Porto Alegre, quarta feira, 16 de agosto de 2023.
À medida que a idade avança, somos obrigados a enriquecer nosso vocabulário, o que poderia ser bom, não fossem as perspectivas quase nulas que se tem sobre futuros tratamentos para a doença de parkinson, que atue nas causas e não nestes sintomas abaixo descritos.
Começo pela acinesia, que faz com que nosso corpo permaneça rígido, sem movimento.
Depois vem a bradiscinesia, que implica em termos movimentos lentos, devagar, quase parando e eventualmente parando, graças ao freezing, ou seja o congelamento de movimentos.
Não satisfeito, temos a disartria, que nos impede a dicção e consequentemente a condição de falar naturalmente.
Ai vem a hipomimia, que dificulta a expressão facial, que auxiliaria na conversação. A hipotensão ortostática, que implica em sofrermos de baixa pressão, que pode provocar quedas, como vem sucedendo. A alfa sinucleína, a proteína marca registrada no parkinson se deposita na parede cardíaca e impede a resposta autônoma do coração à mudança postural.
Temos ainda o blefaroespasmo, que nada mais é do que a dificuldade em abrir os olhos, implicando na necessidade de, a cada seis meses repetir a dose de injeções de botox nas pálpebras superiores e inferiores, totalizando doze picadas, seis em cada olho (três em cima, três em baixo). Isto permmite que abramos os olhos sem o auxílio das mãos.
A micrografia um dos primeiros sintomas a se manifestar, que impede a escrita à mão livre, particularmente a assinatura, o que levou-me a ter cheques (lembram?) devolvidos por inconsistência da assinatura. Isto implica na necessidade de utilizarmos um teclado.
E tem ainda a hiposmia (perda parcial de olfato), diseugia (perda parcia de paladar) e outros afins.
A partir daí venho me perguntando, como contraí esta doença?
Inicialmente pensei numa tijolada na cabeça que levei num recreio na Escola Técnica Parobé, onde estudava. Fui parar, acompanhado de um inspetor, no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre. Isto foi lá pelo ano de 1967, com 11 anos de idade mais ou menos. O atirador do tijolo (na realidade um ½ tijolo) permaneceu desconhecido. Foi uma sangüera só. Trauma na cabeça, hipótese possível para a doença de parkinson, mais tarde diagnosticada.
Na garagem lá de casa, rua Marquês do Pombal, em Porto Alegre, tinha umas bombonas plásticas contendo um líquido que eu não sabia qual era. Um dia, por curiosidde decidi descobrir o que tinha dentro. Abri uma bombona e, ao invés de cheirar discretamente, puxei profundamente o ar diante do gargalo e descobri que era amoníaco para mimeógrafo. Coisas de revolucionário (meu pai) para imprimir panfletos, para o sindicato dos petroleiros. Lembro que era época de ditadura militar. Apaguei. Caí desmaiado e acordei minutos depois no chão da garagem. Ninguém viu.
Mas a hipótese que mais acredito talvez tenha sido devido à uma picada de inseto (provavelmente um marimbondo) que levei no mamilo esquerdo num domingo de manhã, ao ir de timoneiro (seis com timoneiro, barco Júpiter) na guarnição do mulas do GPA (Clube de Regatas Guaíba-Porto Alegre) acompanhando meu pai remador, falecido, indo à ilha do Clube tomar o café com tição em chaleira de ferro, programa de “domingo de madrugada”, faça calor, faça frio. Tinha uns 13 anos, lá pelo ano de 1969. Atingiu uma glândula sob o mamilo que infeccionou. Dias depois fui levado por minha mãe ao médico de convênio (GBOEx) que prescreveu um antibiótico tomado via oral (despacilina, se não me falha a memória), embora suspeite que tenha sido em doses cavalares. A infecção concentrou-se e fiquei com ginecomastia do lado esquerdo. Ficou parecendo um seio feminino tão inchado ficou. Logo fiz uma cirurgia para extirpar o quisto.
Resultado possível da ingestão via oral do antibiótico foi a morte da minha biota intestinal até então presumivelmente saudável. Daí resultando no diagnóstico de parkinson aos 43 anos de idade.
Tudo são hipóteses eis que a causa do parkinson idiopático permanece deconhecida, sendo sugerido o estilo de vida, o meio ambiente e ação de toxinas, que não acredito no meu caso, por nunca ter me exposto habitualmente a situações do tipo, exceto as relatadas. E infelizmente este mistério jamais será desfeito.
Como sintoma pré-existente ao diagnóstico, relato uma tosse persistente e seca, que me levou a fazer uma pH metria com o diagnóstico de “flacidez no esfíncter esofágico distal”, além de uma ansiedade avassaladora, que me levou a consumir “litros” de florais receitado por médico homeopata, o que obviamente não estancou o parkinson.
Após terapia com l-dopa, e sentir os efeitos colaterais, tipo “ideações suicídas” conforme constava na bula antiga do Prolopa, no “off” do medicamento quando este perde seu efeito. Decidi iniciar processo, inclusive judicial contra a Unimed Porto Alegre, para implantar dbs (deep brain stimulation). O que fiz em ago/2006. E não me arrependo, pelo menos até o presente, eliminou o tremor.
Enfim, o parkinson, passados mais de 200 anos (na realidade, mais de 2400 anos) do seu primeiro relato escrito, continua sendo um mistério para a medicina. Até quando?
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