quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Estudo randomizado de estimulação cerebral profunda (DBS) para doença de Parkinson – Desfechos em 36 meses

(“Randomized trial of deep brain stimulation for Parkinson disease: Thirty-six-month outcomes”)

2012 Jul 3 - Abstract: Objetivos: Nosso objetivo foi comparar desfechos em longo prazo de DBS em globo pálido interno (GPi) e núcleo subtalâmico (NST) para pacientes com DP em um estudo multicêntrico randomizado e controlado.

Métodos: Pacientes foram randomizados para DBS GPi (n = 89) ou DBS NST (n = 70) e seguidos por 36 meses. O desfecho primário foi função motora com estimulação “on”/medicação “off” usando a subescala motora da UPDRS. Os desfechos secundários incluíram qualidade de vida e função neurocognitiva.

Resultados: A função motora melhorou entre o baseline e 36 meses para GPi (UPDRS Parte III – 41,1 para 27,1; IC 95% -16,4 a -10,8; p < 0,001) e para NST (42,5 para 29,7; IC 95% -15,8 a -9,4; p < 0,001); as melhoras foram similares entre os alvos e estáveis durante o período (p = 0,59). A qualidade de vida associada à saúde melhorou após 6 meses em todas as subescalas (todos os valores de p foram significativos), mas esta melhora diminuiu ao longo do tempo. Os escores da Escala de Demência Mattis decaíram mais rapidamente para NST que nos pacientes com alvo em GPi (p = 0,01); outras medidas neurocognitivas mostraram um declínio gradual global.

Conclusões: Os efeitos benéficos do DBS na função motora foram estáveis e comparáveis entre os alvos ao longo de 36 meses. Discreto declínio na qualidade de vida após a melhora inicial e declínio gradual na função neurocognitiva provavelmente refletem a progressão da doença e reforçam a importância com sintomas não-motores na qualidade de vida.

Classificação da evidência: Este estudo fornece uma evidência Classe III de que a melhora dos sintomas motores da DP após DBS se mantém estável durante 3 anos e não difere quanto ao alvo cirúrgico escolhido.

Comentário: Mesmo sendo um método terapêutico cada vez mais utilizado em todo mundo, com melhoras em escolha dos melhores pacientes, evolução das técnicas neurocirúrgicas e controle do dispositivo no pós-operatório, ainda há muito ceticismo quanto aos resultados motores e não-motores sobre estes pacientes, principalmente no longo prazo, também por se tratar de um procedimento excessivamente caro e não realizado pelo Sistema Único de Saúde brasileiro. Até este momento, os trabalhos sobre melhora motora com DBS em longo prazo eram séries de casos da década de 1990, de resultados controversos. Este estudo clínico muito bem executado acompanhou quase 200 pacientes por 3 anos após a instalação do DBS nos 2 principais alvos da atualidade: o GPI e NST bilateralmente, em procedimentos realizados a partir de 2005. Quanto aos resultados, mostra claramente que estes indivíduos, do ponto de vista motor, estão melhores após 6 e 36 meses do procedimento, em comparação com o estado pré-cirurgia, independente do alvo escolhido. Além disso, não houve um importante declínio da resposta motora ao longo dos 36 meses. Contudo, avaliando melhor os resultados dos 2 grupos, podemos perceber que o efeito sinérgico DBS + medicação talvez confira um melhor estado motor para DBS GPi em relação ao NST (os autores sugerem que esta diferença possa ser pela menor carga de levodopa usada em pacientes com DBS NST em 36 meses). Além disso, há um aparente comprometimento cognitivo maior nos pacientes com DBS NST em relação ao GPi medidos pela escala de Mattis. De resto, todos os outros desfechos mostraram um benefício similar entre os alvos no longo prazo. Este trabalho fornece uma evidência robusta tanto da eficácia do DBS após 3 anos de seguimento em pacientes com DP avançada, quanto da similaridade entre os alvos, talvez com alguma leve superioridade do Gpi. Fonte: Jornal Eletrônico de Atualizações em Neurologia.

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