24 de Outubro, 2025 - Pesquisadores do Hospital Mount Sinai, em Nova York, revelaram que mais de 60% das proteínas cerebrais sofrem alterações após a morte. O achado questiona décadas de estudos baseados em tecido post-mortem e inaugura uma nova fase na investigação de doenças neurológicas e psiquiátricas, com impacto direto no desenvolvimento de terapias.
Durante séculos, o cérebro foi descrito como máquina de precisão, comparado a relógios e supercomputadores. Ainda assim, continua sendo o maior enigma da biologia, reunindo 86 bilhões de neurônios que moldam a consciência e as emoções humanas. Até hoje, muito do que sabemos vinha do estudo de tecidos extraídos após a morte. Mas uma nova pesquisa mostra que o cérebro continua mudando depois do fim, e isso pode reescrever as bases da neurociência.
Um órgão que não se apaga de imediato
O estudo conduzido pelo Hospital Mount Sinai e pela Escola de Medicina Icahn revelou que, após a morte, o cérebro sofre alterações profundas em sua composição molecular. Mais de 60% das proteínas mudam significativamente e cerca de 95% das transcrições de RNA apresentam variações na quantidade ou estrutura.
Essas descobertas desafiam interpretações de décadas de estudos feitos apenas com tecidos post-mortem, sugerindo que o cérebro vivo mantém uma dinâmica única que desaparece logo após a morte.
O Projeto Cérebro Vivo: olhar inédito sobre a mente em ação
A pesquisa faz parte do Projeto Cérebro Vivo, liderado pelo neurocientista Alexander W. Charney, que coleta amostras durante neurocirurgias em pacientes vivos. Foram analisadas biópsias do córtex pré-frontal de quase 300 pessoas, preservando a estrutura molecular em pleno funcionamento.
Ao comparar com tecidos de autópsia, os cientistas observaram diferenças marcantes, especialmente na relação entre RNA e proteínas. “Essas alterações mudam a forma como interpretamos modelos de doenças como Parkinson e Alzheimer”, explicou Brian Kopell, diretor do Centro de Neuromodulação do Mount Sinai.
Um novo caminho para a pesquisa neurológica e psiquiátrica
As conclusões abrem espaço para biomarcadores mais precisos e terapias inovadoras. Se os tecidos de pacientes vivos mostram informações que os post-mortem não captam, compreender doenças como esquizofrenia, depressão ou epilepsia pode se tornar mais efetivo.
Charney destacou que o objetivo não é descartar os estudos anteriores, mas complementá-los: “As amostras post-mortem continuam sendo valiosas. O que mostramos é que as amostras vivas oferecem uma dimensão que faltava”.
Rumo a um biobanco de tecido cerebral vivo
A equipe planeja criar um biobanco global de tecidos cerebrais vivos, um recurso inédito que permitiria observar, em tempo real, como neurônios respondem a medicamentos, mutações genéticas ou estímulos externos.
Segundo estimativas, se apenas uma fração dos mais de 10 milhões de pacientes submetidos a neurocirurgias anuais doasse tecido, seria possível revolucionar o entendimento do cérebro humano.
Um novo paradigma para a neurociência
O Projeto Cérebro Vivo propõe uma mudança radical: trocar a visão estática do tecido morto pela dinâmica do tecido ativo. Isso pode marcar um antes e um depois na neurociência moderna.
“Estamos entrando em uma nova era”, afirmou Kopell. “Só estudando o cérebro vivo poderemos entender, de fato, o que nos torna humanos”. Fonte: gizmodo.