sexta-feira, 8 de julho de 2022

História da Medicina: o uso da Levodopa na Doença de Parkinson

por Guilherme Pompeo

Por que seria relevante saber sobre a história do uso da Levodopa (L-dopa) na doença de Parkinson? Isso não é um tema muito específico para colocarmos na série de artigos “História da Medicina”?

Bom, como todos nós sabemos (se ainda não souber, não tem problema! Ficará sabendo aqui!), a Doença de Parkinson (DP) é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva, capaz de acrescentar elevada morbimortalidade aos pacientes que possuem a doença. Os sinais e sintomas são bem variados, mas o básico consiste em perda do controle motor individual (ex.: lentidão motora – bradicinesia, rigidez articular, tremores de repouso. Outros sintomas não motores como diminuição do olfato, alteração intestinal, alteração no sono também podem ocorrer).

Estima-se que apenas no Brasil há cerca de 250 mil portadores de DP (um número com certeza subnotificado). Trata-se da segunda doença neurodegenerativa mais comum no nosso país, e no mundo! Portanto, é uma enfermidade com grande impacto social e econômico.

O PAPEL DA LEVODOPA NA DOENÇA DE PARKINSON:

Antes de começar a falar diretamente sobre isso, temos que entender como ocorre a DP. Explicando um pouco disso, a conclusão será automática (você vai ver!).

A Doença de Parkinson é causada basicamente pela redução intensa da produção de dopamina (por perda da quantidade e qualidade das células produtoras dessa substância), que é um neurotransmissor. Essa atua na realização dos movimentos voluntários do corpo de forma automática (por exemplo, deambular – ninguém precisa pensar muito para caminhar após aprender lá na primeira infância). Com essa “falta” de dopamina, principalmente na substância negra, próxima ao mesencéfalo, o controle motor do paciente é muito prejudicado, acarretando os sinais e sintomas da doença.

Ótimo! Então, aí está! Repondo a dopamina via oral todo o problema estaria resolvido! Não é bem assim. A própria dopamina, por via oral, não consegue ser absorvida de forma adequada para o sistema nervoso central. É aí que está a grande importância da levodopa. É uma droga precursora da dopamina, capaz de alcançar o encéfalo e ser convertida à dopamina na região. Por isso, até hoje ainda é a principal droga utilizada no tratamento da Doença de Parkinson!

OUTRAS CARACTERÍSTICAS, CURIOSIDADES E INFORMAÇÕES SOBRE A LEVODOPA:

– Pode ser uma droga utilizada em qualquer estágio da doença. É extremamente eficaz para controlar sintomas como a rigidez e bradicinesia características da doença. O tratamento, e a dose dependem também do uso concomitante com outras medicações;

– A absorção da droga é realizada no intestino, iniciando seus efeitos em 30 minutos após a ingestão, possuindo duração de 3 a 5 horas. Sua absorção pode ser comprometida quando a ingestão é realizada em conjunto com proteínas.

HÁ EFEITOS COLATERAIS NO USO DA LEVODOPA?

Como qualquer outra substância utilizada na Medicina, a L-dopa também possui efeitos adversos. Um dos mais curiosos é a “flutuação motora” (ocorre principalmente nos pacientes que fazem uso prolongado da droga). Isso consiste em momentos que a substância começa a ser mais tolerada e os sintomas retornam antes da próxima dose.

Outros efeitos adversos são movimentos involuntários, compulsões, discinesias (algumas drogas podem ser utilizadas em associação para suprimir esses efeitos), anemia, hiperglicemia, náuseas e vômitos, ideação paranoide, transtorno depressivo.

Precisava introduzir o tema e dar a importância devida a essa descoberta, que foi uma daquelas que realmente marcou a Medicina.

OLIVER SACKS E A LEVODOPA – UM USO ALTERNATIVO:

Esse neurologista fazia uso da L-dopa no tratamento de pacientes com encefalite letárgica, incapazes de se mover e falar há anos, e obtinha resultados positivos.

UMA LONGA ESTRADA:

Até se chegar a L-dopa, o tratamento da DP passou por diversas tentativas. Começou em 1874 com os solanáceos (uma família de plantas florais) de Charcot. Desde essa época, muitas drogas foram testadas sem muito sucesso.

Em 1947, houve alguma esperança com a cirurgia estereotáxica, principalmente no tratamento do tremor.

Foi somente a partir de 1957, com a descoberta da presença preferencial de dopamina no corpo estriado, substância negra e globo pálido, que houve uma grande revolução no tratamento da DP.

A HISTÓRIA:

No ano de 1961 (apenas 4 anos depois da descoberta da presença da dopamina no tecido cerebral realizada pelo cientista sueco Arvid Carlsson), os pesquisadores austríacos Oleh Hornykiewivz (confesso que foi difícil de escrever este!) e Walther Birkmayer relataram um tratamento aparentemente milagroso para a Doença de Parkinson. Eles descreveram essa possível mudança emocionante da seguinte forma: “Pacientes acamados, que não conseguiam sentar, pacientes que não conseguiam se levantar da posição sentada e pacientes que, em pé, não conseguiam começar a andar, realizavam essas atividades após a L-dopa (em forma de injeção) com facilidade… Eles podiam até correr e pular. O discurso sem voz… tornou-se forte e claro.” Imaginem só a reação dos pacientes, familiares e médicos que puderam acompanhar isso pela primeira vez.

No entanto, até como já introduzido anteriormente, a dopamina e a maioria dos seus precursores, quando administrados por via oral e/ou endovenosa, não atravessavam a barreira hematoencefálica, ocasionando alguns resultados discrepantes, com melhora sintomática transitória, maior intensidade de efeitos colaterais. Fonte: Blog jaleko.

No tocante à história da levodopa, recomenda-se o filme Awakenings / Tempo de Despertar (Oliver Sacks, trata da descoberta da L-dopa, com Robert de Niro e Robin Williams)


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