por Carlos Britto
06 de dezembro de 2022
- Dentre os milhões de brasileiros extasiados ao verem o atacante
Richarlison balançar, por duas vezes, a rede da Sérvia na estreia
do Brasil na Copa do Mundo, no último dia 24 de novembro, poucos
devem ter vibrado tanto quanto a nutricionista e estudante de
medicina Laryssa Nogueira, de 29 anos, e o pai dela, José Edgar
Ferreira de Souza, de 57.
Morador de Ibimirim, no
Sertão pernambucano, o consultor financeiro aposentado vive hoje com
mais saúde e independência graças, em parte, ao apoio do camisa 9
da Seleção.
A história remonta a
2016, ano em que Edgar foi recomendado a fazer uma cirurgia de
estimulação cerebral profunda (ECP ou DBS, em inglês), tratamento
que visa combater sintomas da doença de Parkinson, diagnosticado
precocemente quando ele tinha 36 anos.
Nesse momento, aos 51,
o consultor já não respondia bem à medicação que tomava para
controlar a doença.
“Os pacientes com
indicação cirúrgica também devem ter uma idade viável para a
cirurgia, o que era o caso dele. Mas, na época, o HC (Hospital das
Clínicas de Pernambuco) não estava fazendo o procedimento por falta
de verba. Nós entramos na Justiça, mas as coisas andavam muito
devagar”, conta Laryssa.
Mobilização solidária
Sem perspectiva de
conseguir, no curto prazo, a realização da cirurgia, ao mesmo tempo
em que via a condição do pai se agravar, Laryssa recorreu às redes
sociais.
“Ele já não andava
mais, estava totalmente dependente, e minha mãe deixou de trabalhar
porque cuidava dele. Toda essa situação me deixava muito nervosa.
Então, eu vi que precisava arranjar dinheiro de alguma forma e
comecei a fazer uma campanha”, diz.
Para impulsionar a
“vaquinha”, que crescia por meio da venda de rifas no valor de R$
100, a estratégia de Laryssa e dos familiares e amigos que a
ajudaram na iniciativa foi chamar a atenção de famosos e
influenciadores. A ideia não era pedir dinheiro diretamente, mas que
eles usassem a influência que têm na internet para mobilizar os
seguidores e conseguir mais doações.
A adesão foi maior do
que se imaginava. Até hoje, é possível ver, no perfil da campanha
no Instagram (“Ajude Edgar”), vídeos de gente como Carlinhos
Maia e Wesley Safadão. Também nessa época o grupo procurou Nenê,
do Vasco, time do coração de Edgar. O craque topou ajudar e, logo
depois disso, chegou a mensagem de um outro jogador, um certo
atacante brasileiro que defendia o Watford, da Inglaterra.
“Richarlison
simplesmente apareceu e mandou um ‘direct’, dando a ideia de dar
uma camisa autografada para poder rifar. O pai dele mandou a camisa
por correio. Foi muito legal, eu me emocionei muito. Comecei a pedir
camisas para outros jogadores também, e a campanha só fez crescer”,
afirma Laryssa.
Gol nas redes e na vida
Antes de seguir com a
história, vale contar um detalhe importante. No meio da campanha, em
2017, o médico de Edgar, o neurocirurgião Antonio Marco Duarte,
abriu mão de receber o pagamento da cirurgia. Mas continuava sendo
necessário comprar o aparelho da DBS, que, uma vez instalado no
cérebro, emite eletrodos capazes de controlar alguns efeitos do
Parkinson.
Para Edgar, o
equipamento custou R$ 230 mil. Mas, com a mobilização impulsionada
pelo camisa 9, o dinheiro foi arrecadado em dois meses e o aposentado
fez a cirurgia no dia 28 de novembro de 2017.
“Ele está ótimo.
Hoje é independente, caminha, vai sozinho à terapia”, conta a
filha, alegre, que não teve como conter a emoção quando viu o
atacante girar, no voleio, para arrematar o jogo contra os sérvios.
“Eu saí correndo
desesperada pela casa. Fui ver de novo a conversa com ele, postei
despretensiosamente no Twitter e viralizou. Se eu não falasse,
ninguém nunca ia saber. E eu tenho o maior prazer de contar essa
história”, celebra Laryssa. Fonte: Folha de Pernambuco.