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terça-feira, 9 de maio de 2023

Cepa de bactérias intestinais contribui para o desenvolvimento da doença de Parkinson

Ilustração computadorizada de células nervosas humanas afetadas por corpos de Lewy (pequenas esferas vermelhas dentro do citoplasma dos neurônios) no cérebro de um paciente com doença de Parkinson. Os corpos de Lewy são acúmulos anormais de proteínas que se desenvolvem dentro das células nervosas na doença de Parkinson, demência de corpos de Lewy e alguns outros distúrbios neurológicos. Crédito: KATERYNA KON/BIBLIOTECA DE FOTOS CIENTÍFICAS/Getty Images

9 May 2023 - Strain of gut bacteria contributes to the development of Parkinson’s disease

Bactéria aquática comum pode ser a principal causa do Parkinson

08 de Maio de 2023 - Uma equipe de cientistas finlandeses descobriram que um micróbio comum a ambientes úmidos e pantanosos pode ter um papel importante no desenvolvimento da doença de Parkinson, já que elimina compostos que levam ao desenvolvimento de proteínas em células cerebrais responsáveis pela formação de aglomerados tóxicos, ligados à doença neurodegenerativa.

A pesquisa vem na esteira de estudos anteriores, que já demonstravam uma ligação entre a presença de altas concentrações de bactérias da cepa Desulfovibrio nas fezes de pacientes e uma maior severidade em seus casos de Parkinson. Com a descoberta, o diagnóstico da doença poderá ser mais fácil no futuro, e uma porta para possíveis tratamentos direcionados à bactéria e suas substâncias excretadas também pode ter sido apontada.

Um exemplar de Desulfovibrio vulgaris, bactéria que pode ser a principal causa ambiental para o desenvolvimento do Parkinson (Imagem: Graham Bradley/Domínio Público)

O passado e o presente do Parkinson

Desde que James Parkinson descreveu a doença neurológica pela primeira vez, há cerca de 200 anos, muitos esforços para explicar as causas da perda acentuada de coordenação motora fina com a idade vêm sendo feitos. Já descobrimos que pequenas inclusões chamadas corpos de Lewy surgem nas células de certas regiões cerebrais em pacientes da condição, por exemplo.

Pesquisas mais recentes descobriram que a maior parte dos corpos de Lewy é composta da proteína α-sinucleína, que tem um papel importante na liberação de neurotransmissores. Ainda não é claro como estes aglomerados contribuem para o Parkinson, mas suspeita-se que as concentrações da proteína — chamadas protofibrilas — impeçam o funcionamento satisfatório das células nervosas.

O que ainda não se conhece é a causa inicial da aglomeração de α-sinucleína, e a resposta não é exatamente genética: apenas 10% a 15% dos casos são herdados. As condições ambientais, então, são as principais suspeitas, e já há estudos ligando as bactérias intestinais às chances de desenvolver sintomas de Parkinson. Agora, o dedo foi apontado para o principal causador provável da doença — o Desulfovibrio.

Corpos de Lewy, aglomerados de alfa-sinucleína presentes em pacientes com Parkinson (Imagem: Suraj Rajan/CC-BY-3.0)

Revelando a bactéria

Per Saris, microbiólogo da Universidade de Helsinki, reuniu uma pequena equipe e coletou amostras fecais de 10 pacientes de Parkinson e seus parceiros saudáveis, isolando as cepas de Desulfovibrio presentes em seus intestinos para investigar a questão mais a fundo. Dois grupos de controle de bactérias diferentes, de outro gênero da biologia, receberam espécimes do nematoide (um tipo de verme) Caenorhabditis elegans modificados para expressar a α-sinucleína humana.

Análises estatísticas feitas nas observações microscópicas da cabeça dos nematóides mostraram que os que receberam o Desulfovibrio de fato tinham mais chances de produzir aglomerados de α-sinucleína, além destes serem maiores. As cepas de Desulfovibrio dos pacientes com Parkinson eram melhores em agregar as proteínas nos nematoides do que as de seus parceiros saudáveis.

Os vermes com cepas de pacientes da doença ainda morriam em número maior do que os dos grupos de controle. Mesmo que sejamos muito diferentes das minúsculas criaturas, o experimento já dá grande abertura para avaliar estratégias de identificação da doença e possíveis curas, ainda que não possamos fazer os mesmos experimentos com humanos.

Na imagem, é possível ver o nematoide do estudo com aglomerados de alfa-sinucleína, os pontos brilhantes apontados (Imagem: Huynh et al./Front. Cell. Infect. Microbiol.)

Para o futuro, vislumbra-se controlar a progressão da doença usando terapias que mirem no sistema digestivo e nervos próximos ao invés de intervir unicamente no cérebro. Depois de serem eliminadas do intestino, as bactérias Desulfovibrio param de formar aglomerados de α-sinucleína nas células do órgão, de onde vão até o cérebro através do nervo vago, como as proteínas de príon. O tempo dirá como poderemos aproveitar completamente a descoberta. Fonte: Canaltech. Veja também aqui: 09/05/2023 - Bactérias intestinais podem ser a chave para prevenir a doença de Parkinson, dizem cientistas finlandeses.