sábado, 12 de abril de 2025

Suicídio

 Porto Alegre, 12 de abril de 2025.

Suicídio

´Dia desses me perguntaram se eu tinha idéias de me matar, cometer suicídio. É óbvio que no contexto de eu ser portador da doença de parkinson, e o interlocutor vivenciava minha flagrante decadência motora decorrente da doença.

Estou no presente disautônomo, isto é, perdi minha autonomia, dependo de terceiros, para o que der e vier. Estou restrito às quatro linhas do meu apartamento, não consigo caminhar, vendi meu carro e nem ir ao supermercado consigo mais ir.

Mas voltando ao título do textículo, hoje respondo que não tenho mais ideias suicídas, mas já as tive. Há alguns anos, quando ainda trabalhava, arquitetei minha morte, só a minha, já que não queria machucar mais ninguém. Jogaria meu carro diante de um caminhão, na conhecida curva da morte, descida da estrada que liga São Vendelino a Farroupilha (RS-122).

Digo isso hoje, porque na época, tomava levodopa, remédio que atenua os sintomas, embora em nada contribua para a estancar a evolução da doença. A levodopa deve ser tomada a cada ressurgimento dos sintomas e seu efeito durava umas duas horas e meia a três horas. Demanda cerca de meia hora para iniciar seu efeito após ingerida, contando que não se consuma proteína animal nas horas precedentes. Os períodos em que ela faz efeito são os chamados períodos “on”, enquanto os períodos em que ela não funciona mais chamam-se períodos “off”. Entre estes dois períodos, em que o efeito da levodopa cai, instaura-se uma depressão profunda. Imagine durante o dia flutuar-se entre o pico da euforia (“on”) e o vale da depressão (“off”) a cada três horas. Era um verdadeiro tobogã de emoções. Nessa época, tinha idéias suicídas.

Passados alguns anos, não tomo mais levodopa, mesmo porque a doença progrediu tanto que já não faz mais efeito, apenas provoca um forte suadouro e confusão mental. Tomo para a depressão amitriptilina e independente dela e pelo fato de ter abandonado a levodopa, nunca mais tive idéias suicídas. Estou longe do tobogã, num estado estável de humor. Diria que sou estou pessoa apática.

Prefiro a apatia à depressão profunda e cíclica diária provocada pela levodopa, que me causava tais idéias.

Ressalto que em 2006 implantei em meu cérebro um dispositivo dbs. Apesar das limitações, consiste no tratamento mais moderno para combater o parkinson, e provavelmente ele tenha me permitido chegar com vida até a presente data.

Como tenho parkinson há vinte e seis anos, me considero “das antigas” e lembro constar da velha bula do Prolopa, tida no meio parkinsoniano como sinônimo de levodopa, a advertência de que, não lembro textualmente: "Este medicamento pode causar ideações suicídas..." e na nova bula não consta tal advertência.

Ressalto que esta “intolerância” ao levodopa, é minha, não significando que tal resposta ao medicamento seja aplicável a todos usuários, mas se constava explicitamente na bula, não seria raro tal sintoma.

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