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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Transplante de microbiota fecal na doença de Parkinson - Um estudo piloto clínico randomizado de dose repetida controlado por placebo

02 March 2023 - Antecedentes e propósito: O microbioma intestinal desempenha um papel primordial na patogênese de distúrbios neurodegenerativos e pode fornecer uma oportunidade para a modificação da doença. Realizamos um estudo clínico piloto observando a segurança do transplante de microbiota fecal (FMT), seu efeito no microbioma e a melhora dos sintomas na doença de Parkinson.

Métodos: Este foi um estudo piloto randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, em que o produto FMT liofilizado administrado por via oral ou placebo correspondente foi administrado a 12 indivíduos com doença de Parkinson leve a moderada com constipação duas vezes por semana durante 12 semanas. Os indivíduos foram acompanhados quanto à segurança e melhora clínica por 9 meses adicionais (duração total do estudo 12 meses).

Resultados: O transplante de microbiota fecal causou sintomas gastrointestinais superiores transitórios não graves. Um sujeito que recebeu FMT foi diagnosticado com câncer metastático não relacionado e foi removido do estudo. A diversidade beta (taxa) do microbioma foi semelhante comparando os grupos placebo e FMT no início do estudo, no entanto, para indivíduos randomizados para FMT, aumentou significativamente em 6 semanas (p = 0,008) e 13 semanas (p = 0,0008). Após o tratamento com FMT, as proporções de famílias seletivas dentro do filo Firmicutes aumentaram significativamente, enquanto a proporção de microbiota pertencente a Proteobacteria foi significativamente reduzida. Achados motores objetivos mostraram apenas melhora temporária, enquanto melhorias nos sintomas subjetivos foram relatadas em comparação com a linha de base no grupo que recebeu FMT. A constipação, os tempos transitórios intestinais (NS) e o índice de motilidade intestinal (p = 0,0374) melhoraram no grupo FMT.

Conclusões: Indivíduos com doença de Parkinson toleraram multidose de FMT e experimentaram aumento da diversidade do microbioma intestinal que foi associado à redução da constipação e melhora do trânsito intestinal e da motilidade intestinal. A administração de transplante de microbiota fecal melhorou os sintomas motores e não motores subjetivos.

Registro de ensaio clínico: ClinicalTrial.gov, identificador: NCT03671785.

Introdução

A desregulação do eixo microbioma-intestino-cérebro é uma patotiologia crucial que precede os sintomas motores na doença de Parkinson. Uma hipótese de trabalho é que os agregados de alfa-sinucleína se espalham de maneira semelhante a um príon do intestino para a substância negra do tronco cerebral (SN) e córtex através dos nervos vago e glossofaríngeo (1). As alterações do microbioma intestinal associadas à doença de Parkinson preveem alterações relevantes para a doença, significativas nas funções metabólicas (2) e na progressão da doença (3). Os medicamentos para Parkinson também podem ter efeitos importantes no microbioma intestinal (4).

Em um modelo de camundongo da doença de Parkinson, o transplante de microbiota fecal (FMT) reduziu as alterações da microbiota intestinal e diminuiu a inflamação ativando a microglia e os astrócitos no SN (5). Em outro estudo da doença de Parkinson induzida por MPTP em camundongos, o FMT reduziu os sintomas, diminuiu a expressão de alfa-sinucleína, inibiu a ativação da microglia e bloqueou a sinalização de TLR4/P13K/AKT/NF-KB no SN (6).

No presente estudo piloto, procuramos determinar a segurança e a tolerabilidade de doses múltiplas de microbiota fecal administradas a indivíduos com doença de Parkinson leve a moderada. Além disso, esperávamos (a) mostrar alterações no microbioma intestinal com múltiplas doses de FMT; (b) determinar os efeitos do FMT na constipação; e (c) coletar dados preliminares sobre outros efeitos na doença de Parkinson. O transplante de microbiota fecal foi examinado em uma variedade de distúrbios médicos associados a microbiomas intestinais alterados, onde aumentos na diversidade pós-tratamento da microbiota colônica foram frequentemente associados a melhorias na saúde (7). ... (segue...) Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Frontiersin.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

'Achei que era piada, mas me curou': como é o transplante de fezes, que Brasil estuda regulamentar

13 julho 2023 - Durante dez meses, um desequilíbrio intestinal severo causado por uma bactéria fez com que a aposentada Sônia Maria Vitor Oliveira, de 67 anos, tivesse diarreias incontroláveis e persistentes.

"Eu sofria noite e dia, sem controle algum do meu corpo. Precisei usar fraldas e cheguei a perder 45 quilos", conta ela.

A bactéria Clostridioides difficile, que causou o problema de saúde de Sônia, está presente no organismo de qualquer pessoa.

No entanto, quando há uso prolongado ou descuidado de antibióticos, as bactérias podem se deslocar, causando o quadro chamado de colite pseudomembranosa, apontam especialistas.

Trata-se de uma inflamação do cólon, região central do intestino grosso, que causa febre, dor abdominal e diarreia.

Sônia, por exemplo, precisou usar várias medicações diferentes nos últimos anos devido a pressão alta e diabetes, passou por um transplante de rim e teve uma infecção grave por covid-19 durante a pandemia.

O uso prolongado de diferentes medicações, de acordo com o médico Felipe Tuon, que acompanhou Sônia, contribuiu para a disbiose — o desequilíbrio de bactérias na flora intestinal.

Sem apetite e perdendo peso continuamente, ela foi internada no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba, no Paraná — um dos hospitais universitários que pesquisam transplante de fezes atualmente no Brasil.

"Passei 63 dias internada, foi um período muito difícil. Os médicos encontraram várias úlceras [feridas] no meu intestino. Quando descreveram isso, fiquei com medo de ter câncer. Mas, depois de alguns exames, constataram que era essa bactéria que estava causando os danos."

Quando escutou do médico a recomendação de um transplante de fezes, Sônia pensou que se tratava de uma brincadeira.

"Eu dei risada, mas ele logo me disse que era sério, e depois acrescentou de forma bem humorada: 'É um transplante de cocô mesmo. A senhora topa fazer?' E eu não pensei duas vezes. Disse que se fosse para o meu bem, toparia, sim."

Sônia, 67, sorri em frente a uma parede beige; sua pele é branca, ela tem cabelos grisalhos e curtos e usa óculos escuros, uma blusa 

Quando ouviu a recomendação de transplante de fezes, Sônia pensou que se tratava de uma brincadeira

Como funciona o transplante de fezes

Também chamado de transplante de microbiota fecal, o procedimento é simples e tem como objetivo transferir bactérias intestinais de um doador saudável para uma pessoa que está com a flora danificada.

O primeiro trabalho descrevendo esse procedimento foi feito em 1958, mas, no Brasil, o transplante de fezes aconteceu pela primeira vez apenas em 2013.

Apesar do nome sugestivo, não são literalmente fezes que são colocadas no paciente doente.

O bolo fecal passa por um procedimento para separar as bactérias "boas", que são os microorganismos presentes no organismo humano que exercem papéis positivos, como ajudar na digestão, fortalecer o sistema imunológico, produzir vitaminas essenciais, competir com bactérias prejudiciais e manter o equilíbrio do microbioma.

Depois, o conteúdo pode ser injetado como pó, após passar por processo de desidratação, ou líquido, a forma mais utilizada, que precisa ser armazenada em um ultrafreezer (-80°C), o que garante a sua viabilidade por cerca de quatro meses.

A técnica de separação das bactérias dos resíduos alimentares 

O procedimento é similar à colonoscopia, exame que analisa o intestino grosso.

Depois de tomar um remédio contra diarreia e ser sedado, o paciente recebe uma injeção do transplante da amostra fecal no cólon através de um tubo de colonoscopia.

"O remédio contra a diarreia segura as bactérias saudáveis no organismo, o que aumenta as chances de se proliferarem e auxiliarem no tratamento", explica o infectologista Felipe Tuon, responsável pelo projeto no Hospital Universitário Cajuru.

Para Sônia, o transplante foi um sucesso. "Em dez dias não tive mais diarreias, pude parar de usar fraldas e voltar a sair de casa", conta.

De acordo com Tuon, entre os 30 pacientes que já foram atendidos gratuitamente pelo projeto, 27 tiveram sucesso na cura dos quadros.

"Como pesquisador, embora seja empolgado por trazer benefícios, às vezes sou bastante cético", diz o médico. "E é também por isso que o transplante surpreende tanto: realmente os pacientes apresentam uma resposta maravilhosa, muitos cessam a diarreia em 24 horas. Além disso, o procedimento evita necessidade de cirurgia, tempo prolongado de internação e infecções por bactérias multirresistentes."

Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), outra que oferece transplantes de fezes dentro de um protocolo de pesquisa feito no hospital universitário, a taxa de sucesso também é alta: 11 dos 12 pacientes que passaram pelo procedimento tiveram resultados satisfatórios, segundo informou a instituição à BBC News Brasil.

Com a triagem correta do material fecal, o procedimento é considerado seguro e bem tolerado pelo organismo humano. Os possíveis efeitos colaterais são leves, incluindo dores abdominais, desconforto gástrico, inchaço, constipação e diarreia.

Embora rara, há a possibilidade de transmissão de doenças entre o doador e o receptor - ou pela falta de triagem adequada ou por quadros que não foram identificados nos testes de triagem.

Amostra fecal que é introduzida no paciente que recebe o transplante

Anvisa estuda regulamentar a técnica

Em 2022, locais como Reino Unido, Estados Unidos e Austrália receberam a aprovação dos órgãos reguladores de saúde locais para realizar o transplante fecal como opção oficial de tratamento contra infecções recorrentes por superbactérias.

"Nos Estados Unidos, inclusive, já estão mais avançados: a FDA [órgão regulador equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Brasil, a Anvisa] aprovou dois comprimidos diferentes que funcionam como transplante de microbiota por via oral", explica Eduardo Vilela, gastroenterologista e coordenador do Centro da UFMG.

Por enquanto, a indicação do uso é para casos como o de Sônia, pela bactéria Clostridium difficile. Mas há estudos em curso para avaliar se a técnica pode ser efetiva para doenças como Síndrome do Intestino Irritável e Doença de Crohn.

Já no Brasil, a técnica ainda não foi aprovada e regulamentada pela Anvisa e, por isso, não pode ser amplamente oferecida em hospitais.

As universidades que oferecem o procedimento estão dentro de um protocolo de pesquisa aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa — e devem seguir as regras estipuladas no projeto autorizado.

A Anvisa afirmou à BBC News Brasil que recebeu recentemente um pedido de "enquadramento regulatório" para este tipo de tratamento.

"O ‘enquadramento regulatório’ define qual o caminho de regularização necessário para uma nova tecnologia", informou a agência.

"No momento, os técnicos estudam o assunto e buscam informações em agências internacionais de referência."

O infectologista Felipe Tuon considera que a história do transplante de fezes está "apenas começando" no Brasil.

"Ainda é um desafio sem uma legislação específica, mas estamos trabalhando nesse sentido, para que o procedimento seja regulado e que possa ser inspecionado pelos órgãos fiscalizadores, garantindo a segurança para os pacientes", afirma.

A bactéria Clostridioides Difficile, que causou o problema de saúde de Sônia, está presente no organismo de qualquer pessoa

Banco de fezes

Dentro de seus projetos de pesquisa, tanto o Hospital Universitário Cajuru quanto a UFMG, que atende por meio do Hospital das Clínicas, tentam construir bancos de fezes — locais de estoque de material fecal de doadores saudáveis.

“É uma forma de facilitar a oferta para os pacientes que atendemos, e nossa ideia é expandir para oferecer material não só para a nossa instituição, mas também para fora”, afirma Tuon.

Atualmente, os grupos de pesquisadores enfrentam o desafio de encontrar doadores.

"A triagem é extremamente rigorosa, mais exigente que um transplante de órgão. É feita uma entrevista e uma série de exames de sangue e de fezes para garantir que não ocorra nenhuma transmissão de infecção viral, bacteriana, fúngica ou parasitária", detalha o médico do Hospital Universitário Cajuru.

Eduardo Vilela, coordenador do projeto da UFMG, complementa que os critérios clínicos incluem não ter doença crônica ou em curso e não usar medicamentos de uso contínuo, não ter sofrido infecção gastrointestinal nos últimos seis meses e ter boa saúde cardiovascular.

O candidato passa por uma bateria completa de exames, com vários testes sanguíneos para detectar possíveis infecções transmissíveis, além de avaliação clínica e laboratorial.

Por fim, seu material fecal passa por testes moleculares que visam detectar patógenos que não estão causando nenhum sintoma naquela pessoa, mas podem vir a causar no receptor.

"Já avaliamos mais de 170 doadores, e só 6 cumpriram todos os requisitos necessários", diz Vilela.

"Conseguir um material biológico perfeito é uma preocupação muito grande, já que a segurança é essencial para quem vai passar pelo transplante."

No Brasil, poucos centros contam com iniciativas semelhantes, e as doações acabam sendo realizadas conforme a demanda.

Por ser uma técnica ainda não regulamentada, se há alguém com indicação de transplante de fezes internado em um hospital, o procedimento pode ser realizado com o consentimento do paciente, que assina um termo.

"Como não há banco de fezes nos hospitais, eles chamam um familiar que passa por toda a triagem", explica Tuon. "É um processo complicado de se fazer dessa forma individual, porque a pessoa tem que coletar imediatamente, analisar esse material, e o outro paciente tem que estar preparado para fazer o transplante. E ainda há chances de não ser um material biológico ideal." Fonte: BBC.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Transplante de fezes pode beneficiar muita gente", diz médico gaúcho sobre nova aposta de Harvard”

 Pesquisadores da tradicional universidade dos EUA sugerem a criação de bancos de microbiota fecal para tratamento de doenças

06/07/2022 - Cientistas de uma das instituições de ensino mais respeitadas do mundo, a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estão propondo a criação de bancos de fezes humanas. Isso mesmo: os pesquisadores acreditam que transplantes de microbiota fecal podem ajudar a tratar uma série de doenças e até retardar o envelhecimento.
A notícia é recebida com entusiasmo pelo médico gaúcho Pedro Schestatsky (leia a entrevista abaixo), PhD em Neurologia em Harvard e autor do livro Medicina do Amanhã - que, não por acaso, dedica um capítulo inteiro ao intestino. Integrante do quadro clínico do Hospital Moinhos de Vento, na Capital, Schestatsky, que foi professor da UFRGS por 10 anos, vem estudando esse tipo de tratamento para males como Alzheimeresclerose múltipla e Parkinson
Em 2018, quando o Hospital Ernesto Dorneles, em Porto Alegre, sediou o primeiro transplante fecal da América Latina para síndrome do intestino irritável, o neurologista foi o receptor (à época, GZH inclusive publicou uma reportagem sobre o tema). Parece inusitado, mas pesquisas indicam que pessoas acometidas por uma série de enfermidades (de asma a doenças autoimunes) podem se beneficiar dessa terapia, que ainda é alvo de preconceito e de comentários muitas vezes jocosos. 
No Rio Grande do Sul, já temos bastante gente estudando o tema. A maioria são pesquisadores da área da microbiologia. Entre os médicos, ainda há um certo desdém, por isso a chancela de Harvard, onde estudei em 2012, é importantíssima. A ciência finalmente está se curvando ao papel do intestino – celebra Schestatsky.
Órgão de ouro
Cerca de 90% dos neurotransmissores cerebrais, como a dopamina, a serotonina e a noradrenalina (que compõem a maioria dos antidepressivos), são produzidos no intestino -  chamado de “segundo cérebro”. É por isso, segundo Schestatsky, que alguns pesquisadores apostam no transplante de fezes até mesmo para tratar casos de depressão e ansiedade.
Melhor do mundo
A tribo Hadza, que vive no norte da Tanzânia, na África, tem a fama de possuir o “melhor cocô do mundo”. De acordo com Schestatsky, o grupo é fonte de estudos pela diversidade e eficiência do microbioma intestinal. Isso é resultado de hábitos alimentares milenares, baseados no consumo de caça (animais selvagens) e na coleta de frutos silvestres e tubérculos.
"O transplante de fezes pode beneficiar muita gente", projeta Schestatsky
Como o senhor avalia essa aposta de Harvard no cocô?
Fico muito feliz ao ver que a ciência finalmente está reconhecendo o intestino como um dos órgãos mais importantes do nosso corpo. É o nosso órgão maestro, o órgão de ouro. Não se trata apenas da conexão entre o intestino e o cérebro. Ele está conectado a tudo, por isso é tão importante cuidarmos dele. Quando analisamos os cocôs de idosos centenários, por exemplo, percebemos que são mais diversificados, ao contrário de quem só se alimenta com produtos industrializados, o que abre portas para o maior inimigo do ser humano: inflamação no corpo inteiro. O assunto é palpitante, mas ainda temos muito a aprender sobre ele.
O senhor inclusive já recebeu um transplante de fezes e até foi tema de reportagem em ZH, há quatro anos. Como foi?
Foi uma experiência muito importante, uma prova de conceito, de mostrar que o procedimento é seguro e que pode, de fato, trazer bons resultados além de gastrointestinais. No RS, já temos bastante gente estudando o tema. A maioria são pesquisadores da área da microbiologia. Entre os médicos, ainda há um certo desdém.
A aposta de Harvard pode mudar isso?
Sem dúvida. A chancela de Harvard é importantíssima. É uma universidade que conta com algumas das maiores mentes do mundo, então não é pouca coisa. O transplante de fezes pode beneficiar muita gente com patologias intestinais e extra-intestinais, como asma, diabetes, doenças autoimunes etc. Fonte: GZH.


O cocô pode salvar vidas: saiba o que é o transplante de fezes

06/07/2018 - Fique à vontade para rir ao ler as próximas linhas, mas não deixe que seu humor escatológico comprometa a seriedade com que se deve tratar do tema. Estamos falando do transplante de microbiota fecal. Sim, é isso mesmo: transplante de fezes.
Por mais estranho que possa parecer, trata-se de um procedimento que pode representar a solução para diversas doenças.
Sábado passado (30), Porto Alegre sediou o primeiro transplante fecal da América Latina para o tratamento do diabetes. O procedimento foi realizado no Hospital Ernesto Dorneles (HED), sob o comando do médico gastroenterologista Guilherme Becker Sander, chefe do Serviço de Endoscopia do HED, em um paciente que tem especial apreço pelo assunto: o também médico Pedro Schestatsky, diabético e professor de neurologia da Faculdade de Medicina da UFRGS que se dedica ao estudo desse tipo de tratamento para atacar males neurológicos, como Alzheimer, esclerose múltipla, autismo e Parkinson.

O transplante é relativamente simples (veja o vídeo acima , na fonte). O doador precisa ter uma boa microbiota, nome pomposo para o que se conhecia popularmente como flora intestinal. Trata-se de um conjunto de microrganismos – algo em torno de 100 trilhões de bactérias – que faz nosso intestino funcionar sem sobressaltos. São as bactérias do bem que nos habitam. No caso de Schestatsky, ele escolheu um doador vegano, que passou por baterias de exames de sangue e fezes para atestar a qualidade do material que doaria. Mas o veganismo não é pré-requisito. Observa-se uma gama de fatores no doador, como a presença de bactérias perigosas, como salmonela, e os hábitos gerais de vida. O receptor também passa por uma preparação, semelhante à exigida a quem vai se submeter a um exame de colonoscopia. São dois dias tomando laxativos para “zerar” a microbiota. É como esvaziar o intestino de bactérias ruins para substituí-las pelas boas.
Mas o que o intestino tem a ver com diabetes? Pesquisas em diferentes áreas têm demonstrado o papel do órgão nas infecções e nas inflamações sistêmicas e em outros quadros de saúde desequilibrados e a gigantesca conexão dele com o cérebro, o que já fez com que fosse chamado de segundo cérebro”. Acredite: 90% dos neurotransmissores cerebrais, como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina – os mesmos que estão contidos nos antidepressivos –, são produzidos no intestino, abrindo a possibilidade para o uso dessa técnica para casos de depressão e ansiedade.
40 mil mortes evitadas por ano
Uma boa flora intestinal está associada a um sistema imunológico mais forte, e a transferência de microbiota já tem se mostrado eficiente em certos casos. No tratamento da colite pseudomembranosa, um quadro de diarreia grave provocado pela superbactéria Clostridium difficile, resistente a antibióticos, o transplante de fezes se mostrou 100% eficiente, evitando cerca de 40 mil mortes por ano no mundo, 14 mil no país. O problema é uma das principais causas de doenças em pacientes internados na rede hospitalar. Pesquisadores da Universidade do Arizona também observaram, em um ensaio aberto, que os sintomas do autismo sofreram significativa melhora após a transferência de microbiota nos pacientes. 
Apesar de um histórico indicativo de um futuro promissor a favor da saúde, o transplante de fezes ainda sofre estigmas, um dos alvos de Schestatsky quando encarou o desafio para tratar seu diabetes. 
As pessoas ainda pensam que é comer cocô. A partir dessa experiência, quero provar a segurança do procedimento e demonstrar a dinâmica disso para que possa ser oferecido a pacientes de casos extremos – diz o neurologista.
As possibilidades de tratamento via transplante de fezes ampliam-se dia a dia. Tanto é que já existem bancos de fezes. No Brasil, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) abriu o primeiro espaço desse tipo para armazenar o material doado, que fica a uma temperatura de 80°C negativos e precisa ser utilizado em até seis meses. O problema é que para se tornar um doador é preciso aprovação em todos os testes que asseguram a qualidade das fezes e muitos candidatos não conseguem passar nessa seleção.
Schestatsky acredita que o procedimento realizado no Ernesto Dornelles ajudará a coroar o intestino como causa de inflamações e doenças crônicas. No caso dele, os resultados positivos já aparecem na busca por reduzir a medicação contra o diabetes.
Meu perfil glicêmico melhorou significativamente nas primeiras horas. Ficamos todos muito empolgados. Paralelamente, meu sono nos dois últimos dias está quase normal, provavelmente pela ação do transplante sobre o eixo intestino-cérebro – avalia.
O neurologista é um entusiasta do procedimento. Em outros experimentos, a técnica se mostrou eficaz contra a obesidade e em tratamento de autistas, que apresentaram melhora significativa na socialização e no contato visual, duas carências de quem têm o espectro.
O transplante é para casos em que mudanças de hábito e outras opções de tratamento já foram testadas e descartadas.
O tom ainda é muito jocoso (para falar do transplante), mas é, sem dúvida, uma terapia séria que tem marcado efeito. Muita coisa ainda será descoberta – aposta Sander. 
O melhor cocô do mundo
Entre a maioria dos mortais de vida moderna existe uma grande dificuldade para se manter hábitos saudáveis, mas uma tribo distante da África gaba-se de ser fonte de estudos e pesquisas por conta da diversidade e eficiência do microbioma. O povo hadza é um dos poucos no mundo que mantêm há cerca de 10 mil anos hábitos alimentares baseados no consumo de caça e na coleta de frutos silvestres e tubérculos. 
A flora intestinal de seus integrantes é invejável e suscita uma espécie de turismo escatológico e científico sobre o povo. Digamos que eles são os detentores de um dos melhores, senão o melhor, cocô do mundo. A microbiota dessa tribo milenar da Tanzânia é rica em bactérias do bem e está associada a uma melhor imunidade. Fonte: GZH.

Transplante de fezes ainda tem indicação bastante limitada

"Transplante de fezes ainda tem indicação bastante limitada", diz médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Chefe do Serviço de Gastroenterologia do HCPA, Mário Reis Álvares-da-Silva afirma que procedimento ainda precisa passar por mais estudos e que não é "panaceia".

07/07/2022 - O tema do transplante de fezes - objeto de estudo de pesquisadores de Harvard, como destaquei em GZH na última quarta-feira (6) - segue repercutindo. À frente do Serviço de Gastroenterologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o professor Mário Reis Álvares-da-Silva traz mais elementos para o debate.Em e-mail enviado à coluna, o médico hepatologista, coordenador substituto do Programa de Pós-Graduação em Gastroenterologia e Hepatologia da UFRGS, diz que a microbiota intestinal, de fato, é um tema promissor e capaz de revolucionar o tratamento de doenças, mas faz ressalvas importantes. "O transplante de fezes pode beneficiar muita gente", diz médico gaúcho sobre nova aposta de Harvard. Segundo o especialista, o procedimento ainda tem indicação “bastante limitada na prática clínica”. Embora já venha sendo realizado no HCPA, isso ocorre em situações específicas. Ou seja: o transplante não deve ser visto como panaceia - até porque ainda há um longo caminho científico pela frente. A microbiota fecal tem sido alvo, inclusive, de estudos na UFRGS, motivando teses de doutorado e dissertações de mestrado. No caso da Universidade de Harvard, uma das instituições de ensino mais respeitadas do mundo, com sede nos Estados Unidos, cientistas estão propondo a criação de bancos de fezes humanas, pois acreditam que transplantes de microbiota fecal podem ajudar a tratar uma série de doenças e até retardar o envelhecimento.

Leia a íntegra do e-mail enviado pelo dr. Mário Reis Álvares-da-Silva à coluna: Prezada Juliana BublitzLi, com interesse, a nota de sua coluna publicada hoje em ZH, a respeito de microbiota intestinal. Sou médico hepatologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e ex-coordenador e atual coordenador substituto do Programa de Pós-Graduação em Gastroenterologia e Hepatologia da UFRGS. A reportagem, com informações do Dr. Pedro Schestatsky, querido colega e ex-professor de Neurologia da nossa Universidade, merece, a meu ver, um contraponto. Explico por quê:a) a microbiota intestinal é uma área de pesquisa bastante promissora que deve revolucionar o entendimento e a terapêutica de várias enfermidades, mas o transplante de fezes ainda tem indicação bastante limitada na prática clínica e não deve ser divulgado como uma panaceia;b) não há preconceito algum em relação à microbiota intestinal no meio acadêmico especializado, sendo esse um tema recorrente em congressos médicos. Em nosso serviço no HCPA, o transplante de fezes é realizado, há alguns anos, em situações específicas;c) o estudo da microbiota representa importante área de pesquisa no PPG Gastroenterologia e Hepatologia da UFRGS, com resultados muito significativos, tanto em modelos experimentais, como em humanos, tendo sido motivo de teses de doutorado e dissertações de mestrado de vários alunos. Assim, não posso concordar com a informação geral de que "há desdém entre os médicos" em relação ao tema. Listo alguns estudos do meu grupo de pesquisa publicados em revistas internacionais na área (10.1016/j.cgh.2021.03.045; 10.4254/wjh.v13.i12.2052; 10.2147/CEG.S262879; 10.1080/07315724.2019.1627955) e o recente consenso brasileiro em microbiota intestinal, do qual fiz parte (10.1590/S0004-2803.202000000-72);d) é importante relatar que há riscos ainda não bem estudados em relação ao transplante de fezes. Os inúmeros estudos em andamento em todo o mundo provavelmente trarão em breve informações valiosas a esse respeito.Confesso que também sou um entusiasta da microbiota, como o Dr. Pedro, mas no momento o entusiasmo deve ser modulado, para que evitemos levar à população a promessa de um tratamento que carece de evidências mais conclusivas.Atenciosamente, Prof. Dr. Mário Reis Álvares-da-SilvaChefe Serviço de GastroenterologiaHospital de Clínicas de Porto Alegre. Fonte: GZH.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Eixo cérebro-intestino-microbiota na doença de Parkinson: uma revisão histórica e perspectiva futura

1 June 2022 - Resumo

A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença degenerativa mais comum do sistema nervoso central (SNC) depois da doença de Alzheimer. Além dos sintomas motores típicos, as manifestações clínicas dos pacientes com DP incluem sintomas gastrointestinais, que precedem inclusive os sintomas motores. Pesquisas recentes descobriram que a microbiota intestinal regula a interação axial cérebro-intestino através de mecanismos imunológicos, endócrinos e neurais diretos, apoiando a hipótese de que o processo patológico da DP se espalha do intestino para o cérebro. Neste artigo de revisão, destacamos os achados marcantes no campo da DP, com atenção especial ao eixo cérebro-intestino-microbiota. Resumimos as alterações e seus efeitos clínicos na microbiota intestinal e nos metabólitos observados na DP. A microbiota intestinal pode conter alvos apropriados para a prevenção e tratamento da DP. Estudos clínicos de coorte sugerem que certos micróbios intestinais têm efeitos protetores ou patogênicos na progressão da DP. Uma melhor compreensão da interação entre o eixo intestino-cérebro, a microbiota intestinal e a DP tem o potencial de levar a novas abordagens diagnósticas e terapêuticas. Experimentos em animais sugerem que o transplante de microbiota fecal (FMT - fecal microbiota transplantation) é útil para o tratamento da DP, e espera-se que a FMT seja um tratamento eficaz para a DP no futuro. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Sciencedirect.

sábado, 4 de setembro de 2021

Transplantes fecais tratam Clostridium difficile, podem ter mais utilidades | Pergunte aos médicos

040921 - Clostridium difficile, também conhecido como C. difficile ou C. diff, é uma bactéria que pode infectar o intestino e causar diarreia.

Caro médico: Não tenho certeza se você responderá a esta pergunta por causa do assunto, mas parece muito importante. Nosso pai fez um transplante fecal como último recurso para o tratamento de C. diff, e funcionou. Agora eu li que eles estão encontrando outros usos para o procedimento. Você pode falar sobre isso?

Caro leitor: Achamos que você está correto em ambos os pontos - que falar sobre transplantes fecais faz algumas pessoas hesitarem e que pesquisas recentes sobre esse tratamento estão abrindo um novo mundo de potencial terapêutico.

Para quem não conhece o conceito, o transplante fecal é um procedimento em que as fezes de um indivíduo saudável são introduzidas no trato gastrointestinal de alguém que está doente. Embora o primeiro uso moderno remonte ao final da década de 1950, foi apenas na última década que os transplantes fecais ganharam ampla aceitação.

Neste momento, o procedimento é usado quase exclusivamente para tratar Clostridioides difficile, ou C. diff, uma bactéria que causa diarreia e colite graves e às vezes com risco de vida. A coleção de bactérias contidas nas fezes saudáveis ​​restaura o equilíbrio do cólon do paciente, derrotando assim uma infecção freqüentemente intratável por C. diff. É importante observar que os doadores para esse procedimento passam por uma triagem cuidadosa e as fezes em si são especialmente processadas. Este é um tratamento que deve ser realizado apenas por equipe médica treinada e em ambient e hospitalar.

À medida que a pesquisa continua a revelar como os trilhões de bactérias, leveduras, fungos e vírus que compõem o microbioma intestinal estão ligados à nossa saúde e bem-estar, os cientistas começaram a procurar outros usos terapêuticos para os transplantes fecais. Um novo estudo em ratos sugere que um transplante fecal de uma mãe pode ajudar a proteger um recém-nascido que está em risco de desenvolver diabetes tipo 1 devido ao tratamento com antibióticos. Pesquisadores na Austrália estão recrutando pessoas que vivem com a doença de Parkinson para participar de um estudo médico para ver se um transplante fecal pode aliviar a constipação, um sintoma comum e desafiador da doença. Nos Estados Unidos, ensaios clínicos estão em andamento para estudar como os transplantes fecais podem ajudar a aliviar certos sintomas de doença inflamatória intestinal, colite e esclerose múltipla.

Mais recentemente, um estudo sobre o uso potencial de transplantes fecais para amenizar alguns dos efeitos adversos do envelhecimento tem recebido muita atenção. Nesse estudo, os pesquisadores descobriram que, quando transferiram fezes de ratos jovens e saudáveis ​​para ratos mais velhos, os receptores melhoraram a cognição - incluindo melhor memória - e exibiram algum rejuvenescimento físico também. Em um estudo anterior que inverteu a ordem do transplante fecal - de ratos mais velhos para mais jovens - os pesquisadores notaram que a função cognitiva dos receptores diminuiu.

Seja devido a doenças, enfermidades ou aos efeitos do envelhecimento, a composição do microbioma intestinal de um indivíduo pode mudar para incluir microorganismos hostis que levam à inflamação e têm um efeito negativo no metabolismo. Esses estudos estão explorando se uma infusão de bactérias saudáveis ​​para recolonizar o intestino pode ter um efeito benéfico no sistema imunológico e na função metabólica. É uma área de estudo empolgante e, como você disse, importante. Imagine as possibilidades se a resposta for sim. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Lompoc Record.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

HUS testa terapia de transplante fecal para pacientes com Parkinson

Um novo estudo finlandês visa a conexão intestino-cérebro no tratamento da doença de Parkinson.

Cerca de 16.000 pessoas na Finlândia vivem com a doença de Parkinson. Imagem: Tiina Jutila / Yle

02.05.2021 - O hospital da Universidade de Helsinque está conduzindo um estudo de prova de conceito de um ano para examinar se o transplante fecal poderia ajudar a tratar pacientes com doença de Parkinson.

Alguns pacientes com Parkinson têm micróbios intestinais divergentes e os pesquisadores esperam descobrir se a terapia de transplante fecal pode ajudar a aliviar os sintomas da doença de Parkinson, um distúrbio degenerativo do sistema nervoso central.

"Este é um estudo chamado de prova de conceito, no qual queremos determinar pela primeira vez se algo acontece", disse o neurologista Filip Scheperjans, membro da equipe de pesquisa.

O estudo faz do HUS um precursor, de acordo com Scheperjans, que disse ter conhecimento apenas de três outros estudos semelhantes em todo o mundo.

"Esta é uma nova abordagem para o Parkinson e é baseada em cerca de dez anos de pesquisa de base examinando a relação entre o microbioma intestinal e a doença de Parkinson", explicou ele.

Além de descobrir se os sintomas dos pacientes melhoraram, Scheperjans disse que os cientistas estavam interessados ​​em determinar se os pacientes desenvolveram complicações com a terapia.

“Vamos monitorar a mobilidade, rigidez, lentidão e tremores dos pacientes após os transplantes”, explicou.

Problema crescente
O grupo de pesquisa está selecionando 48 pacientes com Parkinson com bactérias intestinais anormais para o estudo. Os participantes receberão um transplante de fezes de um doador saudável ou uma terapia com placebo.

Devido à natureza invasiva do procedimento, o efeito placebo pode ser significativo, de acordo com os pesquisadores.

"Não sabemos realmente o que toda a terapia afetará. É por isso que faremos amplas pesquisas e usaremos imagens para entender melhor o que acontece no corpo após um transplante fecal", acrescentou Scheperjans.

O próximo estudo, no entanto, não é amplo o suficiente para determinar se os transplantes fecais podem retardar a progressão do Parkinson.

Cerca de 16.000 pessoas na Finlândia estão vivendo com Parkinson, com uma em cada cem pessoas de 65 anos desenvolvendo a doença. O Parkinson está se tornando mais prevalente e os pesquisadores esperam que os casos dobrem até 2040. Os cientistas, no entanto, disseram que o aumento não pode ser inteiramente atribuído ao envelhecimento da população.

A composição genética é responsável por cerca de 30 por cento dos casos de Parkinson, de acordo com Scheperjans, que disse que fatores ambientais - muitos dos quais ainda são desconhecidos - estão por trás do resto.

"Conseguimos mostrar que o uso frequente de antibióticos pode aumentar o risco de desenvolver Parkinson dez a 15 anos depois", disse ele. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Yle fi.



terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O transplante de fezes é uma solução para o Parkinson?

Roosmarijn Vandenbroucke é o responsável pela equipe que realiza um estudo de PwPs submetidos a um transplante de fezes.

230221 - A solução para a doença de Parkinson está em nosso intestino? Uma equipe de pesquisa belga vai investigar isso em um grande estudo com transplantes de fezes.

Nossos intestinos têm uma superfície de parede de algumas centenas de metros quadrados e estão repletos de minúsculos habitantes: bactérias. Juntos, eles pesam cerca de um quilo e meio, mais do que nossos cérebros. Eles não estão ali apenas para digerir um sanduíche ou uma banana. Cada vez mais sinais estão surgindo de que eles também desempenham um papel no resto do corpo e podem influenciar ou até mesmo desencadear doenças, que vão desde doenças intestinais crônicas e diabetes até câncer e Parkinson.

A pesquisadora de Ghent, Roosmarijn Vandenbroucke, tem se concentrado neste último distúrbio cerebral há vários anos. O Parkinson é uma daquelas doenças que a ciência médica ainda não consegue identificar. A causa ainda não é conhecida. Os medicamentos existentes aliviam os sintomas, mas não retardam a doença.

Os pesquisadores, portanto, recorrem a técnicas e experimentos não cotidianos para descobrir mais. "Veremos como a flora intestinal tem um impacto no cérebro e na doença de Parkinson", disse Vandenbroucke.

Tiramos evacuações, misturamos, diluímos com água e filtramos tudo. Eles os trazem com um tubo através do nariz até o estômago e o intestino delgado."

Sob a liderança de Vandenbroucke, uma equipe da UGent, UZ Gent e VIB acaba de iniciar um estudo em que 72 pacientes são submetidos a um transplante de fezes. Uma estreia mundial em que o mundo científico já aguarda ansiosamente os resultados. Alguns pacientes já concluíram o procedimento.

Metade receberá fezes de uma pessoa saudável, a outra metade receberá um placebo, ou seja, suas próprias fezes. "Como isso funciona? Tiramos evacuações, misturamos, diluímos com água e filtramos tudo. O que resta é uma solução aquosa com bactérias. Levamos isso com um tubo que passa pelo nariz e passa pelo estômago até o intestino delgado. "

Ideia louca
'Uma ideia maluca? De jeito nenhum", diz ela. Pesquisas anteriores em ratos com Parkinson já mostraram que o ajuste da flora intestinal tem um efeito claro sobre os sintomas e a progressão da doença. "Existem várias razões para acreditar que este também pode ser o caso com os humanos", disse ele. “A mucosa intestinal tem seu próprio sistema nervoso -“o segundo cérebro”- e está de fato em contato com a parte superior do cérebro. Isso explica, por exemplo, por que o estresse dá origem à dor abdominal."

O Parkinson é conhecido principalmente pela rigidez muscular, lentidão de movimentos e tremores, os tremores incontroláveis ​​em pacientes. Mas também existem sintomas menos conhecidos. "Constipação, por exemplo, que se manifesta anos antes do início do tremor."

Há mais. Uma das marcas do Parkinson é o acúmulo ou agregação da proteína alfa-sinucleína no cérebro. “O mesmo fenômeno também é perceptível na parede intestinal de muitos pacientes, anos antes de aparecer no cérebro. Além disso, foi demonstrado em estudos com camundongos que essa proteína específica pode migrar dos intestinos para o cérebro e possivelmente causar coisas lá. "

Tudo isso junto despertou interesse no domínio. Nesse ínterim, foi demonstrado que a flora intestinal de PwPs (Person with Parkinson´s) é significativamente diferente daquela de pessoas saudáveis. Mas qual é a causa e qual é o efeito? “Existe uma ligação, que parece óbvia, mas existe uma relação causal? Queremos resolver essa questão. Só temos que fazer essa pesquisa. E mesmo que não funcione, vamos aprender muito com isso. Esperamos resolver parte do complexo quebra-cabeça. "

Durante o estudo, os pesquisadores primeiro verificarão se foi possível 'reiniciar' a flora intestinal. Os neurologistas, então, acompanham os pacientes com questionários e testes motores, complementados com exames de sangue e biópsias da parede intestinal para dar uma indicação da evolução da doença.

Bactéria em uma pílula
"Este é apenas o primeiro passo", parece. "Suponha que o tratamento produza resultados espetaculares, então descobrimos quais bactérias específicas desempenham um papel crucial em colocá-las em uma pílula como medicamento."

A busca por poucas bactérias é como procurar uma agulha em um palheiro, mas, graças ao surgimento de big data, supercomputadores e tecnologia para mapear o DNA de todas essas bactérias, não é mais impossível. Para o estudo, a equipe ainda está procurando cerca de vinte pacientes que desejam se aventurar no experimento. Original em holandês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Tijd.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Método radical para tratar o Parkinson

24 December, 2020 - OS MÉDICOS testaram transplantes fecais para tratar os sintomas da doença de Parkinson. Em um novo teste, 15 pacientes com o distúrbio neurológico - que pode causar problemas de mobilidade, insônia e depressão - receberam transplantes únicos através do cólon ou um tubo inserido pelo nariz ao estômago.

Após três meses, os pacientes experimentaram melhorias em seus movimentos e sono.

Pesquisas anteriores mostraram que as pessoas com Parkinson tendem a ter uma variedade diferente de bactérias intestinais - isso pode influenciar as mensagens enviadas ao cérebro.

Acredita-se que o tratamento, testado por pesquisadores da Universidade de Medicina de Nanjing, na China, pode restaurar o equilíbrio das bactérias no intestino e reduzir os sintomas da doença. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Irishnews. Veja mais sobre o transplante de fezes AQUI.