sábado, 1 de agosto de 2020

Relato de Koka Keiber acerca do caos na saúde

Ontem tive um choque de realidade.

É bem provável que a maioria dos meus amigos virtuais não saibam, mas, eu tenho Doença de Parkinson Precoce diagnosticado há nove anos e no final de 2019 decidi fazer a cirurgia de implante de DBS.

Consultei em dezembro e no final de fevereiro fiquei internada durante cinco dias no Hospital em Porto Alegre para avaliações.

Minha próxima consulta para definição sobre a cirurgia ficou agendada para abril.

Em março o mundo deu um duplo twist carpado e eu caí de costas.

Com a pandemia todos os procedimentos ficaram suspensos. Meus planos para 2020 foram para o ralo.

Ok, respirei fundo e procurei ocupar a cabeça.

Cinco meses se passaram e eu resolvi agendar uma consulta virtual com minha neuro para atualizá-la da situação e saber das perspectivas para realização da cirurgia.

Embora eu não esteja alienada do que está acontecendo no país, o relato dela me impactou profundamente.

Pacientes com tumores no cérebro, na coluna, com leucemia necessitando de transplante urgente, estão, como tantos outros, internados sem a menor perspectiva de realizar procedimentos por falta de UTIs.

A minha médica fez este relato com os olhos marejados.

Quando a consulta via Skype acabou eu tive duas reações:

a primeira foi de gratidão por estar na minha casa, com o Parkinson relativamente controlado pelo uso de medicamentos e a segunda foi de indignação pelo descaso com que a pandemia e o sistema de saúde são tratados.

Todos sabem que não é só uma gripezinha, que já passamos de noventa e dois mil mortos, que os números são subnotificados e que jamais saberemos quantas mortes ocorreram e continuarão ocorrendo porque pessoas com outras doenças graves estão sem atendimento e sem qualquer perspectiva.

Por isso, quando dizem que o sistema de saúde está colapsando ou vai colapsar é uma falácia, já colapsou há muito tempo.

Como medidas mais austeras não foram tomadas no início da pandemia, agora nos resta esperar pelas vacinas em teste ou medicamentos realmente eficazes, cientes que uma grande parte dos recursos que deveriam ser usados para adquirir testes, insumos, anestésicos, EPIs, leitos de UTIs, capacitação de profissionais,... foram gastos para produzir um medicamento comprovadamente sem eficácia e que milhões estão sendo desviados com superfaturamentos e má administração do dinheiro público.

Para finalizar, eu aviso que não vou responder comentários políticos porque não estou aqui para acusar ou defender os "representantes do povo", os fatos falam por si e todos somos responsáveis em maior ou menor grau pelo caos estabelecido.

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