Um pequeno número de neurônios dopaminérgicos desempenha um papel crítico no controle de uma ampla gama de comportamentos
12 de setembro de 2024 - Uma descoberta de uma equipe de neurocientistas liderada pela McGill pode abrir portas para novos tratamentos para uma série de distúrbios psiquiátricos e neurológicos atribuídos a disfunções em vias específicas da dopamina.
Para aqueles que lutam contra um distúrbio psiquiátrico, como esquizofrenia, vício ou TDAH, ou com distúrbios neurológicos, como doença de Parkinson ou Alzheimer, pode haver boas notícias pela frente. Os neurocientistas descobriram que um pequeno grupo de neurônios dopaminérgicos no estriado desempenha um papel crucial no equilíbrio de várias funções cerebrais essenciais, incluindo aquelas relacionadas à recompensa, cognição e movimento.
A dopamina é uma molécula mensageira frequentemente associada ao prazer e à recompensa. Mas desempenha um papel igualmente importante na regulação do humor, sono e digestão, bem como nas funções motoras e cognitivas. Uma liberação excessiva de dopamina, induzida por certas drogas ou comportamentos, é responsável pelo vício. Por outro lado, sua ausência pode causar alterações profundas no controle motor, como é o caso da doença de Parkinson.
Um ato de equilíbrio crítico
Os cientistas já haviam identificado as funções de duas vias e tipos distintos de receptores de dopamina no prosencéfalo: os receptores D1, que ativam os neurônios, e os receptores D2, que os inibem. Um terceiro grupo de receptores de dopamina que possuem receptores de dopamina D1 e D2 era conhecido, mas até agora ninguém havia sido capaz de identificar sua função específica.
Ao usar ferramentas genéticas inovadoras para atingir especificamente esses receptores de dopamina, que compreendem apenas cinco por cento dos neurônios de dopamina no corpo estriado, os pesquisadores foram capazes de começar a entender suas funções.
Os pesquisadores descobriram que esse grupo de neurônios apresenta características celulares únicas em resposta à dopamina e estão na origem de uma nova via essencial para o equilíbrio do funcionamento do prosencéfalo. Garante o controle motor em condições fisiológicas normais e reduz a hiperatividade induzida por drogas psicoestimulantes.
"Sem esses neurônios, todo o sistema cerebral sob controle da dopamina se tornaria hiperativo e incontrolável, uma vez que eles agem para equilibrar as funções dos dois tipos de receptores de dopamina no cérebro que facilitam ou inibem a ativação das duas vias que já conhecíamos", explica Bruno Giros, professor do departamento de psiquiatria da McGill e pesquisador do Douglas Hospital Research Institute. Ele é o autor sênior de um artigo recente sobre o assunto publicado na Nature Neuroscience. "É uma descoberta muito empolgante para nós, porque trabalhamos neste projeto específico há quase oito anos em colaboração com uma equipe da Université Libre de Bruxelles (ULB)."
Para Giros, a descoberta ocorre após 30 anos de trabalho na área, inclusive ao lado do renomado neurocientista Marc Caron e do ganhador do Prêmio Nobel de 2012 Robert J. Lefkowitz como pós-doutorado no Duke University Medical Center.
"Estamos apenas nos primeiros dias de trabalho com as ferramentas que desenvolvemos para nos ajudar a identificar esse caminho", acrescenta Alban de Kerchove d'Exaerde, do Laboratório de Neurofísica da ULB, que colaborou na pesquisa. "Tenho certeza de que muitos laboratórios trabalharão com nossas ferramentas e, com o tempo, descobrirão mais sobre o importante papel que esse caminho muito específico desempenha em vários campos." Giros acrescenta: "Agora que entendemos como essa terceira via controla as funções motoras, o próximo objetivo de nossa pesquisa será entender com mais precisão como ela está implicada no controle dos processos cognitivos e como pode ser prejudicada em transtornos psiquiátricos".
Esta pesquisa foi apoiada por doações do Instituto Canadense de Pesquisa em Saúde (CIHR) e da Fundação Graham Boeckh. Fonte: Healthenews.
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