Professora e sua companheira entraram de cabeça no universo da maconha
13/05/2020 - Esta história não é sobre cura. Esta história é sobre a realidade de quem vive com uma doença até o momento incurável e incapacitante, o Parkinson, que é caracterizado por rigidez muscular, tremores involuntários e até mesmo demência em casos mais graves. É viver sentido todos os dias suas células nervosas sendo destruídas e, junto com elas, os seus sonhos.
E foi a Cannabis que promoveu à professora Maria José Maia de Mirando, a Zezé, de 65 anos, a chance de voltar a sonhar em colocar o pé na estrada sobre um motorhome ao lado de sua companheira, a também professora Ana Maria de Almeida Santiago, de 54 anos.
Zezé foi oficialmente diagnosticada com Parkinson em 2013, mas muitos anos antes já apresentava os sintomas da doença e, inclusive, tomava remédios alopáticos para a patologia por indicação médica.
Porém, com o tempo, o gingado do corpo de Zezé sobre o salto alto dava lugar a um enrijecimento do lado esquerdo enquanto caminhava. Sua deglutição falhava e Zezé se engasgava com facilidade. Os tremores se ampliavam. Junto com eles, o estresse reverberava em cada parte do seu corpo. Sua postura esbelta agora estava curvada.
Cannabis e a retomada de Zezé
Ana e uma dos pés de maconha usado para fazer o óleo de Zezé
As doses de remédios alopáticos só aumentavam e a doença só progredia. Os pequenos momentos de sono eram povoados por pesadelos. A sensação de dor física, psicológica e emocional se instalava na vida da professora.
O casal, exausto, passou a pensar em alternativas. Ana temia que o amor da sua vida desenvolvesse uma demência. Aquela mulher inteligente, ativa, vaidosa, elegante e cheia de vontade de viver estava indo embora lentamente, ora paralisada, ora com espasmos involuntários, reflexo da medicação em alta dosagem.
Juntas, decidiram bater numa porta que jamais pensaram que bateriam. Ana sequer havia fumado um baseado na vida. Zezé teve suas experiências com a maconha, mas na adolescência. Mas seria na Cannabis que encontrariam a chance de retomar a qualidade de vida que a doença corroía.
Em maio de 2019, as professoras souberam que a Universidade Federal do Rio de Janeiro iria promover uma palestra sobre Cannabis Medicinal. Os relatos as deixaram animadas e de boca aberta. Zezé, tímida, tomou a frente da sala e contou sua história, emocionando a todos que acompanhavam o evento.
Logo estavam pesquisando mais sobre o assunto e pediram auxílio para a ABRAcannabis (Associação Brasileira para Cannabis). Então, começaram a fazer uso da planta para ver se surtiria efeito em Zezé. Na primeira experiência com a maconha a professora se sentiu mais solta e parou de tremer, mas tendo um leve desconforto com a “brisa” promovida pelo THC.
Mas a “alta” não foi um problema diante da sensação de bem-estar que se sentiu no dia seguinte. Isso foi o suficiente para entrarem de cabeça na história, começarem a plantar e entrarem com um pedido de Habeas Corpus, concedido com o auxílio da Rede Reforma. Todo o caminho legal foi feito. Nesse meio tempo, Zezé ia experimentando as modalidades que a Cannabis proporcionava.
O CBD logo de cara resolveu a questão do sono. Os pesadelos se foram. Mas as dores provocadas pelo o enrijecimento ainda atrapalhavam a vida da professora. Então, um ortopedista sugeriu um óleo com THC. E a “mágica” começou a acontecer.
As dores não foram embora permanentemente, mas o conforto com a redução foi notório e comemorado. Os remédios alopáticos foram reduzidos pela metade. A postura corporal mudou, os passos ficaram mais largos, os engasgos acabaram, a paralisia facial se esmorecia e Zezé retomava trejeitos que eram a sua cara antes da doença, como levantar alternadamente as sobrancelhas. Até mesmo a perda de memória constatada pelo médico começava a apresentar uma melhora significativa.
Zezé sabe que sua doença não tem cura, mas segue confiante nos efeitos na Cannabis na melhora da sua qualidade de vida. Agora, o casal está atrás da cepa perfeita para o tratamento da professora. Assim, vão testando as plantas e prestando atenção nos seus efeitos.
Para quem acha que a Cannabis não tem relação com a melhora, Ana relembra quando, por recomendação de uma psiquiatra, sua companheira parou de tomar a Cannabis. Era a prova de fogo que precisavam. Zezé regrediu demais e quase não consegue recuperar os ganhos que teve com a Cannabis até o momento da decisão de suspender o óleo.
Agora, mais estável e feliz, Zezé faz planos para o futuro ao lado da companheira. A doença tinha tirado dela essa chance, mas a Cannabis devolveu a ela o direito de sonhar e planejar seu futuro. Fonte: Sechat.
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