Excepcionalmente publicado assunto não relacionado ao parkinson....
LITORAL NORTE/NOTÍCIA
Prefeitura de Imbé argumenta que não há comprovação de impacto ambiental na região e que seguirá protocolo previsto na legislação
21/01/2022 - O projeto que prevê uma nova ponte entre Imbé e Tramandaí vem causando preocupação entre pesquisadores que estudam a pesca cooperativa, feita entre pescadores e botos, na Barra do Rio Tramandaí, localizado entre as duas praias do Litoral Norte. Conforme cientistas, a construção da estrutura irá impactar o habitat dos botos que vivem ali e acabar com a interação entre animais e pescadores. Por isso, eles defendem que seja feito um estudo de impacto ambiental antes de iniciar a obra.
De outro lado, a prefeitura de Imbé afirma que a nova passagem é importante para o desenvolvimento da região e argumenta que não há comprovação de que o contato com os botos será afetado. A pasta diz ainda que, se um estudo de impacto ambiental for solicitado pelo órgão competente — neste caso, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) —, ele será feito. A obra será financiada pelo governo do Estado (abaixo, veja o que dizem todas as instituições envolvidas).
Há décadas, a interação entre pescadores e botos no local é atração para turistas e moradores. Em geral, funciona assim: os botos que vivem ali localizam e encurralam cardumes de tainhas; quando elas já são alvo fácil, o animal faz um sinal conhecido como "batida de cabeça", em que coloca o rosto para fora da água, indicando onde estão os peixes. Neste momento, o pescador, que precisa estar atento durante toda a ação do boto, lança a tarrafa, uma espécie de rede, em direção ao local e retira as tainhas. O que fica no mar, é a refeição do boto.
Interação entre animais e pescadores encanta em um santuário urbano no Litoral Norte Interação entre animais e pescadores encanta em um santuário urbano no Litoral Norte
A interação só é possível graças ao conhecimento passado de geração para geração, tanto de pescadores quantos dos botos, explica o professor de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), Ignacio Moreno. O biólogo também coordena um estudo que valoriza essa pesca cooperativa na região, o Botos da Barra — um dos únicos projetos no Estado a ganhar incentivo da Fundação Boticário, que apoia iniciativas ambientais em todo o Brasil.
Segundo o professor, pela natureza dos botos e pelos impactos que uma ponte traz — em razão do barulho, vibração na água e movimentação de veículos e cargas pesadas, por exemplo — a tendência é de que o animal deixe o local. Seria o fim de uma interação que ocorre desde os anos 1960, pontua o biólogo. Em 2020, a pesca cooperativa no Rio Tramandaí foi reconhecida como patrimônio de relevância cultural do Estado.
— É uma interação bastante rara no mundo inteiro. No Brasil, só temos isso aqui, entre Imbé e Tramandaí, e em Laguna, em Santa Catarina. Essa comunicação depende de um ambiente propício para que ocorra. Só que, com a ponte da forma que está sendo pensada, sem estudo de impacto ambiental, a chance de os botos se espantarem e deixarem esse local é muito grande. Nós temos, no nosso quintal, algo que não se vê em quase nenhum lugar do mundo, e podemos colocar isso a perder — explica Moreno.
O pesquisador conta que não se sabe exatamente como a interação começou, mas que, até hoje, o conhecimento sobre como o animal e o ser humano se comunicam é repassado pelas gerações. Atualmente, conta Moreno, a boto Geraldona, que tem cerca de 30 anos e é uma das mais queridas do local, ensina seus filhotes como ajudar na pesca. Conforme o biólogo, os botos que vivem na região estão ameaçados de extinção.
— É um espetáculo fantástico da natureza. É uma cultura dessa região. E, quando a gente perde nossa cultura, perdemos parte do que somos. Se eu, um professor, morrer, o conhecimento que tenho está documentado, está nos livros, pode ser acessado. Mas o conhecimento desses pescadores, o conhecimento que a Geraldona repassa a seus filhotes, pode se perder e nunca ser recuperado. Nós estamos perdendo a chance de tornar essa uma cidade sustentável no futuro, para nos tornarmos a cidade que acabou com a pesca cooperativa. Seria uma tragédia socioambiental — opina Moreno.
Outra questão, segundo o pesquisador, é o possível prejuízo financeiro, que impactaria cerca de 300 famílias de Imbé e cerca de 400 em Tramandaí, que tiram sustento da pesca artesanal. Além disso, outra perda é o potencial ponto turístico que o local tem: enquanto os pescadores fazem o trabalho, veranistas se sentam no calçadão de Imbé ou nas areias da Barra de Tramandaí, para apreciar a aparição dos botos. Eles têm dúvidas e curiosidade sobre quando os bichos vão colocar a cabeça para fora da água e como funciona a interação. Moreno destaca que a tainha pescada no rio poderia também ser valorizada pelos restaurantes da região, atraindo mais turistas.
Prefeito de Imbé afirma que fará estudo de impacto, desde que seja pedido
Conforme a prefeitura de Imbé, a nova ponte será formada por duas estruturas estaiadas idênticas, de 100 metros de comprimento, ligando as avenidas Nilza Costa Godoy, em Imbé, e Beira-Rio, em Tramandaí. Essa passagem, afirma a pasta, é importante para o desenvolvimento da região e trará mais mobilidade e segurança para quem utiliza o trecho.
Prefeito de Imbé, Ique Vedovato, afirma que a nova passarela também irá suportar veículos com cargas pesadas. Ela substiturá a ponte Giuseppe Garibaldi, atualmente utilizada para a travessia, que tem estrutura antiga e não comporta as necessidades atuais, especialmente durante a alta temporada de verão, argumenta.
Prefeitura de Imbé / Divulgação Projeção de como ficará a nova estrutura, depois de pronta
Vedovato, no entanto, garante que a ponte não será construída sem atender o que prevê a legislação:
— Nós contatamos a Fepam de maneira informal e questionamos sobre qual o tipo de licenciamento necessário para essa obra. Segundo eles, o licenciamento para esse projeto é o simplificado online, e é o que faremos. Se, durante essa análise, a Fepam solicitar um estudo de impacto ambiental, ele será feito. Mas a prefeitura não pode sair contratando estudos que não são pedidos, gastando recurso público sem saber se há de fato necessidade. Não sou irresponsável. Não vou deixar de fazer nada que seja necessário, mas também não farei nada que não seja — justifica o prefeito.
Vedovato também argumenta que não há estudos que comprovem que o contato entre botos e pescadores será perdido. Ele afirma ainda que, no local onde será feita a nova travessia, já existia antigamente uma passagem, conhecida como ponte da Sardinha, que não afetava a pesca, segundo o prefeito.
— Quem está dizendo que a pesca será afetada são teóricos sem base. Porque não há estudos que comprovem isso, eu nunca vi. Além disso, ali existia, há alguns anos, a ponte da Sardinha, de onde pescadores pegavam os peixes, que tinha um número maior de colunas e não atrapalhava a pesca. Essa ponte nova terá menos colunas, é mais moderna. Se criou uma celeuma que não é necessária. Esse é um grande investimento, com o qual sonhamos por muito tempo, e será feito seguindo a legislação — pontua.
Por outro lado, os pesquisadores afirmam que uma dissertação de mestrado de 2019 indicou que intervenções no local podem acabar com a pesca cooperativa ali, além de interferir em outros aspectos também, como na rotina de aves migratórias e na reprodução de espécies de peixes. Em relação à ponte da Sardinha, os pesquisadores afirmam que ela era menor e comportava passagem apenas de pedestres e ciclistas.
O custo estimado da ponte é de R$ 40 milhões, e os recursos são governo do Estado, por meio do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), com contrapartida do Executivo de Imbé no valor de R$ 2,7 milhões. O convênio entre o governo do Estado e a prefeitura foi assinado no começo do mês, em cerimônia no Palácio Piratini. A previsão é que a obra comece a ser executada pela prefeitura de Imbé no segundo semestre deste ano, com previsão de conclusão em 24 meses. Atualmente, o projeto está na segunda fase, a de contratar, por meio de licitação, a empresa que ficará responsável por obter a licença ambiental da obra.
A reportagem procurou a Fepam, que informou, em nota, que "ainda não recebeu o protocolo de nenhum projeto para a construção da ponte entre Tramandaí e Imbé e só irá se manifestar após receber e analisar o projeto".
O Ministério Público do Estado afirmou que acompanha a evolução do projeto. O objetivo é fiscalizar se ele será feito respeitando aspectos ambientais da região. Se houver impacto que prejudique espécies marinhas, como os botos, o expediente deve ser repassado também ao órgão federal, o MPF, que tem competência para decidir sobre esse aspecto, informou a instituição. Fonte: Zero Hora.
Segue meu comentário à matéria:
Imbé, 22 de janeiro, sábado, de 2022.
Independente de botos, NÃO à ponte neste lugar!
Ahh bom, são os “interèsses”…
Li estarrecido a matéria de ZH “Nova ponte pode impactar boto ameaçado de extinção”. Tenho a dizer o seguinte, senão vejamos:
Primeiramente já imaginava a manifestação dos escribas, no mínimo bozonaristas e negacionistas. Mas como este é, ainda, um país democrático, vamos ao fatos.
Noventa por cento dos veículos ou mais, que vêm de Tramandaí para Imbé e para outras praias ao norte, seguem pela Paraguassú, onde se localiza quase toda a atividade comercial do Imbé.
Setenta por cento dos veículos, mais ou menos, que vêm do Imbé para Tramandaí e para outras praias ao sul, seguem pela Fernandes Bastos (como se fora a continuação da RS-30 dentro de Tramandaí) e pela Emancipação, para outras praias ao sul. Tudo a ser comprovado por análise de trafego, isenta, a ser feita nas altas e baixas temporadas.
Me pergunto: Qual o custo para implementar vias de acesso à duas novas pontes, respectivamente em Tramandaí e Imbé? As Avenidas Beira Mar e Nilza Costa Godoy (ex-av Rio Grande) são destino de moradores e no Imbé, a barra, portanto com trânsito não muito volumoso.
Vão jogar tráfego onde este inexiste, criar vias de acesso, poluir o ar, expulsar os botos, impactar 700 famílias?
A solução é simples. Já que a conclusão é de “24 meses”, que se construa no local atual ou paralelo à travessia de pomposo nome Giuseppe Garibaldi. E ponte não estaiada pois irá gerar custos de manutenção dos tirantes ante o efeito da maresia.
Se o argumento não for válido, tudo pela preservação dos botos. E meu voto não é contra o progresso, como a vã filosofia dos escribas levaria a entender, e sim, contra o atraso.
Mas ia me esquecendo, não conheço o prefeito Vedovato, mas até entendo os seus “interèsses”. Tanto é que se especializou em impacto ambiental.
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