sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Parkinson e coração: o que a respiração tem a ver com a saúde cardíaca

Estudo mostra que treinamento muscular inspiratório pode ajudar o organismo a se adaptar melhor a mudanças provocadas pelo Parkinson

08/08/2025 - De repente, o corpo se curva, o passo fica mais lento, as mãos tremem, a fala enfraquece e a memória recente começa a falhar. Esses sinais, muitas vezes associados ao envelhecimento, podem também ser sintomas da doença de Parkinson, uma condição neurológica progressiva que afeta principalmente pessoas com mais de 60 anos.

Descrita pela primeira vez em 1817, pelo médico britânico James Parkinson, a doença é a segunda condição neurodegenerativa mais comum no mundo, perdendo apenas para o Alzheimer. Estima-se que cerca de 1% das pessoas com mais de 65 anos convivam com o Parkinson. No Brasil, esse número gira em torno de 200 mil pacientes diagnosticados.

Por que decidi pesquisar Parkinson?

Há alguns anos, decidi me aprofundar no estudo da doença de Parkinson impulsionado pela sua forte relação com o sistema nervoso autônomo, meu foco de estudo desde o começo da carreira.

Como pesquisador do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal Fluminense, busco entender não apenas como a doença afeta o sistema nervoso autônomo, mas também como o corpo pode se adaptar, mesmo em meio à degeneração neurológica. E, recentemente, isso nos levou a investigar algo aparentemente simples, mas extremamente promissor: a respiração.

No dia 21 de julho, tivemos a satisfação de ver nosso artigo científico publicado no periódico Autonomic Neuroscience: Basic and Clinical, da editora Elsevier. O estudo aponta que um treinamento respiratório feito em casa pode melhorar a função autonômica cardíaca de pacientes com Parkinson.

Treinar os músculos da respiração: uma proposta sem remédio

A proposta do nosso estudo foi testar os efeitos do treinamento muscular inspiratório, conhecido pela sigla TMI, que é um tipo de exercício feito com aparelhos simples, que aumentam a resistência à inspiração, fortalecendo os músculos responsáveis por puxar o ar para os pulmões.

Essa técnica já é usada com sucesso em diversas populações, como atletas, idosos e pessoas com doenças respiratórias. No nosso caso, queríamos saber se esse treinamento poderia melhorar o controle autonômico do coração, ou seja, a forma como o sistema nervoso regula, automaticamente, a frequência cardíaca e a resposta do corpo a mudanças posturais, como levantar-se de uma cadeira ou da cama.

O sistema nervoso autônomo possui dois ramos principais: o simpático, que acelera o coração em situações de estresse, e o parassimpático ou vagal, que atua como freio, diminuindo a frequência cardíaca em momentos de repouso. Em pacientes com Parkinson, esse equilíbrio costuma estar comprometido, especialmente durante situações de estresse postural, como a mudança da posição sentada para a em pé, o que pode levar a tonturas, queda de pressão e até desmaios.

Nosso experimento: respiração e sistema nervoso

No estudo, avaliamos oito pacientes com doença de Parkinson e oito voluntários saudáveis, em idades semelhantes. Eles passaram por cinco semanas de treinamento muscular inspiratório em casa, utilizando aparelhos simples que aumentam a resistência à inspiração.

Antes e depois do programa, medimos dois indicadores principais: a pressão inspiratória máxima — uma medida da força dos músculos respiratórios; e a variabilidade da frequência cardíaca — uma forma de avaliar a saúde do sistema nervoso autônomo, especialmente a atividade vagal.

Os testes foram feitos em duas situações: na posição sentada que foi identificada como repouso, e durante estresse ortostático, que é uma situação em que o corpo é desafiado a manter a pressão arterial estável ao ficar em pé.

Resultados promissores, especialmente para quem tem Parkinson

Ambos os grupos (com e sem Parkinson) apresentaram melhora na força muscular inspiratória e na atividade vagal em repouso. Mas o que mais nos chamou a atenção foi que apenas os pacientes com Parkinson mostraram melhora na resposta do coração ao estresse ortostático após o treinamento.

Isso sugere que esse tipo de treinamento pode ajudar o organismo a se adaptar melhor a mudanças posturais, o que pode reduzir sintomas como tonturas, fadiga e até quedas, tão comuns em pessoas com Parkinson.

Por que a respiração afeta o coração?

A relação entre respiração e batimentos cardíacos é profunda. A cada inspiração, o coração tende a acelerar levemente; ao expirar, ele desacelera. Esse fenômeno é regulado, em grande parte, pelo nervo vago, importante componente do sistema nervoso parassimpático.

O treinamento inspiratório parece influenciar esse equilíbrio ao prolongar o tempo da expiração, o que favorece a ação vagal sobre o coração. Em outras palavras: ao treinar os músculos respiratórios, estamos estimulando uma parte do sistema nervoso que protege o coração e ajuda a controlar a pressão arterial.

O que já sabíamos e o que ainda precisamos saber

Nossos achados estão em linha com nosso estudo anterior de revisão sistemática da literatura, publicado no Archives of Gerontology and Geriatrics que mostra que o treinamento inspiratório pode melhorar a modulação vagal cardíaca, a pressão arterial e o desempenho físico mesmo em idosos considerados saudáveis. Mas o nosso recém publicado artigo traz um dado novo: apenas cinco semanas de treinamento já são suficientes para gerar benefícios autonômicos relevantes, destacando ainda a forma segura e prática, pois foi realizado no próprio ambiente domiciliar dos pacientes.

Claro que ainda temos muito a investigar. Nosso estudo foi um piloto, com número reduzido de participantes. E não avaliamos pacientes com Parkinson avançado e com sintomas severos da doença, e que exigiriam acompanhamento mais rigoroso.

Planejamos ampliar a amostra e incluir testes mais detalhados de disfunção autonômica, como o teste de inclinação (head-up tilt). Mas já podemos dizer que o treinamento inspiratório se mostra uma ferramenta promissora, barata e de fácil aplicação no manejo da doença.

Nossa pesquisa, apoiada pela Capes e pela Faperj, mostra que é possível buscar alternativas não farmacológicas, seguras e acessíveis para melhorar a qualidade de vida de quem convive com o Parkinson. Acreditamos e nosso estudo mostra que o corpo, mesmo diante da neurodegeneração, ainda pode aprender, adaptar-se e responder a estímulos simples como o ato de respirar melhor. Fonte: metropoles

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Não há regras quando se trata da doença de Parkinson

É frustrante quando os sintomas não seguem nenhum padrão discernível

Sempre fui bastante organizado e lógico. Gosto de conhecer as regras e o "porquê" por trás das coisas. Meu cérebro procura padrões nos quais posso confiar para prever ou explicar tudo. Crescendo em uma família onde meu pai ensinava ciências da sétima e oitava séries, sempre fui encorajado a procurar esse tipo de regra.

O mundo físico tem leis que o guiam - regras específicas de como as coisas agem. Essas leis estão sempre em vigor e sempre funcionam da mesma maneira. Por exemplo, uma das regras da física que guiam nosso universo é a terceira lei do movimento de Newton, afirmando que para cada ação, há uma reação igual e oposta. Eu gosto dessa lei. Faz sentido; você pode ver isso acontecer no mundo. E é verdade para todos e todos os objetos.

No entanto, a medicina e a doença não têm muitas leis lógicas e demonstráveis, e a doença de Parkinson não segue nenhuma regra.

Eu tenho Parkinson idiopático, a forma mais comum da doença. Idiopático é apenas uma palavra chique para "não sabemos por quê". Não existem regras ou fórmulas para quem tem Parkinson ou por quê. Felizmente, descobrimos o mecanismo da doença - o corpo pára de produzir dopamina suficiente - mas não temos regras para nos dizer por que ela aparece quando e onde aparece ou por que aparece de maneiras tão diferentes. Temos ideias, e médicos e cientistas estão procurando respostas, mas ainda não sabemos.

O que é irritante para alguém como eu, que quer conhecer e seguir as regras.

Meu Parkinson também veio cedo, quando fui diagnosticado aos 36 anos. O início geralmente ocorre em meados dos anos 60 de uma pessoa - outra regra que esta doença não seguiu.

As pessoas costumam dizer: "Se você conheceu uma pessoa com Parkinson, conheceu uma pessoa com Parkinson". Isso significa que existem tantos sintomas possíveis, e cada pessoa experimenta sua própria mistura deles a qualquer momento. Mesmo dentro de você, você pode ter uma reação diferente a uma dose de sua medicação de um dia para o outro. Eu tinha um avô com Parkinson e ele tinha tremores terríveis. Para mim, os tremores sempre foram um sintoma muito menor. Não há padrão.

Pode ser tão incrivelmente frustrante. Às vezes você só quer estar no controle novamente.

Mas não há controle do Parkinson e não há leis que ele deva obedecer. Nós só podemos administrá-lo.

Criando minhas próprias regras

Então, eu criei minhas próprias regras. Elas começam com a graça: dar graça a mim mesma quando estou me sentindo mal ou meus remédios não fazem efeito como eu esperava. Eu também dou graça ao meu marido, amigos e família quando eles ficam frustrados comigo e com a doença. Graça inclui tentar não ficar chateado um com o outro, mas em vez disso ficar bravo com a doença e lutar contra ela juntos.

Outra regra é desistir das expectativas sobre o quão bom algo será e quão ruim pode ser. Eu nunca sei quanto tempo um período bom ou ruim vai durar. Mas eu sei que vai acabar, então eu me apego ao bem o máximo que posso e lembro que o mal não durará para sempre.

Minha última regra é lembrar que a única coisa que controlo é como enfrento o mundo. Esta regra se aplica a todos, não apenas aos pacientes e cuidadores de Parkinson. Quando me sinto fora de controle e frustrado, tento respirar, lembro-me de dar graça e sei que isso também passará. Fonte: Parkinsonsnewstoday.

Laboratório pede aprovação para tratamento com células-tronco para Parkinson

05/08/2025 - Estudo clínico feito em sete pacientes mostrou melhora dos sintomas em quatro

O laboratório japonês Sumitomo Pharma anunciou nesta terça-feira (5) que apresentou um pedido de autorização para comercializar um tratamento contra a doença de Parkinson que consiste em transplantar células-tronco no cérebro de um paciente, após um estudo clínico bem-sucedido.

O ensaio mostrou que o tratamento, que utiliza células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), era seguro e eficaz para melhorar os sintomas, segundo os pesquisadores da Universidade de Kyoto.

As células iPS, criadas a partir de células adultas, são reprogramadas geneticamente para se multiplicarem em qualquer tipo de célula, segundo o local do corpo onde são transplantadas.

O estudo se concentrou em sete pacientes com doença de Parkinson, com idades entre 50 e 69 anos: cada um recebeu cinco ou dez milhões de células implantadas nos dois lados do cérebro.

As células iPS procedentes de doadores saudáveis foram transformadas em precursores de células cerebrais produtoras de dopamina, que já não estão presentes nas pessoas com a doença de Parkinson.

Os pacientes foram monitorados por dois anos e não foram observados efeitos adversos significativos, segundo o estudo. Quatro pacientes mostraram uma melhora de seus sintomas.

Os resultados do ensaio clínico, coordenado pela Universidade de Kyoto, foram publicados na revista científica "Nature" em abril.

A Sumitomo Pharma também está conduzindo um ensaio clínico nos Estados Unidos.

A doença de Parkinson, que ao lado do Alzheimer é uma das principais patologias que afetam o cérebro, é uma enfermidade neurológica crônica e degenerativa que afeta o sistema motor, provocando frequentemente tremores e dificuldades motoras.

Mais de 10 milhões de pessoas sofrem da doença de Parkinson em todo o mundo, segundo a Fundação Parkinson, uma das principais organizações americanas dedicadas à luta contra a doença.

As terapias disponíveis atualmente "melhoram os sintomas sem frear nem deter a progressão da doença", explica a fundação.

As células iPS são criadas estimulando células maduras, já especializadas, para devolvê-las a um estado juvenil, o que equivale a clonar sem recorrer a um embrião.

As células podem ser transformadas em diferentes tipos de células e seu uso é um setor-chave da pesquisa médica. Fonte: correiodopovo.


Conexão entre microbiota intestinal e Parkinson pode abrir caminho para novos tratamentos

07/08/2025 -Jacy Bezerra Parmera comenta a respeito de estudos que revelam que o Parkinson pode começar no intestino e que o transplante de microbiota surge como esperança de tratamento modificador da doença

Uma proteína chamada alfa-sinucleína, quando mal agregada, está associada ao Parkinson e também é encontrada no intestino

Um artigo científico aponta ligações entre a microbiota intestinal e a doença de Parkinson, o que aumenta as possibilidades de tratamento, uma vez que a relação entre patologias no cérebro e alterações no microbioma intestinal podem levar a novas terapias. A médica Jacy Bezerra Parmera, neurologista do Hospital das Clínicas e docente da Faculdade de Medicina (FM) da USP, explica: “São décadas de estudo, hoje o que se acredita – tem o estudo dinamarquês, que é um estudo novo– é que existam pessoas nas quais a doença de Parkinson se inicia no cérebro. Inclusive, nós chamamos esse grupo de pessoas de brain first, primeiro cérebro. E existem outros grupos de pessoas em que a doença se iniciaria no intestino. E daí nós chamamos esse grupo de indivíduos de body first. Então existe essa linha de pesquisa em doença de Parkinson associada à microbiota intestinal e ao intestino.

Jacy reforça que cerca de 90% dos pacientes com Parkinson sofrem de constipação e outros distúrbios gastrointestinais, sintomas que muitas vezes precedem os problemas motores, como tremores e rigidez. Uma proteína chamada alfa-sinucleína, quando mal agregada, está associada ao Parkinson e também é encontrada no intestino. “Essa proteína é encontrada no intestino e acredita-se que a hiperprodução dessa proteína possa estar relacionada a alterações da microbiota. Você, renovando a microbiota intestinal, poderia diminuir a hiperprodução dessa proteína alterada”, explica a especialista.

O tratamento testado na Bélgica – o transplante de microbiota fecal (TMF) – busca restaurar o equilíbrio intestinal. Jacy explica que esses ensaios clínicos ainda estão em fases iniciais (1 e 2), sendo realizados principalmente em centros europeus e norte-americanos. Ela ressaltou que, atualmente, não existem estudos específicos sobre essa abordagem para Parkinson no Brasil.

Mais evidências

A neurologista destaca a necessidade de mais evidências para comprovar se esse método pode se tornar um tratamento modificador da doença – capaz de interromper sua progressão, e não apenas aliviar sintomas. Ela enfatiza que, embora os tratamentos sintomáticos atuais sejam eficazes, a medicina ainda carece de terapias que possam estacionar o avanço do Parkinson.

Jacy destaca que é possível oferecer qualidade de vida aos pacientes mesmo com os tratamentos atuais. “Hoje, a gente tem tratamentos medicamentosos que conseguem conter os sintomas por décadas”, explica. Além dos medicamentos, ela cita a importância da estimulação cerebral profunda para casos mais avançados e reforça a necessidade de acompanhamento multidisciplinar, incluindo fisioterapia e cuidados nutricionais.

Sobre os próximos passos da pesquisa, a neurologista é enfática: “É possível que existam pessoas que comecem no cérebro e outras no intestino. (…) Embora a gente tenha um tratamento sintomático eficaz, a gente realmente precisa muito de um tratamento modificador para estacionar a doença.”. Ela acredita que, quanto mais linhas de pesquisa forem exploradas, maiores as chances de se encontrar terapias inovadoras. “É importante a gente entender e diminuir o estigma da doença de Parkinson, no sentido de que, às vezes, as pessoas recebem o diagnóstico e acham que não vão ter tratamento, que não vão conseguir mais trabalhar, o que não é verdade”, finaliza. Fonte: usp.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Médico local lidera estudo sobre tratamento de terapia gênica para pacientes com Parkinson

18 de fevereiro de 2016 - PITTSBURGH (KDKA) - Quando parte do cérebro não está mais funcionando corretamente, seria possível adicionar algo para melhorar a função?

O neurocirurgião Dr. Mark Richardson está tentando descobrir.

"O que estamos tentando fazer com este estudo é repor uma enzima que é perdida à medida que as células se degeneram na doença de Parkinson", disse o Dr. Richardson. "A enzima ajuda o cérebro a produzir dopamina."

A dopamina, substância química do cérebro, é importante para manter os movimentos suaves. O problema na doença de Parkinson é a falta de dopamina devido ao desgaste das células cerebrais, resultando em tremores, rigidez e lentidão nos movimentos.

As pessoas podem tomar medicamentos para a doença de Parkinson, mas pode haver flutuações nos sintomas e, em doses mais altas, efeitos colaterais.

"Normalmente, na doença de Parkinson, esses sintomas têm altos e baixos, e podem ser muito bem mascarados pela medicação, mas, infelizmente, o que tende a acontecer com todos esses pacientes é uma progressão para uma montanha-russa de altos e baixos durante o dia", disse o Dr. Richardson.

O Dr. Richardson lidera parte de um estudo, inicialmente financiado pela Fundação Michael J. Fox e agora por uma empresa de bioterapia, para verificar se a inserção de um gene em uma parte específica do cérebro será o gatilho para uma maior produção de dopamina.

"A ideia de cirurgia cerebral para uma doença crônica é muito diferente de continuar tomando medicamentos", disse o Dr. Richardson.

O gene é introduzido no cérebro através do crânio por um tubo fino e transportado por um vírus.

"A ideia de um vírus provavelmente soa muito assustadora para algumas pessoas. Mas esse vírus não consegue se reproduzir", disse o Dr. Richardson. "Ele consegue se inserir em uma célula e só pode fazer uma coisa lá. Pode liberar o gene para permitir que essa enzima seja produzida."

O Dr. Richardson e o pesquisador principal em São Francisco estão buscando 20 pacientes para participar. Eles serão acompanhados por três anos, e sua necessidade de medicação será avaliada e comparada antes e depois.

Para se qualificar, é preciso ter entre 40 e 70 anos e tomar certos medicamentos para a doença de Parkinson por pelo menos três anos, com flutuações crescentes nos movimentos.

O Dr. Richardson espera que a terapia genética resulte em dias mais tranquilos e menos sintomas.

"Se conseguirmos demonstrar que este é um pequeno grupo de pacientes, o estudo será expandido", disse o Dr. Richardson. "Com um pouco de sorte, na próxima década, veremos a terapia genética aceita como uma opção de tratamento comprovada e viável." Fonte: cbsnews.

sábado, 2 de agosto de 2025

Será que as centopéias são a chave para o alívio da dor e o tratamento do Parkinson?

2 de agosto de 2025 (HealthDay News) — Para se defenderem de predadores, as centopéias liberam compostos defensivos que poderão um dia desempenhar um papel no tratamento da dor e de doenças neurológicas.

"Esses compostos são bastante complexos, então levará algum tempo para serem sintetizados em laboratório", disse a química Emily Meyers, cuja pesquisa se especializa em aproveitar a química de fontes ecológicas pouco exploradas em nome da descoberta de medicamentos.

Ela e seus colegas da Virginia Tech identificaram recentemente estruturas complexas nas secreções naturais das centopéias que podem influenciar neurorreceptores específicos no cérebro das formigas, de acordo com um comunicado à imprensa do campus.

A equipe publicou suas descobertas no início deste mês no Journal of the American Chemical Society.

Os compostos recém-descobertos fazem parte de uma classe de alcaloides naturais.

O nome que a equipe de Meyers deu a eles — andrognatanóis e andrognatinas — é uma homenagem à centopéia do campus de Blackburg, na Virginia Tech, que eles estudaram. Seu nome científico é Andrognathus corticarius, mas é mais conhecida como centopéia Hokie, uma homenagem ao mascote da Virginia Tech.

Para o estudo, os pesquisadores coletaram as criaturas sob galhos e folhas caídas na mata do campus. Em seguida, usaram uma variedade de ferramentas para identificar os compostos contidos nas glândulas de defesa das centopéias.

Uma descoberta surpreendente: os insetos liberam os compostos não apenas para afastar predadores, mas também para compartilhar sua localização com familiares.

Os compostos deixam as formigas — um suposto predador — desorientadas. Algumas delas também interagem com um único neurorreceptor chamado Sigma-1, que tem sido implicado em distúrbios cerebrais como depressão, esquizofrenia, doença de Parkinson e doença de Lou Gehrig.

Meyers e o entomologista Paul Marek já haviam descoberto que essa família de compostos pode ter potencial para tratar dores e alguns distúrbios neurológicos. O próximo passo é encontrar um laboratório para produzi-los em maiores quantidades e aprender mais sobre eles.

Quando quantidades maiores estiverem disponíveis, sua equipe espera aprender mais sobre suas propriedades e potencial no desenvolvimento de medicamentos. Fonte: usnews.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Fotofobia do roqueiro Ozzy Osbourne teve origem no Parkinson

31-07-2025 - Segundo o oftalmologista, Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier, de Campinas (São Paulo) a fotofobia ou aversão aguda à luz que fazia Ozzy Osbourne usar óculos escuros o tempo todo, foi causada pelo parkinsonismo e certamente pelo olho seco decorrente do tratamento da doença. Este anúncio do médico brasileiro sobre a privação crônica de luz pelo vocalista e Pai do Heavy Metal, renovou atenção sobre o Parkinson. No caso do músico foi uma alteração genética.

Veja o que diz o Médico brasileiro sobre o assunto.

A privação crônica de luz pelo vocalista Ozzy Osbourne, pai do Heavy Metal, renovou a atenção sobre o Parkinson quando tornou o diagnóstico público, mas seu caso estava longe de ser típico. Foi decorrente de uma alteração gênica conforme relato dele mesmo em 2020. Segundo o oftalmologista, Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier, a fotofobia ou aversão aguda à luz que fazia Osbourne usar óculos escuros o tempo todo, foi causada pelo parkinsonismo e certamente pelo olho seco decorrente do tratamento da doença.

Queiroz Neto explica que o bloqueio contante da luz afetou o relógio biológico do cantor. Isso porque, todas as nossas funções biológicas, da temperatura corporal, à pressão arterial, níveis hormonais, entre outras são comandadas pela luminosidade dia/noite no período de 24 horas. Por isso, no caso de Osborne a fotofobia foi além do desconforto em locais iluminados, atingiu a saúde do cantor.

Risco e gatilhos da fotofobia

Oftalmologista ressalta que a fotofobia é mais frequente entre albinos, pessoas loiras e sobretudo nas que têm olhos claros porque a íris, parte colorida o olho, tem menos melanina. Por isso uma quantidade maior de luz chega à retina e sensibiliza as células fotorreceptoras, embora o desconforto não ocorra com todos. Em alguns casos a fotofobia é idiopática, ou seja, uma sensibilidade maior à luz, de causa desconhecida. Em outros, o oftalmologista afirma que pode ser causada por:

·Olho seco, uma evaporação da camada aquosa do filme lacrimal ou diminuição da camada lipídica que mantém a lágrima suspensa no olho.

·Astigmatismo, alteração no formato da córnea que normalmente é esférica se torna ovalada;

·Ceratocone, enfraquecimento das fibras de colágeno da córnea que toma o formato de um cone;

·Enxaqueca, que pode estar associada a alterações na visão, na circulação, no sistema digestivo ou indicar doenças neurológicas .

·Cicatrizes na córnea e doenças inflamatórias oculares às vezes relacionadas com reumatismo;

·Doenças inflamatórias como conjuntivite, toxoplasmose, herpes e outras;

·Doenças infecciosas como toxoplasmose, herpes e outras;

·Doenças psicológicas, psiquiátricas e neurológicas, entre elas o Parkinson.

Medicamentos fotossensibilizantes

Queiroz Neto afirma que diversos tipos de medicamentos têm como efeito colateral a fotofobia que desaparece quando a doença não é crônica e o tratamento é interrompido. São eles: anticolinérgicos utilizados no tratamento de Parkinson, anti-histamínicos, alguns antidepressivos, cloroquina, hidroxicloroquina, corticoides, alguns antibióticos como a tetraciclina e anti-hipertensivos.

Tratamento

O tratamento depende da análise do oftalmologista e varia de acordo com a causa do desconforto. Nos casos idiopáticos Queiroz Neto afirma que a única forma de reduzir o desconforto é usar óculos escuros com proteção ultravioleta, de preferência fechado na lateral. Em muitos pacientes a fotofobia desaparece espontaneamente, mas a recomendação é consultar um oftalmologista para prevenir complicações. Fonte: noticiario.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Parkinson: o lado do corpo onde a doença começa prevê seu curso

31 de julho de 2025 - Quando falamos sobre a doença de Parkinson, pensamos imediatamente em tremores e dificuldade de movimento. No entanto, essa patologia, que afeta quase 10 milhões de pessoas em todo o mundo, também é acompanhada por distúrbios menos visíveis, mas igualmente incapacitantes: problemas de memória, depressão, ansiedade. Uma equipe da Universidade de Genebra e dos Hospitais Universitários de Genebra acaba de fazer uma descoberta surpreendente: o lado do corpo onde aparecem os primeiros sintomas permite prever quais serão esses distúrbios "ocultos".

Uma doença que nunca começa em ambos os lados ao mesmo tempo

A doença de Parkinson tem uma particularidade pouco conhecida do público em geral: começa sempre de forma assimétrica. Os primeiros sinais - tremores, rigidez muscular, lentidão de movimentos - afetam inicialmente apenas um lado do corpo. Essa assimetria não é trivial porque reflete a disfunção de um hemisfério específico do cérebro. Quando os sintomas aparecem no lado direito do corpo, é o hemisfério esquerdo do cérebro que é afetado e vice-versa.

Ao analisar 80 estudos realizados nos últimos cinquenta anos, os pesquisadores de Genebra descobriram que essa assimetria inicial determina em grande parte o curso futuro da doença. Os pacientes cujos sintomas começam no lado direito desenvolvem com mais frequência comprometimento cognitivo grave, com aumento do risco de demência. Sua memória, capacidade de raciocínio e atenção se deterioram mais rapidamente.

Por outro lado, as pessoas nas quais a doença começa no lado esquerdo são mais propensas a sofrer de transtornos psiquiátricos: depressão, ansiedade, etc. Essas manifestações, embora menos espetaculares que os problemas motores, podem alterar consideravelmente a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares.

Rumo à medicina personalizada

Este estudo, publicado na revista npj Parkinson's disease, abre caminho para um tratamento mais personalizado da doença de Parkinson. "Esses resultados são um passo crucial para o estudo dos sintomas não motores da doença, que há muito são subestimados", diz Julie Péron, que liderou este trabalho. Ao identificar o lado dos primeiros sintomas no momento do diagnóstico, os médicos podem antecipar melhor as dificuldades futuras e encaminhar seus pacientes para as terapias apropriadas mais rapidamente. Fonte: courrier-picard.

Revolução médica no tratamento da doença de Parkinson: fotoestimulação revitaliza os neurónios destruídos

31/07/2025 - Os resultados preliminares de um ensaio clínico realizado em França, que utilizou a estimulação fotobiológica para tratar a doença de Parkinson, mostraram um abrandamento da deterioração dos sintomas em 3 de 7 pacientes nas fases iniciais.

A unidade de investigação biomédica da Agência Francesa para a Energia Nuclear e as Energias Renováveis (CEA), em parceria com o Hospital Universitário de Grenoble (CHU de Grenoble), anunciou o início de um ensaio clínico preliminar destinado a avaliar a eficácia da fotobioestimulação no tratamento da doença de Parkinson.

O anúncio foi feito na estação de rádio France Inter, onde os investigadores explicaram que o ensaio se encontra numa fase muito inicial, mas representa um passo científico significativo no âmbito da medicina neurológica moderna.

O ensaio, que se encontra numa fase preliminar, tem como alvo os neurónios secretores de dopamina, que são gravemente afetados ao longo da doença.

Segundo Stéphane Chabardis, neurocirurgião no Hospital de Grenoble, o diagnóstico mostra que cerca de 50% destas células podem estar danificadas quando os sintomas começam a manifestar-se, sendo que os doentes perdem, em média, 10% da sua capacidade de recaptação de dopamina por ano.

O objetivo do ensaio é abrandar a deterioração neurológica dos doentes. Chabardis explicou que a técnica utilizada consiste em dirigir feixes de luz para os neurónios nas profundezas do cérebro, de modo a atingir as mitocôndrias, que são responsáveis pela produção de energia dentro da célula, e a estimulá-las, melhorando a sua função e, por conseguinte, revitalizando as células danificadas.

O principal desafio era aceder a estas regiões profundas do cérebro, desafio esse que foi superado com o desenvolvimento de um dispositivo compacto especial que combina conhecimentos avançados em eletrónica, fotónica e nanotecnologia, permitindo reduzir o tamanho do sistema sem comprometer o seu desempenho.

"A conjugação de conhecimentos especializados em neurocirurgia com conhecimentos especializados nos domínios da micro e da nanotecnologia permite-nos alcançar estes importantes avanços médicos", afirmou.

Até à data, a tecnologia foi aplicada em sete doentes nas fases iniciais da doença e os resultados preliminares indicam uma estabilização dos sintomas em três deles, sobretudo com estimulação contínua.

Chappardis acrescentou: "Nestes três primeiros casos, observamos um abrandamento da deterioração dos sintomas quando a estimulação é feita de forma contínua. Isto sugere que há um restabelecimento de algumas funções cerebrais através da estimulação fotobiológica. Estes resultados são ainda muito preliminares, mas o que temos observado até agora parece muito promissor".

O investigador salientou que só será considerado o lançamento de um ensaio clínico de maior dimensão se os resultados mostrarem um efeito tangível e estável.

Em França, estima-se que haja cerca de 250 000 pessoas com doença de Parkinson, um número que continua a aumentar. Atualmente, o tratamento baseia-se na medicação ou na estimulação elétrica, através da implantação de elétrodos no cérebro, mas estas opções só estão disponíveis para 10 a 20% dos doentes, não tratando a evolução da doença, mas sim limitando-se a aliviar os sintomas.

Este ensaio clínico representa o primeiro passo de uma nova abordagem que visa intervir no mecanismo de progressão da doença, recorrendo a uma técnica não invasiva que estimula a recuperação funcional dos neurónios. Fonte: euronews.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Sono polifásico: adaptação biológica ou desafio à saúde moderna?

Geraldo Lorenzi Filho explica como nosso sono evolui da infância à velhice e por que padrões alternativos podem custar caro à saúde

29/07/2025 - O sono polifásico, caracterizado por múltiplos períodos de repouso distribuídos ao longo do dia, desafia o modelo monofásico convencional – aquele em que se dorme uma única vez ao longo da noite. Geraldo Lorenzi Filho, professor e coordenador do Laboratório de Investigação Médica do Sono da Faculdade de Medicina da USP estuda os diferentes padrões de sono.

O professor explica: “A verdade é que o sono é muito individual, não existe uma regra geral, a grande regra geral é que o mais fácil é manter esse padrão monofásico, de dormir à noite quando está tudo escuro e de dia ter atividade como a maior parte das pessoas, mas existem possibilidades de outros arranjos temporais em relação ao sono que em geral levam a um estresse da pessoa e do organismo como um todo.”

Natureza e evolução dos padrões de sono

O desenvolvimento humano apresenta uma trajetória natural de variação nos padrões de sono. Recém-nascidos exemplificam o modelo polifásico primário, com ciclos curtos e frequentes de sono intercalados por breves períodos em que acordam. Essa configuração vai se transformando gradualmente, evoluindo para o padrão bifásico comum em crianças pequenas – que inclui o sono de tarde – até consolidar-se no modelo monofásico predominante na idade adulta.

Curiosamente, o envelhecimento traz de volta tendências polifásicas, com muitos idosos recuperando o hábito de cochilos ao longo do dia. Essa flutuação ao longo da vida desafia a noção de um padrão “correto” de sono, sugerindo que a nossa biologia permite diversas configurações de repouso.

Estudos históricos apontam que, antes da invenção da luz elétrica, os seres humanos provavelmente seguiam um ritmo bifásico noturno: um primeiro sono ao anoitecer, seguido por um período de vigília noturna dedicado a atividades sociais ou de vigilância, e finalmente um segundo sono até o amanhecer. Essa adaptação às condições naturais de iluminação revela como os padrões de sono foram moldados por fatores ambientais e culturais.

Sono polifásico na sociedade moderna

A adoção consciente do sono polifásico na vida contemporânea enfrenta obstáculos fisiológicos significativos. O professor Lorenzi Filho explica que nosso sistema circadiano – regulado por hormônios, como o cortisol, e influenciado por fatores como temperatura corporal – cria janelas temporais ideais para o sono. Tentar dormir fora desses períodos naturais equivale a nadar contra a corrente biológica.

Profissionais submetidos a turnos noturnos ou horários irregulares experimentam na pele essas dificuldades. A irregularidade entre seus horários de trabalho e os ritmos circadianos internos pode levar a uma série de problemas de saúde: desde distúrbios metabólicos como obesidade e diabetes até condições cardiovasculares e transtornos de humor. A luz solar durante o dia, o barulho ambiental e as demandas sociais funcionam como fatores adicionais que sabotam a qualidade do repouso diurno.

Casos extremos, como o do navegador Amyr Klink, demonstram que adaptações polifásicas radicais são possíveis em situações específicas. Durante suas travessias polares, Klink adotou um regime de cochilos de 15 minutos a cada hora – estratégia necessária para manter a vigilância constante em meio a geleiras perigosas. No entanto, tais exemplos representam exceções que confirmam a regra: “Existem algumas pessoas que se adaptam a horários diferentes, que ficam acordados à noite, de dia dormem e se sentem bem nesse novo ritmo, mas isso é muito raro, a maior parte das pessoas tem um sofrimento físico e biológico”, explica o professor.

Cochilos estratégicos

Dentro do espectro polifásico, os cochilos diurnos emergem como prática particularmente relevante para a sociedade moderna. Quando bem executados, esses períodos curtos de repouso – idealmente limitados a 20 minutos – podem oferecer benefícios mensuráveis: restauração da atenção, melhoria no humor e complementação do sono noturno insuficiente. No entanto, o professor Lorenzi Filho alerta “o mais comum é a gente considerar que o ideal é não dormir mais do que 20 minutos, para evitar que nesse cochilo você entre em sono profundo (REM) e aí quando você acorda tem a inércia do sono, que resulta em às vezes acordar pior do que foi dormir”.

O desafio contemporâneo reside em encontrar equilíbrios personalizados que respeitem tanto as necessidades fisiológicas quanto as demandas profissionais e sociais. Para alguns, isso pode significar a inclusão estratégica de breves cochilos reparadores; para outros, a manutenção rigorosa de um ciclo noturno contínuo. O critério fundamental, segundo o professor, deve ser sempre a qualidade do repouso obtido e seu impacto positivo no funcionamento diurno. Enquanto o modelo monofásico noturno permanece como a configuração mais harmoniosa com nossa biologia e organização social, variações individuais são não apenas possíveis, mas em muitos casos necessárias. Fonte: jornal usp.