quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Cemitério de sertão

Cemitério do Karajá
(Foto: Religión Digital)

Para descansar

eu quero só

esta cruz de pau

com chuva e sol,

este sete palmos

e a Ressurreição!


Mas para viver

eu já quero ter

a parte que me cabe

no latifúndio seu:

que a terra não é sua,

seu doutor Ninguém!

A terra é de todos

Porque é de Deus!


Para descansar...

Mas para viver,

terra eu quero ter.

Com Incra ou sem Incra,

com lei ou sem lei.

Que outra Lei mais alta

já a Terra nos deu

a todos os pobres

sem voz e sem vez;

que os filhos da gente

são gente também!


Para descansar...


Mas para viver,

terra exijo ter.

Dinheiro e arame

não nos vão deter.

Mil facões zangados

cortam para valer.

Dois mil braços juntos

cercam terra e céu.


Para descansar...


Mas para viver,

terra e liberdade

eu preciso ter.

E não peço esmola

nem compro o que é meu.

A Sudam e o diabo

podem se vender:

gente não se vende,

nem se compra Deus!


Para descansar...


Dom Pedro Casaldáliga

Fonte: Unisinos. Veja mais AQUI.

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