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sexta-feira, 27 de maio de 2022

Quando quis morrer

Reprodução parcial de uma crônica escrita pelo jornalista David Coimbra, falecido hoje, aos 60 anos, vítima de câncer no rim.

Publico isto por se tratar a morte de um tema recorrente com quem sofre de parkinson, talvez morte súbita.

Quando quis morrer

por DAVID COIMBRA in GZH.

16/05/2022 - Eu quis morrer. Não se trata de figura de linguagem, estou falando sério: queria não existir mais. Refiro-me a esse tempo em que passei sofrendo. Alguém me acusará de estar sendo dramático a fim de justificar para o leitor a minha ausência. Em parte é verdade, porque sei que devo explicações. Muita gente, mas muita gente mesmo, mandou e-mail e mensagens perguntando por mim, e não respondi, porque me sentia fraco demais. 

Foi exatamente essa reunião da fraqueza com as dores e com o mal-estar, todos agindo de forma permanente, que me tirou a vontade de viver. 

Agora chegamos a uma parte importante: não deixei de amar a vida. Amo viver, amo a vida e sempre amarei. Mas não estava sendo recíproco. Então, de que adianta estar vivo se não posso fazer nada do que gosto? Uma vida repleta de dor, incômodos e humilhações? Era isso que havia para mim? Não, não, preferia uma morte rápida e suave. 

Só que eu não iria resolver esse problema com minhas próprias mãos. Não podia. Seria péssimo para a vida de pessoas que amo. Mesmo que esteja ausente, você tem responsabilidades, afinal. Assim, o que resta a fazer numa situação dessas? 

Resistir. 

Gemer, chorar, desesperar-se às vezes, mas resistir. 

Não vou aborrecer o leitor detalhando todos os males por que passei. Conto apenas que houve um momento em que fechei a porta do quarto, me encolhi na cama e de lá não saí por dois dias e duas noites. Não comia, não tomava banho, não olhava o celular, não fazia nada além de dormir em posição fetal. No final da tarde do terceiro dia é que me levantei e tentei comer algo. 

Mas agora estou melhor. Cheio de traumas de guerra, todo lanhado e escalavrado, com algumas dores ainda, mas melhor. 

Um dos traumas que carrego é o medo de que tudo se repita. Nós somos prisioneiros do nosso corpo, eis a verdade. Os grandes sofrimentos, bem como os grandes prazeres, constituem uma camada extra da nossa personalidade. Estão localizados no corpo, mas afetam a mente. Ao mesmo tempo, aquele feixe de dores não me pertence, é algo separado do meu ser. Eu, neste instante, sou quem pede a Deus, a Jesus, a Nossa Senhora, a todos os santos e médicos que me tirem a dor. 

E é então que surge a solidão. A nossa imensa, incontornável solidão. Porque ninguém pode ajudá-lo. O médico já receitou o remédio e é preciso esperar algumas semanas para que funcione. Sua mulher, sua irmã e seu filho o enchem de carinhos, os amigos querem estar junto, até pessoas desconhecidas rezam por você. E você? Você se lamenta porque não há como se livrar do Mal. Não há consolo. Você está sozinho, preso em um corpo que o tortura sem cessar. 

Só que, no fim das contas, aquele movimento gigantesco das pessoas que o amam faz efeito. (...)

Isso fez bem. Estou de pé, enfim. Meio esfarrapado, mas de pé. Vamos em frente de cabeça erguida. Com um leve tremor ao pensar no futuro. Mas o futuro não é coisa para se pensar. O que existe é o presente e, se o presente pode ser sorvido integralmente, a vida passa a ser boa. E ela é. A vida é boa.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Morte Súbita na Doença de Parkinson: Qual o envolvimento do coração?

2021-08-20 - Resumo

Introdução. A Doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, trata-se de uma desordem neurológica progressiva, podendo atingir mais de 1% da população acima de 60 anos, na maioria homens. A taxa de mortalidade de pacientes com DP é maior quando comparada com a população em geral. As causas dessa mortalidade elevada são desconhecidas, mas os fatores de risco cardiovascular podem desempenhar um papel importante. Nesse contexto, a morte súbita na doença de Parkinson (SUDPAR), corresponde a um evento importante que, embora raro, também ocorre.

Objetivo. O objetivo dessa revisão é apresentar os principais achados na literatura quanto à relação entre anormalidades cardiovasculares e disfunções autonômicas com a morte súbita na DP. Método. Realizou-se pesquisas nas bases de dados Scielo, Google scholar e PubMed pelo termo Parkinson’s disease em combinação com os termos (i) sudden death, (ii) sudden unexpected death, (iii) SUDPAR, (iv) cardiac abnormalities e (v) autonomic disfunctions. Todas as publicações relevantes foram consideradas. 

Resultados. Existem ainda poucos estudos na literatura sobre SUDPAR, sendo que, de 2006 a 2020, foram publicados 22 trabalhos entre cartas ao editor, artigos originais, revisões e relatos de caso. Pesquisas clínicas e experimentais sugerem que anormalidades cardíacas e disfunções autonômicas desempenham um papel fundamental. 

Conclusão. Diversos estudos apresentam o envolvimento cardíaco na DP, sendo que disfunções autonômicas são causas frequentes de morte em pacientes com essa doença. A colaboração entre médicos e pesquisadores é fundamental para identificar abordagens que, considerando a investigação cardiológica, ofereçam a possibilidade de prevenção da SUDPAR. Fonte: Revista NeurociênciasFapesp.