quarta-feira, 7 de junho de 2023

Como a Inteligência Artificial pode estimular novos tratamentos


Imagem Ilustrativa.Créditos: Itamar Crispim/Fiocruz

Os pacientes com essa doença enfrentam, entre outras, complicações relacionadas à fala; é aí que entra a IA

6/6/2023 - A doença de Parkinson é um dos principais desafios da medicina. Relaciona-se ao sistema nervoso, é progressiva, afeta o movimento e é neurodegenerativa.

Os pacientes com essa condição enfrentam, entre outros problemas, várias complicações relacionadas à fala, incluindo disartria (perda ou dificuldade de articular palavras devido a problemas nos músculos que ajudam a falar) e distúrbios de linguagem.

Por isso, a ciência continua em busca de respostas para diagnosticar rapidamente e permitir um tratamento precoce da doença.

Com essa expectativa, a Inteligência Artificial (IA) entre em campo. Um grupo de pesquisadores avaliou características de fala entre pacientes com Parkinson.

A tecnologia de Processamento de Linguagem Natural (NLP) é um ramo da IA, que se concentra em permitir que os computadores entendam e interpretem grandes quantidades de dados da linguagem humana, utilizando modelos estatísticos para identificar padrões.

Como os pacientes com Parkinson sofrem com inúmeros problemas relacionados à fala, incluindo produção e uso prejudicado da linguagem, o grupo usou a PNL para analisar diferenças detectáveis em padrões com base em 37 características, usando textos artesanais.

A análise concluiu que os pacientes usaram menos nomes comuns e próprios e menos conectores de texto. Por outro lado, eles utilizaram uma porcentagem maior de verbos por frase.

Katsunori Yokoi, diretor do estudo e pesquisador da Escola de Medicina da Universidade de Nagoya, no Japão, disse: “Quando solicitado a falar sobre seu dia pela manhã, uma paciente com Parkinson pode dizer algo como o seguinte, por exemplo: ‘Acordei às 4h50. Achei um pouco cedo, mas levantei. Levei cerca de meia hora para ir ao banheiro. Então, me lavei e me vesti por volta das 5h30. Meu marido fez o café da manhã. Tomei café da manhã após às 6. Depois, escovei os dentes e me preparei para sair’”.

Yokoi prosseguiu: “Enquanto alguém no grupo de controle saudável pode dizer algo assim: ‘Bem, de manhã, acordei às 6 horas, me vesti e, sim, lavei o rosto. Então, alimentei meu gato e meu cachorro. Minha filha fez uma refeição, mas eu disse a ela que não podia comer e, hum, eu bebi um pouco de água’”.

O pesquisador, reunindo as informações dos dois casos, concluiu: “Apesar de serem exemplos que criamos de conversas que refletem as características de pessoas com Parkinson versus pessoas que não têm a doença, o que se pode notar é que a duração total é semelhante. No entanto, aqueles que lidam com a doença falam em frases mais curtas do que os indivíduos do grupo de controle, resultando em mais verbos na análise de aprendizado de máquina. O público saudável também usa mais conectores, como ‘bom’ ou ‘hum’, para encadear frases”.

De acordo com o diretor do estudo, o aspecto mais promissor da pesquisa é que a equipe realizou o trabalho em pacientes que ainda não apresentavam um grau avançado de comprometimento cognitivo relacionado ao Parkinson. Portanto, suas descobertas oferecem um meio potencial de detecção precoce para distinguir pacientes com a doença.

“Nossos resultados sugerem que, mesmo na ausência de comprometimento cognitivo, as conversas dos pacientes com a patologia diferiam das de pessoas saudáveis”, destacou Masahisa Katsuno, outro diretor do estudo.

“Quando tentamos identificar pacientes doentes ou controles saudáveis, com base nessas mudanças na conversa, conseguimos identificar os primeiros com mais de 80% de precisão. Este resultado sugere a possibilidade de uma análise de linguagem usando processamento natural para diagnosticar a doença de Parkinson”, acrescentou Katsuno.

Patologia é frequente e está relacionada à idade

A doença de Parkinson é considerada uma das patologias neurodegenerativas mais frequentes, relacionada com a idade. Afeta 1% das pessoas maiores de 60 anos e 0,3% da população em geral, segundo informações da Escola de Medicina da Universidade do Texas (EUA).

O estudo foi liderado por Masahisa Katsuno e Katsunori Yokoi, da Escola de Medicina da Universidade de Nagoya, em colaboração com a Aichi Prefectural University e a Toyohashi University of Technology no Japão. Também participaram da investigação Yurie Iribe, Norihide Kitaoka, Maki Sato e Akihiro Hori. Os resultados do estudo foram publicados na revista Parkinsonism & Related Disorders, de acordo com o site Infobae. Fonte: Revista Forum.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Biogen descarta estudo em estágio avançado para medicamento de Parkinson

 June 5, 2023 - Biogen scraps late-stage study for Parkinson’s drug.

A proteína Rit2 limpa aglomerados tóxicos de alfa-sinucleína das células nervosas

June 5, 2023 - Rit2 protein clears toxic alpha-synuclein clumps from nerve cells.

Diagnosticado com doença de Parkinson, Michael J. Fox cai em evento

6 jun 2023 - O ator, de 61 anos, esteve no Centro de Congressos da Pensilvânia, na Filadélfia, quando tropeçou e caiu no sofá.

Diagnosticado com doença de Parkinson, Michael J. Fox cai em evento

Michael J. Fox pregou, intencionalmente, um susto a todos os que estavam presentes no Centro de Congressos da Pensilvânia, na Filadélfia, para falar de 'Back to the Future' ('De Volta Para o Futuro').

O ator, de 61 anos, que foi diagnosticado com a doença de Parkinson em 1991 (quando tinha 29 anos), estava a subir ao palco quando tropeçou e caiu no sofá.


Felizmente, tudo acabou bem e sem ninguém se magoar, tendo conseguido estar ao lado dos colegas de elenco Christopher Lloyd e Tom Wilson.

Veja o vídeo abaixo:

Michael J. Fox sofre uma queda feia enquanto sofre da doença de Parkinson na Filadélfia, PA

Na realidade não foi uma queda feia. Ele realmente caiu e depois simulou uma queda, para se ajeitar no sofá. Assista a queda a partir de 50 seg. Depois é só besteira. Dispense.

Este encontro aconteceu semanas depois de o ator ter confessado no 'CBS Sunday Morning' que a batalha contra a doença de Parkinson se tornou "mais difícil". "Cada dia é mais difícil", desabafou no final de abril, recorda o Page Six. "Mas é mesmo assim", acrescentou. Fonte:  Sapo.

Veja também:

05 JUNHO 2023 - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ator Michael J. Fox deu um susto nos fãs da franquia "De Volta Para o Futuro", durante um evento neste domingo (4), nos Estados Unidos. Ao entrar no palco do Centro de Convenções da Pensilvânia, na Filadélfia, o artista tropeçou e caiu em um sofá colocado no espaço para que ele respondesse perguntas sobre a série de filmes ao lado de Christopher Lloyd e Tom Wilson. As imagens foram divulgadas pelo site PageSix.

O artista, que está com 61 anos, foi diagnosticado com Parkinson em 1991, aos 29 anos. No dia 30 de abril, Fox já havia informado, em entrevista ao CBS Sunday Morning, o quanto estava "mais difícil" a batalha contra a doença.

Na mesma entrevista ao programa norte-americano, ele relatou que quebrou os braços, uma mão e alguns ossos por quedas. "[Cair] é um grande assassino com Parkinson", afirmou Fox. "Assim como quedas, comida e pneumonia são outras coisas sutis que 'pegam' as pessoas. Você não morre de Parkinson. Você morre com Parkinson."

No último dia 12 de maio, a Apple TV+ lançou o documentário "Still: A Michael J. Fox Movie", que narra sua história por meio de entrevistas, assim como a luta contra o Parkinson. Fonte: Sapo.

Mantido veto parcial à política de atenção integral à pessoa com doença de Parkinson

05/06/2023 - Projeto Parkinson

Projeto cria política de atenção a pessoas com Parkinson

Na sessão ordinária desta segunda-feira (05/06), a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou veto parcial ao projeto de lei de autoria do vereador Alvoni Medina (Republicanos), que institui a política de atenção integral à pessoa com doença de Parkinson no município de Porto Alegre.

O veto parcial refere-se ao inciso V do art. 2º, em que consta que a política instituída pela Lei terá como um dos objetivos "garantir o direito à medicação e às demais formas de tratamento que visem a minimizar efeitos, de modo a não limitar a qualidade de vida do parkinsoniano". De acordo com a justificativa do Executivo, é papel da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) a definição dos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas do Sistema Único de Saúde (SUS), portanto, não há como ser garantido por Lei Municipal, incorrendo em vício de iniciativa em relação à competência da União.

O outro ponto do veto parcial refere-se ao inciso VI do art. 3º do projeto, que determina a "qualificação e ampliação da rede de profissionais e de unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) que realizam o atendimento ao parkinsoniano"; e ao o inciso IX do art. 3º, que prevê a "implantação de espaços destinados à prestação de atendimento especializado e multidisciplinar". Segundo a justificativa, pode-se depreender da proposição legislativa que haverá geração de custo ao Poder Executivo Municipal em decorrência da aplicação dos dispositivos elencados. Isto posto, verifica-se que o texto do referido projeto de lei não se ocupa de definir fontes específicas de despesa, mas, tão somente, remete de forma genérica que as despesas orçamentárias decorrentes da execução da política de atenção integral à pessoa com doença de Parkinson deverão correr por conta de dotações orçamentárias próprias.

Ainda conforme o texto do veto parcial, tal imposição ao município, caso sancionada, acabaria por ferir o princípio da separação dos Poderes (independência e harmonia entre Poderes), o qual veda a imposição, por parte de um Poder, a condutas específicas a serem realizadas por outro Poder. Fonte: Camarapoa.

É o velho jogo do empurra.

Entendo, que paralelamente ao veto do executivo, além da independência e harmonia entre poderes, "seja vedado impositivamente, que as pessoas tenham parkinson (sic)", pois não há como evitar ou prevenir, no máximo cuidados paliativos. Enfim, estamos largados à própria sorte.

Prefeito Sebastião: que o senhor não venha a sofrer deste mal!


segunda-feira, 5 de junho de 2023

Exoesqueleto testado por Mara Gabrilli será usado em São Paulo

Equipamento permite às pessoas com paralisia ficarem de pé e se moverem

04/06/2023 - A Rede Lucy Montoro, centro público de referência em atendimento a pessoas com deficiência e doenças incapacitantes, vai começar a utilizar o exoesqueleto testado nos Estados Unidos pela senadora Mara Gabrilli (PSD-SP). A máquina permite às pessoas com paralisia ficarem de pé e se moverem multidirecionalmente com braços livres.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, que gere a rede de atendimento, foram adquiridas duas unidades pelo valor de 200 mil dólares (cerca de R$ 1 milhão), que devem estar disponíveis a partir de julho.

No mês passado, o governo paulista firmou parceria, por meio da Rede Lucy Montoro com a empresa francesa Wandercraft, que produz o equipamento, para pesquisa científica e tecnológica com exoesqueletos robóticos. O acordo vai permitir o desenvolvimento de estudos e avaliações do uso da tecnologia para auxiliar a movimentação de pacientes em reabilitação.

– Imagine: a pessoa vai vir para cá para ter a experiência de caminhar novamente. Ela estará trabalhando o corpo que vai começar a funcionar melhor, trabalhando o cérebro e a autoestima – afirmou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), no evento em que anunciou a aquisição, na comemoração dos 15 anos de funcionamento da Rede Lucy Montoro.

Com o equipamento, pacientes com paraplegia ou em processo de reabilitação após acidente vascular cerebral (AVC) poderão se movimentar com auxílio de robô acoplado ao corpo. Conforme o governo, o exoesqueleto tem um sistema que controla o centro de gravidade do usuário para oferecer mais equilíbrio e pode ser programado de acordo com os objetivos, como sentar, levantar, andar de frente, de costas e de lado, além de subir e descer degraus.

– Essa busca de devolver a condição de marcha para pessoas com lesões medulares, com AVC, com Parkinson, com paralisia cerebral é muito antiga. E agora esses equipamentos vêm surgindo como alternativa – afirmou Linamara Rizzo Battistella, presidente do conselho diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo ela, no início da parceria, o robô será destinado, especialmente, ao treinamento de pacientes com lesão medular, Parkinson e AVC na Rede Lucy Montoro.

– Não é que eu tiro o indivíduo da lesão e já coloco no robô, ele precisa passar por um grande processo de readequação física. É o estágio final, a coroação.

Segundo a médica, uma das vantagens do equipamento em relação a outros que já existem no mercado é a capacidade de ser adaptado para diferentes perfis de pacientes. Ele é mais leve e se adapta a diferentes alturas e pesos.

Diferentemente do Atalante, os exoesqueletos que existem hoje no Brasil não são modulares, por isso, não podem ser ajustados para todos os tipos de pacientes. Pelo alto custo, ficam restritos a centros especializados e focados nos trabalhos de reabilitação, que não é contínuo.

Mara Gabrilli testou o exoesqueleto em abril

A senadora conheceu o exoesqueleto, chamado Atalante, em viagem para os Estados Unidos. Na ocasião, demonstrou otimismo em trazer a tecnologia ao Brasil. Em vídeo publicado nas redes sociais, ela apareceu testando a novidade.

  • Não sou a mesma pessoa depois de testar esse equipamento – escreveu.

A máquina foi desenvolvida pela startup francesa Wandercraf. Ela funciona como um exoesqueleto robótico, isto é, um esqueleto artificial que é utilizado externamente, colado ao corpo da pessoa, para dar suporte e permitir que ela consiga reproduzir movimentos. A principal inovação é que ele dispensa o uso de andadores: tem um sistema de controle de equilíbrio que permite maior estabilidade.

Mara Gabrilli testou o equipamento Foto: Reprodução/Vídeo do Instagram

Mara Gabrilli, de 55 anos, é tetraplégica desde 1994, quando sofreu um acidente de carro. Ficou conhecida por defender os direitos das pessoas com deficiência e dar visibilidade a esse grupo. Fonte: Pleno News. Veja mais aqui: Mara Gabrilli sobre exoesqueleto: '1ª vez que ando com tanta autonomia'.

Chula lança as mais recentes luvas de Parkinson para reduzir tremores

June 5, 2023 - Chula launches the latest Parkinson’s gloves to reduce tremors.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

A Eutanásia em questão: reflexões a partir da Travessia de Rita Lee

02 Junho 2023 

Artigo de Faustino Teixeira

"Penso que nossa morte tinha que ocorrer num momento em que pudéssemos ainda estar conscientes, afinados com a dinâmica da vida e do amor ao cosmos, e que a cerimônia de Deus, dentre de parâmetros muito bem estabelecidos pela ciência médica, podia ser precedida de uma linda festa com os amigos queridos e os parentes próximos, sem precisar entrar num túnel de escuridão, solitário e penoso, com os pesados gastos da medicina paliativa, mas destituído do germe da alegria", escreve Faustino Teixeira, teólogo, professor emérito da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Eis o artigo.

Se por acaso morrer do coração / É sinal que amei demais / Mas enquanto estou viva / Cheia de graça / Talvez ainda faça / Um monte de gente feliz!” – Rita Lee

Em sua Outra biografia, publicada no Brasil em 2023 pela GloboLivros, Rita Lee relata o seu sentimento ao saber do diagnóstico de câncer, em abril de 2021. Era um câncer de vinte centímetro de perímetro no pulmão esquerdo. Assim ela relata o começo de sua jornada pela doença e a dinâmica de seu tratamento. Foi uma situação que ocorreu durante a pandemia da Covid, o que complicou o processo. Com a retirada dos remédios tarja preta, a situação psicológica se complexificou, com relatos difíceis sobre as insônias no hospital. Chegou a passar três dias e três noites sem dormir.

Na conversa dela com seu médico oncologista narrou o trauma daquele início de internação e solicitou ao profissional que intervisse terminando logo com a história de sofrimentos que começava e se anunciava cada vez mais difícil. Em sua narrativa ela desejava que tudo aquilo ali acabasse logo de uma vez, e que por ela “tomava o ´chazinho da meia-noite` para ir desta para melhor” [1]. Solicitou a ele que a “deixassem fazer uma passagem digna, sem dor, rápida e consciente; queria estar atenta para logo recomeçar” seu “caminho em outra dimensão”.

Expressou com clareza para o especialista que era “totalmente favorável à eutanásia” e que era preciso “morrer com dignidade”. A reflexão de Rita vinha corroborada pela triste memória do sofrimento de sua mãe durante o tratamento contra o câncer, que não significou para ela um horizonte diferente daquele vivido por tantas outra pessoas que morreram com a doença.

Diante da proposta da cantora, o médico contra-argumentou defendendo outro caminho, buscando explicar a ela as grandes mudanças sofridas pela medicina nos últimos 45 anos, e argumentando em favor da imunoterapia, “um tratamento relativamente novo que rendeu o prêmio Nobel de Medicina em 2018 ao estadunidense James P. Allison” [2].

Sugeriu ainda que ela fizesse o tratamento conjugando-o com a radioterapia. Rita Lee só aceitou submeter-se ao tratamento pelo amor de seus queridos “boys Carvalho/Lee”, que a aconselharam a fazer o tratamento indicado, mas reitera que por ela a cerimônia de adeus ao “mundo cruel” estaria decidida.

Rita Lee em show realizado no Circo Voador em 2011. (Foto: Carol Mendonça | www.focka.com.br)

Como a imunoterapia não surtiu o efeito esperado, Rita Lee teve que se submeter à quimioterapia, que denominou de “ceifadora Cruela”, e outros sofrimentos vieram se somar às crises de pânico, como o caroço que apareceu perto de sua costela direita e que apelidou de Jair.

Tudo tão difícil, apesar do carinho imenso concedido pela família. Ainda com esperança, Rita passou a “invocar força para os soldados da Luz curadora que enfrentariam os inimigos mocozeados” dentro de si [3]. Nas sessões de químio lembrava-se sempre de sua mãe, que ao final foi se tornando “uma flor cada vez mais murcha e amarronzada”.

Rita se deu conta de que todo aquele procedimento químico era a expressão viva de que ainda estávamos na “Idade Mérdia”, com medicamentos cada vez mais onerosos e que alimentavam a sede voraz da indústria farmacêutica [4], que, aliás, continua a financiar os congressos de profissionais da área. Após as sessões de químio, Rita sentia a pegada do medicamento. Dizia que no dia seguinte o corpo ficava de tal forma dolorido, que era como se ela “tivesse lutado com Mike Tyson” [5]. E vinha, às vezes, com densidade, a vontade de “fazer a passagem em casa e sem dor” [6].

Em outros momentos era tomada por um fenômeno bonito, quando batia “um estado de graça” que a fazia agradecer a Deus os “segundos de epifania e bênção existencial, uma espécie de kundalini que dura uma brisa” [7]. Eram pequenos “jorros de luz”, que não duravam senão segundos [8]. Era, por exemplo, a sensação bonita que sentia ao estar no banho, sob o chuveiro, podendo agradecer ao Plano Divino “por estar naquele lugar” que a fazia lembrar de uma generosa cachoeira [9].

Era uma vida que mesclava sofrimento e réstias frágeis de alegria. Às vezes, comenta Lee, baixava “uma deprê, uma angústia, uma melancolia captada” por sua “antena paradiabólica” e então largava-se “debaixo de uma cabaninha feita de lençol, debaixo da cama ou de dentro de um armário” [10].

Ao ler essa passagem veio-me imediatamente a imagem do filme Melancolia,de Lars von Trier, com aqueles sobreviventes tentando se proteger do violento planeta que vinha ao encontro deles numa frágil cabaninha improvisada de bambus. É o que ocorre muitas vezes com os doentes de câncer, que buscam se amparar em frágeis esperanças. Alguns têm sorte, mas outros são vencidos pela flecha da realidade.

Rita Lee sofria igualmente ao pensar “nos doentes entubados vegetando e que ninguém desligava os aparelhos dos coitados para eles terem uma morte digna” [11]. Era igualmente difícil para ela, uma mulher que sempre foi independente e livre, estar agora dependendo dos outros para fazer coisas simples, e ver anexadas ao seu corpo as sondas que propiciavam sua alimentação. O que a mantinha firme no desejo de continuar viva era estar diante da beleza do amor dos queridos que a acompanhavam, apesar de seus 38 quilos. E certo dia escreveu na porta de um banheiro do hospital: “Foda-se, o que vier eu traço” [12].

Não era, porém, nada fácil lidar com a dura realidade, como, por exemplo estar nu diante do espelho. Diz Rita: “Outro dia fui tomar banho e me deparei comigo pelada na frente do espelho e enxerguei uma franga depenada, perninhas de graveto, pele amarelada da rádio, coxas drapeadas, ou seja, uma galinha velha que nem bom caldo daria” [13]. Há cenas muito duras no livro, quando por exemplo Rita descreve as “coisas” que saíram de seu organismo durante seu tratamento. Ela menciona um impressionante episódio que ocorreu com ela, quando viu sair de seu corpo “uma tripa cor de carne crua” de cerca dez centímetros. Pensou até em fotografar a coisa estranha, mas acabou logo jogando aquilo no vaso e deu descarga [14]. E como era difícil lidar com o xixi com cheiro de Chernobyl [15].

Fiquei impressionado com a tranquilidade e a maturidade de Rita Lee diante desta hipótese ainda sem nenhuma cidadania no Brasil. É duro perceber que ela passou por momentos muito difíceis em seu tratamento, com crises tremendas de pânico, insônias e outra situações.

Na última página de sua autobiografia, Rita Lee, depois de saber que no último Pet Scan as notícias não eram nada favoráveis, revela a importância de viver a partir daí “um dia de cada vez”. Tudo ao seu redor foi se acalmando, até seus bichinhos mais queridos. E na última frase, revela: “Tudo bem. Quando eu morrer, não levo nenhum abajur, só o amor dos bichos” [16].

Na linda entrevista concedida por Roberto de Carvalho no Fantástico de 14 de maio de 2023, ele revelou para Renata Ciribelli que em verdade Rita não queria partir, pois amava muito a vida. Ela tinha consciência clara de que sua Outra Autobiografia era mesmo o seu “último ato”. Roberto, em momento singular da entrevista, narra que os momentos finais da cantora foram de grande leveza, calma e doçura. Já consciente da gravidade de sua situação, foi se apagando levemente, como a luz da vela, sem perder o brilho. Seu grande amor revelou que ela ao final parecia uma criancinha, um passarinho, que foi sossegando até partir em paz [17].

Ainda sobre esse complexo tema da Eutanásia gosto de mencionar um livro em particular, de autoria Irvin D. Yalom e Marilin Yalom: Uma questão de vida e morte. Amor, perda e o que realmente importa no final. São Paulo: Planeta 2021.

É a história de um casal que passou toda a vida numa união bonita e profunda, e que enfrenta com coragem e seriedade o desafio da morte, a “indesejada das gentes” que acabou separando um enlace de sessenta e cinco anos. No prefácio da edição brasileira, escrito por Alexandre Coimbra Amaral, ele sublinha que o melhor mérito do livro foi desvendar a verdade desconcertante com que o casal lidou e escreveu sobre a proximidade da morte [18].


Livro trata sobre o tema da eutanásia. (Foto: Divulgação)

Digo a vocês, que a cada dia que passa venho refletindo com seriedade sobre esta questão da eutanásia, da ortotanásia e da distanásia. A eutanásia ocorre quando a morte vem antecipada com a finalidade de interromper o sofrimento de doentes terminais, sem chance alguma de recuperação.

A eutanásia envolve a presença de um agente externo. Há casos também de suicídio assistido, quando o próprio paciente em estado terminal solicita a interrupção da vida. A ortotanasia respeita a morte no tempo certo. É um procedimento que busca resguardar ao máximo a humanização do paciente na sua dinâmica de travessia. A distanásia busca prolongar ao máximo a vida do paciente, mediante o recurso de instrumentos artificiais.

A prática da eutanásia é permitida em alguns países como a Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça (no caso, o suicídio assistido), Canadá e alguns lugares dos Estados Unidos, como os estados da Califórnia, Montana e Oregon. A prática não vem permitida no Brasil, sendo proibida por lei.

São vários os argumentos que vêm a meu favor, sobretudo no caso de pessoas mais idosas, que são forçadas a viverem situações de muita dor e solidão nos momentos derradeiros de sua vida, sobretudo diante de casos que são comprovadamente terminais. E numa sociedade onde talvez sejamos os últimos casos em que os filhos ainda cuidam dos pais nesses momentos duros de passagem.

Há também outro agravante, com a mudanças em planos de saúde, que acabam não cobrindo gastos pesados com o tratamento oncológico, por exemplo. De médicos que aceitam a cuidar dos pacientes durante as consultas clínicas com a cobertura de planos de saúde, mas que nas cirurgias cobram por seus procedimentos. Tem também a ciranda das opiniões de especialistas, cada qual dando o seu pitaco, com referências fundadas nos periódicos mais avançados, e opiniões contrastantes que deixa o paciente e sua família num grande atordoamento face às sérias decisões a serem tomadas. Em sua recente autobiografia, Rita Lee desabafa: “Estou cansada de chutes dos tais especialistas, que um dia dizem uma coisa e no outro desdizem na cara dura” [19].

Além da luta dos pacientes para conseguirem cobertura para os medicamentos de altíssimo custo para o tratamento. Quando ocorre a decisão legal favorável, que demanda tempo, nem sempre estão mais em condições de saúde de responder ao medicamento. São situações concretas que quebram financeiramente qualquer família. É claro que ainda temos o SUS que é a salvação de muito gente nesse país do descaso.

Acho que o tema mereceria um debate mais digno por parte dos profissionais de saúde, e de outros segmentos do saber como filósofos, teólogos, antropólogos, profissionais da saúde, literatos e outros estudiosos de temas relacionados às doenças terminais e aos tratamentos paliativos em curso e a preparação da morte.

Na minha visão pessoal, não tenho dificuldade alguma com a eutanásia, embora admita que a ortotanásia surta efeitos positivos para certos casos. Temos, sim, que oferecer condições mais dignas para o morrer e superar preconceitos ou teses de fundo teológico ou religioso que obstaculizam uma reflexão mais ousada e séria sobre a questão.

O teólogo que mais me ajudou a refletir sobre o tema foi o suíço Hans Küng em seu brilhante livro: “Uma batalha ao longo da vida: ideias, paixões, esperanças. A minha recordação do século (Editora Rizzoli de Milão, 2014, sendo o original de 2002). Ele aborda ao final de seu longo livro a questão do envelhecimento.

Narra com pormenores o seu caso pessoal de deterioração de sua condição de saúde. Fala das moléstias que começaram a prejudicar os seus órgãos fundamentais: as artroses nas mãos, o prejuízo na audição, os problemas na vista e sobretudo o Parkinson.

Ele lança na ocasião uma pergunta fundamental: “Por quanto tempo continuarei a estar bem?”. Fala também da sua vontade de morrer em casa e não internado e isolado num hospital ou casa de cura. Ele reflete com seriedade sobre o tema, contrabalançando sua posição em favor da eutanásia com os argumentos em contrário. E levanta uma questão muito séria: “Onde está escrito que o ser humano tenha que perder a responsabilidade de sua própria existência quando se depara com o fim da vida?” [20]

Na leitura do evangelho de João, se diz em certo momento:

"Em verdade, em verdade, te digo:

Quando eras jovem

tu te cingias

e anda por onde querias;

quando fores velho,

estenderás as mãos

e outro te cingirá

e te conduzirás aonde não queres ir” (Jo 21, 18)

O teólogo Hans Küng acerta em ao levantar uma questão que é decisiva: “O ser humano tem o direito de morrer quando não vê mais esperança de uma vida humana conforme os próprios critérios pessoais” [21]. Relata pormenorizadamente sobre o modo como gostaria de morrer e seus planos de adesão a uma organização suíça em favor da eutanásia. No seu caso, morreu antes, em abril de 2021, mas deixou para nós essa importante reflexão, que não pode ser relegada.

Na ocasião em que escreveu o livro, publicado em 2002, ele fala da experiência de uma forma bonita, digna e séria:

Entro assim no infinito da pessoa finita. Embarco numa última e decisiva estrada, totalmente diversa, não em direção ao cosmos e nem além de seus confins, mas para o núcleo da realidade” [22].

Fala também do retorno ao Mistério de Deus. Reconhece com dignidade, como cristão, que ao final da vida não estará diante do nada, mas do “tudo que é Deus”. E acrescenta: “Justamente na hora da tristeza e do adeus, que celebramos com gratidão, devemos encontrar a fé e a força para afrontar também o futuro, o nosso futuro, sem ter muito medo da morte” [23].

No epílogo do livro, Hans Küng reflete sobre o seu “último amém”, quando passa a enfrentar a gravidade de sua degeneração macular e o Parkinson, que provocam graves empecilhos ao que ele mais gosta de fazer que é escrever. Sublinha que nesse tempo derradeiro vem brindado com a alegria da leitura livre e prazerosa, da escuta gratuita das músicas que o apetecem e do encontro com os amigos.

Revela sua emoção ao poder contemplar o que há de belo e maravilhoso ao seu redor. Reitera a consciência de que ele é sujeito da complexa decisão de quando e como morrer é algo que diz respeito à sua responsabilidade. E confirma com serenidade que no horizonte de sua vida estará entregue nas misericordiosas mãos de Deus [24].

Fui muito tocado pelo filme franco canadense, dirigido por Denys Arcand, “As Invasões Bárbaras”, onde esse argumento vem abordado de forma simplesmente maravilhosa.

Penso que nossa morte tinha que ocorrer num momento em que pudéssemos ainda estar conscientes, afinados com a dinâmica da vida e do amor ao cosmos, e que a cerimônia de Deus, dentre de parâmetros muito bem estabelecidos pela ciência médica, podia ser precedida de uma linda festa com os amigos queridos e os parentes próximos, sem precisar entrar num túnel de escuridão, solitário e penoso, com os pesados gastos da medicina paliativa, mas destituído do germe da alegria. Viva a Vida!

Para concluir, partilho essa linda oração de um mestre tibetano que era objeto da meditação diária de Rita Lee. O seu nome: “A grande invocação”:

Do ponto de Luz na mente de Deus, que flutua Luz à mente

dos homens, que a Luz desça à Terra.

Do ponto de Amor no coração de Deus, que flua Amor

ao coração dos homens, que Cristo retorne à Terra.

Do centro onde a vontade de Deus é conhecida, que o

Propósito guie as pequenas vontades dos homens, o Propósito

que os mestres conhecem e servem.

Do centro a que chamamos a raça dos homens, que

se realize o Plano de Amor e de Luz e feche a porta onde

se encontra o mal.

Que a Luz e o Amor e o Poder restabeleçam o Plano Divino

sobre a Terra".

Fonte: Ihu unisinos, com vários links.

Determinantes e impacto da alexitimia na qualidade de vida na doença de Parkinson

2023 Jun - Resumo -

Introdução: Alexitimia é um sintoma neuropsiquiátrico conceituado como dificuldade em identificar e descrever sentimentos. Embora associada a outros sintomas não motores, principalmente neuropsiquiátricos, a alexitimia pode se apresentar como um sintoma isolado em pessoas com Doença de Parkinson (PcP). O objetivo do estudo é identificar os determinantes da alexitimia e sua associação com a qualidade de vida (QV) na doença de Parkinson. (…)

Conclusões: Alexitimia é um sintoma não motor independente prevalente em PcP com impacto na QV. Baixa escolaridade e sintomas urinários são importantes determinantes da alexitimia. Original em inglês, tradução Google, revisão Hugo. Fonte: Pubmed.

Revelado: o impulso secreto para enterrar a ligação de um herbicida com a doença de Parkinson

Fri 2 Jun 2023 - Revealed: The secret push to bury a weedkiller’s link to Parkinson’s disease.

Documentos internos da gigante química Syngenta revelam táticas para patrocinar artigos científicos simpatizantes e enganar os reguladores sobre pesquisas desfavoráveis