28 de abril de 2024 -
Segundo médico neurologista Theo Germano Perecin, Alzheimer e
Parkinson têm efeitos, também, para pessoas próximas aos pacientes
Consideradas comuns no
Brasil, as doenças de Parkinson e Alzheimer acometem mais de 150 mil
pessoas por ano, cada uma, segundo o Ministério da Saúde.
Principalmente os idosos, com idade acima de 60 anos. As duas doenças
são conhecidas, também, pelos sintomas clássicos que tomam conta
dos pacientes.
No Alzheimer, questões
relacionadas à memória e demência. Já o Parkinson, tem como
característica os tremores e a rigidez nos movimentos são
considerados sinais clássicos. Mas os efeitos delas são, também,
externos: o sofrimento atinge também os familiares dos pacientes que
foram diagnosticados.
“Assistir a um
familiar perdendo seus domínios, a independência, traz um
sofrimento grande”, diz o neurologista Theo Germano Perecin. Porém,
segundo o médico, novos avanços em pesquisas da área trazem
esperanças para um tratamento eficaz, e que, por vezes, são de
fácil alcance para as pessoas. “A atividade física também é
extremamente importante no tratamento do Parkinson. No Alzheimer,
existe uma linha de medicamentos que são de ordem imunológica que
tem se mostrado com uma ação eficiente”, disse o especialista.
Porém, ele garante que
uma forma de se prevenir dessas doenças está no estilo de vida
saudável: criar bons hábitos, evitar excesso de álcool,
tabagismo, substâncias químicas nocivas. Mas ainda há esperança
para que uma das bebidas mais consumidas no Brasil tenha um papel
importante no desenvolvimento de novos tratamentos. “Tem um
trabalho interessante que diz que a ingestão diária da cafeína
pode ajudar na prevenção do Parkinson. Isso é interessante e deixa
todo mundo feliz, principalmente no Brasil”, disse o médico.
Confira os principais
pontos da entrevista do neurologista Theo Germano Perecin ao JP.
Como o Parkinson e o
Alzheimer agem? Quais são as principais características de cada uma
das doenças?
As duas doenças são
de caráter neurodegenerativo, progressivo, que interfere na
qualidade de vida das pessoas, na autonomia, na capacidade de
produção, do trabalho, e que acarreta um impacto muito grande tanto
no indivíduo como na família. As duas doenças têm a
fisiopatologia diferente. Primeiro, falando do Parkinson, se trata de
uma doença neurodegenerativa, com incidência em pessoas com mais de
65 anos, embora apareça em pessoas mais jovens. Ela evolui com
sintomas que a gente divide entre motores, como a lentidão, rigidez,
tremor, principalmente tremor em repouso, instabilidade postural. E
alguns sintomas não motores, como alterações no sono,
gastrointestinais, olfato, problemas de ansiedade e depressão.
Disfunções cognitivas também podem acontecer no Parkinson,
principalmente em fases de evolução mais longa.
O Alzheimer, seria uma
doença também de caráter neurodegenerativo, e que acomete
inicialmente a questão de memória, orientação espacial,
orientação do tempo, linguagem, a capacidade de julgamento, e
também até na capacidade de executar as tarefas. Ela se divide,
principalmente, em dois grupos, o tardio, em pessoas com mais de 65
anos, e precoce, que seria em pessoas de 30 a 60 anos. Esse segundo
caso é mais raro. O Alzheimer é a principal causa de demência. Em
torno de 50% de todas as demências são consequência da doença de
Alzheimer.
Existe uma frase
popular sobre o Alzheimer que diz que quem sofre mais com a doença
são as pessoas que acompanham o paciente. Pode-se considerar essa
afirmação como verdadeira? No caso da doença de Alzheimer, quando
um familiar é acometido pela doença, o paciente sofre, mas toda a
família sofre. Você assistir a um familiar perdendo seus domínios,
a independência da capacidade de julgamento, memória recente. Por
vezes a capacidade do reconhecimento de um familiar próximo, as
alterações comportamentais. Isso realmente traz um sofrimento
grande para a família. Além disso, também, exige um trabalho muito
grande de monitoração da pessoa, pois ela vai perdendo a
independência, exigindo um atendimento próximo, um cuidado muito
próximo do paciente, que interfere muito na qualidade de vida de
toda a família. Realmente, a família toda sente.
O que, exatamente,
causa esse tipo de doença nas pessoas? A doença de Parkinson é
causada por uma perda de neurônios responsáveis pela produção e
liberação de dopamina. E, consequentemente, essa escassez vai
causar todos os sintomas relacionados à doença. Pode ser uma
combinação de fatores genéticos, pré-disponíveis, e fatores
ambientais. No passado foi descrito o contato com alguns herbicidas
que no nosso meio já são mais difíceis de encontrar. A idade
também é um fator de risco. Em pessoas com mais de 60 anos ela tem
uma incidência maior em homens do que nas mulheres. E, também, uma
etiologia genética, complexa, envolvendo vários grupos de genes.
Então, tem uma influência hereditária que é em torno de 15% dos
casos há a presença de mais pessoas acometidas. Seria uma
combinação multifatorial. Fatores genéticos, ambientais, idade,
fatores familiares.
Também tem incidência
de Parkinson relacionada a traumatismos cranianos repetitivos, como
classicamente já foram descritos casos de pugilistas, futebolistas
também. Quanto ao Alzheimer, ele tem fatores de risco mais
relacionados ao estilo de vida. Por exemplo, doenças que não foram
bem tratadas, abuso do alcool, do cigarro, drogas tem relação. E
também o fator idade, quanto maior a idade, maior a chance de
desenvolver a doença.
Com o avanço da
tecnologia e da medicina, percebemos uma melhora no tratamento de
doenças que antes eram consideradas incuráveis, como o câncer, por
exemplo. Quais foram os avanços da medicina em relação ao
Parkinson e ao Alzheimer? Com o Parkinson, se divide entre
medicamentos, que agem em diversas situações clínicas. Os remédios
que a gente usa tem uma reação melhor conforme os sintomas
clínicos. Muitas vezes o paciente precisa de uma combinação de
vários medicamentos para atingir vários pontos. A atividade física
também é extremamente importante no tratamento do Parkinson. Em
casos de difícil controle, reação ruim à medicação, efeitos
colaterais ou falta de resposta também no Parkinson existe a
possibilidade de realizar o tratamento cirúrgico e também
dispositivos estimuladores profundos, que podem trazer uma melhora
clínica nesses casos que são de mais difícil controle ou que não
há resposta adequada do medicamento.
Quanto ao Alzheimer, o
tratamento também envolve uma atendimento multidisciplinar, com a
estimulação pela atividade física, terapia ocupacional, social,
atividades mentais e medicamentos. São medicamentos para
hiperestimular a memória, e às vezes medicamentos para tratar o
sono, depressão e por vezes até quadros psicóticos que podem
acompanhar a doença durante a evolução.
Pesquisas são feitas
intensamente, a nível mundial, para tentar novos meios de se
combater a doença, estabilizar ou, quem sabe, até reverter os
sintomas da doença, que é devastadora. No entanto, ainda é um
desafio. Existe uma linha de medicamentos que são de ordem
imunológica que tem se mostrado com uma ação eficiente, embora
discreta, em casos recentes, em determinados pacientes que receberam
essa medicação. Ainda é precoce para dizer que o tratamento vai
ser por esse meio, mas abre uma esperança boa nessa linha de drogas
novas que tendem a sair no futuro.
E há alguma forma de
se evitar ou, pelo menos, frear o desenvolvimento dessas doenças?
No Parkinson
basicamente o diagnóstico é clínico: exame físico e análise da
história clínica do paciente. Por vezes a gente usa alguns exames
para afastar outras doenças ou reforçar o raciocínio. Mas, ainda
assim, o diagnóstico é totalmente clínico.
Para se prevenir a
doença, seria necessário criar bons hábitos, evitar excesso de
álcool, tabagismo, substâncias químicas nocivas. No Parkinson
também seria interessante tentar evitar atividades que exponham a
traumatismos cranianos repetitivos. E também a necessidade de se
tomar cuidado com alguns remédios que são para o tratamento de
alguma determinada doença, mas algumas pessoas possuem uma
sensibilidade maior e podem desenvolver um parkinsonismo
medicamentoso. Nesses casos, o tratamento é simplesmente suspender o
tratamento envolvido, e há uma chance de uma resolução total. Tem
um trabalho interessante que diz que a ingestão diária da cafeína
pode ajudar na prevenção do Parkinson. Isso é interessante e deixa
todo mundo feliz, principalmente no Brasil.
O diagnóstico do
Alzheimer, também é clínico. A gente estuda para afastar outras
doenças. Existem algumas ferramentas que podem ajudar a reforçar o
diagnóstico.
Mas o diagnóstico
precoce ainda é muito difícil. Mesmo se você fizer exame genético
e tendo uma condição genética fortemente favorável, não há
certeza de que se desenvolva. No Alzheimer, a prevenção também
seria evitar hábitos ruins, álcool, cigarro, substâncias nocivas e
tratar muito bem as doenças de base, como a hipertensão, doenças
metabólicas. Fonte: Sampi.