uso do Paraquat. A Syngenta também é acusada de não testar adequadamente o herbicida, vender um produto perigoso e negligenciar a correção de seus erros. Ele quer que a empresa pague por exames médicos e pelo monitoramento da doença de Parkinson, a fim de garantir que os agricultores tenham acesso a um diagnóstico precoce e ao tratamento da doença.

Processos judiciais se acumulam

O caso de Holliday é um dos cerca de 380 processos, em sua maioria ações coletivas, que foram abertos nos EUA contra a Syngenta. A empresa, por sua vez, tem reiterado que “não há provas confiáveis” de que o Paraquat cause Parkinson, que todas as reivindicações são “sem fundamento” e que contestará quaisquer ações judiciais. A Syngenta disse à SWI swissinfo.ch por e-mail que “neste momento, não pode fazer comentários devido ao litígio em andamento e às regulamentações do período de silêncio”. A empresa está no processo de abertura de sua Oferta Pública Inicial (IPO) na Bolsa de Valores de Xangai. Muitas empresas escolhem estabelecer um período de silêncio de pelo menos duas semanas antes da cotação, mesmo que não seja exigido por lei, para evitar riscos de responsabilidade por informações publicadas antes da oferta de ações.

O primeiro processo contra a Syngenta foi aberto num tribunal estadual em 2017 por Thomas e Diana Hoffman, junto a várias outras pessoas. A ação ainda está aguardando julgamento. O primeiro caso a chegar num tribunal federal foi iniciado em julho de 2020, no estado do Missouri, em nome de Henry Holyfield. Ele era um trabalhador agrícola que pulverizava pesticidas, incluindo o Paraquat, de aviões agrícolas entre 1965 e 1975. Holyfield foi diagnosticado com a doença de Parkinson em 2015.

Em junho, uma turma de magistrados decidiu que todos os processos federais deveriam ser agrupados no que é conhecido como mass tort [ação coletiva contra uma empresa] e encaminhados ao Distrito Sul de Illinois. A juíza federal Nancy Rosenstengel, que supervisionará a ação centralizada, estabeleceu a data de 15 de novembro de 2022 para o julgamento do júri. De acordo com dados compilados pela United States Judicial Panel on Multidistrict Litigation, em meados de outubro, havia aproximadamente 330 ações em tribunais federais e 50 em tribunais estaduais, embora não esteja claro quantos indivíduos estão envolvidos.

“O que isso significa é que um juiz federal coordenará a investigação, os depoimentos e a produção de documentos para que o processo legal transcorra calmamente para ambos os lados”, disse Lawrence Cohan, do escritório de advocacia Saltz Mongeluzzi & Bendesky, que trabalha com litígios de exposição a produtos químicos há mais de 40 anos. “Mas, em última instância, cada indivíduo tem direito a seu próprio julgamento.”

Em abril, a firma de Cohan abriu um processo em nome de uma pessoa acometida por Parkinson e sua esposa no tribunal distrital do distrito leste da Pensilvânia. Ele quer um julgamento com júri para seus clientes, a menos que a Syngenta esteja pronta para oferecer um “acordo justo e adequado”. Cohan recusou-se a revelar por qual quantia seus clientes fariam um acordo e disse que é muito cedo para prever o valor total que a Syngenta terá que desembolsar para atender todas as alegações.

“Cada vítima experienciou sua própria perda e é impossível projetar o valor de uma ação no vácuo”, disse ele. “Algumas pessoas com a doença de Parkinson têm consequências catastróficas e vidas extremamente difíceis; elas se tornam deficientes, incapazes de trabalhar ou criar uma família, e o Parkinson pode levar a uma morte difícil e dolorosa. Cada caso terá que ser avaliado individualmente”.

No entanto, alguns escritórios de advocacia, como Miller & Zois, sediado em Maryland, tentaram oferecer uma estimativa aos possíveis clientes.

“O litígio sobre a responsabilidade pelo produto Paraquat ainda está nos estágios iniciais, portanto ainda não houve nenhum acordo”, disse a firma na página dedicada ao Paraquat em seu website. “Todavia, com base em acordos de casos envolvendo alegações e lesões similares, acreditamos que as ações sobre o Paraquat poderiam chegar a um valor de US$ 150.000 a US$ 240.000.”

Em seu relatório financeiro semestral, divulgado no final de agosto, a Syngenta revelou que havia “chegado a um grande acordo com alguns autores de ações sobre o Paraquat” e destinado US$ 187,5 milhões a um fundo voltado para financiar acordos. A empresa também declarou que não acredita que nenhuma das alegações tenham fundamento e que o acordo foi feito “com o único propósito de pôr fim a tais ações”.

É pouco provável que haja tantas ações contra o Paraquat quanto contra o Roundup. Isso se deve ao fato de que o Roundup podia ser usado por qualquer um, enquanto, para utilizar o Paraquat, os agricultores precisam passar por um programa de treinamento aprovado pela EPA a fim de se qualificarem como “aplicadores certificados”. O treinamento – obrigatório desde 2016 – deve ser repetido a cada três anos.

Preocupações na Suíça

Embora o Paraquat tenha sido proibido na Suíça em 1989, o governo tem se preocupado cada vez mais com o impacto da exposição a pesticidas na saúde dos agricultores. Ele encomendou um relatório a fim de analisar a questão para a elaboração de um plano de ação nacional que visa reduzir o uso de produtos fitossanitários. Tanto o relatório quanto o plano de ação nacional foram publicados em 2017.

Uma meta-análise da literatura científica feita pelos autores do relatório concluiu que havia “evidências moderadas” ligando a exposição ao Paraquat à doença de Parkinson. O relatório também declarou que, entre os usuários regulares de qualquer produto fitossanitário, a exposição apresentava um risco de 50% ou mais de desenvolver Parkinson. No entanto, o relatório concluiu que eram necessárias mais evidências relacionadas à exposição a classes específicas de pesticidas e princípios ativos.

Até agora, contudo, nenhum progresso foi feito na coleta dessas evidências.

“Não há nenhum estudo na Suíça que analise a saúde dos agricultores e o uso de agroquímicos”, disse Aurélie Berthet, pesquisadora da Unisanté – o Centro de Cuidados Primários e Saúde Pública da Universidade de Lausanne, no oeste da Suíça – e uma das autoras do relatório de 2017. “Outro problema é que, na Suíça, o médico não registra a profissão do paciente. Então, não temos nenhuma informação sobre doenças ocupacionais, o que seria muito bom para estudos epidemiológicos.”

A saúde dos agricultores tem sido negligenciada porque eles são um grupo pequeno e não estão cobertos por seguros saúde ocupacionais como outras profissões, disse. Além disso, estudar um grupo de agricultores por um longo período de tempo é muito caro e, na Suíça, é difícil conseguir financiamento para pesquisar os efeitos de uma determinada exposição a pesticidas. Como resultado, cientistas e autoridades passaram a confiar em resultados extrapolados de pesquisas sobre grupos de agricultores na França e na Alemanha.

Nos EUA, por outro lado, não há tal escassez de pesquisas e dados, e os advogados, que geralmente não cobram nada a não ser que ganhem a ação, veem uma grande possibilidade de vitória, especialmente após o sucesso da ação contra a Bayer e o Roundup.

De acordo com um boletim informativo publicado pela Syngenta, o Paraquat representa hoje menos de 2% do seu total de vendas e 1% de seu lucro. Mas, a longo prazo, ele pode se tornar um problema para a empresa, tanto no que diz respeito à sua imagem quanto em custos financeiros. Estes últimos ainda não são quantificáveis, mas os US$ 187,5 milhões que a empresa reservou provavelmente serão apenas uma pequena parcela do custo total, que pode levar vários anos para ser determinado.

As primeiras ações relacionadas ao Roundup foram abertas contra a Monsanto em 2015, mas foi apenas em 2020 que a Bayer concordou com em aceitar o acordo inicial de US$ 10,9 bilhões, que foi posteriormente aumentado para US$ 16 bilhões em 2021. E pode ser que os autores das ações só recebam esse dinheiro em 2022.

A espera pode ser longa demais para algumas vítimas do Paraquat, uma vez que é provável que morram antes que qualquer acordo seja feito e o dinheiro seja pago. Holliday, que ainda está saudável, pode ser um dos sortudos.

“O objetivo final é conseguir um acordo financeiro e os exames”, disse Holliday. “Precisamos de exames para que as pessoas que tiveram contato com o Paraquat possam se antecipar e tomar remédios que retardarão a doença de Parkinson.” Fonte: Swissinfo.

domingo, 24 de outubro de 2021

LOBBY NO CONGRESSO E NA ANVISA PROLONGA USO NO BRASIL DE AGROTÓXICO PROIBIDO EM 55 PAÍSES

por Andrea Torrente

04.08.2020 - Falta um mês e meio para que o paraquat – um herbicida de alta letalidade e que pode causar Doença de Parkinson e mutações genéticas – seja oficialmente banido no Brasil. A proibição não só de produzir, importar e comercializar, mas também de utilizar produtos formulados à base do ingrediente ativo do agrotóxico começa a valer em 22 de setembro, conforme a determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A data foi estabelecida há três anos, em setembro de 2017. Apesar disso, a compra e a importação do produto não caíram gradativamente, como era de se supor, mas se mantiveram em altos patamares e até aumentaram em regiões do país.

Uma das primeiras hipóteses das autoridades é de que produtores rurais estejam estocando o produto e de que contam com alguma flexibilização do banimento para seguirem aplicando o herbicida.

No Paraná, segundo maior produtor de grãos do país, a comercialização do herbicida chegou a 8,4 milhões de litros no ano passado – um avanço de 42% em três anos, segundo um levantamento da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), obtido pelo Congresso em Foco. Mais de 85% do volume de paraquat usado no estado tem como destino as lavouras de soja. No Mato Grosso, entre janeiro de 2019 e janeiro deste ano, foram vendidos 3 milhões de litros do agrotóxico, conforme o Instituto de Defesa Agropecuária do estado (Indea). O órgão, vinculado ao governo do Mato Grosso, não informou os volumes registrados em anos anteriores.

Plantação de soja em Palmeira das Missões (RS). [fotografo] Camila Domingues/Palácio Piratini [/fotografo]

O caso do Rio Grande do Sul é o mais emblemático. A comercialização dobrou de um ano para o outro, de acordo com os dados da secretaria estadual de Agricultura. Se, em 2018, foram vendidos no estado 642 mil litros de ingrediente ativo, em 2019 o volume subiu para 1,2 milhão de litros. Nos primeiros sete meses de 2020, o volume de vendas atingiu 1,23 milhão de litros, mais em que todo o ano passado. De acordo com a secretaria, como a coleta de dados começou em 2018, o aumento “pode estar relacionado ao melhor controle de informações, e não necessariamente ao aumento do uso do produto”.


A importação do paraquat também se manteve aquecida após estabelecida uma data para o banimento do herbicida. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mostram que a entrada do agrotóxico no Brasil aumentou 91% entre 2017 e 2019. Em 2017, foram compradas 35 mil toneladas do produto. Em 2018, o volume importado subiu para 50 mil toneladas e, no ano seguinte, chegou às 67 mil toneladas. A tendência só se reverteu neste ano por causa da forte alta do dólar. De janeiro a junho, 10 mil toneladas de produtos à base de paraquat descarregaram ao país.

Paraquat em estoque

Como o agrotóxico não poderá ser mantido nas propriedades rurais nem utilizado nas lavouras após 22 de setembro, uma das hipóteses é de que agricultores estejam estocando o produto para aplicá-lo, mesmo após a proibição, de forma clandestina. “Se você vê os índices de produção, sobretudo dos agricultores maiores, não tem a menor dúvida disso [de que o agrotóxico esteja sendo estocado]”, diz um servidor do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). “Eles estão apostando que o governo barre [a proibição]”, completa.

Diante da possibilidade de produtores estarem estocando o produto, o Ministério Público Federal (MPF) de Mato Grosso do Sul solicitou ao Ministério da Agricultura (Mapa) e a todos os órgãos ambientais estaduais informações sobre ações de fiscalização no uso e manejo irregular do agrotóxico.

“O paraquat tem uma forma de utilização, que é X gramas por litro em tantos hectares. Se você tem uma quantidade que é absolutamente incompatível, é óbvio que houve uma aquisição para formação de estoque”, afirma o procurador Marco Antônio Delfino. Ele observa que, assim como os medicamentos que exigem prescrição médica, a aquisição de agrotóxicos também é baseada em receita agronômica. “Toda e qualquer aquisição para formação de estoque é, a princípio, ilegal e criminosa. O crime pode ser do agrônomo, do produtor ou de ambos”, acrescenta Delfino.

A mesma suspeita é compartilhada pelo procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) de Mato Grosso, Bruno Choairy. Para ele, a hipótese mais óbvia é a de que, diante da proibição iminente, os produtores estejam aproveitando para “utilizar mais” o produto, resposta a uma estratégia de venda mais agressiva por parte das fabricantes para escoar o agrotóxico. “O aumento do consumo nos últimos anos é algo que causa alguma perplexidade e exige um estudo mais aprofundado”, afirma.

A hipótese da estocagem de paraquat consta também de uma manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) em um processo movido pelo MPF contra a Anvisa. A AGU menciona a valorização cambial e, defendendo a flexibilização da legislação, sugere que, se o banimento do paraquat não for protelado, os produtores rurais podem ficar no prejuízo. “Com a alta do valor do dólar em relação ao real, muitos agricultores anteciparam a compra de insumos, o que inclui a compra de herbicidas […]. Caso não venha a ser prorrogado o prazo previsto [para a proibição], os agricultores que já estão com produtos a base de paraquat nas fazendas para uso na próxima safra deverão trocar os produtos ou mesmo poderão perder os herbicidas, aumentando o custo de produção”, assinala AGU.

De acordo com Hamilton Jardim, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeira das Missões, no interior do Rio Grande do Sul, o crescimento no uso do agrotóxico se deve principalmente à expansão do plantio da soja. Ele nega que os agricultores estejam estocando o produto, mas admite: “As empresas vêm colocando que o produto pode sair de linha, então os produtores logicamente estão fazendo a compra. Estamos comprando um produto que hoje é possível comprar com receituário agronômico e dentro da legalidade, respaldado pelo crédito rural que aceita notas para utilização na próxima safra”. O risco, reconhece, é ter estoque acumulado depois que a proibição passar a vigorar. Mas ele torce para que Anvisa suspenda o banimento. “Como vou comprar um produto que é vendido até setembro e depois não utilizar? Aí, vai ter que ir numa desobediência civil que não queremos”, alerta.

Brecha na legislação

Foram aspectos relacionados à saúde que levaram a Anvisa a fixar uma data para o banimento do paraquat. A proibição de fabricação, comercialização, importação e utilização do produto foi estabelecida por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) Nº 177, de setembro de 2017. O documento cita o “potencial mutagênico” e a “toxidade aguda” do agrotóxico, além de sua associação à Doença de Parkinson. A resolução também especifica as condições em que o produto pode ser comercializado até 22 de setembro de 2020, quando se efetiva a proibição integral.

A Anvisa, no entanto, deixou uma brecha: o banimento do herbicida poderia ser revisto caso aparecessem “novas evidências científicas que excluam o potencial mutagênico do paraquat” e que “garantam a exposição negligenciável em todas as etapas de possível contato com o produto”. Logo em seguida à resolução, 13 empresas fabricantes de agrotóxicos constituíram uma força-tarefa para reavaliar os efeitos do paraquat.

Lobby na Anvisa

De 2017 para cá, a Anvisa manteve regularmente uma interlocução com a força-tarefa do paraquat, a Frente Parlamentar da Agropecuária, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), a Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) e a Syngenta, empresa que fabrica o defensivo. Detalhes do lobby foram revelados em reportagem de Ana Aranha e Hélen Freitas para a Repórter Brasil e Agência Pública e confirmados pelo Congresso em Foco.

Em 31 de março desse ano, a Anvisa convocou uma reunião da diretoria colegiada para deliberar sobre a suspensão da proibição até pelo menos julho de 2021, conforme pediram as empresas. A reunião foi cancelada de última hora após o MPF do Mato Grosso do Sul conseguir uma liminar na Justiça. Com uma série de idas e vindas, a Anvisa conseguiu reverter a decisão no último dia 28 de julho, quando o Tribunal Federal Regional da 3ª Região (TRF-3) determinou que a agência tem o direito de convocar a reunião. Surpreendentemente, no mesmo dia, a Anvisa enviou um ofício ao MPF informando que vai desistir de suspender a proibição porque é “improvável” que os novos estudos em andamento encontrem evidências científicas tais de poder reverter o quadro e que a resolução de 2017 deve ser mantida.

A força-tarefa solicita a suspensão do banimento para ter tempo hábil para concluir pesquisas que devem ficar prontas apenas em dezembro deste ano. É nesse contexto que, ao longo dos últimos três anos, foram realizados regularmente encontros na Anvisa para discutir o futuro do paraquat. Em momentos específicos, as reuniões se intensificaram. Logo após a resolução de setembro de 2017, os diretores da Anvisa se reuniram pelo menos seis vezes com empresas e associações do setor para discutir regras de uso dos agrotóxicos. Dois encontros trataram especificamente da marca.

O resultado foi que, em 30 de novembro de 2017, a Anvisa emitiu uma nova resolução que flexibilizou o uso do paraquat. O produto voltou a ser permitido para dessecar as plantas por três anos e foi esticado de 60 para 120 dias o prazo para que as empresas atualizassem a bula com alertas sobre a toxicidade aguda do defensivo. Uma segunda onda de encontros ocorreu cerca de dois anos depois. Primeiro, em agosto de 2019, a força-tarefa do paraquat pediu à Anvisa a suspensão do banimento até novembro de 2022. Logo em seguida, entre outubro e novembro de 2019, pelos menos sete reuniões trataram de agrotóxicos, sendo quatro especificamente sobre paraquat.

Poucas semanas após essa rodada de encontros, em 13 de fevereiro de 2020, a Frente Parlamentar da Agropecuária, a Aprosoja e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) pediram mais uma vez a suspensão da proibição até que sejam concluídos os estudos. Um mês e meio depois, em seu último dia no cargo, o diretor da Anvisa Fernando Mendes Garcia Neto incluiu na pauta da diretoria colegiada o pedido de extensão do prazo, que acabou sendo barrado na Justiça.

Na ação, o MPF-MS criticou a Anvisa por tentar rever a legislação no meio da pandemia, um momento considerado “inoportuno”. Além disso, a prorrogação sem qualquer estudo científico se transformaria “em prejuízo à saúde, principalmente, dos trabalhadores que lidam diretamente com o paraquat”, argumentou o procurador Marco Antonio Delfino de Almeida.

Estudos atrasados

A força-tarefa do paraquat luta contra o tempo para conseguir levar a cabo os novos estudos encomendados. Uma tentativa foi feita já no ano passado, mas “casos fortuitos e dificuldades técnicas” na safra 2018/2019 impediram que se chegasse a resultados conclusivos. A nova pesquisa avalia a safra 2019/2020 e tenta demonstrar que o paraquat “pode ser usado de forma segura”. O objetivo do estudo é determinar se resíduos do produto são encontrados na urina dos trabalhadores rurais que aplicam o agrotóxico com tratores mesmo com cabine fechada.

O trabalho, financiado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), é realizado pelo Instituto de Pesquisas e Educação em Saúde e Sustentabilidade (INPES) e é coordenado por Angelo Trapé, professor aposentado do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Contudo, a faculdade informou em nota que tomou conhecimento do estudo apenas no dia 15 de julho, após uma reportagem da ONG Repórter Brasil, e que “não endossa esse projeto de pesquisa”. Segundo a universidade, o professor Trapé tenta associar seu nome ao da faculdade para legitimar “estudos que claramente colidem com os interesses da saúde coletiva”. A Unicamp esclarece ainda que no segundo semestre de 2019 recebeu um pedido de convênio com o INPES, mas que foi negado.

“Defendemos que não há uso seguro do paraquat para os trabalhadores, sendo bem estabelecida a associação do agrotóxico com diversas doenças relacionadas ao trabalho como fibrose pulmonar, insuficiência renal, Doença de Parkinson e danos genéticos”, afirma a universidade em nota. O Congresso em Foco procurou o INPES e o professor Trapé, mas não obteve resposta.

Pressão do Congresso

Com a aproximação do prazo da proibição, nas últimas semanas tem se intensificado também a atuação da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso. Só no mês de julho, parlamentares realizaram três reuniões na Anvisa para tratar de pesticidas.

Em 29 de junho, o deputado Luiz Nishimori (PL-PR) apresentou um projeto de lei para suspender a proibição alegando que foi o resultado de “viés político e não de uma decisão científica”. Em 7 de julho, o deputado Efraim Filho (DEM-PB) e o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) também apresentaram dois projetos de lei parecidos. Este último foi retirado por causa de um erro de digitação, mas o senador afirmou que vai reapresentar a proposta.

Falta de transparência

Apesar do debate relacionado à proibição do paraquat se estender ao longo dos últimos anos, os dados relacionados ao uso do produto são pouco transparentes. A própria Anvisa informou não ter levantamento de comercialização do agrotóxico, embora a agência tenha acesso aos dados do AcessoAgro, portal que registra toda a comercialização do paraquat. Desde março de 2018, fabricantes, distribuidores, revendas, produtores e engenheiros agrônomos são obrigados a cadastrem os registros de compra e venda do defensivo.

A Anvisa informou que os dados poderiam ser obtidos com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Por sua vez, o Mapa disse que quem compila as informações de comercialização é o Ibama. Questionado pela reportagem, o Ibama não informou os volumes de paraquat comercializados ao longo de 2019, nem respondeu se vem acompanhando as discussões relacionadas ao banimento do herbicida.

Além dos dados de volumes anuais de importação disponibilizado pelo MDIC, os números mais recentes em âmbito nacional provêm do Ibama e se restringem até 2018. Segundo os dados, a comercialização do paraquat chegou a 13,2 milhões de toneladas naquele ano, cerca de 13% mais do que o registrado em 2017. Com esse volume, o paraquat foi o sexto agrotóxico mais vendido no Brasil em 2018.

Nos estados, as informações não estão disponíveis ou são mantidas em sigilo pelas secretarias. Importantes produtores de grãos, Pará e Santa Catarina afirmaram não terem dados de comercialização do paraquat nos respectivos estados. O primeiro detalhou que um sistema de informações começaria a ser consolidado em julho. Já o estado do sul afirmou que dispõe de bases ainda “pouco confiáveis”, pois está trabalhando em um ferramenta informatizada de controle.

O governo de Mato Grosso do Sul afirmou não dispor dos dados. No Paraná, as informações foram obtidas pelo Congresso em Foco extraoficialmente. No Mato Grosso, como já detalhado, só foram disponibilizados dados do último ano.

Altamente tóxico

Criado em 1961 e fabricado pela multinacional Syngenta, o paraquat é um herbicida de contato, ou seja, applicator diretamente sobre as plantas e utilizado para manejo em onze culturas, sobretudo na soja. A principal aplicação do produto se dá no processo de dessecação ou dessecagem, que consiste na remoção de ramos e folhas verdes, uniformizando a maturação da lavoura. Isso permite a antecipação da colheita mecanizada. Além disso, por ser mais potente, o paraquat também é usado contra ervas daninhas que já desenvolveram resistência a outros agrotóxicos. Em ambas as utilizações, o produto apresenta ação rápida: seus efeitos nas plantas aparecem em até trinta minutos após a aplicação.

Os produtores ainda não sabem exatamente qual será o impacto da proibição no dia a dia do campo, mas é certo que haverá reflexos em toda a cadeia. “Vai afetar bastante, não sei como vamos nos adaptar. Outros produtos não dão o mesmo resultado”, afirma Nelson Paludo, presidente do Sindicato Rural de Toledo, no interior do Paraná. “[Sem paraquat] tem que esperar a soja secar naturalmente. Vai demorar uma semana a mais e atrasar a safra do milho”, explica o produtor. Agricultores e especialistas apontam que uma das alternativas mais viáveis é o diquate, defensivo que é cerca de 30% mais caro que o paraquat e cujo resultado nas plantações não é garantido.

Apesar da eficiência na lavoura, a utilização do paraquat tem um custo altíssimo no que diz respeito à saúde pública. Além de estar associado à Doença de Parkinson e poder causar mutações, o herbicida é altamente tóxico. O produto pode ser absorvido pela pele e causar intoxicações diretas. Uma vez ingerido, torna-se altamente letal: causa danos imediatos nas mucosas da boca, do estômago e do intestino. Conforme a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental Protection Agency, EPA), “o paraquat é altamente tóxico para os seres humanos; um pequeno gole acidental pode ser fatal e não há antídoto”. Como é de se supor, a morte ocorre de forma rápida, porém dolorosa: a ingestão provoca queimaduras na garganta, dificuldade de respirar, sangramento nasal, convulsões e vômitos, entre outros sintomas. Não à toa, a Anvisa determinou que sejam incluídos no rótulo do paraquat avisos, entre os quais, “um pequeno gole pode matar”.

Até 2014, a EPA identificou 27 mortes associadas ao paraquat. Dessas, oito ocorreram a partir da ingestão acidental do produto ou de seus resíduos, após o agrotóxico ter sido transferido temporariamente para outros recipientes. Entre os casos, está o de um menino de oito anos, que bebeu paraquat que havia sido colocado em uma garrafa de refrigerante. Ele morreu dezesseis dias depois de ser hospitalizado. O agrotóxico havia sido guardado no recipiente improvisado pelo irmão, que aplicaria o produto em ervas daninhas da casa.

Conduzido na França, pelo Centro de Controle de Intoxicações em Marselha (Marseille Poison Control Center – MPCC), outro estudo associa o paraquat a suicídios. De 34 tentativas de suicídio ocorridas a partir da ingestão do herbicida, 15 terminaram em óbito. Dez das mortes ocorreram em menos de 24 horas. “De fato, o paraquat pode causar falência de múltiplos órgãos, incluindo insuficiência hepática e fibrose pulmonar, que podem ser fatais devido à insuficiência respiratória”, consta do artigo. Não à toa, o produto foi banido em cerca de 55 países, incluindo blocos inteiros, como a União Europeia (UE), que proíbe o paraquat desde 2017. Fonte: Congressoemfoco.