Nova abordagem
identificada por pesquisadores dos Estados Unidos permite "limpar"
resíduos tóxicos do cérebro ligados à doença
Pesquisadores estudam maneiras de eliminar proteína associada ao Alzheimer Getty Images/Morsa Images
26/08/2022 - O acúmulo
no cérebro de uma proteína chamada beta-amiloide é o primeiro
passo para o desenvolvimento do Alzheimer. Cientistas em todo o mundo
investigam maneiras de se eliminar a proteína antes do início dos
sintomas da doença.
Em um estudo recente,
pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington em
St. Louis, nos Estados Unidos, apontam um novo caminho potencial para
prevenir a demência associada ao Alzheimer.
Os especialistas
identificaram uma forma de eliminar resíduos da proteína do cérebro
de camundongos com maior eficiência. Segundo os pesquisadores, essa
mesma estratégia também pode ser eficaz para o tratamento de outras
doenças neurodegenerativas caracterizadas pelo acúmulo de proteínas
tóxicas, como a doença de Parkinson. Os achados foram publicados no
periódico científico Brain.
Para chegar aos
resultados, os cientistas analisaram o processo de sintetização de
diferentes proteínas no organismo. No processo de formação, um
fenômeno conhecido como “readthrough” está associado à criação
de proteínas com formas estendidas, que podem funcionar de maneira
diferente das regulares.
Eles então
investigaram se a forma longa de uma proteína chamada aquaporina 4
se comportava de outro modo no cérebro. A forma longa foi encontrada
nas extremidades dos astrócitos, uma espécie de célula de suporte
que ajuda a manter a barreira entre o cérebro e o resto do corpo. A
parte final dos astrócitos envolvem pequenos vasos sanguíneos no
cérebro e ajudam a regular o fluxo de sangue.
Este é justamente o
ponto-chave da pesquisa. As extremidades dos astrócitos podem ajudar
a manter o cérebro livre de proteínas indesejadas, liberando os
resíduos do órgão para a corrente sanguínea, de onde podem ser
transportados e eliminados.
A partir da hipótese
de que o aumento na quantidade de aquaporina 4 estendida poderia
aumentar a eliminação de resíduos, o pesquisador Darshan Sapkota
professor-assistente de ciências biológicas na Universidade do
Texas, rastreou 2.560 compostos com capacidade de aumentar a leitura
do gene da proteína.
Ele encontrou dois:
apigenina, uma molécula encontrada na camomila, salsa, cebola e
outras plantas comestíveis; e a sulfaquinoxalina, um antibiótico
veterinário usado nas indústrias de carnes e de aves.
Para descobrir a
relação entre a aquaporina 4 longa e a eliminação de
beta-amiloide, o pesquisador e o professor de genética e psiquiatria
Joseph Dougherty, da Universidade de Washington, se juntaram aos
cientistas John Cirrito e Carla Yuede, da mesma instituição.
Estudos em camundongos
No estudo, foram
utilizados camundongos geneticamente modificados para desenvolver
altos níveis da proteína beta-amiloide no cérebro – simulando o
que acontece em pacientes com Alzheimer.
Os animais receberam
quatro tipos diferentes de tratamento experimental: com apigenina,
com sulfaquinoxalina, com um líquido inerte ou um composto placebo
que não tem efeito sobre o “readthrough”.
Os achados indicaram
que aqueles tratados com apigenina ou sulfaquinoxalina eliminaram
beta-amiloide significativamente mais rápido do que aqueles tratados
com qualquer uma das duas substâncias inativas.
“Há muitos dados que
dizem que a redução dos níveis de amiloide em apenas 20% a 25%
interrompe o acúmulo de amiloide, pelo menos em camundongos, e os
efeitos que vimos foram nesse estádio”, disse Cirrito em
comunicado. “Isso me diz que essa poderia ser uma nova abordagem
para o tratamento de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas
que envolvem acúmulo de proteínas no cérebro. Não há nada que
diga que esse processo é específico para beta amilóide. Pode estar
aumentando, digamos, a depuração de alfa-sinucleína também, o que
pode beneficiar pessoas com doença de Parkinson”, completa.
Os pesquisadores
alertam que a sulfaquinoxalina não é segura para uso em pessoas. Já
a apigenina está disponível como suplemento dietético, mas não se
sabe o quanto chega ao cérebro. Cirrito adverte que o consumo de
grandes quantidades de apigenina como tentativa de evitar a doença
de Alzheimer não é recomendado.
“Estamos procurando
algo que possa ser rapidamente traduzido para a clínica. Só saber
que é alvo de uma droga é uma dica útil de que haverá algo por aí
que podemos usar”, disse Sapkota. Fonte: Cnnbrasil.