domingo, 13 de abril de 2025

Cannabis e Parkinson: O que a ciência já sabe sobre essa relação

12/04/2025 - Embora ainda limitadas, o neurologista Dr. Luis Otavio Caboclo considera que as evidências científicas abrem uma possibilidade real de utilizar a Cannabis medicinal para ampliar o cuidado e melhorar a qualidade de vida de pacientes com a doença.

A Doença de Parkinson é uma das condições neurodegenerativas mais comuns no mundo, afetando cerca de 10 milhões de pessoas globalmente, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). De caráter progressivo e ainda sem cura, a doença impacta diretamente a qualidade de vida dos pacientes, com sintomas como tremores, rigidez muscular, lentidão dos movimentos e, em estágios mais avançados, alterações no equilíbrio, cognição e comportamento emocional.

Apesar da evolução no tratamento dos sintomas, a busca por novas abordagens terapêuticas continua sendo uma prioridade para médicos, cientistas e pacientes. Nesse contexto, a Cannabis medicinal vem ganhando destaque. Mas quais são as evidências científicas sobre o uso da Cannabis na Doença de Parkinson?

O neurologista Dr. Luis Otavio Caboclo, Chief Medical Officer da Endogen – healthtech especializada em nutrição clínica e Cannabis medicinal – e professor assistente de neurologia da Faculdade Israelita Albert Einstein, explica que a Cannabis contém compostos conhecidos como canabinoides, sendo o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC) os mais estudados.

“Tais substâncias interagem com o sistema endocanabinoide do organismo, responsável por regular funções como controle motor, dor, humor e sono – todas frequentemente afetadas em pacientes com Parkinson”, acrescenta o especialista.

Segundo ele, estudos preliminares indicam que o CBD possui propriedades neuroprotetoras e anti-inflamatórias, que podem ajudar a reduzir a rigidez muscular e melhorar o sono. Já o THC, embora psicoativo, também tem mostrado efeitos positivos na redução de espasmos musculares e dores crônicas. A combinação e a dosagem ideais, no entanto, ainda são objetos de pesquisas.

Limitações – Dr. Caboclo destaca ainda que, embora muitos pacientes relatem melhora significativa com o uso da Cannabis medicinal, as evidências científicas são limitadas, e os efeitos variam de pessoa para pessoa.

“Alguns estudos sugerem benefícios como redução da ansiedade e melhora da qualidade de vida, mas ainda precisamos de mais ensaios clínicos controlados para oferecer recomendações seguras e padronizadas”, afirma.

Outro ponto importante são os efeitos colaterais, que incluem sonolência, tontura e alterações cognitivas.

“Por isso, o uso da Cannabis medicinal deve sempre ser acompanhado por um profissional de saúde qualificado. Países como Canadá, Estados Unidos e Brasil já permitem seu uso sob prescrição médica, em situações específicas”, informa Caboclo.

Na passagem do Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, celebrado em 11 de abril, a comunidade médica e a Sociedade têm uma oportunidade para ampliar os debates sobre alternativas terapêuticas que possam contribuir para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos.

“Enquanto a ciência avança, a esperança se mantém viva para os pacientes com a Doença de Parkinson. A Cannabis medicinal pode não ser a cura para o Parkinson, mas representa um caminho promissor na busca por mais qualidade de vida para os indivíduos que sofrem com essa patologia”, conclui o neurologista. Fonte: folhadepiracicaba.

Pesquisa estima que mais de 500 mil brasileiros com 50 anos ou mais vivem atualmente com a doença de Parkinson. Principal fator de risco é o envelhecimento.

13/04/2025 - Publicado recentemente na revista científica The Lancet Regional Health – Americas, um estudo inédito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) estima que mais de 500 mil brasileiros com 50 anos ou mais vivem atualmente com a Doença de Parkinson. No entanto, o número pode mais que dobrar até 2060, ultrapassando 1,2 milhão de casos, aponta o estudo.

De acordo com o médico neurologista e um dos autores do trabalho, Artur F. Schumacher Schuh, o principal fator de risco para a doença de Parkinson é o envelhecimento populacional.

Os dados foram retirados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil).

O estudo analisou 9.881 pessoas com 50 anos ou mais em todas as regiões do Brasil. A maior parte dos diagnósticos aparece em estágios avançados da doença. Ou seja, a doença de Parkinson tem passado despercebida nos sinais iniciais.

“Os principais sintomas que começam com a doença de Parkinson é a lentidão dos movimentos, movimentos lentos, rigidez muscular e o clássico tremor, que as pessoas associam ao Parkinson, mas nem todo Parkinson treme”, explica o pesquisador.

E a culpa não é só da falta de informação da população.

“Por uma falta de especialistas, por uma falta de conhecimento sobre o assunto, a gente precisa se preparar para esse cenário onde a gente vai ter muito mais pessoas vivendo com as levitações que o Parkinson provoca”, aponta o médico.

Homens, AVCs e depressão

Os dados revelam ainda que os homens são mais afetados que as mulheres — um padrão observado também em outros países. E as pessoas com Parkinson costumam ter outras condições associadas, como depressão e acidente vascular cerebral (AVC).

“Depressão é um sintoma típico do paciente que tem Parkinson. A gente viu que eles estão associados com AVC. Isso pode ser também por um diagnóstico que pode se confundir de AVC e Parkinson, mas outros estudos epidemiológicos também mostraram essas associações", comenta.

Além disso, o estudo aponta que pessoas com Parkinson têm mais comorbidades e consequentemente, relatam maior dependência funcional, maior uso de cadeiras de rodas, mais visitas médicas, e mais dificuldade para locomoção.

Regiões

Entre os achados da pesquisa, um dado curioso: a região Norte do país apresentou o menor número de casos autorrelatados, mas isso não significa que o Parkinson seja raro no local.

“A gente não acredita que é [raro] porque tenha menos Parkinson lá, mas a gente acredita que é porque tenha menos reconhecimento da doença”, alerta Schuh.

Viver com Parkinson

Apesar de não ter cura, a doença tem tratamento.

"Os pacientes melhoram bem. São pacientes que podem ter grandes limitações funcionais, mas a gente consegue tratar eles de uma maneira bastante boa, tanto com medicamento quanto com cirurgia", comenta.

Mas para isso acontecer, o Brasil precisa agir, segundo o pesquisador. Com a população envelhecendo, o sistema de saúde precisa estar preparado para acolher, diagnosticar e tratar essas pessoas. Hoje, estamos atrasados.

O estudo é um apelo à política pública para desenvolver um plano nacional de enfrentamento ao Parkinson. Fonte: g1 globo.

Tratamentos neuroprotetores avançam e podem ajudar pacientes

Estudos também buscam caminhos para reduzir sintomas através da neuromodulação e de um tratamento novo no Brasil

12 de abril de 2025 - Manaus –A doença de Parkinson não tem cura, mas a medicina vem avançando na busca por tratamentos que melhorem as condições de vida dos pacientes. A Academia Brasileira de Neurologia (ABN) acredita que o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, celebrado em 11 de abril, é um bom momento para conscientizar a população sobre que vem sendo feito para melhorar a qualidade de vida de quem é afetado pela condição.

Segundo o Dr. Rubens Gisbert Cury, coordenador do Departamento Científico de Transtornos do Movimento da ABN, há muitas pesquisas visando o tratamento neuroprotetor da doença. “Ainda não há nenhuma medicação neuroprotetora comercializável, mas existem várias pesquisas nessa linha para Parkinson”, diz o médico.

Para aliviar os sintomas, tratamentos com neuromodulação (estimulação cerebral profunda ou DBS) e mais recentemente com o HIFU (High-Intensity Focused Ultrasound) já são oferecidos. O HIFU é um procedimento que utiliza ondas de ultrassom de alta intensidade em um ponto específico do cérebro responsável pelos tremores causados pelo Parkinson. Essa terapia mostrou ser bastante eficaz no controle dos tremores e na qualidade de vida de quem tem a doença.

“Além do DBS e do HIFU, terapias como a estimulação contínua de dopamina também vão ajudar muitos pacientes Parkinson. Embora ainda não exista nada curativo, o futuro dos tratamentos é promissor”, avalia o Dr. Cury.

Importância da data
O Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson relembra o nascimento de James Parkinson (1755 – 1824), o médico que primeiro descreveu a doença, e foi estabelecido pela Organização Mundial de Saúde, em 1998. O objetivo é esclarecer dúvidas sobre a doença e as possibilidades de tratamento para que o paciente e sua família tenham uma melhor qualidade de vida.

“A data é uma possibilidade de trazer para as pessoas mais conhecimento da doença neurológica, crônica, que mais cresce no mundo, em termos proporcionais. O Parkinson cresce mais proporcionalmente do que o Alzheimer, AVC, esclerose múltipla ou epilepsia. Hoje, estimamos 11,8 milhões de pessoas no mundo com Parkinson”, diz o Dr. Cury.

Trata-se de uma doença altamente prevalente, que pode ser incapacitante se não tiver tratamento adequado. “Essa conscientização ajuda na busca por um diagnóstico mais precoce dos pacientes, para que eles entendam quais são os sintomas e que o tratamento, por meio de atividade física e medicações, melhora muito a qualidade de vida”, recomenda o médico.

O que é a Doença de Parkinson?
A doença de Parkinson é uma doença cerebral, crônica, progressiva, causada pela redução da produção da dopamina no cérebro. A dopamina é como se fosse o nosso combustível. “Serve pra gente andar, correr, gesticular, escrever, tomar banho, se vestir, trabalhar. Quando a dopamina reduz, é como se o cérebro ficasse mais devagar. O principal sintoma do Parkinson é a lentidão”, explica o Dr. Cury.

Outro sinal da doença é causar rigidez nas articulações. Além disso, 70% dos doentes sentem tremor, que aparece geralmente quando o braço está parado, relaxado. O que é o que é peculiar do Parkinson é que geralmente começa em um dos lados do corpo.

O Parkinson é uma doença que tem sintomas motores, como lentidão, rigidez, tremor e dificuldade de andar. E sintomas não motores, como dificuldade do sono, ansiedade, depressão, apatia, alteração do olfato e intestino preso. Os sintomas não estão presentes em todas as pessoas, mas podem aparecer no curso da doença.

Normalmente, o Parkinson acomete pessoas na faixa de 50, 60 anos de idade, embora possa aparecer em pessoas mais novas. O diagnóstico da doença é feito com base na história clínica do paciente e no exame neurológico. Não há nenhum teste específico para o seu diagnóstico ou para a sua prevenção. “O diagnóstico é um quebra-cabeça, não tem uma peça só, precisamos algumas peças para chegar no diagnóstico final”, explica o Dr. Cury.

Boa parte das pessoas que tem Parkinson apresentam fatores genéticos. Em média, 20% das pessoas com Parkinson têm algum familiar acometido. Mas há também os fatores ambientais. O envelhecimento é o principal deles. Na medida em que o cérebro vai ficando mais velho, aumenta a chance de a pessoa ter insuficiência de dopamina. Outros fatores de risco são poluição, alguns solventes, pesticidas, trauma craniano, consumo de laticínios, que aumentam a chance de desenvolver a doença.Trata-se de uma interação complexa entre genética e ambiente.

Para o tratamento da doença há medicamentos, terapias avançadas e mudanças no estilo de vida. A pessoa com Parkinson deve fazer atividade física, em especial aeróbica, como caminhada, bicicleta, natação, jogar algum esporte, pois reduz a evolução da doença. Além disso, precisa controlar os fatores clínicos, como diabetes, hipertensão, parar de fumar. E se alimentar bem, ter uma dieta saudável. São três pilares: atividade física, dieta saudável e controlar os fatores cardiovasculares.

Também é possível repor a dopamina com medicamentos e conforme discutido, para alguns casos, há a cirurgia, que é a estimulação cerebral profunda (DBS) ou o procedimento HIFU, que foca no alívio dos tremores.

Com a evolução dos tratamentos, a expectativa de vida de uma pessoa com Parkinson é igual à de uma pessoa sem Parkinson. A diferença é que doente de Parkinson vai ter mais desafios e precisará se adaptar a algumas condições. Fonte: D24am.

sábado, 12 de abril de 2025

Suicídio

 Porto Alegre, 12 de abril de 2025.

Suicídio

´Dia desses me perguntaram se eu tinha idéias de me matar, cometer suicídio. É óbvio que no contexto de eu ser portador da doença de parkinson, e o interlocutor vivenciava minha flagrante decadência motora decorrente da doença.

Estou no presente disautônomo, isto é, perdi minha autonomia, dependo de terceiros, para o que der e vier. Estou restrito às quatro linhas do meu apartamento, não consigo caminhar, vendi meu carro e nem ir ao supermercado consigo mais ir.

Mas voltando ao título do textículo, hoje respondo que não tenho mais ideias suicídas, mas já as tive. Há alguns anos, quando ainda trabalhava, arquitetei minha morte, só a minha, já que não queria machucar mais ninguém. Jogaria meu carro diante de um caminhão, na conhecida curva da morte, descida da estrada que liga São Vendelino a Farroupilha (RS-122).

Digo isso hoje, porque na época, tomava levodopa, remédio que atenua os sintomas, embora em nada contribua para a estancar a evolução da doença. A levodopa deve ser tomada a cada ressurgimento dos sintomas e seu efeito durava umas duas horas e meia a três horas. Demanda cerca de meia hora para iniciar seu efeito após ingerida, contando que não se consuma proteína animal nas horas precedentes. Os períodos em que ela faz efeito são os chamados períodos “on”, enquanto os períodos em que ela não funciona mais chamam-se períodos “off”. Entre estes dois períodos, em que o efeito da levodopa cai, instaura-se uma depressão profunda. Imagine durante o dia flutuar-se entre o pico da euforia (“on”) e o vale da depressão (“off”) a cada três horas. Era um verdadeiro tobogã de emoções. Nessa época, tinha idéias suicídas.

Passados alguns anos, não tomo mais levodopa, mesmo porque a doença progrediu tanto que já não faz mais efeito, apenas provoca um forte suadouro e confusão mental. Tomo para a depressão amitriptilina e independente dela e pelo fato de ter abandonado a levodopa, nunca mais tive idéias suicídas. Estou longe do tobogã, num estado estável de humor. Diria que sou estou pessoa apática.

Prefiro a apatia à depressão profunda e cíclica diária provocada pela levodopa, que me causava tais idéias.

Ressalto que em 2006 implantei em meu cérebro um dispositivo dbs. Apesar das limitações, consiste no tratamento mais moderno para combater o parkinson, e provavelmente ele tenha me permitido chegar com vida até a presente data.

Como tenho parkinson há vinte e seis anos, me considero “das antigas” e lembro constar da velha bula do Prolopa, tida no meio parkinsoniano como sinônimo de levodopa, a advertência de que, não lembro textualmente: "Este medicamento pode causar ideações suicídas..." e na nova bula não consta tal advertência.

Ressalto que esta “intolerância” ao levodopa, é minha, não significando que tal resposta ao medicamento seja aplicável a todos usuários, mas se constava explicitamente na bula, não seria raro tal sintoma.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Tratamento revolucionário de Parkinson avança em direção à patente internacional

11 abr 2025 - O estudo inovador está sendo conduzido no Hospital Padilla e pode mudar o curso da doença. O Ministério da Saúde Pública, sob a liderança do Dr. Luis Medina Ruiz, destaca o compromisso provincial com a pesquisa de alto impacto.

No âmbito do Dia Mundial do Parkinson, Tucumán se posiciona como uma província pioneira em pesquisa médica com projeção global. Do sistema público de saúde, foi anunciado o avanço de um estudo que promete revolucionar o tratamento desta doença neurodegenerativa, que afeta menos de 200 pessoas na província, atualmente em acompanhamento e tratamento no setor público.

O Ministério da Saúde Pública, Medina Ruiz, acompanha e promove esta linha de pesquisa que pode marcar um antes e um depois na medicina neurológica. O desenvolvimento, que começou no Hospital Padilla e atualmente está na fase multicêntrica, está próximo de obter uma patente nos Estados Unidos, um passo fundamental para sua futura comercialização internacional.

"Estamos muito avançados. Este tratamento, nascido em Tucumán, poderá estar disponível no mundo em poucos anos", disse orgulhosamente o Dr. Medina Ruiz. Como detalhou, trata-se de uma molécula derivada de um antibiótico, da qual foi extraída a sua ação antibiótica, deixando uma substância pura que, administrada uma vez por dia, tem o potencial de travar e até reverter a evolução do Parkinson.

A descoberta não passou despercebida: um empresário francês, com forte poder econômico e sensibilidade para a pesquisa médica, entrou em contato com os autores do estudo e atualmente colabora ativamente no processo de patenteamento internacional.

Ao contrário do que comumente se acredita, o Parkinson não se manifesta apenas com tremores. Em muitos casos, a rigidez muscular é o sintoma mais limitante. "É importante notar que as pessoas com Parkinson mantêm sua lucidez e capacidade cognitiva. Eles precisam de apoio, contenção familiar e tratamentos que lhes permitam passar pela doença com dignidade e qualidade de vida", explicou o ministro.

O Ministério da Saúde Pública destaca o valor da ciência local, o investimento em saúde pública e a convicção de que a inovação também pode ter um cunho de Tucumán. "Devemos estar orgulhosos. Esse progresso não representa apenas esperança para milhares de pacientes no mundo, mas também o reflexo de um sistema de saúde comprometido com a excelência e o futuro", concluiu o ministro. Fonte: comunicaciontucuman.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Terapia de Parkinson retarda a disseminação de alfa-sinucleína em camundongos: Dados

NDC-0524 da Nitrase reduz agregação, mostram dados pré-clínicos

7 de abril de 2025 - O NDC-0524 da Nitrase Therapeutics, uma terapia de anticorpos para a doença de Parkinson, reduziu significativamente a agregação e a disseminação de alfa-sinucleína em modelos de camundongos da doença, de acordo com dados pré-clínicos divulgados pela empresa.

O anticorpo tem como alvo a alfa-sinucleína nitrada, uma forma mal dobrada da proteína que forma aglomerados tóxicos nos neurônios dopaminérgicos, as células nervosas perdidas na doença de Parkinson. Nitrase disse que os achados pré-clínicos sugerem que o NDC-0524 pode retardar a progressão dos sintomas em pessoas com a doença.

"Esses dados demonstram que nosso anticorpo neutraliza a sinucleína nitrada secretada, ajudando a prevenir a disseminação da patologia de Parkinson de neurônios doentes para neurônios saudáveis", disse Irene Griswold-Prenner, PhD, CEO da Nitrase, em um comunicado à imprensa da empresa. "Essas descobertas promissoras foram altamente consistentes em vários estudos in vivo conduzidos separadamente e para diferentes regiões do cérebro."

Espera-se que um primeiro estudo de Fase 1/2a em humanos envolvendo voluntários saudáveis e pessoas com Parkinson comece ainda este ano. O estudo avaliará a segurança, tolerabilidade e propriedades farmacológicas do NDC-0524, biomarcadores que refletem a capacidade do anticorpo de envolver alfa-sinucleína nitrada, bem como sua capacidade de desencadear uma resposta imune.

Os resultados foram abordados em uma apresentação oral intitulada "Eficácia pré-clínica e desenvolvimento de um anticorpo anti-alfa-sinucleína nitrato para o tratamento da doença de Parkinson", na conferência sobre a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, que aconteceu de 1 a 5 de abril em Viena.

Proteína mal dobrada propensa a aglomeração no cérebro

Na doença de Parkinson, a perda de neurônios produtores de dopamina está ligada ao acúmulo de aglomerados tóxicos de proteína alfa-sinucleína mal dobrada, conhecidos como corpos de Lewy. Esses aglomerados podem se espalhar pelo cérebro e contribuir para a progressão dos sintomas motores de Parkinson.

Os corpos de Lewy são ricos em alfa-sinucleína nitrada, que consiste na introdução de um grupo químico chamado nitro que muda como a proteína funciona ou onde ela está localizada nas células. A alfa-sinucleína nitrada pode ser menos solúvel do que outras formas da proteína, tornando-a mais propensa a se aglomerar. “A presença de alfa-sinucleína nitrada agregada nos neurônios de pacientes [de Parkinson] foi bem ilustrada por muitos no campo da neurodegeneração, e também foi demonstrado anteriormente que induz morte neuronal dopaminérgica e déficits motores em camundongos”, disse Griswold-Prenner.

O NDC-0524 é um anticorpo monoclonal que se liga à forma nitrada de alfa-sinucleína. O tratamento visa reduzir o acúmulo de aglomerados de proteínas prejudiciais e potencialmente retardar a progressão da doença, reduzindo a "transmissão de doenças célula a célula", disse a empresa.

Em modelos pré-clínicos de Parkinson que recapitulam a aglomeração e disseminação de alfa-sinucleína, o anticorpo reduziu significativamente os agregados de proteínas em até 88%, disse Nitrase.

Os dados mostraram que o tratamento superou o prasinezumabe, um anticorpo experimental que se liga principalmente à alfa-sinucleína normal/não nitrada, em 31% em uma dose equivalente, embora a diferença não tenha sido estatisticamente significativa. Os resultados foram consistentes em vários modelos de camundongos avaliando diferentes regiões do cérebro, apoiando o papel da alfa-sinucleína nitrada e do potencial do NDC-0524 como um possível tratamento para Parkinson.

Além do NDC-0524, a empresa está desenvolvendo pequenas moléculas projetadas para inibir o GLOD4, uma enzima com atividade de sinucleína nitrase responsável pela nitração de alfa-sinucleína. O bloqueio da atividade do GLOD4 pode impedir a formação de aglomerados tóxicos de alfa-sinucleína, de acordo com a empresa. Fonte: Parkinsonsnewstoday

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Farmacêutica portuguesa Bial lança medicamento mais cómodo para doentes com Parkinson

A farmacêutica portuguesa Bial lançou um novo medicamento para os doentes com Parkinson. A novidade está na forma de administração, mais cómoda e que traz alivio mais rápido dos sintomas.

03 abr.2025 - A apomorfina é um medicamento injetável já muito conhecido, mas chega agora num formato inovador. Uma película que se coloca sob a língua para uma absorção rápida.

"É um medicamento que permite com alguma rapidez, com 15 a 30 minutos, começar a melhorar o momento off e permite que o doente entre em on, portanto que fique melhor em termos motores e tem a facilidade de poder ser administrado pelo doente quando precisar", explica à SIC a neurologista Margarida Rodrigues.

"Parece pouca coisa mas acho que adiciona extraordinariamente à qualidade de vida de um doente que muitas vezes sabem quando vão ter estes momentos, mas muitas vezes não sabem quando os vão ter", salienta António Portela, CEO da Bial.

Chegou aos mercados português e espanhol no dia 1 deste mês. É comercializado na Alemanha, onde é fabricado, desde maio de 2024. Este lançamento da Bial vem para complementar o tratamento dos sintomas de Parkinson.

"Nos primeiros anos da doença, apresenta estabilidade com os tratamentos, [mas] a partir do momento em que começam a apresentar momentos de bloqueio, podem ter indicação para usar a apormofina sublingual", diz a neurologista.

Esta doença neurodegenerativa e sem cura afeta cerca de 20 mil pessoas em Portugal. Provoca, de forma variável, a lentificação dos movimentos, rigidez e tremor.

Na Bial está em curso um ensaio para o primeiro medicamento que pretender atuar na causa. Destina-se a doentes com uma mutação específica.

"Se os resultados forem extraordinários, as autoridades normalmente querem que os medicamentos cheguem o mais depressa possível a doentes, principalmente quando não há alternativas. (...) Correndo os tempos normais, só lá para 2030 é que esperamos que esteja no mercado", prevê o CEO da Bial.

O parkinson afeta cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo e é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, a seguir ao Alzheimer. Estima-se que a incidência duplique até 2050. Fonte: sicnoticias

Um sistema de estimulação cerebral profunda sem fio baseado em nanopartículas que reverte a doença de Parkinson

15 de janeiro de 2025 - Resumo

A tecnologia de estimulação cerebral profunda permite a modulação neural com controle espacial preciso, mas requer implantação permanente de conduítes (eletrodos). Aqui, descrevemos um nanosistema de estimulação cerebral profunda sem fio fototérmica capaz de eliminar agregados de α-sinucleína e restaurar neurônios dopaminérgicos degenerados na substância negra para tratar a doença de Parkinson. Este nanosistema (ATB NPs) consiste em nanocasca de ouro, um anticorpo contra o membro da família vaniloide do potencial do receptor transiente sensível ao calor 1 (TRPV1) e peptídeos β-sinucleína (β-syn) com um ligante responsivo ao infravermelho próximo. Os NPs ATB por injeção estereotáxica têm como alvo neurônios dopaminérgicos que expressam receptores TRPV1 na substância negra. Após irradiação pulsada no infravermelho próximo, os NPs de ATB, servindo como nanoantenas, convertem a luz em calor, levando ao influxo de íons de cálcio, despolarização e potenciais de ação em neurônios dopaminérgicos por meio de receptores TRPV1. Simultaneamente, os peptídeos de β-sinucleína liberados dos NPs de ATB cooperam com a autofagia mediada por chaperona iniciada pela proteína de choque térmico, HSC70, para eliminar efetivamente as fibrilas de α-sinucleína nos neurônios. Essas ações orquestradas restauraram os neurônios dopaminérgicos patológicos e os comportamentos locomotores da doença de Parkinson.

INTRODUÇÃO

A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio neurodegenerativo crônico caracterizado por disfunção motora e comprometimento da memória, que resultam da degeneração dos neurônios dopaminérgicos (DA) e da subsequente perda de DA na substância negra (SN) pars compacta e estriado (1). O foco principal das terapias médicas atuais é aumentar os níveis de DA estriatal, aliviando assim os sintomas em pacientes com DP. Atualmente, a principal estratégia terapêutica para DP reside principalmente em agentes que aumentam a sinalização de DA, notavelmente l-dopa e agonistas de DA (2, 3). Apesar de vários estudos, a progressão da DP raramente é efetivamente remediada pelas abordagens existentes devido à sua falha em restaurar neurônios degenerados no SN com modulação espacial precisa, ressaltando a necessidade urgente do desenvolvimento de estratégias terapêuticas inovadoras (4).

A estimulação cerebral profunda (DBS) pode resgatar neurônios lesionados excitando precisamente neurônios específicos usando estímulos externos, como luz, eletricidade, som e magnetismo (5). Entre esses estímulos, a estimulação de luz infravermelha próxima (NIR) provou ser particularmente eficaz na penetração de tecidos cerebrais profundos, incluindo o SN (6–8), despolarizando células ou induzindo potenciais de ação em neurônios (9, 10). Notavelmente, esses DBS mediados por estímulo geralmente requerem a implantação permanente de conduítes. Para superar essa limitação, uma abordagem alternativa é usar a optogenética, que introduz seletivamente genes exógenos que codificam proteínas sensíveis à luz (como canalrodopsinas) em neurônios alvos para modular a despolarização neuronal mediante exposição a estímulos luminosos (11, 12). Essa técnica é frequentemente realizada com o uso de transfecção ou transdução viral para conduzir a expressão gênica sensível à luz, o que levanta questões de segurança. Por exemplo, a síndrome cerebelar foi relatada em primatas tratados com vetores virais (13). Portanto, a estimulação direta de receptores expressos endogenamente nos neurônios danificados no SN sem modificação genética contornaria as preocupações acima. Um desses receptores é o membro da família vaniloide do potencial do receptor transiente sensível ao calor 1 (TRPV1), também um canal iônico, que é altamente expresso em neurônios DA no SN (14–16). Esses receptores podem ser ativados por estimulação térmica externa para causar influxo de cátions (17, 18), uma despolarização subsequente de neurônios (19–22) e possivelmente a liberação de DA (23). Assim, levantamos a hipótese de que os canais iônicos TRPV1 podem servir como um alvo modulador para ativar neurônios DA no SN para terapia de DP. (segue…) Fonte: science.

domingo, 30 de março de 2025

Suicídio assistido garante uma morte digna? Veja histórias de quem decidiu encerrar a própria vida

Opção de escolher como e quando morrer tem atraído mais pessoas aos 14 países onde a prática é legalizada. Conheça histórias de quem decidiu encerrar a própria vida

Dos 14 países onde a morte voluntária assistida (MVA) é legaliza- da, oito deles estão na Europa: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Holanda, Luxemburgo, Portugal e Suíça. Dois são da América do Norte (EUA e Canadá), dois da América do Sul (Equador e Colômbia) e dois da Oceania (Austrália e Nova Zelândia) — Foto: Gustavo Magalhães

30/03/2025 - Um ferro de passar roupa, em alta temperatura, encostado no rosto. É assim que Carolina Arruda, de 27 anos, descreve a dor que sente. Algumas crises são tão fortes que ela chega a desmaiar. “É como se o cérebro desligasse o corpo para protegê-lo do sofrimento”, diz. A estudante de veterinária tinha 15 anos quando começou a sentir os primeiros “choques elétricos”. Achou que fosse sequela da dengue e não deu importância. Mas, a dor, antes esporádica, se tornou frequente. Cinco anos e 27 médicos depois, veio o diagnóstico: neuralgia do trigêmeo. Os neurologistas costumam se referir a essa condição, que afeta um nervo da face, como “a pior dor do mundo”.

Desde 2018, Carolina já tentou incontáveis tratamentos. Foram seis cirurgias – a última, em agosto, para implantar uma bomba de morfina no cérebro. O procedimento não deu o resultado esperado. De uns anos para cá, ela passou a cogitar o suicídio assistido na Suíça, um dos 14 países do mundo onde a morte assistida é legalizada. Já conseguiu arrecadar R$ 145 mil, via crowdfunding, para custear o processo. “Não espero ficar curada. Perdi essa ilusão”, diz Carolina, casada há três anos e mãe de uma menina de dez. “Na veterinária, quando sacrificamos um animal, não é por maldade, é por misericórdia. É para aliviar o sofrimento dele”, explica.

A vontade de Carolina de colocar um ponto final na própria vida foi alcançada, há alguns meses, por outro brasileiro, o poeta e filósofo Antonio Cicero, de 79 anos. No dia 18 de outubro de 2024, Cicero viajou para Paris pela última vez com seu marido, o figurinista Marcelo Pies, de 62. Na capital francesa, assistiram a uma exposição no Centro Georges Pompidou, visitaram a igreja Sainte-Chapelle e jantaram no restaurante La Coupole. Dois dias depois, seguiram para Zurique, na Suíça. Lá, o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) cumpriu seu último desejo: uma morte digna e indolor. “Minha vida se tornou insuportável”, confessou, em carta aos amigos.

Antonio Cicero tomou a decisão em julho de 2023, depois de receber o diagnóstico de Alzheimer. Em pouco tempo, a doença neurodegenerativa se tornou implacável: o impediu de escrever versos – como “Tolice é viver a vida assim sem aventura”, da canção O Último Romântico, de Lulu Santos – e de redigir ensaios. Não bastasse, já não lembrava mais o que tinha feito na véspera, nem reconhecia quem encontrava pelas ruas. Pior: não conseguia mais ler, uma de suas paixões. Na terça, dia 22, telefonou para a irmã, a cantora e compositora Marina Lima, para dar adeus. “Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”, concluiu, em sua carta de despedida. Morreu no dia 23 de outubro de 2024.

A organização que ajuda pessoas a morrer

A instituição onde Antonio Cicero morreu se chama Dignitas – “Dignidade”, em latim. Foi fundada em 1998 pelo advogado suíço Ludwig Minelli e acolhe pacientes do mundo inteiro com doenças incuráveis ou incapacitação irreversível. Até 2022, ajudou 3,6 mil pacientes a morrer. Desses, 1,4 mil são alemães, 527 britânicos e 498 franceses, entre outras nacionalidades. Três eram brasileiros.

Outro na lista de pacientes famosos foi o ex-jogador de futebol americano Brian Ameche. “Prefiro morrer de pé a viver de joelhos”, alegou, ao descobrir-se com Alzheimer, em 2019. Três anos antes, em 2016, sua esposa, Amy Bloom, começou a notar os primeiros sintomas: fazia a mesma pergunta repetidas vezes, não conseguia memorizar datas e esquecia os nomes das netas. Sua história está contada no livro In Love – A Memoir of Love and Loss (2022), escrito por Bloom. “Sinto sua falta, mas não me arrependo de tê-lo ajudado a fazer o que ele achava ser o melhor para ele”, ela garante. “No lugar dele, teria tomado a mesma decisão”. Nos EUA, 11 dos 50 estados, como Califórnia e Washington, aprovam o suicídio assistido. Mas, como é exigida uma expectativa de vida menor que seis meses, o casal teve que viajar para a Suíça, em janeiro de 2020.

Quem passou por um drama parecido foi Andrew Solomon. Em agosto de 1989, sua mãe, Carolyn, descobriu um câncer no ovário e foi submetida a quimioterapia. De nada adiantou. “Não quero que lembre de mim”, recorda o escritor, “gritando em um leito de hospital”. Em outubro de 1990, sua mãe teve acesso a uma droga que, ingerida por via oral, daria fim ao seu sofrimento. Por incrível que pareça, sua vida ganhou novo sentido. “Enquanto houver a mais remota chance de eu ficar boa, continuarei com o tratamento. Quando disserem que estão me mantendo viva, mas sem a menor chance de recuperação, eu paro”, avisou.

No dia 19 de junho de 1991, o médico advertiu: se não fizesse uma cirurgia no intestino, não conseguiria mais ingerir alimentos. Foi quando ela decidiu tirar a própria vida. Carolyn morreu em casa, em Nova York, ao lado do marido, Howard, e dos filhos, Andrew e David. Suas últimas palavras foram: “Obrigada pela massagem, David!”, ditas para o caçula que massageava seus ombros. “Penso em acabar com a minha vida todos os dias. Mas, sempre opto por não fazê-lo. Saber que tenho escolha é o que me mantém vivo e em movimento”, filosofa o autor que, em O Demônio do Meio-Dia (Companhia das Letras, 2018), relata suas batalhas contra a depressão.

“Sinto sua falta, mas não me arrependo de tê-lo ajudado a fazer o que ele achava ser o melhor para ele”

— Amy Bloom, esposa de Brian Ameche, ex-jogador de futebol americano diagnosticado com Alzheimer que optou pelo suicídio assistido em janeiro de 2020

O país onde se vai para morrer

Na Suíça, pelo menos três instituições promovem o suicídio assistido: Dignitas, Lifecircle e Pegasos. A advogada Luciana Dadalto, Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acompanhou o suicídio assistido de um australiano de 65 anos com diagnóstico de Parkinson, na Pegasos, em 2019. Já o geriatra Daniel Azevedo, Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o de um brasileiro de 70 anos com múltiplas doenças crônicas, na Dignitas, em 2023.

No primeiro caso, o paciente veio a óbito depois de administrar, ele próprio, uma substância letal na veia. Como a eutanásia é proibida na Suíça, é preciso que a própria pessoa acione a bomba de infusão. O procedimento foi gravado e entregue à polícia para averiguação. No segundo caso, o método seria diferente: em vez de morrer por infusão intravenosa da droga, morreria após tomar a substância por via oral. Acontece que, na manhã do procedimento, o paciente mudou de ideia e voltou ao Brasil. “Não explicou o porquê da desistência; apenas alegou motivos pessoais”, afirma Azevedo, autor do livro O Melhor Lugar para Morrer (Appris, 2020). “Meses depois, morreu em casa, por progressão da doença, recebendo o cuidado paliativo necessário”.

Morte assistida é uma expressão que engloba duas situações em que a pessoa doente recebe assistência para abreviar a vida: suicídio assistido e eutanásia — Foto: Gustavo Magalhães

A palavra paliativo vem do latim pallium, e quer dizer “manto” ou “cobertor”. “Era o manto usado para proteger das intempéries os cavaleiros que lutavam nas cruzadas”, explica o publicitário Tom Almeida, fundador do movimento InFINITO e presidente do Instituto Ana Michelle Soares. Por analogia, paliativos são os cuidados que dão proteção ao paciente e sua família contra o sofrimento causado pela doença ou por seu tratamento.

No Brasil, uma das maiores referências no movimento pela valorização dos cuidados paliativos era a jornalista e escritora Ana Michelle Soares (1982-2023). “AnaMi” tinha 28 anos quando descobriu o câncer de mama e 32 quando constatou metástase no fígado. Autora dos livros Enquanto Eu Respirar (Sextante, 2019), Vida Inteira (2021) e Entre a Lucidez e a Esperança (2023), morreu no dia 21 de janeiro de 2023, aos 40 anos. “Quando alguém diz ‘cuidado paliativo’, se pensa logo ‘quando não há mais nada a fazer’. Mas, é o contrário. É para viver com qualidade, mesmo tendo uma doença grave – não importando se é incurável, crônica ou terminal. O importante é tocar no assunto. Quanto mais a gente evita falar de morte, menos informação tem”, analisa Almeida.

Doenças com tratamento complexo costumam ser as principais razões que fazem pessoas buscarem a prescrição de remédios para morrer. Um estudo publicado na revista JAMA Internal Medicine, que envolveu instituições do Canadá, Estados Unidos e Europa, indicou que pessoas com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) representavam 17% dos pedidos do tipo. Em seguida estão pacientes com câncer - entre 3 e 4% do total. Outras condições (como doenças cardíacas) somam menos de 1%. Prescrições do tipo exigem que o paciente tenha prognóstico de vida de menos de seis meses. Mas as normas podem variar de acordo com o país: na Holanda, por exemplo, há casos de quem já recebeu a autorização após comprovar sofrimento mental ou doenças não terminais, como a síndrome da fadiga crônica.

A cada dez, sete desistem

Casos como o do brasileiro que, no dia do suicídio assistido, voltou atrás em sua decisão de morrer, não são raros. A proporção é de sete desistências para cada dez inscrições. A estimativa é da médica Erika Preisig. Ela é presidente da Lifecircle, fundada em 2011, e autora do livro Dad, You Are Allowed To Die (2019). Desde 2022, a Lifecircle não aceita novos membros. No momento, são 1.235 associados. Só do Brasil, são cinco – eram nove, mas três morreram por causas naturais e um por morte assistida. “Quem procura uma instituição dessas sofre de doença incurável, não tem esperança de melhora e quer dar fim ao seu sofrimento”, conta. “Essas pessoas não têm medo de morrer, têm medo de sofrer. A morte é inevitável, mas o sofrimento pode ser insuportável”.

Assim como a Lifecircle é uma dissidência da Dignitas, a Pegasos, criada em 2019, é uma dissidência da Lifecircle. Seu fundador, Ruedi Habegger, é irmão de Erika Preisig. “No Brasil, ainda não temos o direito de escolher ‘como’ e ‘quando’ morrer porque tanto o suicídio assistido quanto a eutanásia são proibidos por lei”, observa Luciana Dadalto, autora de Testamento Vital (Foco, 2022). “Estamos longe de legalizar qualquer forma de morte assistida porque o tema esbarra em questões ideológicas e religiosas”.

Praticar suicídio assistido na Suíça não é barato: custa 10 mil euros – algo em torno de R$ 60 mil, na cotação atual. Isso, sem contar as despesas com passagem e hotel. E pode levar dois meses, desde o primeiro contato até o procedimento. É o que explica o jornalista Adriano Silva, autor de O dia em que Eva decidiu morrer (Vestígio, 2025) e editor do site Boa Morte. No livro-reportagem, ele conta a história verídica de Eva (nome fictício), uma filósofa brasileira que decidiu se submeter ao suicídio assistido na Suíça depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). O procedimento inclui, entre outros trâmites, entrevistas em vídeo, consultas presenciais e envio de exames, laudos e atestados. “O Brasil é um país tanatofóbico [com medo da morte]”, define o autor. “Fazemos de tudo para não pensar na morte ou falar dela. No entanto, não há nada mais certo na vida do que morrer. É a única certeza que temos. A única coisa que podemos fazer diante da própria finitude é tentar morrer de modo digno e sem sofrimento. Ninguém deve ser obrigado a ter uma morte horrível”.

Empecilhos legais no Brasil

Dos 14 países onde a morte voluntária assistida (MVA) é legalizada, oito deles estão da Europa: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Holanda, Luxemburgo, Portugal e Suíça. Dois são da América do Norte (EUA e Canadá), dois da América do Sul (Equador e Colômbia) e dois da Oceania (Austrália e Nova Zelândia). Quatro não legalizaram a eutanásia: Alemanha, Áustria, Suíça e EUA. “Morte assistida é uma expressão que engloba duas situações em que a pessoa doente recebe assistência para abreviar a vida: suicídio assistido e eutanásia”, explica o geriatra Daniel Azevedo. “No primeiro caso, o agente é a própria pessoa; no segundo, o agente é externo. Mas, em ambos os casos, os procedimentos são feitos por determinação da própria pessoa”.

O psiquiatra Rodolfo Furlan Damiano, um dos organizadores do livro Compreendendo o Suicídio (Manole, 2021), aponta outra diferença: “Enquanto as discussões sobre eutanásia costumam focar em pacientes com doenças em estágio terminal, o suicídio assistido frequentemente aborda casos em que o paciente ainda possui capacidade funcional, mas enfrenta sofrimento físico ou psicológico intolerável”. No Brasil, as duas práticas são ilegais. A eutanásia é considerada homicídio e o suicídio assistido configura crime de participação ou indução ao suicídio.

Em latim, eutanásia significa “morte boa”. Isto é, sem sofrimento. O termo foi proposto pelo filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) em Historia Vitae et Mortis (1623). É quando o médico, ou algum membro da família, provoca, deliberadamente e movido por compaixão, a morte do paciente.

O sufixo “tanásia” aparece em pelo menos dois outros termos médicos: ortotanásia (“morte certa”) e distanásia (“morte lenta”). No primeiro caso, o médico, em respeito à vontade de um paciente terminal, resolve suspender procedimentos, tão sofridos quanto inúteis, que prolongam de maneira artificial a vida do doente. No segundo caso, o médico recorre a todos os meios, extraordinários e experimentais, para prolongar a vida (e o sofrimento) de um paciente grave, quase vegetativo, sem qualquer chance de cura. Um exemplo clássico de ortotanásia, cita o médico Antônio Carlos Lopes, do livro Eutanásia, Ortotanásia e Distanásia (Atheneu, 2018), é o de João Paulo II (1920-2005): “Em seus últimos dias, o Papa decidiu morrer em seus aposentos. Pediu para não ser mais levado ao hospital. Não queria mais ser submetido a nenhum tipo de tratamento”.

Em 2017, Vitor Hugo Brandalise transformou em livro, O Último Abraço (Record), uma notinha de jornal. Três anos antes, tinha lido, na Folha de S. Paulo de 30 de setembro de 2014, a história real de Nelson e Neusa Golla. Todas as tardes, Nelson, de 72 anos, visitava a esposa, Neusa, de 70, numa clínica de repouso. Vítima de dois AVCs, ela precisou ser internada e entrou em depressão. Durante as visitas, o marido gostava de umedecer a boca da mulher com água de coco, sua bebida favorita. Um dia, a enfermeira avisou que, por recomendação médica, ela passaria a ser alimentada por meio de sonda. “Quero morrer”, balbuciou Neusa. “Me tira daqui”.

“A única coisa que podemos fazer diante da própria finitude é tentar morrer de modo digno e sem sofrimento. Ninguém deve ser obrigado a ter uma morte horrível”

— Adriano Silva, jornalista e autor do livro-reportagem "O dia em que Eva decidiu morrer"

Em casa, Nelson improvisou uma bomba com fogos de artifício, amarrou o artefato no corpo e voltou para a clínica. No primeiro dia, não teve coragem de acionar o explosivo. No segundo, idem. No terceiro, praticou o que acreditava ser uma eutanásia. “Lembrem-se de nós nos momentos de alegria”, pedia no bilhete de despedida no porta-luvas do carro. Neusa morreu; Nelson, não. Preso, passou por uma clínica psiquiátrica e chegou a responder por homicídio. Morreu cinco anos depois, em 2019.

Cansaço de viver?

Em geral, os candidatos a suicídio assistido são pacientes em fase terminal, que relatam intenso sofrimento e se queixam de dores insuportáveis. Mas há casos atípicos, como o do cientista inglês David Goodall (1914-2018). Ele não tinha câncer, Alzheimer ou qualquer outra doença grave. Apenas dizia que sua qualidade de vida tinha piorado nos últimos 5 ou 10 anos. “O fenômeno da vida concluída é uma vivência experimentada por pessoas de idade avançada”, explica a advogada Sálvia Haddad, Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e autora de Suicídio Assistido por Completed Life (Foco, 2021). “O idoso deixa de sentir desejo de viver porque acredita que não há mais o que viver. É um cansaço existencial”.

Goodall tinha 104 anos quando morreu, na manhã de 10 de maio de 2018, na Lifecircle. “Quero morrer, e isso não é triste. Triste é ser impedido de morrer”, declarou, em abril, no seu aniversário. Na véspera de sua morte, jantou peixe e batata frita, com cheesecake como sobremesa. Antes de receber uma injeção letal – a OMS recomenda que não seja divulgado o nome da substância –, ouviu Ode à Alegria, da Nona Sinfonia de Beethoven. Por não acreditar na vida depois da morte, dispensou o funeral. Mas, pediu para seu corpo ser doado à medicina.

Quem acompanhou de perto o suicídio assistido de David Goodall foi Philip Nitschke, o presidente da Exit, instituição fundada em 1997 na Austrália. Em 1999, Nitschke foi procurado por uma professora francesa aposentada chamada Lisette Nigot. Aos 77 anos, ela queria tirar a própria vida antes de chegar aos 80. A exemplo de Goodall, Nigot não estava doente; apenas já tinha vivido o suficiente. “Por que você não escreve um livro ou viaja pelo mundo?”, sugeriu o médico. “Por que você não cuida de sua vida?”, rebateu a mulher. “Quem sou eu para dizer a ela o que fazer?”, pensou Nitschke, envergonhado.

Três anos antes, ele tinha construído um aparelho que, depois de responder a uma série de perguntas, como “Sabe o que acontece se você apertar esse botão?”, liberava uma dose letal de barbitúricos (remédios que têm efeito sedativo e calmante). Foi usado no dia 22 de setembro de 1996 por Bob Dent, paciente com diagnóstico de câncer de próstata. Desde 2000, a Deliverance Machine (“Máquina da Libertação”, em livre tradução) virou peça de museu: está em exposição no Museu da Ciência, em Londres. Há alguns anos, Nitschke criou outra engenhoca: um sarcófago futurista apelidado de “Sarco”. Em vez de injetar a droga no braço do paciente, o aparelho libera nitrogênio dentro de uma cápsula. “O suicídio assistido deveria ser um direito de todos e não um privilégio para alguns”, protesta Nitschke.

“Coloquem Kid Abelha para eu escutar”

— Luciana Dadalto, advogada que escreveu um “testamento vital”. Documento indica cuidados pré-morte que ela quer receber – e até o que deseja ouvir na hora de morrer

Testamento vital encaminha final da vida

O músico Andreas Kisser não sabia quase nada sobre cuidados paliativos. Só começou a se inteirar do assunto quando a esposa, a empresária Patrícia Kisser, deu início a um tratamento oncológico, em 2021. Em janeiro daquele ano, ela foi ao médico investigar uma suposta pedra no rim. Voltou da consulta com suspeita de câncer no cólon. Para destruir o tumor, passou por sessões de quimioterapia. “Os últimos seis meses foram os mais difíceis”, diz o viúvo. Patrícia morreu no dia 3 de julho de 2022, aos 52 anos. “O Brasil é o terceiro pior lugar do mundo para morrer”, argumenta o guitarrista do Sepultura, referindo-se ao estudo que coloca o país na antepenúltima posição em um ranking de 81 nações – estamos à frente apenas do Paraguai e do Líbano. “Por que não temos a liberdade para decidir como queremos viver nossos últimos dias?”.

Em homenagem à esposa, Andreas Kisser fundou o Mãetrícia, movimento que debate, entre outras pautas, o testamento vital. A advogada Luciana Dadalto já fez o dela. No documento, recusa técnicas invasivas, como cirurgias e biópsias, e evita procedimentos desnecessários, como ventilação mecânica e reanimação cardiopulmonar, daqueles que prolongam o tempo de internação, mas não melhoram a qualidade de vida. Há espaço até para um pedido inusitado: “Coloquem Kid Abelha para eu escutar”.

Outro termo ainda pouco conhecido é hospice. Quem explica seu significado é a médica oncologista Dalva Yukie Matsumoto, coordenadora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo (HSPM-SP). O conceito nasceu no Reino Unido com a médica Cicely Saunders. Em 1967, ela fundou o St. Christopher Hospice, o primeiro do mundo a oferecer cuidado integral ao paciente, do controle dos sintomas até o alívio da dor.

No Brasil, o governo federal inaugurou, em 31 de janeiro de 2025, o Hospital Estadual Mont Serrat, em Salvador (BA), o primeiro hospital público do país especializado em cuidados paliativos. A unidade tem 70 leitos e capacidade para atender 2 mil pacientes por mês. A equipe de 435 colaboradores abrange, entre outros profissionais de saúde, médicos, enfermeiros e psicólogos. “Nosso objetivo não é adiar a morte do paciente. Muito menos apressá-la. Queremos apenas aliviar sua dor e oferecer apoio para a família”, explica Matsumoto.

ATENÇÃO: Se você ou alguém que você conhece está lutando contra a depressão ou pensamentos suicidas, entre em contato pelo telefone 188; o serviço funciona 24 horas. O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Fonte: revistagalileu.