Patologia
neurodegenerativa é a 2ª mais comum na população e em geral
atinge idosos a partir dos 60 anos
Ocorrência em
pacientes acima dos 65 anos oscila entre 2% e 3% - Foto: Bruno Ricci
/ Divulgação
segunda-feira, 03 de junho de 2024 - Segunda patologia
neurodegenerativa de maior incidência na população, ficando atrás
apenas do Alzheimer, a doença de Parkinson é mais comum em idosos,
mas também pode acometer pessoas na faixa dos 40 anos. A ocorrência
em pacientes acima dos 65 anos oscila entre 2% e 3%, diz a médica
neurologista Daniele Amorim, especialista no tema. Nos mais jovens,
ainda não há estatísticas precisas. Mas, o que médicos,
gerontólogos e cientistas concordam é que, independentemente da
faixa etária, o diagnóstico precoce faz toda a diferença. Assim
como, manter vida social ativa e exercícios físicos é fundamental
para complementar o tratamento feito à base de medicamentos.
Doenças
neurodegenerativas são aquelas que provocam a morte dos neurônios e
a perda de funções neurológicas. O Parkinson, explica a
neurologista Daniele Amorim, da equipe do Hospital Mater Dei
Salvador, afeta as células nervosas que ficam situadas na área do
cérebro chamada de substância negra, que produz a dopamina, um
neurotransmissor responsável pela fluidez dos movimentos. “A base
do tratamento é a reposição da dopamina ausente ou daquela já
presente, mas insuficiente, através de medicamentos”, acrescenta a
especialista em Parkinson.
Os medicamentos, diz a
neurologista, controlam os sintomas, como os tremores e a rigidez
muscular. Mas, a doença é de progressão gradativa e ainda não
existe uma cura. Aliar os remédios com atendimento multidisciplinar,
como fisioterapia, fonoaudiologia, psicoterapia e nutricionista,
entre outros, ajuda a garantir a qualidade de vida do paciente.
“Atividades físicas
aeróbicas, fisioterapia e outras atividades ajudam na qualidade de
vida porque o Parkinson não se caracteriza só pelos sintomas
motores [tremores, rigidez, etc], mas também por alterações de
humor, ansiedade, depressão, afeta a absorção de nutrientes. Por
isso é preciso um trabalho multidisciplinar”, acrescenta Daniele
Amorim.
Pacientes mais jovens
O Parkinson pode ter
causas genéticas, segundo estudos já revelaram. E, no caso dos
pacientes que apresentam a doença precocemente, geralmente a
propensão é maior se já existe registro na família.
A progressão, no
entanto, tende a ser mais lenta e, geralmente, os acometidos não têm
outras comorbidades associadas e que se apresentam em pessoas de
idade mais avançada. Em casos mais raros, o paciente jovem pode
apresentar também sintomas de problemas cognitivos, como demência e
perda de memória.
Atitude
Semana passada, as
redes sociais se mobilizaram no compartilhamento do vídeo do cantor
Eduardo Dusek, que tem Parkinson, em sua apresentação no programa
Altas Horas. Dusek, 66 anos, cantou a música Seu Tipo, sucesso de
Nei Matogrosso, de forma emocionante, brincando o tempo todo com a
plateia e até ensaiando passos de dança usando uma cadeira como
apoio. Antes da apresentação, em conversa com o apresentador
Serginho Groisman, o cantor afirmou que é preciso manter o alto
astral. “Tenho Parkinson, mas a doença não pode te dominar”.
A atitude de Eduardo
Dusek também faz diferença na forma de lidar com a doença e até
na convivência com o problema. Como nem todo paciente que tem a
mesma enfermidade é igual, além da maneira individual de cada um
encarar a condição, o apoio familiar e de profissionais capacitados
é fundamental.
Em Salvador, pessoas
com Parkinson têm representatividade na Associação Baiana de
Parkinson e Alzheimer (Abapaz), que reúne pacientes e familiares. A
entidade social existe há mais de 20 anos e oferece informações
sobre os direitos dos pacientes e sobre a doença; orientação de
onde buscar tratamentos e medicamentos; e apoio emocional tanto para
quem tem a doença quanto para quem cuida do paciente, pois a saúde
mental do cuidador também é priorizada.
“Buscamos,
principalmente, conscientizar que o tratamento não é só o
medicamento, mas outras terapias, como fisioterapia, musicoterapia,
principalmente cantar, fazer sessões de fono, tudo isso ajuda a
trabalhar a musculatura da garganta, pois a doença pode afetar a
deglutição e o paciente ter engasgos”, explica a gerontóloga e
diretora da Abapaz, Deila Carvalho.
Amparar emocionalmente
as famílias é uma das principais preocupações da Abapaz, que
funciona a partir do trabalho voluntário de profissionais de
diversas áreas. “Nós fazemos atendimento por grupo familiares
porque a família inteira precisa ter consciência da situação. O
cuidado não pode ser de uma pessoa só para não gerar sobrecarga
física e emocional, o que repercute na saúde do cuidador e do
paciente. Também é preciso estimular atividades sociais da pessoa
com Parkinson, que deve manter uma rotina de caminhadas, atividades
cotidianas normais, não se isolar para evitar a depressão e a
estigmatização”, detalha Deila Carvalho.
Pacientes do SUS
No estado, o Centro de
Referência de Atenção à Saúde do Idoso (Creasi) oferece
tratamento gratuito para pacientes com Parkinson. O atendimento é
ambulatorial para as pessoas a partir dos 60 anos. O órgão dispõe,
ainda, de uma farmácia que dispensa medicamentos para os mais jovens
também.
Helena Pataro, diretora
do Creasi, explica que o serviço oferece geriatra, neurologista,
reumatologista e outros profissionais em uma equipe multidisciplinar.
Para ter acesso, o paciente primeiro passa pelo atendimento primário
[a atenção básica nos postos geridos pelo Município]. “No posto
de saúde, ele é encaminhado para uma unidade de referência pelo
Telesaúde. Em 10 dias, recebe a resposta da admissão no atendimento
especializado, onde vai receber um cuidado integrado que inclui o
idoso e familiares”, detalha.
Helena lembra que o
Parkinson é uma doença progressiva e que, na medida em que evolui,
o paciente aumenta o grau de dependência de cuidados, demandando
muito do cuidador e que isso afeta a família. “No Creasi, a
família passa por um acolhimento e orientações, além de suporte
psicológico e social. A parte ambulatorial é só para idosos e
familiares. Já a parte da farmácia atende também pacientes mais
jovens que podem pegar os medicamentos”, complementa.
No site do serviço tem
as orientações e a informação de quais medicamentos e como
proceder. O protocolo é nacional, do Ministério da Saúde. A
retirada é com horário marcado e tem farmacêutico para dar as
orientações.
Ao todo, 2.600 idosos
estão matriculados no atendimento do Creasi e desse total, entre 20%
e 30% têm Parkinson. No último trimestre, a farmácia do serviço
dispensou 350 mil comprimidos para 10 tipos de doenças. O Parkinson
foi a terceira com mais dispensação de remédios, atrás apenas da
Dor Crônica e Alzheimer. O Creasi também atua dando orientação
aos profissionais dos postos de atenção básica no interior do
estado.
Cientistas pesquisam
diagnóstico a partir de amostras de pele
Um estudo recente
realizado com 343 pessoas na faixa etária entre 40 e 99 anos, pela
Escola Médica de Harvard, nos Estados Unidos, usou um marcador
químico para identificar a forma alterada da proteína
alfa-sinucleína no sistema nervoso central. A ideia é desenvolver
um exame que, com base na análise de uma pequena amostra de pele,
detecte a doença de Parkinson e outras três enfermidades
neurodegenerativas que são marcadas pelo acúmulo dessa proteína.
As informações do trabalho dos norte-americanos foram divulgadas
esta semana pela Revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp).
O teste conseguiu
identificar a proteína alterada em 93% das pessoas que tinham
Parkinson e em mais de 95% daquelas com as outras três doenças
estudadas: Demência com corpos de Lewy, Atrofia de múltiplos
sistemas e Insuficiência autonômica pura.
Outro resultado
positivo foi a separação com maior precisão das pessoas com alguma
das quatro doenças estudadas, daquelas que não apresentavam as
patologias. Ainda segundo a reportagem da Fapesp, em um estudo
anterior feito no ano passado, o uso da técnica permitiu diferenciar
os pacientes com Parkinson daqueles com Atrofia de múltiplos
sistemas. Ainda não há prazo para o novo tipo de exame ser adotado
na prática clínica. Fonte: A Tarde.