quinta-feira, 20 de novembro de 2025

A alemã Merck e a Valo unem forças para desenvolver medicamento para Parkinson

O logotipo do grupo farmacêutico e químico Merck está em um prédio em sua sede em Darmstadt. Sebastian Gollnow/dpa

Quinta-feira, 20 de novembro de 2025 - A gigante farmacêutica alemã Merck firmou uma parceria com a Valo Health, sediada nos EUA, para desenvolver medicamentos para o tratamento da doença de Parkinson, utilizando um enorme banco de dados e inteligência artificial, anunciou a Valo Health nesta quinta-feira.

O acordo inclui pagamentos iniciais e potenciais por marcos alcançados, totalizando mais de US$ 3 bilhões, além de royalties e financiamento para pesquisa e desenvolvimento.

A Valo afirmou que sua "plataforma de biologia causal humana" possui "acesso exclusivo a mais de 17 milhões de registros de pacientes anonimizados", abrangendo até três décadas, e "amostras de biobanco, combinadas com IA avançada, para descobrir padrões da doença e identificar potenciais alvos para intervenção terapêutica".

"Nosso mecanismo de pesquisa está focado em fornecer medicamentos significativos para pacientes com grandes necessidades médicas não atendidas", disse Amy Kao, chefe da unidade de pesquisa em neurologia e imunologia da Merck, com sede em Darmstadt. As plataformas da Valo, com suporte de IA, "ajudariam a refinar a seleção de alvos e a agilizar a descoberta de medicamentos, permitindo-nos avançar mais rapidamente com os candidatos mais promissores", acrescentou ela.

A doença de Parkinson é uma doença degenerativa que afeta o sistema nervoso central. Milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas. Seus efeitos incluem rigidez muscular, lentidão dos movimentos e tremores.

A Merck afirmou que a parceria está alinhada com seu foco em doenças raras e distúrbios do movimento. Fonte: yahoo News.

Aspen levanta US$ 115 milhões para tratamento com células-tronco para Parkinson'

A empresa de terapia celular planeja investir o capital em um ensaio clínico em andamento de seu tratamento experimental para a doença neurodegenerativa, bem como em capacidades de produção.

20 de novembro de 2025 - A Aspen Neuroscience, desenvolvedora de terapia celular para o tratamento da doença de Parkinson, anunciou na quinta-feira que levantou US$ 115 milhões em uma rodada de financiamento Série C.

O principal programa da empresa, chamado ANPD-001, entrou em fase inicial de testes em pacientes com Parkinson em 2024. O aporte financeiro deve ajudar a avançar com o ensaio clínico e expandir suas capacidades de produção, segundo a Aspen.

A Aspen está desenvolvendo tratamentos individualizados que derivam células-tronco de células da pele enxertadas do próprio paciente. As células são então convertidas em células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), que podem se transformar em neurônios produtores de dopamina. Ao fazer isso, a empresa espera evitar a rejeição do sistema imunológico e a dependência de medicamentos imunossupressores a longo prazo, comumente usados ​​em outras terapias celulares.

A abordagem autóloga personalizada também pode apresentar melhor sobrevivência e funcionamento do que outros tratamentos regenerativos com células, afirmou Damien McDevitt, CEO da Aspen.

Tendência

Dentro do mercado de biotecnologia emergente

Mais adiante em seu portfólio está uma forma de tratamento com células-tronco "geneticamente editadas" para uma doença pediátrica rara, bem como outro programa que está desenvolvendo para uma "ampla indicação", de acordo com seu site.

A exploração de terapias derivadas de células-tronco para Parkinson remonta a 1989, quando o neurocientista Olle Lindvall experimentou pela primeira vez o implante dessas células em dois pacientes. Nas décadas seguintes, diversas empresas de biotecnologia e pesquisadores acadêmicos lançaram seus próprios estudos para verificar se a terapia pode restaurar a função motora.

Entre os concorrentes da Aspen está a BlueRock Therapeutics, uma subsidiária da Bayer que recentemente iniciou um estudo de Fase 3 de seu tratamento chamado bemdaneprocel. Uma pequena empresa de biotecnologia chamada Oryon Cell Therapies está testando uma terapia experimental semelhante.

A rodada de financiamento Série C foi coliderada pela OrbiMed, Arch Venture Partners, Frazier Life Sciences e Revelation Partners e contou com pelo menos outros nove investidores.

Até o momento, a Aspen arrecadou US$ 340 milhões para financiar suas ambições em terapia celular, incluindo uma subvenção de US$ 8 milhões do Instituto da Califórnia para Medicina Regenerativa.

“A Aspen está atualmente bem financiada e em uma posição sólida para realizar novas rodadas de financiamento, realizar um IPO ou fechar outros acordos para continuar avançando com nossos programas, garantindo que essa nova abordagem de tratamento chegue ao maior número possível de pacientes”, escreveu McDevitt em um e-mail para a BioPharma Dive.

De acordo com dados da BioPharma Dive, as empresas de terapia celular e gênica receberam relativamente pouco financiamento de capital de risco em 2025. Apenas outra empresa de terapia celular regenerativa que desenvolve tratamentos para distúrbios do sistema nervoso central, a Neurona Therapeutics, levantou mais de 100 milhões de dólares em uma rodada de investimentos este ano. Fonte: biopharmadive.

Nova compreensão das proteínas anormais na doença de Parkinson

19 de novembro de 2025 - Neste vídeo da Healio, David G. Standaert, MD, PhD, discute uma sessão plenária sobre a eliminação de agregados proteicos em cérebros envelhecidos, apresentada no Congresso Internacional de Doença de Parkinson e Distúrbios do Movimento de 2025.

Standaert, da Universidade do Alabama em Birmingham, destacou uma importante apresentação de Lorraine V. Kalia, MD, PhD, FRCPC, professora associada da Universidade de Toronto, sobre os mecanismos de eliminação de resíduos em cérebros envelhecidos de pacientes com doença de Parkinson e discussões sobre como o sono promove a eliminação de proteínas anormais.

O processo pelo qual as proteínas anormais são eliminadas no cérebro tornou-se mais central para a compreensão da DP na última década, disse Standaert.

"Esta é uma mudança realmente fundamental em nossa maneira de pensar sobre a doença de Parkinson", disse Standaert.

Além disso, ele discute o papel do sono em ajudar a eliminar proteínas anormais do cérebro. Fonte: healio.

Bactérias orais ligadas à doença de Parkinson através do eixo intestino-cérebro

2025-11-19 - Investigadores da POSTECH e da Faculdade de Medicina da Universidade Sungkyunkwan identificaram que as bactérias orais no intestino podem desencadear a doença de Parkinson através de metabolitos que penetram no cérebro

Investigadores coreanos descobriram evidências convincentes de que as bactérias orais, uma vez colonizadas no intestino, podem afetar os neurónios no cérebro e potencialmente desencadear a doença de Parkinson.

A equipa de investigação conjunta, liderada pelo Professor Ara Koh e pelo doutorando Hyunji Park, do Departamento de Ciências da Vida da POSTECH, juntamente com o Professor Yunjong Lee e o doutorando Jiwon Cheon, da Faculdade de Medicina da Universidade Sungkyunkwan, colaboraram com o Professor Han-Joon Kim, da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Seul. Identificaram o mecanismo pelo qual os metabolitos produzidos pelas bactérias orais no intestino podem desencadear o desenvolvimento da doença de Parkinson. As descobertas foram publicadas online a 5 de setembro na Nature Communications.

A doença de Parkinson é uma importante doença neurológica caracterizada por tremores, rigidez e lentidão dos movimentos. Afeta aproximadamente 1 a 2% da população mundial com mais de 65 anos, sendo uma das doenças cerebrais relacionadas com a idade mais comuns. Embora estudos anteriores tenham sugerido que a microbiota intestinal dos indivíduos com Parkinson difere da dos indivíduos saudáveis, os microrganismos e metabolitos específicos ainda não foram identificados.

Os investigadores descobriram uma maior abundância de Streptococcus mutans — uma bactéria oral conhecida por causar cáries dentárias — na microbiota intestinal dos doentes de Parkinson. Mais importante ainda, o S. mutans produz a enzima urocanato redutase (UrdA) e o seu metabolito propionato de imidazol (ImP), ambos presentes em níveis elevados no intestino e no sangue dos pacientes. O ImP parece ser capaz de entrar na circulação sistémica, atingir o cérebro e contribuir para a perda de neurónios dopaminérgicos.

Utilizando modelos de ratinhos, os investigadores introduziram S. mutans no intestino ou modificaram geneticamente a bactéria E. coli para expressar a UrdA. Como resultado, os ratos apresentaram níveis elevados de ImP no sangue e no tecido cerebral, juntamente com as características marcantes dos sintomas da doença de Parkinson: perda de neurónios dopaminérgicos, aumento da neuroinflamação, comprometimento da função motora e aumento da agregação de alfa-sinucleína, uma proteína central para a progressão da doença.

Experiências adicionais demonstraram que estes efeitos dependem da ativação do complexo proteico de sinalização mTORC1 (1). O tratamento dos ratos com um inibidor de mTORC1 reduziu significativamente a neuroinflamação, a perda neuronal, a agregação de alfa-sinucleína e a disfunção motora. Isto sugere que o alvo do microbioma oral-intestinal e dos seus metabolitos pode oferecer novas estratégias terapêuticas para a doença de Parkinson.

“O nosso estudo fornece uma compreensão mecanística de como os micróbios orais no intestino podem influenciar o cérebro e contribuir para o desenvolvimento da doença de Parkinson”, disse o Professor Ara Koh. “Destaca o potencial de direcionar a microbiota intestinal como estratégia terapêutica, oferecendo uma nova direção para o tratamento da doença de Parkinson”.

A investigação foi financiada pelo Centro de Financiamento e Incubação de Investigação da Samsung Electronics, pelo Programa de Investigadores de Meia Carreira do Ministério da Ciência e TIC, pelo Centro de Apoio à Investigação do Microbioma e pelo Programa de Desenvolvimento de Tecnologia Biomédica. Fonte: jornaldentistry.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Moinhos de Vento realiza cirurgia inédita para tratamento de Parkinson à distância

11/11/2025 - O Hospital Moinhos de Vento realizou uma cirurgia inédita no Brasil: a implantação de um dispositivo que permite ajustar o tratamento de Parkinson à distância. O procedimento foi realizado em um paciente uruguaio, que permanecerá em seu país e será acompanhado pela equipe médica em Porto Alegre. A tecnologia possibilita que os médicos façam a programação do dispositivo remotamente, por meio de um aplicativo no celular, sem necessidade de consultas presenciais.

O procedimento utiliza a técnica de estimulação cerebral profunda (Deep Brain Stimulation – DBS), que insere eletrodos no cérebro para controlar os sintomas como tremores, rigidez e lentidão em estágios moderados e avançados da doença, por meio de impulsos elétricos. A novidade está no gerador recarregável, que pode ser programado a distância pelo médico, garantindo mais conforto e praticidade ao paciente.

De acordo com o coordenador do Núcleo de Neuromodulação e Distúrbios do Movimento do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Reis, esse será o primeiro aparelho desse tipo implantado no país. Ele destaca que a iniciativa amplia o acesso ao tratamento e melhora a qualidade de vida de quem vive longe dos centros especializados.

“A tecnologia representa um avanço importante para milhares de pessoas que convivem com a doença, uma vez que o Parkinson afeta cerca de 200 mil brasileiros e, muitos deles, vivem longe dos grandes centros. Isso facilita o acompanhamento e garante mais conforto e segurança aos pacientes, sem a necessidade de deslocamentos frequentes”, explica. Fonte: medicinasa.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Conselhos aprovados por fisioterapeutas: por que pessoas com Parkinson caem?

05 de novembro de 2025 - As quedas podem ocorrer devido a muitos fatores de risco. O mais comum é a alteração na marcha e a perda de equilíbrio que afeta muitas pessoas com Parkinson.

É importante estar ciente das causas e de como minimizar os riscos de quedas. Identificar os fatores contribuintes ajudará a orientar qual o melhor tratamento.

A fisioterapeuta (e presidente da Parkinson's Europe) Josefa Domingos – que dedicou décadas à especialização em fisioterapia para Parkinson – aprovou os seguintes conselhos.

Aqui estão alguns dos motivos mais comuns pelos quais pessoas com Parkinson caem:

Postura

O Parkinson pode alterar lentamente a postura, deixando a pessoa mais curvada à medida que a doença progride. Essa mudança afeta o equilíbrio e pode aumentar o risco de quedas para a frente.

Fraqueza muscular

Músculos fracos também podem deixar sua postura mais curvada, aumentando o risco de quedas. Tente se manter o mais ativo possível para prevenir o enfraquecimento muscular e evitar que as articulações fiquem fracas ou rígidas.

Um fisioterapeuta poderá recomendar diferentes exercícios para ajudar. Especificamente, a redução da força nas pernas tem sido relacionada ao aumento do risco de quedas.

Instabilidade postural

A doença de Parkinson afeta a área do cérebro – os gânglios da base e o tronco encefálico – que controla a marcha e ajuda a ajustar o equilíbrio enquanto você se move. Como resultado, você pode perceber que não tem os reflexos normais para ajustar rapidamente o equilíbrio e evitar quedas.

Congelamento

Congelamento – quando você para de andar involuntariamente ou sente como se estivesse "colado" ao chão – pode ser um sintoma da doença de Parkinson. Isso pode fazer você se sentir instável e com medo de cair. Veja dicas para ajudar com o congelamento quando você tem Parkinson.

Pressão arterial baixa

Alterações e problemas com a pressão arterial são bastante comuns à medida que envelhecemos. No entanto, problemas de pressão arterial também podem ser um sintoma da doença de Parkinson e um efeito colateral dos medicamentos para Parkinson.

Tonturas e vertigens podem aumentar o risco de quedas, por isso é importante levantar-se da posição deitada ou sentada para a posição em pé o mais lentamente possível. Não tenha pressa e não tente andar imediatamente.

Certifique-se de falar com seu médico se sentir tonturas com frequência – sua medicação pode precisar ser ajustada. Algumas estratégias não farmacológicas podem ajudar, como aumentar a ingestão de água, sal ou biscoitos salgados, fazer refeições menores com mais frequência e limitar o consumo de álcool.

Visão

Visão embaçada e dificuldades com contraste também podem afetar as atividades diárias. Esses tipos de problemas de visão, juntamente com problemas cognitivos visuoespaciais (por exemplo, dificuldade em avaliar espaços), podem dificultar a movimentação segura ao redor de objetos ou em espaços estreitos, aumentando o risco de quedas. Consultas oftalmológicas regulares são muito importantes.

Problemas de visão também podem ser um efeito colateral de medicamentos, portanto, converse com seu médico se estiver com problemas de visão. Dificuldades com distâncias podem ser trabalhadas através de exercícios específicos de caminhada com um fisioterapeuta especializado.

Riscos em casa ou no trabalho

Até mesmo o menor risco em casa, como roupas deixadas no chão, animais no caminho ou falar enquanto caminha, pode levar a uma queda. Converse com seu fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional, que poderá sugerir maneiras de reduzir os riscos em sua casa ou no trabalho.

Existem maneiras de reduzir o risco de quedas. Leia nossas dicas de prevenção de quedas para pessoas com Parkinson aqui. Fonte: parkinsonseurope.

Mapa celular inédito revela como regenerar neurônios afetados pelo Parkinson

Mapa celular detalhado oferece base inédita para terapias regenerativas no cérebro

BrainSTEM ajuda cientistas a recriar neurônios saudáveis. (Foto: Getty Images via Canva)

06/11/2025 - Cientistas deram um passo histórico na compreensão do cérebro humano em desenvolvimento. Um novo modelo, chamado BrainSTEM, está redesenhando a forma como os especialistas estudam e tratam doenças neurodegenerativas, especialmente o Parkinson.

Criado por pesquisadores da Escola de Medicina Duke-NUS, o mapa detalha centenas de milhares de células cerebrais, revelando como elas crescem, interagem e se organizam, algo que pode mudar completamente o padrão das terapias com neurônios cultivados em laboratório.

Um “manual de instruções” para recriar neurônios

O BrainSTEM é o atlas celular mais completo já produzido sobre o cérebro humano em formação. Ele descreve, com precisão, os neurônios dopaminérgicos, responsáveis por coordenar movimentos e processos de aprendizado, justamente os mais afetados pela doença de Parkinson.

Com esse nível de detalhamento, os cientistas agora têm uma espécie de “manual de instruções” que orienta a criação de novos neurônios saudáveis em laboratório, oferecendo esperança para restaurar áreas cerebrais danificadas.

Em termos práticos, isso significa que os pesquisadores poderão:

 Comparar células produzidas em laboratório com as originais do cérebro humano;

 Identificar erros na formação celular antes da aplicação em pacientes;

 Aprimorar a segurança e eficácia das terapias celulares.

Garantia de qualidade nas terapias celulares

Avanço promete revolucionar terapias contra o Parkinson. (Foto: NunDigital via Canva)

Uma das maiores contribuições do BrainSTEM é seu papel na validação das células cultivadas. Até agora, muitos estudos enfrentavam o risco de criar células “intrusas”, que pertenciam a outras partes do cérebro e não funcionavam corretamente quando implantadas.

Com o novo mapa, os cientistas podem distinguir e eliminar essas células incorretas, garantindo que apenas neurônios dopaminérgicos de alta qualidade sejam usados no tratamento. Essa precisão é fundamental para evitar efeitos colaterais e aumentar as chances de sucesso das terapias regenerativas.

Um novo padrão para estudar o cérebro humano

Publicado na revista Science Advances, o estudo estabelece um novo padrão de referência para a neurociência moderna. O BrainSTEM permite não apenas entender como o cérebro se forma, mas também reproduzir esse processo de forma controlada, algo essencial para doenças degenerativas.

Em analogia simples, se o cérebro fosse um grande quebra-cabeça, o BrainSTEM seria a imagem da caixa, mostrando exatamente onde cada peça deve estar. Essa visão detalhada está acelerando a corrida por tratamentos mais eficazes e personalizados contra o Parkinson e outros distúrbios neurológicos.

Esperança renovada para milhões de pacientes

Com essa descoberta, abre-se um caminho real para terapias celulares seguras e eficientes, que possam restaurar as funções perdidas pela morte de neurônios. 

A expectativa é que o BrainSTEM sirva como base para novos protocolos clínicos e impulsione o desenvolvimento de tratamentos regenerativos que devolvam a qualidade de vida a milhões de pessoas afetadas pelo Parkinson no mundo todo. Fonte: R7.

Como a estimulação cerebral profunda adaptativa está transformando a doença de Parkinson

06 de novembro de 2025 - No calor úmido do verão de Cleveland, nos Estados Unidos, o Dr. Michal Gostkowski não precisa de casaco. No outono, talvez use um casaco leve. À medida que o frio do inverno se aproxima, certamente ele se agasalhará.

 Assim como há a troca de guarda-roupa quando o clima muda, o cérebro de pacientes com doença de Parkinson às vezes necessita de ajustes ao longo do dia. Essa é a ideia por trás de um dispositivo de estimulação cerebral profunda adaptativa (ECPa) recentemente aprovado, agora utilizado para tratar a doença, disse o médico, que atua como neurologista na Cleveland Clinic, nos EUA. À medida que o cérebro e os sintomas do paciente flutuam ao longo do dia, a ECPa se ajusta em tempo real, oferecendo controle personalizado.

Embora a ECP convencional tenha sido um tratamento fundamental por quase 30 anos, ela apresenta limitações claras. A técnica fornece estimulação elétrica fixa e constante para regiões cerebrais específicas, mas não consegue se ajustar às flutuações dos sintomas ou aos efeitos da medicação. Isso pode resultar em efeitos colaterais significativos, como a discinesia.

Já a ECPa é um sistema de circuito fechado que oferece uma alternativa personalizada. Ao monitorar a atividade cerebral em tempo real e ajustar a estimulação dinamicamente, essa tecnologia de última geração proporciona maior controle dos sintomas com menos efeitos colaterais.

Neurologistas na América do Norte, Europa e Ásia estão adotando a terapia para preservar a independência e a funcionalidade dos pacientes, oferecendo esperança a milhões de pessoas que vivem com a doença.

A resposta, até o momento, tem sido promissora. Dos 75 pacientes do Dr. Michal que utilizaram a técnica, nenhum interrompeu a terapia.

"Tem sido muito vantajosa para a maioria dos pacientes", afirmou o neurologista ao Medscape. "Parece simplesmente fornecer o que o organismo está perdendo e o que o cérebro não está fazendo sozinho, e os pacientes realmente gostam disso."

Uma década de desenvolvimento

Em fevereiro, a fabricante Medtronic recebeu a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) para o BrainSense aDBS e para o sistema BrainSense Electrode Identifier, tornando-o o primeiro e único sistema de ECPa liberado para uso clínico na doença de Parkinson.

A aprovação foi o ápice de mais de uma década de pesquisas para refinar a ECPa, desde a determinação de quais frequências de ondas cerebrais se correlacionam com os sintomas motores da doença de Parkinson até a identificação de quais sinais eram seguros e eficazes o suficiente para acionar o sistema.

Pesquisadores da Stanford University, nos EUA, foram os primeiros a implantar um dispositivo de detecção capaz de lidar com a ECPa com o sistema totalmente integrado.

Em 2018, pesquisadores da University of California em São Francisco (UCSF), nos EUA, implantaram pela primeira vez a ECPa em dois pacientes com doença de Parkinson, demonstrando que ela era tão eficaz no controle dos sintomas quanto a técnica convencional.

O procedimento envolve a inserção de eletrodos no cérebro e a implantação de um gerador de pulsos alimentado por bateria sob a clavícula. Os eletrodos implantados são inseridos profundamente em estruturas cerebrais minúsculas (como o núcleo subtalâmico), onde captam potenciais de campo locais. Dentro desses sinais, frequências anômalas da banda beta na faixa de 13 a 30 Hz ativam o sistema de ECPa.

A estimulação, então, modula as ondas beta interrompidas em pacientes com doença de Parkinson, ajudando a aliviar certos sintomas motores.

Um ensaio clínico pivotal — o ADAPT-PD — liderado pela Dra. Helen Bronte-Stewart, médica e professora de neurologia da Stanford University, serviu de base para a aprovação da tecnologia pela FDA.

Os resultados deste ensaio clínico multicêntrico, prospectivo, de cegamento simples e com randomização cruzada foram publicados em 22 de setembro no periódico JAMA Neurology. Entre os 68 participantes do estudo (70,6% eram homens; a média de idade foi de 62,2 anos; e a duração da doença foi de 13,5 anos), a maioria apresentou tempo efetivo de ativação (definido como o tempo em que os sintomas estavam bem controlados) sem apresentar discinesia incômoda (em comparação com a ECP convencional).

“Mais de dois terços dos participantes indicaram preferência ‘forte’ ou ‘razoável’ pela técnica adaptativa em vez das configurações anteriores da técnica convencional, quando avaliamos a melhora dos sintomas motores ou menos flutuações nos sintomas”, registraram os pesquisadores.

É necessário que haja potência beta suficiente perto do eletrodo para acionar o sistema, afirmou a Dra. Helen ao Medscape. “Se não houver sinal suficiente para registrar, a ECPa não funcionará, e isso geralmente depende de onde o eletrodo está localizado no cérebro”, completou ela.

Expectativas realistas

Selecionar pacientes com expectativas realistas é fundamental para a ECPa, enfatizou o Dr. Michal. Pacientes em faixas etárias mais avançadas e indivíduos com problemas preexistentes relacionados à marcha e à fala apresentam maior risco de eventos adversos induzidos pela estimulação, afirmou o Dr. Martijn Beudel, Ph.D., neurologista e professor associado do Amsterdam Universitair Medische Centra, nos Países Baixos.

Além disso, pacientes com comprometimento cognitivo significativo ou demência geralmente não são elegíveis, pois a cirurgia em si pode apresentar riscos. Os sintomas não motores da doença de Parkinson, como dificuldades de deglutição, salivação excessiva ou problemas na regulação da pressão arterial, não melhoram com essa tecnologia.

Alguns pacientes esperam melhora na memória ou na paralisia da marcha, observou o Dr. Michal, mas é improvável que haja resposta para esses sintomas, o que pode gerar confusão sobre o que a técnica pode ou não melhorar.

Rand Laycock, um maestro de 70 anos que vinha usando a estimulação convencional como tratamento da doença de Parkinson, encaixava-se como um caso elegível para a técnica adaptativa, ilustrou o Dr. Michal. Desde que efetuou a troca para o sistema adaptativo, no início de 2025, o impacto foi profundo.

“Meu tremor desapareceu quase completamente, exceto quando sinto ansiedade ou estresse intensos, e a discinesia está praticamente sob controle”, contou o maestro em um perfil de pacientes da Cleveland Clinic. “Meus sintomas são mínimos em comparação ao que eram, e muito disso se deve à ECPa.”

De fato, a terapia permitiu que ele continuasse sua carreira de 47 anos.

Dados clínicos reforçam esses desfechos descritos pelos pacientes. Um estudo recente liderado por pesquisadores da UCSF mostrou que a ECPa melhorou os sintomas e a qualidade de vida em indivíduos com doença de Parkinson, reduzindo os efeitos colaterais comuns da ECP convencional.

Pacientes que, como Rand, fazem a transição para a técnica adaptativa, não precisam de mais cirurgias; o sistema Percept DBS da Medtronic pode ser atualizado por software para ativar sua configuração adaptativa.

Adoção global

Embora pacientes com o dispositivo Percept instalado possam, tecnicamente, atualizar para a ECPa, isso nem sempre significa que devam proceder assim.

“Leva muito tempo para colocar alguém em um modo adaptativo, e o esforço pode não valer a pena para muitos pacientes com eletrodos de ECP bem posicionados”, ressaltou ao Medscape o Dr. Michael Okun, médico, consultor médico da Parkinson’s Foundation e autor do livro The Parkinson’s Plan.

A Dra. Helen fez uma observação semelhante. Ela alertou contra a abordagem da ECPa como uma alternativa revolucionária de uso obrigatório. Em vez disso, disse ela, a técnica deve ser vista como uma terapia biológica personalizada, e não como um tratamento totalmente novo.

Globalmente, mais de 160 mil pacientes com doença de Parkinson têm implantes de eletrodos para ECP, embora não esteja claro quantos estão usando a estimulação adaptativa. No entanto, a Medtronic informou que, até o momento, mais de 40 mil indivíduos no mundo têm o dispositivo Percept.

“O número exato de serviços que utilizam a ECPa ainda é pequeno. As barreiras para a implementação envolvem a necessidade de treinamento clínico, a complexidade da programação e os obstáculos ao reembolso pelas operadoras”, explicou o Dr. Michael.

Nos EUA, o custo varia de US$ 70 mil a US$ 100 mil. O Dr. Michal e o Dr. Brett Youngerman, neurocirurgião e professor assistente de neurocirurgia no Columbia University Irving Medical Center, nos EUA, afirmaram que seus pacientes com doença de Parkinson não tiveram problemas para obter cobertura da operadora para o tratamento.

Do outro lado do oceano, nos Países Baixos, o Dr. Martijn tem se dedicado à implementação da ECPa para seus pacientes.

Sua equipe começou a usar a técnica na prática clínica de rotina em 2021, inicialmente por meio do estudo ADAPT-PD, e desde então expandiu o uso para cerca de 20 pacientes em 2025.

Ele observou que atualmente os pacientes necessitam de consultas hospitalares um pouco mais frequentes do que os indivíduos com ECP convencional, principalmente para ajustes de algoritmo. No entanto, em sua experiência, a terapia adaptativa oferece um gerenciamento superior dos efeitos colaterais induzidos pela estimulação, como disartria, discinesia e distúrbios da marcha.

“[Com a ECPa], temos a vantagem de estimular menos do que com a terapia convencional, portanto [este tratamento] é menos propenso a efeitos colaterais. É claro que precisamos ser muito cautelosos ao titular os algoritmos da ECPa, pois precisamos garantir que a estimulação seja ativada com base em um sinal fisiológico que se correlacione com os sintomas do paciente”, disse ele ao Medscape.

Dada a recente implementação dessa tecnologia, o Dr. Martijn enfatizou a importância de aprender com outros médicos e estabelecer um registro internacional de centros que utilizam a estimulação adaptativa. Até o momento, 26 centros na Europa, nos EUA e no Japão aderiram ao consórcio com o objetivo de compartilhar dados de desfechos de pacientes e percepções clínicas.

Outra vantagem da terapia adaptativa é a maior duração da bateria. Como não estimula o cérebro continuamente, pesquisadores da UCSF constataram que ela pode conservar cerca de 40% mais energia do que a estimulação convencional. A bateria precisa ser recarregada mensalmente, mas mantém a capacidade por aproximadamente 12 anos, durando muito mais do que a maioria dos celulares.

O caminho à frente

No entanto, ainda existem aspectos fundamentais da ECPa que, segundo especialistas, precisam ser mais refinados. "A principal limitação no momento é que ela se restringe a um único biomarcador predefinido, focado principalmente na potência beta", afirmou ao Medscape o Dr. Brett, que também descreveu desfechos benéficos da terapia em seus 25 pacientes.

O dispositivo comercial atual continua sendo de primeira geração, mas espera-se que versões futuras incorporem algoritmos mais sofisticados, capazes de interpretar mais sinais neurais à medida que a compreensão científica avança, comentou a Dra. Helen.

A técnica adaptativa também está sendo explorada como um possível tratamento para outros distúrbios neurológicos e alguns transtornos psiquiátricos.

O próximo passo é uma maior integração da inteligência artificial (IA), o que poderia tornar o sistema mais autônomo e reduzir as consultas hospitalares, permitindo que a estimulação seja autotitulada, vislumbrou o Dr. Martijn.

Ferramentas de monitoramento remoto também estão sendo aprimoradas, potencialmente permitindo que os médicos acessem à distância os dados da ECPa de um paciente e reduzam ainda mais a necessidade de consultas médicas. Estudos pós-comercialização estão sendo planejados e registros iniciais estão sendo estabelecidos, embora os resultados provavelmente levem um ano ou mais para surgir, observou o Dr. Michael.

“Os sistemas de última geração com algoritmos baseados em IA e melhores interfaces com o usuário estão no horizonte. Estou animado. No entanto, precisamos simplificar a programação e garantir um acesso mais amplo para tornar essa tecnologia um verdadeiro divisor de águas no tratamento da doença de Parkinson”, afirmou ele.

Por enquanto, contudo, a ECPa parece estar fazendo uma diferença significativa para pacientes com doença de Parkinson nos EUA e em outros países. Rand, o paciente do Dr. Michal, descreveu a terapia como “um procedimento transformador que permite que você volte a ser você mesmo”.

Os Drs. Brett Youngerman e Michal Gostkowski informaram não ter conflitos de interesses relevantes. O Dr. Martijn Beudel informou ter recebido subsídio pela bolsa de pesquisa TKI-PPP do Amsterdam Universitair Medische Centra (chamadas de 2021 e 2023), do projeto EU Joint Programme-Neurodegenerative Disease Research (chamada de 2021), dos Stichting Parkinson Fonds (chamadas de 2023 e 2025) e da Medtronic (2023-2025), todos pagos à sua instituição de filiação. A Dra. Helen Bronte-Stewart e o Dr. Michael Okun informaram não ter conflitos de interesses relevantes. Fonte: medscape.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Bactérias orais podem colonizar o intestino e contribuir para o desenvolvimento da doença de Parkinson, revela estudo

Descobertas reforçam o papel crucial do eixo intestino-cérebro no desenvolvimento da doença

Esta ilustração mostra em detalhes uma variedade de bactérias.

4 de novembro de 2025 - Pessoas com doença de Parkinson apresentam uma abundância aumentada da bactéria oral Streptococcus mutans — normalmente encontrada na boca e associada a cáries dentárias — em seu intestino, de acordo com um novo estudo envolvendo pacientes e um modelo em camundongos.

Uma vez estabelecidas no intestino, essas bactérias — chamadas de S. mutans — podem produzir metabólitos, como o propionato de imidazol, que viajam até o cérebro e causam a perda de neurônios dopaminérgicos. A perda desses neurônios, ou células nervosas, impulsiona o desenvolvimento da doença de Parkinson.

Essas descobertas, segundo os pesquisadores, reforçam ainda mais a importância do chamado eixo intestino-cérebro no desenvolvimento da doença de Parkinson. Os resultados da pesquisa também identificam novos alvos terapêuticos potenciais para a doença de Parkinson, relacionados às bactérias intestinais, segundo a equipe.

O estudo, intitulado "A produção microbiana intestinal de propionato de imidazol impulsiona as patologias da doença de Parkinson", foi publicado na revista Nature Communications. A equipe internacional de pesquisadores foi liderada conjuntamente por Yunjong Lee, PhD, da Faculdade de Medicina da Universidade Sungkyunkwan, e Ara Koh, PhD, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pohang, na República da Coreia, juntamente com dois doutorandos, um de cada universidade.

"Nosso estudo fornece uma compreensão mecanística de como os micróbios orais no intestino podem influenciar o cérebro e contribuir para o desenvolvimento da doença de Parkinson", disse Koh em um comunicado à imprensa da universidade detalhando as descobertas do estudo.

"Ele destaca o potencial de direcionar a microbiota intestinal como uma estratégia terapêutica, oferecendo uma nova direção para o tratamento da doença de Parkinson", acrescentou Koh.

Descobertas ressaltam o 'papel crucial' do eixo intestino-cérebro no desenvolvimento da doença

Pessoas com doença de Parkinson apresentam uma abundância aumentada da bactéria oral Streptococcus mutans — normalmente encontrada na boca e associada a cáries nos dentes — em seu intestino, de acordo com um novo estudo envolvendo pacientes e um modelo de camundongo.

Uma vez estabelecidas no intestino, essas bactérias — chamadas de S. mutans — podem produzir metabólitos, como o propionato de imidazol, que viajam até o cérebro e causam a perda de neurônios dopaminérgicos. A perda desses neurônios, ou células nervosas, impulsiona o desenvolvimento da doença de Parkinson.

Essas descobertas, segundo os pesquisadores, reforçam ainda mais a importância do chamado eixo intestino-cérebro no desenvolvimento da doença de Parkinson. Os resultados da pesquisa também identificam novos alvos terapêuticos potenciais para a doença de Parkinson, relacionados às bactérias intestinais, de acordo com a equipe.

O estudo, intitulado "A produção microbiana intestinal de propionato de imidazol impulsiona as patologias da doença de Parkinson", foi publicado na revista Nature Communications. A equipe internacional de pesquisadores foi liderada conjuntamente por Yunjong Lee, PhD, da Faculdade de Medicina da Universidade Sungkyunkwan, e Ara Koh, PhD, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pohang, na República da Coreia, juntamente com dois doutorandos, um de cada universidade.

"Nosso estudo fornece uma compreensão mecanística de como os micróbios orais no intestino podem influenciar o cérebro e contribuir para o desenvolvimento da doença de Parkinson", disse Koh em um comunicado à imprensa da universidade detalhando as descobertas do estudo.

"Ele destaca o potencial de direcionar a microbiota intestinal como uma estratégia terapêutica, oferecendo uma nova direção para o tratamento da doença de Parkinson", acrescentou Koh.

Microbioma intestinal de pacientes revela perfil bacteriano único

Há evidências crescentes de que o microbioma intestinal — os bilhões de bactérias, vírus e outros micróbios que vivem no intestino — desempenha um papel no desenvolvimento da doença de Parkinson. Por exemplo, a microbiota intestinal é alterada em pessoas com Parkinson, e aglomerados tóxicos da proteína alfa-sinucleína, uma característica da doença, parecem se originar no intestino e depois se espalhar para o cérebro.

“No entanto, os micróbios específicos que contribuem para as principais características patológicas [causadoras da doença] da DP [doença de Parkinson] ainda não foram identificados”, escreveram os pesquisadores.

Cientistas identificam Streptococcus mutans como bactéria oral chave na doença de Parkinson

Um estudo recente de amostras fecais de pessoas com e sem Parkinson ajudou a fornecer uma compreensão abrangente dos micróbios que estão anormalmente baixos ou altos em pessoas com Parkinson.

Agora, a equipe de pesquisa confirmou esses dados e descobriu que a S. mutans — bactéria normalmente encontrada na boca humana e associada à cárie dentária — apresenta uma das maiores associações com a doença de Parkinson.

A S. mutans produz uma enzima chamada urocanato redutase (UrdA), que participa de uma reação que produz uma substância química chamada propionato de imidazol (ImP). O ImP tem recebido considerável atenção como alvo terapêutico em diversas doenças.

Neste estudo, os pesquisadores examinaram dados genéticos de 491 pessoas com Parkinson e 234 idosos saudáveis, que serviram como grupo de controle. A equipe descobriu que os níveis de UrdA eram significativamente maiores nos pacientes com Parkinson. Em comparação com o grupo de controle, os pacientes também apresentaram níveis mais elevados de ImP no sangue, conforme demonstraram os dados.

Em camundongos, descobriu-se que S. mutans se estabelece no intestino e prospera

Para investigar especificamente se S. mutans poderia contribuir para a doença de Parkinson, os pesquisadores introduziram a bactéria no intestino de camundongos livres de germes. Apesar de ser tipicamente uma bactéria oral, S. mutans se estabeleceu com sucesso no intestino, especialmente no intestino grosso — e prosperou nele, observaram os pesquisadores.

Além disso, esses camundongos apresentaram perda seletiva de neurônios dopaminérgicos no cérebro. Essas células nervosas produzem um mensageiro químico chamado dopamina e são progressivamente perdidas na doença de Parkinson.

A bactéria também causou inflamação no cérebro e anormalidades em células de suporte em forma de estrela chamadas astrócitos. Os níveis de ImP aumentaram tanto no sangue quanto no cérebro dos camundongos somente quando S. mutans estava presente, sugerindo que o ImP produzido no intestino pode viajar pela corrente sanguínea até o cérebro.

Nossos resultados destacam o papel crucial do propionato de imidazol microbiano derivado do intestino como um mediador chave nos mecanismos da doença de Parkinson e indicam potenciais opções terapêuticas direcionadas ao eixo intestino-cérebro.

Para confirmar o papel da UrdA, os pesquisadores modificaram a Escherichia coli — uma bactéria comum que normalmente habita o intestino — para produzir a enzima. Camundongos portadores dessas E. coli no intestino desenvolveram uma perda semelhante de neurônios dopaminérgicos, inflamação cerebral e sintomas motores, sugerindo que a UrdA sozinha é suficiente para causar esses efeitos.

A equipe também descobriu que o S. mutans, por meio da produção de ImP derivada da UrdA, ativou um complexo de proteínas de sinalização chamado mTORC1, que detecta a presença de proteínas mal dobradas que tendem a formar aglomerados tóxicos. O bloqueio do mTORC1 reduziu a inflamação e os danos aos neurônios no cérebro, além de aliviar os sintomas motores, de acordo com os pesquisadores.

“Nossos resultados reforçam o papel crucial do propionato de imidazol microbiano derivado do intestino como um mediador chave nos mecanismos da doença de Parkinson e indicam potenciais opções terapêuticas direcionadas ao eixo intestino-cérebro”, concluíram os pesquisadores.

Ainda assim, a equipe observou que grande parte de suas descobertas provém de um modelo murino da doença. Portanto, são necessários mais estudos. Fonte: Parkinson´snewstoday.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Cientistas criam mapa celular que redefine estudos sobre o Parkinson

O modelo BrainSTEM traça com precisão o cérebro humano em formação e oferece novo padrão para terapias com neurônios cultivados em laboratório

03/11/2025 - Pesquisadores da Escola de Medicina Duke-NUS criaram o atlas de células individuais mais abrangente do cérebro humano em desenvolvimento. Denominado "BrainSTEM", este mapa detalhado mapeia quase todos os tipos de células, as impressões genéticas e interações, focando com alta resolução nos neurônios dopaminérgicos do mesencéfalo, que são cruciais no tratamento da doença de Parkinson.

O estudo analisou mais de 680 mil células de cérebros em desenvolvimento para a criação do BrainSTEM. Este sistema permite analisar como elas crescem, interagem entre si e qual o grau de semelhança. O objeto de atenção são justamente os neurônios dopaminérgicos, responsáveis por auxiliar o corpo a controlar o movimento e o aprendizado, permitindo ações como correr, pular e pegar objetos.

Em pessoas com Parkinson, esses neurônios sofrem danos. Por isso, a intenção principal desta pesquisa é ajudar a tratar a doença, servindo como um "manual de instruções" para criar novos neurônios dopaminérgicos saudáveis em laboratório.

O artigo, publicado na Science Advances, estabelece um novo padrão para avaliar a qualidade dos neurônios cultivados em laboratório, visando melhorar a eficácia da terapia celular.

A revolução do BrainSTEM na garantia de qualidade

O mapa BrainSTEM funciona como um molde ou gabarito para os cientistas. Ao tentar cultivar novas células em laboratório, eles o utilizam para garantir que as células produzidas sejam cópias exatas e fiéis dos neurônios humanos reais. Essa garantia de qualidade é fundamental para que a terapia celular (a inserção das novas células no cérebro) funcione bem e não cause efeitos colaterais.

Os pesquisadores observaram que, ao tentar cultivar os neurônios desejados, por vezes acabam produzindo acidentalmente células "intrusas" (que pertencem a outras partes do cérebro). É por isso que o BrainSTEM é tão revolucionário: por ser extremamente preciso, ele consegue distinguir e identificar essas células intrusas, permitindo que os cientistas as removam. Assim, apenas as células corretas e de alta qualidade são utilizadas para ajudar pacientes com Parkinson.

Em resumo, se o cérebro é um quebra-cabeça imenso, a pesquisa BrainSTEM criou a foto perfeita da caixa para que os cientistas saibam exatamente como cada peça deve ser feita e onde deve ser colocada. Isso é especialmente importante para "consertar" as peças que controlam o movimento e que se deterioram no Parkinson, a segunda doença neurodegenerativa mais comum em Singapura.

Os cientistas esperam que esta descoberta acelere o desenvolvimento de terapias mais precisas para distúrbios neurodegenerativos, como o Parkinson. Fonte: correiobraziliense.